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2.1 ARQUIVO NACIONAL DO BRASIL

2.1.2 SISTEMA NACIONAL DE ARQUIVOS

A partir do relatório de José Honório Rodrigues e dos estudos do grupo criado pelo decreto 48.936/1960, emergiu a proposição de projeto do primeiro Sistema Nacional de Arquivos, do qual o Arquivo Nacional, sob a nova estrutura regimental, seria o órgão central de orientação técnica e normativa. O Conselho Nacional de Arquivos77 seria responsável por estabelecer a política do Sistema.

Em 1961, o ministro da Justiça e Negócios Interiores instituiu comissão presidida por José Honório Rodrigues para elaborar um anteprojeto para a criação do Sistema Nacional de Arquivos, apresentado em 1962. Embora não tenha sido consolidado legalmente nem suas ações executadas, o anteprojeto foi uma referência fundamental para as propostas das lideranças profissionais da área de Arquivologia (JARDIM, 1995, p. 80-81).

Sobre a proposição de sistema, José Pedro Esposel se manifestaria anos depois em edição da Revista do Serviço Público, confiante na expectativa de uma lei que implantasse um Sistema Nacional de Arquivos, instrumento de governo capaz de

[...] intervir na solução de problemas dos mais significativos dentre os quais a salvaguarda de um patrimônio histórico de valor incalculável e insubstituível, o incremento da pesquisa científica como condição para o progresso, a uniformização de orientação técnica em matéria de arquivos, o intercâmbio e a assistência para os arquivos estaduais e municipais, o esvaziamento de nossa documentação com a aquisição, por países estrangeiros, dos arquivos particulares de personalidades públicas, o preparo de pessoal especializado em níveis universitários como já ocorre em outras nações etc. (RSP, 1968, v.101, n.3-4, p. 145).

Após dezoito anos da proposta de José Honório, oficializou-se, em 1978, o Sistema Nacional de Arquivos (SINAR)78, nos moldes do decreto-lei 200/196779 e da Constituição de 1967, com a finalidade de assegurar a preservação de documentos do Poder Público.

A implementação do SINAR, no entanto, viu-se restrita aos arquivos intermediários e permanentes após a criação do Sistema de Serviços Gerais (SISG)80, que, em 1975, organizou na forma de sistema as atividades de movimentação de expedientes, de

77 Embora existisse o Conselho de Administração de Arquivos como parte da estrutura do Arquivo Nacional aprovado pelo Decreto 44.862/1958, o Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ), nos moldes do sistema proposto por José Honório só seria criado por meio da lei 8.159/1991.

78 O decreto 82.308, de 25 de setembro de 1978, instituiu o Sistema Nacional de Arquivo (SINAR). 79 O artigo 30 do dispositivo legal afirmava: “Serão organizadas sob a forma de sistema as atividades de pessoal, orçamento, estatística, administração financeira, contabilidade e auditoria, e serviços gerais, além de outras atividades auxiliares comuns a todos os órgãos da Administração que, a critério do Poder Executivo, necessitem de coordenação central”.

80 O SISG foi criado pelo decreto 75.657, de 24 de abril de 1975, que dispunha sobre o Sistema de Serviços Gerais dos órgãos civis da Administração Federal direta e das Autarquias federais e dava outras providências.

transmissão e recepção de mensagens (protocolo e arquivo) e de administração de edifícios públicos, imóveis residenciais, material e transporte.

Caberia, portando, ao DASP, órgão central do SISG, no que se refere a protocolo, as seguintes competências: expedir normas para disciplinar o registro de entrada, tramitação e expedição de processos e documentos; expedir normas para disciplinar uso, guarda, conservação, reprodução e incineração de processos e documentos; e expedir normas para disciplinar a transmissão e recepção de mensagens.

Por suas implicações com o SISG, o DASP continuou com a competência de ser o órgão central no que se referia aos arquivos correntes, cabendo ao Arquivo Nacional, órgão central do SINAR, a atuação sobre os arquivos intermediários e permanentes federais. Assim, apesar de autodenominar-se um sistema nacional, sua possibilidade de ação era a administração federal. Ainda que centrado neste universo, o Sistema viu-se limitado aos arquivos intermediários e permanentes (JARDIM, 1995, p. 89).

De acordo com Jardim (1995, p. 88-89), o fracionamento do ciclo vital dos documentos em dois sistemas inviabilizaria o desenvolvimento de uma política de gestão de documentos no Governo Federal. Embora em 1978 o DASP não estivesse mais no auge do poder e da atuação política alcançada nas fases anteriores, sua autoridade e inserção institucional na administração superavam em muito o Arquivo Nacional.

Sobre a demora na definição do papel do Arquivo Nacional por meio do SINAR, Franco e Bastos (1986) consideram que a modernização administrativa por que passou o País depois do decreto-lei 200/1967 exigia a especificação das áreas de competência ministerial, inclusive do Ministério da Justiça, ao qual o Arquivo Nacional estava subordinado. No entanto, ao retardar por mais de dez anos a formalização de seu espaço institucional no interior da Administração Pública federal, o Arquivo acabou enfrentando uma superposição de atribuições legais oficialmente assumidas pelo DASP enquanto órgão central do SISG (FRANCO; BASTOS, 1986, p. 10).

No âmbito do nascente campo epistemológico arquivístico brasileiro, o quinto Congresso Brasileiro de Arquivologia, ocorrido em 1979, recomendava ao Governo Federal a promoção e reformulação da legislação referente ao SINAR e ao SISG, no sentido de que os arquivos em suas três idades, integrassem um único sistema (BOTTINO, 2014, p. 81).

Embora definido legalmente, o SINAR não chegaria a ser implantado. Venancio (2015) pontua que a legislação que propôs o Sistema Nacional de Arquivos, tanto em 1978 quanto em 1991, deu margem a situações muito díspares em termos de legislações estaduais e aos sistemas de arquivos proposto nos estados. Logo, embora se discuta a efetiva implementação do sistema, a repercussão dos atos legais nas unidades federativas não pode ser desconsiderada.

documentos no País. Em 1991, a Lei de Arquivos recriaria o SINAR81, com a finalidade de implementar a política nacional de arquivos públicos e privados, visando à gestão, preservação e acesso aos documentos arquivísticos.

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