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A geologia estrutural é o ramo da geologia que estuda as estruturas

deformadas presentes na litosfera, estando particularmente interessada na

investigação de suas causas, processos e aspectos geométricos, variando desde a

escala milimétrica até a escala continental (DEL MORO, 2017).

O estudo e reconhecimento das estruturas geológicas possuem importância

científica e prática. Do ponto de vista científico, os estudos em geologia estrutural têm

mostrado que nosso planeta é dinâmico e que vivemos sobre placas litosféricas de

dimensões continentais, que se movem de maneira lenta e contínua. Esta

movimentação é, em grande parte, responsável pela formação das estruturas

geológicas. Do ponto de vista prático, muitas destas estruturas são responsáveis pelo

armazenamento de hidrocarbonetos (petróleo e gás), água, minérios etc. São

importantes também em obras de engenharia civil, onde o levantamento das

estruturas geológicas constitui a base para as grandes obras de engenharia, como

barragens, pontes, túneis, estradas etc (TEIXEIRA et al., 2000).

Cada estrutura representa o resultado de uma determinada deformação sofrida

pelo volume de rochas em questão. Em geologia estrutural a deformação pode incluir

componentes de translação, rotação, distorção (strain) e dilatação (Figura abaixo). A

translação envolve a mudança de posição de todos os componentes da rocha na

mesma direção e distância. O termo rotação é usado para se descrever a rotação

física uniforme do corpo de rocha. Em ambos os casos o corpo rígido se move de

maneira intacta, sem alteração de forma ou tamanho. Quando há alteração na forma

e volume, tem-se dilatação ou distorção. A dilatação é caracterizada pela mudança de

volume, já a distorção é definida como qualquer alteração de forma, orientação,

comprimento e espaçamento de um material, com ou sem variação de volume.

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Figura: Componentes da deformação

Fonte: adaptada de Davis, Reynolds e Kluth. (2011, p. 119)

Além disso, as condições nas quais ocorrem a deformação também influenciam

o comportamento da rocha diante da atuação dos esforços. Dentre essas condições,

é importante destacar o papel da pressão e temperatura, as quais estão relacionadas

à profundidade em que as rochas se encontram na crosta no momento da deformação.

Quando uma rocha se encontra no regime rúptil, ela tem um comportamento frágil

com deformação permanente, sendo que a rocha se fragmenta por fraturamento.

Neste caso, a rocha permanece rígida durante a ação do esforço e, por isso, tende a

apresentar-se quebradiça. Já as rochas sob a influência do regime dúctil

deformam-se lentamente, comportando-deformam-se de forma elástica, não apredeformam-sentando feições de

ruptura, isto é, a rocha molda-se (como um objeto maleável) sem fragmentar-se (DEL

MORO, 2017).

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Portanto, como podemos ver, existem dois domínios geológicos que podemos

distinguir em termos de deformação, o superficial (rúptil) e o profundo (dúctil). Esses

dois níveis crustais irão ditar o comportamento mecânico-deformacional da rocha e,

consequentemente, a formação das estruturas geológicas mais comuns: dobras e

falhas (DEL MORO, 2017).

As DOBRAS são deformações dúcteis que afetam corpos rochosos da crosta

terrestre. Acham-se associadas a cadeias de montanhas de diferentes idades e

possuem expressão na paisagem, sendo visíveis em imagens de satélite. São

caracterizadas por ondulações de dimensões variáveis e podem ser quantificadas

individualmente por parâmetros como amplitude e comprimento de onda. A sua

formação se deve à existência de uma estrutura planar anterior, que pode ser o

acamamento sedimentar ou a foliação metamórfica (clivagem, xistosidade,

bandamento gnáissico) (TEIXEIRA et al., 2000).

O estudo das dobras pode ser conduzido em três escalas: macroscópica,

mesoscópica e microscópica. A escala microscópica corresponde à escala de estudo

em que a estrutura é observada com o auxílio de microscópio ou lupa. Na escala

mesoscópica a estrutura é visualizada de modo contínuo desde amostras na escala

de mão até afloramento, ou maior ainda. Na escala macroscópica a estrutura

observada é produto da integração e reconstrução de afloramentos, sendo, em geral,

representada em perfis ou mapas geológicos.

O estudo das dobras é importante na pesquisa mineral, em programas de

prospecção mineral, exploração e lavra de jazidas, pesquisa de petróleo e obras de

engenharia como escavação de túneis, construção de estradas, barragens, etc.

As dobras podem ser classificadas em dois tipos: atectônicas, relacionadas

com a dinâmica externa do planeta, e tectônicas, relacionadas com a dinâmica

interna. As primeiras são formadas na superfície ou próximas a ela, em condições

muito semelhantes às condições ambiente, sendo desencadeadas pela ação da força

da gravidade e possuem expressão apenas local; as últimas são formadas sob

condições variadas de esforço, temperatura e pressão (hidrostática, de fluidos), sendo

mais relacionadas com processos de evolução crustal, em particular com a formação

de cadeias de montanhas (TEIXEIRA et al., 2000).

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Figura: Dobras atectônicas em rochas sedimentares da região de Punta Arenas, Sul do Chile. Observar que as dobras são restritas à parte inferior das camadas.

Fonte: TEIXEIRA et al. (2000, p. 407)

As dobras atectônicas podem ser formadas a partir de sedimentos saturados

em água, os quais, após o rompimento da força de coesão entre os grãos, adquirem

fluidez e se movimentam num meio de menor densidade, em geral aquoso.

As dobras tectônicas são formadas por dois mecanismos básicos: flamblagem

e cisalhamento. O mecanismo de flambagem promove o encurtamento das camadas

perpendicularmente à superfície axial das dobras, preservando, porém, a espessura

e o comprimento das mesmas.

As FALHAS resultam de deformações rúpteis nas rochas da crosta terrestre.

São expressas por superfícies descontínuas com deslocamento diferencial de poucos

cm a dezenas e centenas de km, sendo esta a ordem de grandeza para o

deslocamento nas grandes falhas (TEIXEIRA et al., 2000).

Aparecem como superfícies isoladas e discretas de pequena expressão, ou, no

caso mais comum, como uma região deformada de grande magnitude, que é a zona

de falha, onde o deslocamento total é a soma dos deslocamentos individuais. A

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condição básica para a existência de uma falha é que tenha ocorrido deslocamento

ao longo da superfície. Contudo, se ocorrer o movimento perpendicularmente à

superfície, a estrutura receberá o nome de fratura. O relevo oriundo de falhas é, em

geral, estruturado, bem refletido em fotos aéreas e imagens de satélites (TEIXEIRA et

al., 2000).

Figura: Imagem de satélite do rio Paraíba do Sul, mostrando o relevo fortemente orientado ao longo do vale do rio, como resultado do controle exercido pela falha de Além-Paraíba

Fonte: TEIXEIRA et al. (2000, p. 411).

Em alguns casos, sobretudo quando se tem uma referência estratigráfica (uma

camada de carvão, por exemplo), a sua identificação é imediata, em outros, é mais

difícil, mesmo para aqueles já familiarizados com o assunto. Essa dificuldade é

crescente em regiões com densa cobertura vegetal e espesso manto de alteração,

como na Amazônia e boa parte das regiões Sul e Sudeste do Brasil.

As falhas são encontradas em vários ambientes tectônicos, sendo associadas

a regimes deformacionais compressivos, distensivos e cisalhantes. São feições

comuns em cadeias de montanhas modernas e antigas e aparecem em diferentes

estágios de sua evolução. Podem ser rasas ou profundas. No primeiro caso afetam

camadas superficiais da crosta, sendo muitas vezes ligadas à dinâmica externa do

planeta. A atividade sísmica (rasa ou profunda) pode também formar estruturas

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superficiais. No segundo caso, podem atravessar toda a litosfera, passando a se

constituir em limite de placas litosféricas, sendo então referidas como falhas

transformantes, como a falha de San Andreas na costa oeste dos Estados Unidos da

América (figura abaixo). (TEIXEIRA et al., 2000).

Geometricamente são divididas em dois blocos, muro e teto, separados por um

plano de falha inclinado.

O plano de falha representa a superfície sobre a qual ocorreu a movimentação

dos blocos, é nessa superfície que pode haver a formação de estrias de falha,

importantes na identificação do sentido de movimento. Quando o muro sobe em

relação ao teto, temos o que chamamos de falha normal, se o teto subir em relação

ao muro temos as chamadas falhas reversas ou inversas. Se o movimento ao longo

do plano de falha for lateral a falha é classificada como transcorrente. Quando

associada a componentes de compressão e extensão, falhas transcorrentes são

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classificadas então como transpressivas e transtativas, respectivamente (DEL MORO,

2017).

Figura: Os tipos de falhas

Fonte: DEL MORO (2017, p. 45)

Ao longo dos planos de falha em regime rúptil de crosta superior (4 a 8 km),

devido à fragmentação associada ou não à recristalização, pode haver a formação de

cataclasitos ou brechas de falha, rochas caracterizadas por grãos angulares,

altamente fraturados com ausência de orientação da rocha. Quando a deformação

ocorre sob regime dúctil em crosta inferior (superior a 10 km de profundidade), a rocha

formada é chamada de milonito e caracteriza-se pela forte orientação causada pela

recristalização dos seus minerais constituintes.

A energia liberada durante os processos de formação de falhas é também

responsável por causar terremotos e resulta do acúmulo de tensões causado durante

a movimentação entre as placas litosféricas. O ponto no qual a ruptura ocorre é

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chamado de hipocentro ou foco, e sua projeção na superfície é conhecida por

epicentro (DEL MORO, 2017).

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BIBLIOGRAFIA BÁSICA

GROTZINGER, J.; JORDAN, T. Para entender a terra. 6. ed. Porto Alegre, RS:

Bookman, 2013.

GUILLOT, S.; YVES, L.; POMEROL, C.; RENARD, M. Princípios de geologia:

técnicas, modelos e teorias. 14.ed. Porto Alegre, RS: Bookman, 2013.

TEIXEIRA, W.; TAIOLI, F.; TOLEDO, C. Decifrando a terra. [S.l.]: IBEP Nacional, 2009.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

DEL MOURO, Lucas. Fundamentos da geologia – Londrina: Editora e Distribuidora

Educacional S.A., 2017. 208 p.

BERTOLINO, Luiz Carlos. Geologia. 2005

SILVA, Antônio Soares da.; VAZ, Alexssandra Juliane. Geologia Aplicada à Geografia.

v.1. - Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2012. 214 p.

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