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Estudo das hipóteses

No documento G ESTÃO DE T RABALHO (páginas 30-38)

5. Resultados

5.2. Estudo das hipóteses

Numa primeira fase são apresentadas as estatísticas descritivas das subescalas: TABELA IV

ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DAS ESCALAS

Escala Min Max Média Padrão Desvio

Motivação para a Organização do Trabalho 1,71 5,00 3,60 0,67 Motivação para o Desempenho 2,86 5,57 4,33 0,59 Motivação para a Realização e Poder 2,71 5,86 4,62 0,67 Motivação para o Envolvimento 2,43 5,57 3,91 0,52 Comprometimento Organizacional Calculativo 1,00 6,00 3,39 0,91 Comprometimento Organizacional Afetivo 1,00 6,00 3,69 0,97 Comprometimento Organizacional Normativo 1,00 6,00 2,81 1,11 Saída 1,00 5,70 2,58 1,03 Lealdade 2,78 5,89 4,29 0,62 Voz 2,10 5,70 4,20 0,64 Negligência 1,00 4,44 1,93 0,58

A partir da Tabela IV pode calcular-se a média global das três escalas. A Motivação tem como média global 4,1 o que significa que os trabalhadores se encontram motivados. De salientar que 90% dos trabalhadores concordam com a questão “Este organismo tem condições de trabalho satisfatórias”.

O Comprometimento Organizacional tem como média global 3,3 que é um valor médio baixo. As médias das subescalas da Saída (2,58) e da Negligência (1,93) indicam que a

30 Saída e a Negligência auto-reportadas são reduzidas. As variáveis Voz (4,20) e Lealdade (4,29), apresentam valores médio altos.

Sendo a Voz e a Lealdade os constructos onde se verificam médias mais altas, conclui- se que os trabalhadores da FCT optam por comportamentos mais construtivos. É dado um exemplo na resposta dada por um trabalhador na sua entrevista: “ (…) acho que não tenho perfil nenhum para coordenar a equipa, acho que… o que eu gosto de fazer é desenvolvimento, é programar… Já falei com a direção relativamente a essa situação.” O motivo pelo qual a Lealdade apresenta uma média muito superior à da Negligência, pode significar que os trabalhadores acreditam que a situação pode melhorar ou que a organização irá resolver os problemas.

Relativamente ao facto da Negligência apresentar uma média baixa, poderá estar relacionado com o facto de as pessoas não auto-reportarem casos de Negligência.

No entanto, nas entrevistas efetuadas a dois trabalhadores existiram relatos de Negligência: “(…) quando nos pedem para fazer, em prazos impossíveis, em que as coisas ficam mal feitas, são entregues mal feitas, nós temos a noção que estão mal feitas”, “Porque as pessoas fazem, fazendo ou não fazendo, no fundo, acaba por dar tudo ao mesmo” e “(…), não há especificação do que se quer, há uma data, mas não se sabe o quê (…) mas é para ontem. E portanto, é praticamente impossível que a qualidade do trabalho seja minimamente decente.” “(…) o que me deixa algo descansada é pensar, eu não acho que seja possível fazer melhor, dentro das condições. Agora, que a qualidade do trabalho… diminuiu, diminuiu drasticamente” e ainda “(…) eu sinto que o trabalho que estou a fazer não tem qualidade (…)”.

Na entrevista realizada à Chefe de Divisão é referida a falta de motivação geral: “A perceção é que a motivação dos trabalhadores da FCT, atualmente é baixa. Os

31 constrangimentos existentes por via da situação económica do país e as repercussões nas questões remuneratórias e de reconhecimento do mérito dos trabalhadores muito têm contribuído para esse fator”. Em duas das três entrevistas realizadas aos trabalhadores, é notória a falta de motivação e a intenção de saída do organismo: “(…) neste momento em que vivemos, em que Portugal atravessa esta crise, acho que cada vez as pessoas se sentem menos motivadas (…)”; “Porque não sinto que esteja aqui a fazer um bom trabalho e porque sinto que posso fazer um trabalho melhor noutro sítio.”

Passando à análise das relações entre as variáveis, de acordo com o modelo sugerido no Capítulo 3, procedeu-se ao estudo das hipóteses.

A H1 é referente à relação entre a escala da Motivação e o Comprometimento organizacional afetivo.

H1: A Motivação dos trabalhadores está positivamente relacionada com o Caf.

Uma vez que os dados são oriundos de uma distribuição do tipo normal, conforme referido no subcapítulo 5.1, recorreu-se ao coeficiente de correlação R de Pearson. Os resultados mostram que existe uma correlação positiva entre o Comprometimento Organizacional Afetivo e todas as subescalas da Motivação, sendo que entre a Motivação para a Organização do Trabalho e o Comprometimento Organizacional Afetivo é baixa (R=0,360), entre a Motivação para o Desempenho e o Comprometimento Organizacional Afetivo é baixa (R=0,322), entre a Motivação para a Realização e Poder e o Comprometimento Organizacional Afetivo é muito baixa (R=0,148) e entre a Motivação para o Envolvimento e o Comprometimento Organizacional Afetivo é moderada (R=0,497) (Pestana & Gageiro, 2008).

32 Dado que se trata de uma relação entre quatro variáveis independentes (MOT, MDES, MENV e MRP) e uma variável dependente (Caf), utilizou-se o modelo de regressão linear múltipla. Na tabela V pode observar-se os resultados da regressão linear múltipla.

TABELA V

REGRESSÃO LINEAR MÚLTIPLA ENTRE A ESCALA DA MOTIVAÇÃO E O COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL AFETIVO

Modelo R R2 R2 ajustado

1 0,497a 0,247 0,240

2 0,539b 0,290 0,276

a. Preditores: (Constante), MENV b. Preditores: (Constante), MENV, MDES

No método Stepwise, o modelo 2 é o que apresenta melhor =0,276. Pode afirmar-se que 27,6% da variabilidade total do Comprometimento Organizacional Afetivo é explicada pelas variáveis independentes presentes no modelo de regressão linear ajustado (MENV e MDES). No entanto o obtido é fraco para estimar a reta (<0,5). A Tabela VI tem como finalidade verificar se o modelo é significativo.

TABELA VI ANOVAa Modelo gl F Sig 1 Regressão Residual Total 1 102 103 33,465 ,000 b 2 Regressão Residual Total 2 101 103 20,666 ,000c

a. Variável Dependente: Caf b. Preditores: (Constante), MENV c. Preditores: (Constante), MENV, MDES

Através da ANOVA verifica-se que os testes F=33,465 e F=20,666 têm associado um p- value = 0,000. Logo, existe uma relação linear entre as variáveis independentes MDES e MENV e a variável dependente Caf, o que mostra que a contribuição destas variáveis

33 independentes é significativa. Este método eliminou as variáveis MRP e MOT, uma vez que a sua contribuição não era significativa.

Observando a Tabela VII verifica-se que os coeficientes estandardizados ( ) referentes às escalas MDES e MENV apresentam maiores contribuições para explicar o comportamento do Comprometimento Organizacional Afetivo. Em qualquer um dos modelos, a estatística de teste t tem um nível de significância < 0,05, pelo que se conclui que as variáveis independentes MENV e MDES afetam significativamente o Caf.

TABELA VII COEFICIENTES a Modelo Coef. Não Estand. Coef.

Estand. t Sig Colinearidade

B Erro

Estand. Toler. VIF

1 (Constante) MENV ,083 ,923 ,629 ,160 ,497 ,132 5,785 ,895 ,000 1,000 1,000 2 (Constante) MENV -1,075 ,827 ,771 ,160 ,445 -1,395 5,158 ,166 ,000 ,942 1,061 MDES ,354 ,142 ,215 2,484 ,015 ,942 1,061

a. Variável Dependente: Caf

Os valores observados da tolerância são próximos de 1, logo não existe multicolinearidade entre as variáveis MENV e MDES. Conclui-se que são independentes. Os valores de VIF (aprox. iguais a 1), reforçam a inexistência de multicolinearidade, tendo em conta que são muito inferiores a 10 (Pestana & Gageiro, 2008). Na tabela da Colinearidade gerada pelo SPSS, os eigenvalues são próximos de zero e o Condition Index é maior que 15. No entanto, não existem problemas de multicolinearidade uma vez que não contribuem substancialmente para a variância dos coeficientes de regressão das variáveis independentes (<50%).

34 Portanto, confirma-se parcialmente H1, uma vez que apenas as variáveis MENV e MDES surgem como variáveis independentes, sendo que a MENV tem mais peso sobre o Comprometimento Organizacional Afetivo.

H2: O Comprometimento afetivo está negativamente relacionado com a Saída.

Em conformidade com o que foi feito na primeira hipótese, recorreu-se ao coeficiente de correlação R de Pearson. Os resultados mostram que existe uma correlação negativa baixa entre o Caf e a Saída (R = -0,347).

No Diagrama de Dispersão entre a Saída e o Comprometimento organizacional afetivo gerado pelo SPSS, observa-se a existência de uma relação linear negativa entre as variáveis Comprometimento Organizacional Afetivo e Saída, identificando-se a equação que a descreve (y = 3,94-0,37x). Sendo o coeficiente de determinação ajustado, =0,112, pode afirmar-se que 11,2% da variabilidade da Saída é explicada pela variável Comprometimento Organizacional Afetivo.

Na ANOVA obteve-se um valor de F=13,986 com 1 e 102 graus de liberdade. Esta estatística de teste tem associado um p-value=0,000. Logo, o modelo é significativo. Verificando a estatística de teste t para > 0,05, pode concluir-se que a variável Caf afeta significativamente a Saída. Logo, confirma-se H2.

Relativamente à H3 estudou-se o efeito de mediação entre as variáveis Motivação (VI), o Comprometimento Organizacional (VM) e a Saída (VD). Dado que a relação de mediação implica uma relação causal, fez-se uma análise de trajetórias. Na análise de trajetórias estudou-se as trajetórias entre a VI, VM e VD, bem como os efeitos que explicam a sua relação. No que respeita à análise de mediação, foi utilizado o teste de Sobel (Baron & Kenny, 1986; Maroco, 2007; Sobel, M., 1982).

35 Para estimar os coeficientes de trajetória do modelo causal da Saída (com a Motivação) é necessário ajustar os seguintes modelos de regressão:

i. Comprometimento Organizacional = 1 Motivação + e1

ii. Saída = 2 Motivação + 3 CO + e2

De acordo com os resultados obtidos (Anexo E) o diagrama de trajetórias apresentado na Figura 4 representa as relações causais analisadas na H3.

a) Análise de trajetórias

FIGURA 4 – Diagrama de Trajetórias

A análise à significância dos coeficientes demonstrou que estes são significativos para todos os coeficientes do modelo causal. Assim, de acordo com o modelo, a Motivação apresenta os seguintes efeitos sobre a Saída:

Efeito direto sobre a Saída de -0,229;

Efeito indireto mediado pelo CO de -0,154 [coeficiente de trajetória da Motivação (0,458) x coeficiente de trajetória do CO (-0,337)].

O efeito total da Motivação sobre a Saída é de -0,383 [-0,229 + (-0,154)].

A correlação entre a Motivação e a Saída é -0,383, podemos afirmar que 100% da associação (-0,383/-0,383=1,00) entre a Motivação e a Saída pode ser atribuída a um efeito total causal entre as duas variáveis.

b) Efeito de mediação da variável Comprometimento Organizacional sobre a Motivação e a Saída; Comprometimento Organizacional Motivação Saída 0,458 -0,337 -0,229

36 De modo a analisar o efeito mediador da variável CO foi utilizado o teste de Sobel. O valor obtido foi Z = -2,8797 e o respetivo p-value 0,003, o que conduz à aceitação da hipótese de mediação da variável CO entre a Motivação e a Saída.

No entanto, segundo Baron e Kenny (1986), considera-se a existência da variável mediadora quando se cumprem os seguintes pressupostos:

a. A variável independente (Motivação) deve afetar a mediadora (CO) na primeira regressão, fator que é cumprido neste modelo, sendo que o valor da correlação entre as variáveis é de 0,458;

b. O CO (VM) possui um efeito significativo sobre a Saída (VD); conforme se observa no modelo, o efeito observado do CO sobre a Saída é significativo; c. A adição do CO (VM) ao modelo deve afetar a Saída (VD), o que se confirma

tendo em conta que o efeito indireto (mediado pelo CO) é superior ao efeito direto da Motivação.

Com base nos resultados apresentados, confirma-se H3.

Relativamente a H4, procedeu-se ao mesmo coeficiente de correlação. A hipótese que se pretende testar é:

H4: A Voz e a Saída estão negativamente relacionadas entre si.

Analisando o Diagrama de dispersão das variáveis Voz e Saída, gerado no SPSS, a relação parece ser aproximadamente linear (y = 4,8-0,53x) (Pestana & Gageiro, 2005). A reta ajustada é decrescente, o que significa que, em média, quanto maior for o nível da variável Voz, menor é a Saída.

Sendo o valor de R de Pearson igual a -0,328, tem-se uma correlação negativa moderada. Uma vez que =0,099, pode afirmar-se que 9,9% da variabilidade da Saída é explicada pela variável Voz. Na ANOVA obteve-se um valor de F=12,262 com 1 e

37 102 graus de liberdade. Esta estatística de teste tem associado um p-value = 0,001. Logo, o modelo é significativo. Verificando a estatística de teste t (-3,502) que tem um p-value = 0,001 associado, para > 0,05, pode concluir-se que a variável Voz afeta significativamente a Saída. Logo, confirma-se H4.

6. Conclusão, Investigação futura e Limitações do estudo

No documento G ESTÃO DE T RABALHO (páginas 30-38)

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