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Estudar o efeito que a composição dos Conselhos de Administração pode ter na performance financeira das empresas pode ser dificultada por vários fatores. Segundo Rover (2011), os três fatores mais discutidos são:

• como medir a diversidade ao longo do tempo - a diversidade pode ser medida como o número de mulheres num determinado momento do tempo (medida estática) ou como a mudança no número de mulheres e as consequências dessa mudança (medida dinâmica) (Ryan e Haslam 2005). O The Times publicou no ano de 2003 um artigo intitulado “Women on board: Help or hindrance?” no qual relatou que as empresas cotadas no Reino Unido estariam provavelmente

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melhores sem mulheres nos Conselhos de Administração, ou seja, o autor verifica que existe uma relação negativa entre o desempenho e as empresas no topo do “English Female FTSE100 Index 2003”. Os autores Ryan e Haslam (2005) criticaram a falta de visão do referido artigo e resolveram investigar a relação entre a nomeação de um homem ou de uma mulher com o desempenho financeiro. Concluíram que o desempenho financeiro das empresas que nomeavam uma mulher era pior nos cinco meses anteriores à nomeação, relativamente às empresas que nomeavam um homem. Estes autores concluíram que por vezes as mulheres são nomeadas quando as empresas estão em apuros,

para descrever esta situação os autores utilizam o termo “glass cliff5”.

• causalidade entre diversidade e performance financeira – Van Ees et al (2007) argumentou que um Conselho de Administração mais diversificado pode surgir em momentos de pior desempenho financeiro das empresas. Assim, posteriormente ao investigar-se a relação entre o desempenho financeiro e a nomeação de uma mulher, pode ser encontrada uma relação negativa em vez de positiva uma vez que a sua nomeação se deu com base em mau desempenho financeiro.

teoria “critical mass” – De acordo com Kramer et al. (2006) esta teoria sugere que apenas quando se atinge um determinado limiar (uma massa crítica) o impacto de um subgrupo, tal como mulheres nos Conselhos de Administração, se pode tornar mais acentuado. Este autor considera que Conselhos de Administração com três ou mais mulheres são mais propensos a experimentar os efeitos positivos e as contribuições para uma boa governança do que Conselhos de Administração com menos mulheres.

De acordo com Rover (2011) os estudos Catalyst (2007) e McKinsey (2007) dão pouca atenção a estes fatores. No entanto, dada a popularidade de pesquisa destes estudos e da sua abordagem específica em categorizar Conselhos de Administração como diversos ou não diversos, iremos por consistência e para fins de comparação aplicar os seus métodos para o nosso estudo mas com algumas melhorias. Essas melhorias serão

5 Penhasco de vidro

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sobretudo testes de significância estatística dos resultados obtidos, testes estes que não estão preconizados nos estudos Catalyst (2007) e McKinsey (2007).

O estudo efetuado por Rover (2011) analisa a performance financeira de empresas holandesas com e sem mulheres nos seus Conselhos de Administração. Para efetuar esta análise o autor aplica os métodos Catalyst (2007) e McKinsey (2007), dois estudos bastante referidos na literatura apesar de apresentarem algumas limitações. Através da análise de 99 empresas cotadas no “Dutch Female Board Index” foi possível concluir que empresas com mulheres nos seus Conselhos de Administração apresentam melhores resultados face àquelas que não têm.

Assim, dada a relevância dos métodos Catalyst (2007) e McKinsey (2007) apresentamos de seguida a metodologia e resultados obtidos nos mesmos.

2.3.1 Método Catalyst (2007)

O estudo Catalyst (2007) analisa a relação existente entre mulheres nos Conselhos de Administração e a performance das empresas. Este estudo listou um conjunto de 520 empresas dos Estados Unidos tendo por base a percentagem média de mulheres nos conselhos dessas empresas para os anos de 2001 e 2003. A amostra foi dividida em 4 quartis, sendo cada um composto por 130 empresas. Assim foi possível comparar no que respeita ao desempenho financeiro das empresas o quartil superior (empresas com maior percentagem de mulheres no conselho) com o quartil inferior (empresas com menor percentagem de mulheres no conselho). As medidas financeiras utilizadas foram o ROE (Return On Equity – Rentabilidade dos Capitais Próprios); ROS (Return On

Sales – Rentabilidade das Vendas) e ROIC (Return On Invested Capital – Rentabilidade

do Capital Investido). Para estas variáveis foram utilizadas as médias do quadriénio 2001-2004.

O Gráfico 3 mostra que para o quartil superior o desempenho financeiro é sempre superior face ao quartil inferior. Sendo essa superioridade de 53% no caso do ROE, de 41% no caso do ROS e de 64% no caso do ROIC. Todavia, este estudo não menciona se estes valores são estatisticamente significados nem se foram considerados valores extremos.

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Gráfico 3 – Método Catalyst (2007)

2.3.2 Método McKinsey (2007)

O estudo elaborado pela McKinsey denominado Women Matter (2007) pretende verificar a relação existente entre mulheres na gestão de topo e desempenho organizacional. Para tal procedeu-se a dois tipos de estudos:

• Estudo qualitativo: baseia-se em inquéritos em larga escala, nomeadamente a 115.000 funcionários, inquirindo por que mulheres no topo de gestão poderiam ser causa de melhor desempenho financeiro face às empresas sem mulheres nas suas equipas de gestão.

• Estudo quantitativo: compara 89 empresas europeias cotadas na base de dados AMM/AEF (AMM Finance Sicav - Amazone Euro Fund) com melhor índice de diversidade com a média do sector.

Enquanto que, o estudo Catalyst (2007) compara as empresas em função da percentagem de mulheres nos Conselhos de Administração, o estudo da McKinsey compara as empresas com maior diversidade de género com a média do sector. As medidas financeiras usadas pela McKinsey são: ROE (Return On Equity – Rentabilidade dos Capitais Próprios); Operating Result (Earnings Before Interest and

Taxes, EBIT) e Stock Price Growth (Variação do Preço das Ações).

9,1% 9,7% 4,7% 13,9% 13,7% 7,7% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 14,0% 16,0%

ROE ROS ROIC

Indicadores Financeiros

Método Catalyst

Quartil inferior Quartil superior

+41%

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Através da análise do Gráfico 4 podemos verificar que para os diferentes indicadores financeiros as empresas com maior diversidade de género apresentam valores superiores relativamente à média do sector. O ROE é superior em 11%, o ROS é superior em 91% e o ROIC é superior em 36%. No entanto, os resultados são agregados para todos os sectores juntos. O estudo não indica quais os sectores representados, se os sectores estão igualmente distribuídos, nem qual a distribuição por países ou sectores. Tal como no estudo Catalyst (2007) não há menção ao facto de os valores serem ou não estatisticamente significativos nem se foram considerados valores extremos.

Gráfico 4 – Método McKinsey (2007)

10,3% 5,8% 47,0% 11,4% 11,1% 64,0% 0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%

ROE ROS ROIC

Indicadores Financeiros

Método McKinsey

Média da Indústria Empresas com maior diversidade de género

+36% +91%

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