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A Rede Estruturante de um território resulta da articulação dos seus elementos estruturantes devendo, também ela, ser identificada, de forma diferenciada, nas suas

Fernanda Paula Oliveira

1. S OBRE A N ECESSIDADE DE O RDENAR OS A TUAIS T ERRITÓRIOS U RBANOS

2.2. U NIDADES T ERRITORIAIS : C ONCEITO E I DENTIFICAÇÃO

2.3.4. A Rede Estruturante de um território resulta da articulação dos seus elementos estruturantes devendo, também ela, ser identificada, de forma diferenciada, nas suas

diversas escalas.

Desde logo se percebe que os elementos estruturantes lineares são decisivos para assegurar essa articulação, obviamente os percursos viários, mas também os percursos verdes, sobretudo quando não desempenhem apenas funções ecológicas, e até as fronteiras, quando permeáveis e perceptíveis.

De notar que estes diferentes elementos podem estabelecer relações entre si, ao acompanhar-se, ou quando se cruzam.

Um percurso viário pode ser acompanhado por um verde, qualificando-se mutuamente, sobretudo quando o tráfego de passagem não for intenso. Sendo-o, pode constituir uma fronteira entre unidades territoriais. Percursos verdes podem também constituir excelentes fronteiras, quando assegurem espaço de encontro e separação entre partes de cidade

Quando os percursos se cruzam (em nó de viário com viário, de verde com verde ou de viário com verde), tal constitui uma oportunidade para que aí se instalem elementos de centralidade, constituindo rede, reforçando todos eles a sua função estruturante.

Também quando um percurso, viário ou verde, se cruza com uma fronteira, penetrando numa unidade territorial, ocorre uma oportunidade de se explicitar uma porta, outro tipo de nó, que importa também qualificar e explicitar.

Centrando agora o pensamento em centralidades e equipamentos, e também em monumentos, facilmente se conclui que estes: devem ser servidos por percursos viários adequados, que os tornem acessíveis, mas que não os desqualifiquem com tráfego automóvel excessivo; ganharão, em qualidade ambiental e vivencial, quando sejam marginados ou atravessados por percurso verde (neste último caso de largura não excessiva).

Uma articulação funcional e perceptiva entre elementos estruturantes, constituindo redes hierarquizadas, reportadas a cada uma das escalas territoriais, constitui o cerne da metodologia para a estruturação do território, que aqui se procura formular.

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2.4.METODOLOGIA PARA DESENHO DE MATRIZ ESTRUTURANTE DO TERRITÓRIO

Fruto de experimentação (profissional e pedagógica), é possível traçar um percurso metodológico para a elaboração de uma Matriz Estruturante do Território, que poderá constituir elemento fundamental de um Plano de Ordenamento. A metodologia é aplicável a diferentes escalas, desde a da Conurbação ou Área Metropolitana, até à da Unidade Territorial de Base.

Figura 1 – Metodologia para Desenho de Matriz Estruturante do Território

O percurso metodológico, esquematizado na Figura 1, exige faseamento:

1º FASE – Identificação dos elementos estruturantes já existentes no território:

− Delimitação da própria Unidade Territorial para a qual se pretende desenhar uma Matriz Estruturante e identificação de cada uma das Partes, diferentes entre si, em que esta se divide. Tal divisão assenta, desde logo, em localização geográfica e também em usos, tecido físico e vivência.

Importa identificar barreiras existentes e confrontá-las com unidades

Unidades Territoriais, Fronteiras e Barreiras Proposta Perceptíveis Não perceptíveis Pólos Vivenciais (Centralidades, Equipamentos e Monumentos) Existente Proposta Estrutura Ecológica Existente Proposta Rede de Mobilidade e Acessibilidade Existente Proposta

Matriz Estruturante

Existente Insuficiências Potencialidades Proposta Resolução de insuficiências Aproveitamento das potencialidades

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territoriais; acontece, muitas vezes, que as barreiras constituem limites entre unidades.

Importa também identificar e reflectir sobre as fronteiras entre unidades, por vezes bastante explícitas, outras vezes inexistentes.

− Identificação de percursos viários estruturantes, suporte dos principais fluxos de tráfego automóvel, ferroviário e pedonal.

Tal identificação deve ser feita do exterior para o interior, procurando reconhecer uma hierarquia funcional na rede viária automóvel.

− Reconhecimento de elementos constitutivos de uma estrutura ecológica, existente ou potencial; são essencialmente biofísicos, com destaque para linhas de água, mas também acidentes topográficos, coberto arbóreo ou áreas de aptidão agrícola.

Tal identificação deverá ser feita de fora para dentro, partindo de elementos da estrutura ecológica exteriores à unidade de análise.

− Identificação de pólos de vivência, que podem ser de vários tipos, de maior ou menor dimensão (e abrangência) e de maior ou menor integração funcional. Destacam-se as centralidades, por definição multifuncionais, nas quais se incluem o velho Centro da Cidade, novas centralidades (entre elas grandes superfícies comerciais) e centros mais locais.

Muitos equipamentos estão incluídos em centralidades. Mas poderão existir equipamentos concentrados, uma zona apenas de equipamentos, que importe considerar; uma área escolar e desportiva é um exemplo possível.

Há outras concentrações de funções que, pelo afluxo que originam, também importa assinalar. É o exemplo das zonas industriais ou logísticas.

Importa ainda identificar monumentos, naturais ou construídos, com importância à escala da unidade em análise. Alguns deles estão, também, inseridos em centralidades. Mas outros surgem isolados, ostentando valor simbólico e potencial turístico.

2º FASE – Identificação de insuficiências e potencialidades dos elementos estruturantes existentes, considerados individualmente, mas também reportados à rede que integram:

− O fácil reconhecimento de uma unidade territorial, com fronteiras perceptíveis, deverá suscitar a vontade de a manter, de reforçar a sua identidade,

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de a tornar mais funcional, de qualificar as suas fronteiras.

A dificuldade de reconhecer unidade territorial deve ser assumida como insuficiência. Haverá, então, que procurar medidas com vista à sua explicitação, que poderão passar pela constituição ou reforço de uma centralidade local, pelo aumento da sua coerência morfo-tipológica e/ou por uma clarificação de fronteiras.

Barreiras, quando excessivas, devem suscitar o desafio de as tornar mais permeáveis, melhorando o relacionamento das unidades territoriais com o exterior.

− Identificados percursos viários estruturantes, há que detectar eventuais insuficiências, face à função que desempenham, um a um, troço a troço, mas considerando também a sua organização em rede.

Perante insuficiências, há que perspectivar soluções para as resolver: melhoria do existente, novas vias, ou percursos alternativos. Neste caso, há que considerar a existência de outros troços viários que, para tal, apresentem potencialidades. − Os elementos identificados com potencialidade para constituir estrutura

ecológica nem sempre surgem organizados em rede, nem sempre constituem estrutura, perante ocupações edificatórias que não a respeitaram.

Haverá, então, que identificar insuficiências e potencialidades, de cada um dos elementos e da sua organização em rede e procurar, respectivamente, resolvê-las e aproveitá-las. Para tal, deve perspectivar-se, sempre que possível, as linhas de água a céu aberto e pode-se aproveitar a potencialidade que representam todos os terrenos não edificados para a constituição de um contínuo de verde, mesmo que totalmente artificial (não referenciável a estrutura biofísica pré-existente). De sublinhar que: nem todo o verde é estruturante; ser estruturante pressupõe continuidade, percurso linear, sem prejuízo da ocorrência de alargamentos. − A análise das centralidades e equipamentos deve articular-se, de perto, com a

das unidades territoriais, desde logo porque uma centralidade principal pode constituir uma unidade, e também porque cada unidade deve ter, em princípio, o seu centro local, que inclua os equipamentos de que necessita.

Insuficiências de centralidades e insuficiências de cada uma das tipologias de equipamentos, devendo ser identificadas uma a uma, de forma autónoma (que para os equipamentos exige confronto rigoroso entre existências e necessidades), devem procurar resposta globalizada, já que será da respectiva concentração que

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resultarão pólos de vivência.

3º FASE – Desenho de Matriz Estruturante do território, articuladora de redes estruturantes e unidades territoriais:

− Identificados elementos estruturantes e unidades territoriais, respectivas insuficiências e potencialidades existentes, formuladas hipóteses de soluções para cada uma delas, há que procurar que tais soluções se compatibilizem, articulem e qualifiquem mutuamente.

− Referiu-se, antes, que os elementos estruturantes lineares são fundamentais para a constituição de rede, ao acompanhar-se ou quando se cruzam. Neste caso, de cruzamento, ocorre sempre uma potencialidade, de nó que organize o território (exigindo qualidade e perceptibilidade), ou até desafio para reforço ou instalação de pólo de vivência.

− O estabelecimento de Matriz e de cada um dos seus elementos constituintes exige um vaivém conceptual entre o todo e a parte.

Exige, também, desenho com suficiente pormenor para assegurar e perspectivar soluções, não só exequíveis, mas com qualidade funcional e formal e com legibilidade.

− Desenhada uma Matriz Estruturante para uma determinada Unidade Territorial, esta pode constituir referencial para, usando a mesma metodologia, elaborar matrizes estruturantes de cada uma das Partes que a constituem.

É possível, também, tratar as duas escalas em simultâneo; mas é recomendável uma progressão do geral para o particular, partindo da visão mais abrangente.

3.REFLEXÃO SOBRE ALGUNS ELEMENTOS ESTRUTURANTES