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É cada vez maior o interesse que os pesquisadores da área educacional vêm demonstrando pelo uso das metodologias qualitativas. Ainda assim, muitas dúvidas existem sobre o que realmente caracteriza uma pesquisa qualitativa. Lüdke e André (1986, p. 11) tentam elucidar esse conceito, citando Bogdan e Biklen (1982) que apresentam em sua obra A Pesquisa Qualitativa em Educação, cinco características básicas que permeiam esse tipo de estudo:

 A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; [...]  Os dados coletados são predominantemente descritivos; [...]

 A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; [...]

 O “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador; [...]

 A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo; [...] (LÜDKE e ANDRE, 1986, p. 11).

Sobre este tipo de estudo, percebe-se um contato direto do pesquisador com a situação estudada, uma maior preocupação com o processo e com a perspectiva dos participantes, uma vez que os fenômenos ocorrem naturalmente e são influenciados pelo contexto, o que determina a importância dessa particularidade para o entendimento do objeto em questão.

A pesquisa qualitativa não está moldada na determinação, como acontece nas ciências naturais, não se parte de um modelo teórico da questão que está estudando, nem pretende garantir a representatividade por amostragem aleatória dos participantes. O objetivo não é apenas testar o que é conhecido e sim encontrar novas características na situação que está sendo estudada e elaborar hipóteses ou uma teoria a partir de tais descobertas.

É uma situação de pesquisa projetada para ser aberta, passível de mudanças e adequações. Flick (2013, p. 24) nos explica que:

Os participantes podem experenciar a situação de pesquisa, eles estão envolvidos no estudo como indivíduos, sendo deles esperado que contribuam com suas experiências e visões de suas situações particulares de vida ..., é mais um diálogo, em que a sondagem, novos aspectos e suas próprias estimativas encontram o seu lugar (FLICK, 2013, p. 24).

Isso revela a importância de a pesquisa qualitativa possuir uma forma mais subjetiva de coleta de dados, com questões abertas, dando maior liberdade e espontaneidade aos envolvidos, de forma transparente, valorizando a captação de significados das questões a partir das perspectivas dos participantes.

Para Bortoni-Ricardo (2008, p. 34),

Na pesquisa qualitativa, não se procura observar a influência de uma variável em outra. O pesquisador está interessado em um processo que ocorre em um determinado ambiente e quer saber como os atores sociais envolvidos nesse processo o percebem, ou seja, como o interpretam (BORTONI-RICARDO, 2008, p. 34).

Dessa forma, neste paradigma da pesquisa qualitativa, um fenômeno ou uma situação é estudada e todos os envolvidos no processo são valorizados, assim como o contexto social em que estão inseridos, são investigados também os “atores sociais” conforme nos aponta Bortoni-Ricardo, assim como o ambiente e tudo mais que possa influenciar o objeto de estudo. No caso desta pesquisa, o fenômeno estudado é a variação linguística do Espanhol, os envolvidos, os atores sociais são: os professores atuantes na cidade de Ponta Grossa – PR, bem como o material didático utilizado nas escolas e as políticas linguísticas que regem o ensino de Espanhol/LEM.

Um método empregado na pesquisa qualitativa é o Estudo de Caso, que “vem sendo muito utilizado em diferentes áreas do saber, sociologia, antropologia, medicina, psicologia, serviço social, direito, administração, variando quanto aos métodos e finalidades” (ANDRE, 2008, p. 13), e cuja principal meta é destacar as características e atributos da vida social.

Sobre o conceito de Estudo de Caso, André (2008, p.17) resume o que Merriam (1988) defendeu:

O Estudo de caso focaliza uma situação, um fenômeno particular, faz uma descrição densa da situação investigada, engloba um grande número de variáveis e retrata suas intenções ao longo do tempo. Podem revelar a descoberta de novos significados, estender a experiência do leitor ou confirmar o já conhecido. Se baseiam na lógica indutiva, na descoberta de novas relações, conceitos, compreensão (ANDRE, 2008, p. 17).

Como afirma o autor acima, o caso é sempre bem delimitado, devendo ser claramente definido no desenrolar do estudo, tem um interesse próprio, singular, que busca um valor em si mesmo, ainda que mais tarde, possa apresentar semelhanças com outros casos ou situações. Ele pode revelar novos fatores até então não discutidos, fazer com que o pesquisador descubra novas relações, e tenha que, muitas vezes, durante o processo de pesquisa, fazer alterações e inovações em seu trabalho.

Lüdke e André (1986, p. 18-20) apontam as características ou princípios que são associados frequentemente ao estudo de caso:

Os estudos de caso visam à descoberta, enfatizam a “interpretação em contexto”, buscam retratar a realidade de forma completa e profunda, usam uma variedade de fontes de informação, revelam experiência vicária e permitem generalizações naturalísticas, procuram representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista presentes numa situação social e, seus relatos utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa (LÜDKE e ANDRE, 1986, p. 18-20).

Sendo assim, o pesquisador procurará se manter sempre atento a novos elementos que podem surgir no decorrer do estudo, uma vez que o conhecimento não é algo acabado, mas uma construção que precisa ser feita e refeita a todo momento. Levar em consideração o contexto é primordial, para se entender o objeto

de estudo e sua construção, assim como, retratar as múltiplas dimensões existentes numa determinada situação ou problema, tomando-o em seu todo.

Dessa forma, não posso afirmar que somente com a entrevista a realidade foi apresentada de forma completa e profunda. Precisaria dispor de uma variedade maior de dados coletados em diferentes situações, cruzar essas informações, confirmar ou refutar hipóteses, descobrindo novos caminhos ou readequando os que já se encontram em andamento. No entanto procurei relatar as minhas experiências durante o estudo, e, quando houve divergências de opiniões, busquei trazê-las, revelando também o meu ponto de vista sobre a questão. E finalmente, os relatos escritos foram apresentados num estilo informal, narrativo, fazendo uso de figuras de linguagem, citações, exemplos, descrições, etc.

Tendo em vista que as pesquisas qualitativas buscam compreender o sujeito e a sua relação com o mundo social, a escolha de um método eficiente é imprescindível, para que o pesquisador possa entender e interpretar esse indivíduo localizado em um contexto social. Por todas as características citadas, o estudo de caso foi escolhido nesta pesquisa como método que embasará a coleta de dados.

3.2.1 Estudo de caso do tipo Etnográfico:

O termo etnografia originou-se por antropólogos no final do século XIX para se referirem a “monografias que vinham sendo escritas sobre os modos de vida de povos até então desconhecidos na cultura ocidental” (BORTONI-RICARDO, 2008, p. 38). Os radicais que compõem essa palavra são do grego: ethnoi, que significa “os outros”, e “grafos” que quer dizer “escrita” ou “registro”. “É uma perspectiva de pesquisa tradicionalmente usada para estudar a cultura de um grupo social” (ANDRE, 2008, p. 24).

O Estudo de Caso do tipo etnográfico fornece uma visão profunda e ao mesmo tempo ampla e integrada de uma situação complexa, retrata eventos da vida real, sem deixar de lado as complexidades e a dinâmica natural inerentes a essas situações. Atribui novos sentidos ao fenômeno estudado, expandindo experiências

ou confirmando as que já são conhecidas. Pode também deixar pistas para aprofundamentos e futuras pesquisas.

Nesse método, o pesquisador tem o papel principal na coleta e análise dos dados, uma vez que deve manter um esquema flexível e aberto de investigação, aproveitar oportunidades, saber lidar com os prós e contras de sua condição humana. Deve-se tornar familiarizado com o contexto no qual realizará seu estudo, dialogar com os participantes sobre o tempo que será necessário e o grau de envolvimento entre eles.

Sendo assim, justifico a escolha desse método, uma vez que pesquiso uma situação (variação linguística e o ensino de Espanhol como Língua Estrangeira moderna/LEM) num determinado grupo social (professores da educação básica de escolas públicas e privadas de Ponta Grossa – PR), revelando eventos da vida real presentes nas práticas pedagógicas destes profissionais.

Cabe explicar ainda sobre os documentos selecionados para este estudo, o objetivo de se realizar análise documental para embasar principalmente a análise dos dados pesquisados.