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Fase IV Controle e Avaliação: deve-se realizar, em qualquer situação, um

2.3 Estudo dos cenários

Se por um lado o futuro se apresenta sempre com um alto nível de incerteza, por outro, o conjunto de possíveis e prováveis circunstâncias e situações pode ser explorado e analisado. Situações e eventos passados podem fornecer importantes subsídios no conhecimento do comportamento e relações entre descritores no futuro. Entretanto, novas relações podem surgir fazendo com que as antigas se modifiquem ou mesmo desapareçam. Tais mudanças são sempre muito difíceis de se identificar, mas que podem ser detectadas em muitos casos, por especialistas da área, cujo problema está sendo analisado.

A técnica de cenários surgiu na década de 60, como uma metodologia de prospecção sobre as possíveis configurações futuras de um sistema, seja ele social, político, econômico, ambiental ou tecnológico. Ao contrário do que a palavra "cenário" sugere e como geralmente e erroneamente é interpretada, ela não significa uma fotografia estática de uma possível configuração futura. Ela deriva do inglês "scenario", que significa copião ou roteiro de um filme, subentendendo-se aí a descrição dinâmica de uma trama com seus respectivos atores, interagindo no ambiente abordado e limitado no enredo desenvolvido pelo filme ou peça teatral (VALLARIO; SKUMANICH; SILBERNAGEL, 1997).

Como regra geral, no campo do Planejamento, o método de cenários implica numa descrição consistente da evolução dinâmica de um sistema fixado por algumas variáveis exógenas interagentes, características desse sistema - os descritores de cenário. A escolha dos descritores e a formulação de hipóteses consistentes pertinentes ao cenário a ser analisado, constituem a principal dificuldade na utilização deste método. O método de cenários é hoje

largamente utilizado pelas grandes corporações no exterior, para análise prospectiva do papel e da importância da empresa em situações e ambientes alternativos futuros, fundamental nos seus planos e decisões de expansão e investimentos.

O uso de ferramentas de cenários tem como objetivo organizar, sistematizar e delimitar as incertezas explorando sistematicamente os pontos de mudança ou a manutenção dos rumos de uma dada evolução de situações. Um bom cenário explicita passo a passo, como uma situação pode acontecer e que alternativas se colocam em cada momento, para cada agente participante, no sentido de prevenir, evitar, minimizar, reorientar ou facilitar o processo em curso no futuro (BELFORT; PORTO, 2003).

2.3.1 Abordagem determinista e extrapolativa

Para Belfort e Porto (2003), a maioria das previsões tradicionais é a extrapolação de tendências verificadas no passado pela aplicação de análises de séries temporais. As maiorias dessas previsões se fundamentam na hipótese de que o futuro pode ser antevisto mediante a análise do passado, no que é quantificável. Para os autores, os métodos clássicos possuem algumas características comuns, como:

- uma visão segmentada e isolada da realidade, onde o objeto da previsão é tratado de modo relativamente autônomo do quadro sócio-econômico ou tecnológico mais geral, não se fazendo uma análise integrada e consistente dos seus principais componentes, de forma a bem caracterizar a natureza e a espelhar o desenvolvimento de uma região ou do país, ou seja, o objeto é visto como algo isolado ou pouco dependente de fatores exógenos, sendo seu comportamento praticamente autônomo;

- a adoção de um conceito restrito de objetividade e precisão nas previsões tradicionais, que só considera as variáveis ou fenômenos passíveis de quantificação;

- as relações entre variáveis são concebidas como estruturas estáticas, que não se modificam qualitativamente ao longo do horizonte de projeção;

- a explicação ou (determinação) do futuro pelo passado, onde o comportamento de determinada variável é obtido extrapolando-se uma série histórica representativa do seu comportamento passado, o que corresponde à premissa de que, no horizonte

adotado, as relações e correlações identificadas no passado serão mantidas no futuro, pelo menos no essencial;

- a previsão categórica, onde o valor futuro de determinada variável é único e certo, admitindo-se, no máximo, uma faixa de variação "para cima" e "para baixo". A qualidade da variável não se altera e se torna pouco dependente de mudanças nos condicionantes exógenos (tais como mudanças tecnológicas ou novos hábitos de consumo, por exemplo);

- a omissão dos atores intervenientes no objeto de estudo. Os interesses e a influência dos vários segmentos econômicos e políticos no objeto não são considerados ou só o são implicitamente e de forma assistemática, na construção das previsões;

- o uso exclusivo ou predominante de métodos e modelos do tipo econométrico e determinístico. Tais modelos são expressões matemáticas de relações essencialmente estatísticas, onde o comportamento (valor) das variáveis características do objeto de estudo é determinado a partir da correlação com séries históricas com variáveis econômicas, demográficas, tecnológicas etc.

Até início dos anos 70, em função do ambiente de previsibilidade existente, as previsões obtidas mediante estas abordagem levavam a resultados adequados para a determinação do futuro. A partir deste período os ambientes de instabilidade e a incidência de descontinuidades, levaram a acentuados erros de projeções.

A abordagem determinista se evidencia pelos crescentes erros e imprecisões que levam a conclusão de que, salvo em circunstâncias e situações muito específicas, esta abordagem está historicamente superada e seu uso é inadequado ou insuficiente para prognosticar a evolução futura, por quatro razões principais:

a) a inexatidão dos dados e a instabilidade ou insuficiência dos modelos adotados; b) a ausência de uma visão global e integrada da realidade;

c) inadequação para tratar com a incerteza; e d) a explicação do futuro pelo passado.

Outros fatores como a imprecisão dos dados referentes a fatores econômicos e sociais, onde só são válidos para um certo limite de espaço temporal, não podendo ter validade

universal. Além disso, sempre permanece uma incerteza quanto à representatividade dos dados coletados, o que pode levar a prognósticos não confiáveis.

Os modelos econométricos, segundo Belfort e Porto (2003), ainda não permitem perceber ou incorporar os efeitos de mudanças políticas, econômicas, sociais ou tecnológicas e não devem ser usados (isoladamente) em previsões de médio e longo prazo, as quais não podem ser tratadas através de transposições de métodos de curto e médio prazo, como se a dinâmica econômica, social ou política fosse fundamentalmente a mesma.

A abordagem determinista clássica mostra uma incapacidade de lidar com a incerteza, na medida em que configura o comportamento do objeto de projeção exclusivamente num único e incondicional prognóstico, admitindo no máximo uma faixa de segurança. Não possui, portanto, a flexibilidade para antecipar ou evidenciar mudanças qualitativas no futuro, fenômeno cada vez mais freqüente nos dias de hoje.

Belfort e Porto (2003) consideram com principal deficiência da abordagem determinística (ou extrapolativas) é ver o futuro com os olhos no passado. Isto corresponde a ignorar todas as mudanças latentes ou já em andamento - cuja acentuação é uma das características básicas do mundo contemporâneo - e admitir a reprodução das condições vigentes até o horizonte da projeção.

2.3.2 Abordagem prospectiva e probabilística

Godet (1987) define a abordagem prospectiva como uma reflexão sistemática que visa orientar a ação presente à luz dos futuros possíveis. A reflexão prospectiva se impõe em razão de efeitos conjugados de dois fatores principais:

a) em primeiro lugar, a aceleração das mudanças técnica, econômica e social exige uma visão de longo prazo; e

b) os fatores de inércia ligados às estruturas e aos comportamentos consideram que ações de hoje, levam ao resultado de amanhã. Contudo, se o mundo muda, a direção dessa mudança não parece assegurada. As mutações são portadoras de múltiplas incertezas que toda organização deve integrar em sua estratégia: incertezas de natureza econômica sobre a taxa de crescimento; sócio-culturais,

como os hábitos de consumo e, também, de natureza tecnológica, sobre os produtos e os processos do amanhã.

A abordagem prospectiva não pretende eliminar as incertezas através de uma predição ilusória, mas sim, organizar e reduzir quanto possível.

Matus (1989) considera que o planejamento sempre se faz em condições de incerteza. O que muda é o grau e a natureza da incerteza. Ela surge na realidade: porque o ator é que planifica e os seus oponentes exercem um cálculo interativo que redefine permanentemente o universo de eventos possíveis que eles podem e querem produzir; porque a situação sobre a qual eles atuam pode passar por estados imprevisíveis que perturbam o sistema social; e porque o sistema social só admite uma causalidade sistêmica complexa, plural e variada, onde só muito raramente é possível estabelecer relações biunívocas de causa-efeito com algum grau de segurança. Por último, a incerteza pode introduzir-se na situação planificada por meio das perturbações que o contexto externo exerce sobre ela. Por conseguinte, o planejador não pode ignorar a incerteza. Tem de conviver e aprender a lidar com ela.

Desta forma, Belfort e Porto (2003) consideram que as incertezas quanto ao futuro é programar-se e organizar-se o melhor possível para as situações prováveis que preparam o amanhã. O planejamento passa a ser como um processo de decisão frente ao futuro, que deve incorporar recursos técnicos e instrumentos adequados de antecipação do futuro, para não se limitar à intuição e à ilusão de continuidade e estabilidade, ou enganar-se na pura fantasia da utopia, é necessário cuidar de mapear tecnicamente e organizar os futuros prováveis ou plausíveis.

Para Belfort e Porto (2003), ao contrário da concepção determinística, a análise prospectiva e a postura intelectual dos que trabalham com ela deve partir do princípio que o futuro é incerto e indeterminado e que a humanidade tem, a cada instante, diante de si, múltiplas alternativas. Os autores afirmam que o suposto central é que o futuro é construído pela prática social, pela ação dos homens organizados que têm projetos, vontades, conflitos e, sobretudo, uma certa visão dos prováveis futuros. Em outras palavras, a história é uma resultante da ação dos homens e pode seguir por caminhos diversos, definidos pelos interesses em jogo, que as circunstâncias políticas e os constrangimentos estruturais podem definir.

2.3.3 Métodos de desenvolvimento de cenários

Historicamente a técnica de cenários foi introduzida pela disciplina de planejamento militar e, subseqüentemente, adotada em várias outras áreas, tais como economia, gerência e planejamento. Nas últimas décadas sua utilização tem se alastrado por várias outras áreas, notadamente no desenvolvimento de Planejamento Estratégico, onde cenários são utilizados na exploração de alternativas futuras.

A aceleração dos avanços científicos e tecnológicos e o ritmo crescente do desenvolvimento econômico têm motivado as organizações a se preocuparem com o futuro, visando manter-se no mercado globalizado. Antecipar oportunidades e ameaças, construindo visão prospectiva é vital em ambientes de mudanças que exigem respostas rápidas com criatividade e inovação.

A ação prospectiva é um exercício de possibilidades futuras que considera os atores de um dado setor, suas alianças, suas oposições e estratégias, constituindo uma rede importante à inovação e desenvolvimento. Abre-se, a partir da prospecção, um leque de chances para absorção, criação e domínio de tecnologias. A prospecção não é uma atividade de previsão que busca desenhar os fatos mais prováveis, é sim uma ação aberta a diferentes contextos, desenhando múltiplas possibilidades e sugerindo estratégias diversificadas.

Segundo Hamel e Prahalad (1995), o entendimento sobre a previsão do futuro deve seguir uma percepção detalhada das tendências nos estilos de vida, tecnologia, demografia e geopolítica, mas se baseia igualmente na imaginação e no prognóstico. Para criar o futuro, uma organização precisa, primeiro, desenvolver uma representação visual e verbal poderosa das possibilidades de futuro.

Várias são as metodologias de visão de futuro, as mais praticadas em estudos prospectivos e conforme Vallario, Skumanich e Silbernagel (1997) são: metodologia Delphi, construção de cenários, modelagem e análise morfológica, a monitoração e a extrapolação de tendências.

A metodologia Delphi permite estruturar opiniões de especialistas, tendo como resultado um consenso geral do grupo e priorização de temas, a partir de sucessivas rodadas de questionamentos, explorando sempre a abordagem "como será o futuro?". Como fraqueza do método são levantadas as dificuldades para comparação e aproximação das várias

perspectivas levantadas pelos especialistas. Massoud (2001) explica a metodologia Delphi como sendo intuitiva e interativa. Ressalta que a mesma implica na constituição de grupo de especialistas em determinada área do conhecimento, que respondem a uma série de questões. Os resultados dessa primeira fase são analisados, calculando-se a mediana e a amplitude inter- quartílica. A síntese dos resultados é comunicada aos membros do grupo que, após tomarem conhecimento, respondem novamente ao mesmo questionário. As interações se sucedem até que consenso ou quase consenso seja obtido.

A metodologia de construção de cenários, conforme Schwartz (1996), desenvolve a visão de futuros plausíveis que consideram algumas variáveis chaves, podem ser desenvolvidos por meio de branstormings, apoiando-se nas opiniões e idéias de especialistas ou por uso de computador parametrizando as variáveis chaves e suas mudanças no tempo. Godet (1987) corrobora com Schwartz (1996) e defende que a técnica de cenários insere-se no campo de estudo de possibilidades plausíveis, sendo também identificada como técnica de projeção de tendências e possíveis situações futuras. Assim, o propósito essencial de cenários é apresentar uma imagem significativa, de futuros possíveis, em horizontes de tempos diversos, e assegurar o posicionamento mais favorável. O princípio do método inclui simulações e árvores de relevância, sua vantagem reside na característica multidimensional, porém, está sujeito às mesmas idiossincrasias mencionadas na metodologia anterior.

A modelagem e análise morfológica, segundo Rostaing (1993), envolve o uso de técnicas analíticas para o desenvolvimento de quadros futuros. Dessa forma, qualquer das técnicas que use equações e que relacione variáveis, estimando o que essas podem ser no futuro, são aplicáveis. A vantagem dos métodos de modelagem e análise morfológica é a facilidade de prover aos especialistas condições de visualização das relações entre variáveis-chaves de forma sistemática, ao longo do tempo, e sua desvantagem é a incapacidade de refletir toda a complexidade e contingências do mundo real.

A monitoração ambiental é definida segundo diferentes pontos de vista. Aguilar (1967) entende monitoração ambiental como ferramenta de planejamento e meio pelo qual é possível identificar ameaças e oportunidades, em curtos e médios prazos. Já Ansoff (1965) define como gerenciamento de questões estratégicas (issues managemente), ou seja, processo de identificação e análise de questões do ambiente institucional que mereçam a atenção por parte dos planejadores, onde essas questões são consideradas como eventos ou tendências percebidas pelos administradores como capazes de afetar o desempenho de suas organizações.

Porter e Datampel (1995) consideram monitorar como olhar, observar, checar e manter-se atualizado em relação aos desenvolvimentos de uma área definida. Assim, o exercício de monitoramento, tanto pode auxiliar na identificação de variáveis para análises de tendências e construção de cenários alternativos, quanto deve ter seu foco nas mudanças tecnológicas ou mudanças sócio-econômicas. Resumindo, este método examina dados correntes considerando quatro etapas: coleta, filtragem, avaliação e mapeamento e tem sido usado como metodologia sistemática para antecipação. A limitação da monitoração, apontada por Vallario, Skumanich e Silbernagel (1997), é que a mesma se baseia exclusivamente em fontes de informação formal, reduzindo a capacidade de apreender sinais fracos ou descontinuidades.

Finalizando, o método de extrapolação de tendências se baseia na suposição de que padrões atuais não serão alterados, ou seja, não prevê descontinuidades. Considera a coleta de informações passadas e, a partir delas, faz algumas extrapolações, qualitativas e/ou quantitativas. Pode ser um subconjunto da modelagem, inclui sistemas dinâmicos, análise de regressão, curvas S, entre outras. Duas são as limitações do método, partir do princípio de que os padrões não mudam ao longo do tempo e não correlacionar as variáveis envolvidas. Ressalta-se que, atualmente, não se tem variáveis completamente independentes (VALLARIO; SKUMANICH; SILBERNAGEL, 1997).