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Esta seção é iniciada ressaltando-se que não foram encontrados estudos experimentais que procurassem descrever a relação entre o distúrbio do processamento auditivo (central), consciência fonológica e memória de trabalho, declarativa e procedural. Localizou-se apenas um estudo que relaciona o distúrbio específico de linguagem, a memória de trabalho e o processamento auditivo (central). Esse estudo foi realizado por Sawasaki (2013) e teve como objetivo verificar a relação do distúrbio específico de linguagem com o componente alça fonológica da memória de trabalho e com as habilidades do processamento auditivo (central). Os resultados encontrados

pela autora demostraram que as crianças com distúrbio específico de linguagem apresentaram resultados inferiores nos testes que avaliaram as habilidades auditivas e o componente alça fonológica da memória de trabalho. A autora infere que os portadores do distúrbio específico de linguagem apresentam disfunção no processamento da informação, tanto por modalidade auditiva, quanto cognitiva.

Outro estudo relacionado ao distúrbio específico de linguagem que apresenta objetivos semelhantes ao do presente estudo, é o de Lum et al. (2011), que investigou o sistema de memória de trabalho de crianças com distúrbio específico de linguagem, utilizando a Working Memory Test for Children (2001), bateria de testes que que foi adaptada para o presente estudo. Os pesquisadores, que utilizaram tarefas que avaliaram o componente executivo central e a alça fonológica da memória de trabalho, encontraram desempenho inferior nessas tarefas para as crianças com distúrbio específico de linguagem. Já, para a tarefa que avaliava o componente visual-espacial da memória de trabalho, o resultado foi semelhante ao do grupo controle constituído de crianças saudáveis. Os autores interpretam os resultados apontando a relação existente entre a memória de trabalho e a linguagem, sugerindo que o processamento da memória de trabalho pode ser prejudicado por uma dificuldade do processamento da linguagem. Esse estudo de Lum et al. (2011) também avaliou o sistema de memória declarativa e procedural de acordo com o modelo de Ullman (2001). As crianças com distúrbio específico de linguagem apresentaram desempenho normal para a tarefa que avaliava a memória declarativa, porém apresentaram desempenho inferior em uma tarefa que avaliava os aspectos gramaticais na memória procedural, quando comparadas ao grupo controle. A justificativa para o desempenho inferior nesse tipo de tarefa foi relacionada à Hipótese do Déficit Procedural proposta por Ullman e Pierpont (2005). Essa hipótese propõe que as dificuldades de linguagem encontradas no distúrbio específico de linguagem podem ser explicadas pela presença de anormalidades nas estruturas cerebrais que subjazem a memória

procedural, como porções do circuito gânglio basal/frontal e cerebelo.

Em virtude da escassez de estudos experimentais relacionados ao objetivo do presente estudo, esta seção descreverá algumas pesquisas centradas na relação entre o processamento auditivo (central) e a linguagem.

Segundo Valdrighi (2007), as alterações nas habilidades auditivas, principalmente na capacidade de percepção e reconhecimento dos fonemas, podem prejudicar a aquisição e o desenvolvimento da linguagem oral e da linguagem escrita. A autora afirma que o processamento auditivo (central) faz um paralelo com a Neuropsicologia que enfatiza a Agnosia Auditiva, caracterizada como a alteração da dinâmica dos processos nervosos (lesões do sistema nervoso central) que conduzem à desintegração da linguagem (LURIA, 1981). Tal aproximação é possível por se considerar que, no processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem, podem existir disfunções e/ou lesões cerebrais.

Murphy e Schochat (2009) analisaram a correlação entre a leitura, a consciência fonológica e a habilidade do processamento auditivo em crianças com dislexia entre um grupo controle e em um grupo experimental. As crianças do grupo experimental apresentaram diferenças estatisticamente significativas em todos os testes aplicados nesse estudo. Além disso, foi encontrada a correlação entre a consciência fonológica e a leitura, porém as autoras descrevem que não é possível afirmar que o baixo desempenho no teste de percepção auditiva esteja relacionado à leitura e à consciência fonológica.

Em outro estudo, Machado et al. (2011) avaliaram crianças com distúrbio de leitura e escrita na faixa etária de oito a doze anos, utilizando testes de processamento auditivo (central) que avaliavam as habilidades de percepção auditiva, integração binaural, padrões de frequência e duração, atenção seletiva e fechamento auditivo. Foi constatado que todas as crianças que participaram dessa pesquisa apresentaram baixo desempenho em pelo menos uma das habilidades descritas acima. As autoras enfatizaram a relação existente entre o processamento auditivo (central), a leitura e a escrita.

Nascimento e Lemos (2011) realizaram um estudo com crianças de dez a quinze anos, divididas em um grupo controle e um grupo experimental composto de crianças com dificuldades de aprendizagem e na linguagem escrita de uma escola que apresentava níveis elevados de ruído externo. As pesquisadoras utilizaram testes não verbais de processamento auditivo (central) na presença de ruído e posteriormente em ambiente silencioso. Os resultados demostraram que o desempenho das crianças do grupo experimental foi pior nos testes com presença de ruído do que em ambiente silencioso. Esse estudo sugere que o ruído externo excessivo prejudica o desempenho escolar das crianças com dificuldades de aprendizagem e linguagem escrita e que a habilidade de atenção seletiva, ou seja, a habilidade de focar a atenção em um estímulo auditivo específico, ignorando os demais, pode estar prejudicada.

Em síntese, muitas são as dificuldades encontradas nos portadores de deficiência processamento auditivo (central). As pesquisas experimentais têm buscado compreender a relação entre as habilidades auditivas mediadas pelo sistema auditivo nervoso central e a linguagem.

A próxima seção descreverá a relação entre os sistemas de memória de trabalho, declarativa e procedural e a linguagem.