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1.1 MODERNIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

1.1.3 ESTRUTURAS POSTERIORES AO DASP

A partir dos anos 1980, o Brasil passou a viver grave crise fiscal e financeira, reflexo da crise internacional do petróleo e do esgotamento do modelo desenvolvimentista exportador. O crescimento econômico recuou e a ideia do Estado interventor enfraqueceu. O País transitou da ditadura para a democracia, passando por grandes manifestações sindicais e sociais.

A partir de 1981, a criação da Fundação Centro de Formação do Servidor Público (FUNCEP)36, órgão vinculado ao DASP, que tinha por finalidade promover, elaborar e executar programas de formação, treinamento, aperfeiçoamento e profissionalização, absorveu as atividades de aperfeiçoamento e a publicação da Revista do Serviço Público.

Em 1985, o DASP ficou vinculado ao ministro de Estado Extraordinário para Assuntos de Administração37, e no ano seguinte foi extinto. Suas funções foram absorvidas pela Secretaria de Administração Pública da Presidência da República (SEDAP)38. De acordo com Lima Jr. (1998, p. 15-16), a SEDAP foi estabelecida em 1986, no governo Sarney (1985- 1990), para, entre outros objetivos, ser o órgão central de suporte ao programa de reformas na área administrativa, com fins de modernizar, reformar e desburocratizar a administração federal. Todavia, não obteve êxito em seus propósitos.

Terminado o período militar, a Constituição de 1988 introduziu as mudanças mais

36 A FUNCEP foi autorizada pela lei 6.871, de 3 de dezembro de 1980. Seu estatuto foi aprovado por meio do decreto 85.524, de 16 de dezembro de 1980.

37 Decreto 91.147, de 15 de março de 1985, dispõe sobre a vincu lação do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP).

38 O Decreto 93.211, de 3 de setembro de 1986, cria a Secretaria de Administração Pública da Presidência da República (SEDAP) e extingue o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP).

profundas na gestão pública, reservando, em uma ação inédita na história constitucional, um capítulo específico à Administração Pública. Destacam-se na Carta três pontos principais: democratização de Estado, por meio do fortalecimento do controle externo e da transparência governamental (princípio da publicidade como imperativo do poder público e criação do

habeas data); descentralização das políticas públicas; e profissionalização meritocrática do

serviço civil, pela universalização do concurso público (ABRUCIO; PEDROTI; PÓ, 2010, p. 55-57).

A transparência apontada por esses autores apresenta-se na Revista do Serviço

Público na seleção do fragmento abaixo.

Não se pode buscar a democracia sem considerar que o reencontro da via democrática se dá através da democratização da informação. A proposta da Reforma Administrativa é aumentar o grau de participação do cidadão na vida nacional e isto equivale a desenvolver meios que permitam o livre acesso à informação, para transmitir o conhecimento produzido, o que levará o indivíduo a conscientizar-se de seu papel na sociedade e identificar-se com os seus valores mais autênticos (RSP, 1986, v.114, n.3, p. 32).

Em 1989, a SEDAP foi incorporada à Secretaria de Planejamento e Coordenação (SEPLAN)39, a qual, em 1990, se tornaria a Secretaria da Administração Federal (SAF)40. A FUNCEP, que passaria a denominar-se “Fundação Escola Nacional de Administração Pública” (ENAP)41, se alojava nessa efêmera macroestrutura ligada à Presidência da República. Última estrutura descendente do DASP nas funções ligadas à capacitação de pessoal, a ENAP tem por missão promover a profissionalização da burocracia e desenvolver a competência dos servidores, além de continuar responsável por publicar trimestralmente a RSP.

Os avanços constitucionais não conseguiram sanar muitos dos problemas da administração pública. Por isso, em 1990, a supramencionada Secretaria de Administração Federal herdou a finalidade de gerenciar, entre outros assuntos, a modernização e a organização administrativa. Em 1995, ela seria transformada no Ministério da Administração

39 O decreto 94.159, de 31 de março de 1987, altera a denominação, a estrutura básica e a competência da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, que passa a denominar - se “Secretaria de Planejamento e Coordenação da Presidência da República” (SEPLAN), mantidas suas finalidades, estrutura organizacional básica e competência. A lei 7.739, de 16 de março de 1989, por sua vez, incorpora os assuntos antes atribuídos à SEDAP à SEPLAN.

40 Lei 8.028, de 12 de abril de 1990, dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios, e dá outras providências. Em 1992, esta Secretaria passaria a fazer parte da estrutura do Ministério do Trabalho e da Administração (Lei 8.422/1992), mas no mesmo ano a estrutura é convertida em Ministério do Trabalho e a SAF volta a ser órgão de assessoramento imediato do Presidente da República (Lei 8.490/1992).

41 Lei 8.140, de 28 de dezembro de 1990, altera a denominação da Fundação Centro de Formação do Servidor Público (FUNCEP), e dá outras providências.

Federal e Reforma do Estado (MARE)42.

Provavelmente, o impacto mais significativo das ações do MARE na gestão pública foi o governo eletrônico, cujos resultados são tidos como excelentes em termos de organização das informações, refletindo na redução de custos e no aumento da transparência nas compras governamentais e reduzindo o potencial de corrupção em prol de maior

accountability (ABRUCIO; PEDROTI; PÓ, 2010, p. 67).

Matias-Pereira (2010) considera accountability o conjunto de mecanismos e procedimentos que levam os agentes governamentais a prestar contas dos resultados de suas ações, garantindo maior transparência e exposição pública das políticas públicas. Um governo é accountable quando os cidadãos podem discernir se os governantes estão agindo em função dos interesses da coletividade e conseguindo solucioná-los apropriadamente. Para Jardim (1999, p. 57), trata-se de um conceito fortemente relacionado ao universo político administrativo anglo-saxão.

Oliveira e Flores (2016, p. 264), assim como Jardim (1999, p. 57), chamam atenção para a associação entre a gestão adequada dos dados governamentais, o grau de acesso dos cidadãos aos meios de informação na administração pública e o aumento da governança, da transparência, da accountability e da prestação de contas.

Livia Iacovino (2016, p. 261) considera que “os arquivos não são capazes de evitar fraudes ou corrupção mas podem ajudar a detectá-las”.

No entanto, Jimersom (2008, p. 39) adverte que os arquivistas e os historiadores, trabalham em um cenário público inevitavelmente político e que os arquivos expressam e guardam inúmeras oposições:

memória e esquecimento, sofrimento e esperança, poder e accountability, confinamento e liberação, opressão e justiça, conformidade e diversidade, silêncio e fala. Com freqüência, arquivos servem aos interesses do poder estabelecido, mas eles também podem dar poderes aos grupos marginalizados da sociedade (JIMERSON, 2008, p. 39, grifo do autor). Com a extinção do MARE, em 199943, as competências da pasta foram transferidas para o Ministério de Orçamento e Gestão, mais tarde, Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, cujas áreas de competência abrangem a administração de recursos de informação e informática e a coordenação e gestão dos sistemas de organização e modernização administrativa.

Nos primeiros quatro anos do governo Fernando Henrique Cardoso, a implementação da reforma dependia apenas da persuasão; essa tarefa podia

42 O MARE foi criado pela medida provisória 931/1995, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios. A respeito da reforma gerencial deste período, ver: BRASIL. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (1995).

43 O MARE foi extinto por meio da medida provisória 1.795, de 1 de janeiro de 1999, que altera dispositivos da lei 9.649, de 27 de maio de 1998. O Ministério do Orçamento e Gestão absorveu as competências do MARE por meio do decreto 2.923, de 1 de janeiro de 1999.

ser realizada pelo pequeno MARE. Nos outros quatro anos, a persuasão deverá ser acompanhada de autoridade executiva, da qual só o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão dispõe (BRESSER PEREIRA, 1999, p. 25).

No campo da normatização de procedimentos voltados à gestão de documentos arquivísticos, o Ministério do Planejamento vem definindo procedimentos relativos às políticas nacionais de: processo eletrônico44, dados abertos45, sistema de protocolo integrado46 e padrões de interoperabilidade de governo eletrônico47. Isso significa que as estruturas descendentes do DASP continuaram atuando sobre a gestão de documentos.

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