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4. DOENÇAS CARDIOVASCULARES

4.1 Estudos Epidemiológicos Observacionais

Vários estudos epidemiológicos demonstram uma associação entre o consumo de peixe e a redução do risco de mortalidade por doença coronária, no entanto, outros não. Uma revisão sistemática de 4 coortes prospectivas (67, 70, 72, 77), foi publicada por Marckmann em 1999.(78) No Health Professionals Follow-up Study e

US Physicians Health Study, não foram encontradas evidências do efeito

protector do consumo de peixe. É de salientar que estes estudos foram realizados em profissionais de saúde, que à partida teriam um baixo risco de doença coronária, pois apresentavam uma baixa percentagem de fumadores (8-13%), um consumo médio de gorduras saturadas inferior a 10% do VET, e concentrações séricas totais de colesterol desejáveis. (78)

Contrariamente, no Zutphen Study e Chicago Western Electric Study, que envolveram populações consideradas de alto risco (60% de fumadores, consumo de gordura saturada de 16-18% do VET e com valores séricos totais de colesterol

elevados), foi encontrada uma relação inversa entre o consumo de peixe e a morte por doença coronária, onde um consumo de 40-60g/dia de peixe estava associado a uma redução do risco da ordem dos 40-60%.(78)

No Chicago Western Electric Study, foi verificado, após um follow-up de 30 anos, um efeito favorável do consumo de peixe, especialmente na morte não súbita por enfarte de miocárdio. Comparativamente com os que não comiam peixe, os indivíduos que consumiam pelo menos 35g por dia apresentavam um risco relativo de morte por doença coronária de 0.62, e um risco relativo de morte não súbita por enfarte de miocárdio de 0.33.(72)

Albert et al.(77) sugeriu, que o facto de apenas 3.1% da sua amostra ter referido não comer ou comer pouco peixe, pode ter motivado a não associação encontrada no US Physicians Health Study, pois geralmente os estudos que revelam associação apresentam uma população de tamanho razoável que não come ou come muito pouco peixe.(10, 77) Outros investigadores consideram, que na origem da variação dos resultados epidemiológicos, podem estar factores como, a variabilidade de “end points”, diferenças nas populações em estudo, diferentes períodos de follow-up, diferentes metodologias de determinação da ingestão, variações no ajuste de co-variáveis, ou mesmo, a não distinção do tipo de peixe consumido.(10, 79)

Num estudo realizado por Oomen et al.(73), que envolveu três países europeus (Finlândia, Itália e Holanda), só o consumo de peixe gordo, revelou estar associado a uma redução da mortalidade por doença coronária, não se verificando qualquer associação em relação ao consumo de peixe magro.(73)

Recentemente foi publicada por He K. et al.(80) uma meta-análise de 11 coortes observacionais, abrangendo no total 222.364 pessoas, e com uma média de

follow-up de 11.8 anos.(80) A tabela seguinte, mostra os riscos relativos (RR) conjugados de mortalidade por doença coronária, em relação ao consumo de peixe.

Tabela 1 – RR’s conjugados (95%IC) de mortalidade por doença coronária, de acordo com o

consumo de peixe. Adaptado de He K. (80)

Em comparação com os que não consomem peixe, ou o fazem menos de 1 vez por mês, os indivíduos que comem peixe 1 vez por semana apresentaram uma diminuição significativa do risco relativo de morte por doença coronária da ordem dos 15% (RR 0.85: 95%IC,0.76-0.96). O efeito benéfico na mortalidade, aumentou gradualmente em função do consumo de peixe, atingindo o seu máximo nos indivíduos que consumiam peixe 5 ou mais vezes por semana, onde a mortalidade foi 38% mais baixa (RR 0.62: 95%IC, 0,46-0.82).(80)

Um grande número de estudos epidemiológicos, investigou também a associação entre o consumo de peixe e o risco de acidente vascular cerebral (AVC)(71, 81-87). Uma meta-análise de 9 coortes, abrangendo um total de 200.575 pessoas, revelou que, em comparação com os indivíduos que não consumiam peixe ou o faziam menos de uma vez por mês, o risco relativo (RR) conjugado de AVC foi de 0.91 (95%IC; 0.79-1.06) para os indivíduos que consumiam peixe 1-3 vezes por

mês, 0.87 (95%IC; 0.77-0.98) para os que consumiam 1 vez por semana, 0.82 (95%IC; 0.72-0.94) para um consumo de 2-4 vezes na semana, e 0.69 (95%IC 0,54-0.88) para um consumo superior a 5 vezes por semana (79).

Nessa mesma meta-análise, foi também feita uma análise estratificada aos estudos que faziam a distinção entre acidente vascular isquémico e hemorrágico (82, 83, 86)

. Os riscos relativos (RR) conjugados ao longo das cinco categorias de consumo de peixe, foram de 1.0, 0.69 (95%IC; 0.48-0.99), 0,68 (95%IC 0.52- 0.88), 0.66 (95%IC; 0.51-0.87), e 0.65 (95%; 0.46-0.93) para o acidente vascular isquémico, e de 0.1, 1.47 (95%IC; 0.81-2.69), 1.21 (95%IC, 0.78-1.85), 0.89 (95%IC; 0.56-1.40) e de 0.80 (95%IC; 0.44-1.47) para o acidente vascular hemorrágico, concluindo-se assim, que foi encontrada uma associação inversa entre o consumo de peixe e o risco de AVC, particularmente em relação ao acidente vascular isquémico.(79)

Dyerberg e Bang (88) demonstraram, que o aumento do conteúdo em EPA no plasma e plaquetas dos esquimós da Gronelândia levou a uma diminuição da agregabilidade plaquetária, e ao aumento do tempo de coagulação, aumentando o risco de acidente vascular hemorrágico.(88) A não distinção em estudos epidemiológicos, entre os dois tipos de acidente vascular pode de certa forma atenuar a verdadeira associação entre o consumo de peixe e o risco de AVC. Um recente estudo caso-controlo aninhado na coorte Cardiovascular Health

Study, foi realizado por Lemaitre et al.(89), com o intuito de investigar as associações entre a concentração de EPA, DHA e ALA nos fosfolípidos plasmáticos, e o risco de morte por doença coronária isquémica, e de enfarte do miocárdio não fatal, em adultos com mais de 65 anos. Foram considerados casos,

os indivíduos que sofreram enfarte agudo de miocárdio (fatal ou não), ou qualquer outra doença coronária esquémica.(89)

Após o ajuste dos factores de risco, uma maior concentração conjunta de EPA e DHA esteve associada a um menor risco de morte por doença coronária isquémica (odds ratio: 0.32, 95%IC: 0.13-0.78 p=0.01) e uma maior concentração de ALA a uma tendência para a diminuição do risco (odds ratio: 0.52, 95%IC: 0,24-1.15 p=0,1). Pelo contrário, não foi encontrada qualquer associação com o risco de enfarte de miocárdio não fatal. Em suma, uma ingestão combinada de EPA e DHA, e possivelmente de ALA, demonstrou reduzir o risco de morte por doença coronária isquémica em adultos mais velhos.(89)

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