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O Estudo do Meio: o objeto de estudo das Ciências Sociais no 1.º CEB

PROFESSOR ALUNO

2.3. O Estudo do Meio: o objeto de estudo das Ciências Sociais no 1.º CEB

A área curricular de Estudo do Meio, pode dizer-se que é relativamente recente no nosso país. Foi nos Estados Unidos que esta área curricular ganhou domínio, designada por Social Studies.

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Como refere Roldão (1995) tal facto tem a sua justificação nas condições particulares desses países, nas suas condições curriculares e filosóficas, bem como nos contextos específicos a que os currículos escolares procuram responder em épocas determinadas. Como acrescenta Lopes e Pontuschka (2009), o Estudo do Meio seria um “recurso por excelência” para que se pudessem suprimir as fronteiras entre a escola e a vida.

Já Lopes e Pontuschka (2009) relembra que o Estudo do Meio não é uma prática pedagógica nova no universo educacional, fazendo parte, na verdade, de uma “tradição escolar” que, inspirada em educadores tais como Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909) e Célestin Freinet (1896-1966), tem por objetivo proporcionar aos estudantes uma aprendizagem “mais perto da vida”, ou seja, um contato mais direto com a realidade estudada, seja ela, natural ou social.

O contacto dos alunos com a disciplina do Estudo do Meio proporciona o seu desenvolvimento em diversos aspetos, como refere Roldão (1995):

 competências de análise e reflexão, indispensáveis ao desenvolvimento da pessoa como ser pensante;

 compreensão de realidades e contextos socionaturais que contribuem para a estruturação do individuo na rede de interações em que está inserido, e para o desenvolvimento da sua sensibilidade à diversidade e à diferença;

 processos socioafetivos de identificação e pertença, necessários ao crescimento da pessoa como ser biológico, social e cultural;

 competências imaginativas e de abstração pela descoberta de temas relativos à realidade vivenciada por outros, ao passado e ao distante, que constituem outros tantos campos de desenvolvimento da pessoa pelo confronto com outras realidades para além da sua;

 atitudes e valores associados ao estudo das relações do homem com o ambiente, da integração dos indivíduos nos seus diversos grupos de pertença, da importância das atividades desenvolvidas pelo homem nos domínios económicos e cultural, do papel das comunidades e instituições na organização das relações entre as pessoas.

Para além das competências supramencionadas, a área do Estudo do Meio desempenha um importante papel no desenvolvimento das competências dos alunos ao nível da cidadania. Tais competências são desenvolvidas quer pelos conteúdos/temas abordados quer pelas metodologias usadas nas aulas de Estudo do Meio. Ambas conduzem a uma maior consciência e atitudes democráticas.

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Desta forma, o Estudo do Meio promove o desenvolvimento de um conjunto de aprendizagens relevantes, como também mobiliza essas mesmas aprendizagens para o desenvolvimento harmonioso da criança, contribuindo para o seu enriquecimento não só como aluno, mas, acima de tudo, como pessoa.

O desenvolvimento do aluno não tem haver somente com as aprendizagens que vai adquirindo, mas com o seu envolvimento em todo o processo de aprendizagem. Este envolvimento, de extrema importância, não é muito evidente nos programas que regulam o ensino básico.

Neste sentido podemos nomear três competências essenciais desenvolvidas pelo programa do Estudo do Meio, como indica Roldão (1995):

 conhecimento /compreensão da realidade social;  promoção de atitudes de respeito pela diversidade;  prática de metodologias de aprendizagem.

Muitos estudos e pesquisas têm sido realizados a fim de compreender a importância do Estudo do Meio nas escolas do 1.º CEB. Esses estudos e pesquisas têm mostrado a significância do Estudo do Meio na atualidade. Como refere Lopes e Pontuschka (2009), as referidas pesquisas mostram que tais atividades têm contribuído para o fortalecimento da autonomia da instituição escolar e dos professores de maneira geral.

Relativamente à escola, este tipo de abordagem pode ser visto como uma alternativa às propostas vindas do Ministério da Educação (ME) e, quanto aos professores, o trabalho com base em investigações e trabalho de campo dá-lhes a oportunidade de desenvolver os seus saberes profissionais sem serem totalmente orientados por manuais escolares, muitas vezes decadentes e desprovidos de pertinência face ao sistema educativo e aos alunos que, hoje em dia, frequentam as nossas escolas. Nesta perspetiva, o Estudo do Meio, para além de todas as suas potencialidades que revela possuir no quadro do currículo do 1.º CEB, pode ainda ser uma área que impulsiona processos de mudança da prática docente.

Considerando que um dos aspetos essenciais do 1.º CEB é a abordagem integrada do conhecimento (Roldão, 1995), em particular a área de Estudo do Meio, este nível de ensino assume-se como o contexto privilegiado para a concretização da interdisciplinaridade, uma estratégia que Pacheco (1996) defende favorecer a aprendizagem dos alunos.

O Estudo do Meio pode ser entendido como uma área que potencia métodos de ensino interdisciplinar em que alunos e professores entram em contacto direto com determinadas realidades. Assim, como refere Lopes e Pontuschka (2009), o Estudo do

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Meio, em todos os níveis de ensino, mas particularmente na educação básica, pode tornar mais significativo o processo ensino-aprendizagem. Trata-se de verificar a pertinência e a relevância dos diversos conhecimentos selecionados para serem ensinados no currículo escolar…

Compreendidas todas as potencialidades da área do Estudo do Meio importa frisar que o seu sucesso depende do trabalho que é desenvolvido. Para Lopes e Pontuschka (2009), o êxito do Estudo do Meio depende de um trabalho de planeamento flexível, mas, certamente rigoroso, que envolve a partir do que podemos depreender.

Alguns estudiosos pensaram num “roteiro” que permite delinear as várias formas de organização para trabalhar a área. Primeiramente, é fundamental uma reflexão que pode ser individual ou coletiva acerca das práticas pedagógicas desenvolvidas numa determinada escola.