2.6 Estudos empíricos em torno do desempenho das ações value e growth 2.6.2 Estudos no mercado brasileiro Os estudos empíricos no mercado brasileiro apresentam resultados cercados de muita controvérsia, devido à evidências tanto a favor como contra a existência do efeito valor. Mescolin, Braga e Costa Jr. (1997), com base na metodologia apresentada por Fama e French (1995), estudaram, para o mercado brasileiro, a relação risco-retorno entre carteiras de ações value e growth, negociadas na Bovespa, e classificadas anualmente de acordo com os índices VPA/P, Lucro por Ação/Preço (LPA/P) e dividend yield (D/P), durante o período de janeiro de 1986 a junho de 1996. Os autores constataram, nas carteiras classificadas com base no índice VPA/P, a ocorrência de retorno adicional absoluto para carteiras value, sem que isto pudesse ser explicado pela ocorrência de maior risco, caracterizado pelo beta. Verificaram, também, que não se caracterizou efeito semelhante para as variáveis Lucro/Preço e dividend yield. É importante ressaltar o caráter exploratório do estudo, que não apresentou qualquer teste de significância estatística dos resultados. Com o objetivo de por à prova a capacidade do coeficiente beta quanto à explicação dos retornos das ações no Brasil, Mellone Jr. (1999) testou, inicialmente, a existência de uma relação linear positiva entre o beta e o retorno de 233 ações negociadas na Bovespa no período entre janeiro de 1994 e agosto de 1998, não encontrando a relação predita pelo CAPM. O autor também submeteu a testes, por meio de um modelo multifatorial, a explicação do retorno através de quatro variáveis fundamentalistas em combinação com o beta. As variáveis testadas foram: tamanho (patrimônio líquido), alavancagem financeira, índices Lucro/Preço e VPA/P. Os resultados apontaram apenas as variáveis L/P e VPA/P como relevantes para a explicação dos retornos das ações, de acordo com os resultados de Fama e French (1992). Rodrigues (2000), em um estudo onde foram examinadas 180 ações negociadas na Bovespa, no período de junho de 1991 a maio de 1999, buscou verificar a existência do efeito valor e do efeito tamanho como determinantes do risco das ações. O autor utilizou um modelo de regressão múltipla, com dois fatores, além do prêmio pelo risco do CAPM tradicional. Os fatores adicionais utilizados foram o prêmio da carteira de maior valor patrimonial em relação à de menor valor patrimonial, e o prêmio da carteira de maior valor para a relação valor contábil/valor de mercado em relação à de menor valor para a mesma razão. As carteiras, formadas com base nos dois fatores descritos, foram rebalanceadas ano a ano, sendo que o ponto de corte das carteiras foi o primeiro e o último quartil. Como resultado, o autor aponta que a estrutura do CAPM não é suficientemente adequada para explicar as variações dos retornos das ações. No modelo multifatorial os dois fatores adicionais contribuíram para tal explicação. Por outro lado, foi constatada a superioridade das estratégias baseadas em ações de valor em relação às ações de crescimento. Entretanto, deve-se ressaltar que a maior rentabilidade para as carteiras de valor foi justificada por um maior risco. Costa Jr. e Neves (2000) buscaram averiguar a existência das variáveis – capitalização de mercado, índice Preço/Lucro e Índice Valor Patrimonial da Ação/Preço da Ação – além do beta, como fatores explicativos dos retornos das ações. O período de estudo foi de janeiro de 1986 a fevereiro de 1996 e a amostra foi composta por 117 ações negociadas na Bovespa. Formaram-se carteiras ordenadas através dos índices capitalização de mercado, P/L e VPA/P, sendo que as carteiras foram rebalanceadas a cada ano. O estudo apontou uma relação negativa entre a rentabilidade média das carteiras e duas das variáveis - P/L e capitalização de mercado. Quanto ao VPA/P a relação encontrada foi positiva. Finalmente, os autores concluíram que, apesar da contribuição de tais variáveis para a explicação do retorno das ações, foi o coeficiente beta que apresentou o melhor poder de explicação. Adicionalmente, Halfeld e Procianoy (2000) testaram, no mercado brasileiro, carteiras formadas mensalmente a partir de diversas variáveis fundamentalistas, no período compreendido entre janeiro de 1992 e junho de 1998. Os resultados apontaram uma superioridade dos retornos das carteiras de valor, verificando também que no período anterior à crise do México, de 1995, o beta das carteiras de valor indicava um menor risco em relação às de crescimento. No período total da análise, o beta não foi capaz de explicar os retornos futuros das ações. Braga e Leal (2002) testaram o índice de Sharpe para os portfólios value e growth. Os autores constataram evidências significativas de um maior prêmio por unidade de risco nas carteiras value. Os resultados encontrados levaram os autores a sugerir que o prêmio por risco das ações com alto VPA/P em relação às ações com baixo VPA/P deve ser considerado nos modelos de precificação no Brasil. Rostagno, Soares e Soares (2005) analisaram, no período de junho de 1995 a junho de 2001, o desempenho de portfólios formados de acordo com quatro diferentes variáveis fundamentalistas, e três diferentes valores para os percentuais na formação dos portfólios value e growth. Foram testados diferentes períodos para a reordenação das carteiras (1, 2, 3 e 6 anos). Quanto ao risco, foi efetuado o teste de diferença dos betas médios dos portfólios formados. Adicionalmente foi feita a verificação da proposição de Lakonishok, Shleifer e Vishny (1994), de que ações menos arriscadas devem superar, em termos de retorno, as ações com maior risco em determinados momentos ao longo de um período extenso, principalmente em situações de turbulência na economia. Para tanto, foi verificado o primeiro semestre de 1999, quando ocorreram mudanças nas regras do câmbio e uma maxidesvalorização do real. Os principais resultados apontaram maiores retornos para os altos valores dos quatro parâmetros testados, com destaque para o VPA/P e L/P. Os autores constataram, ainda, um beta médio menor para as carteiras value em relação às de growth, contrariando as predições do CAPM. Os testes, envolvendo a análise da variação dos retornos em momentos de turbulência, igualmente indicaram um menor risco para a estratégia value. Ramos, Picanço e Costa Jr. (2006) reaplicaram o estudo realizado por Haugen (1995), e encontraram evidências contrárias à teoria de eficiência de mercado. Para tanto, os autores utilizaram dados das ações de empresas listadas na Bovespa de 1989 a 1994, excluindo as empresas financeiras. Foram construídos portfólios ordenados com base na variável VPA/P, classificando os 20% das ações com maior razão como ações de valor, e os de menor razão como ações de crescimento. Os resultados confirmam indícios da existência da golden opportunity (oportunidade de ouro), uma vez que as ações de valor apresentaram maior retorno e menor risco, medido pelo beta. Entretanto, a significância estatística dos resultados foi baixa. Famá, Faneco e Fregnani (2008), realizaram um estudo para o mercado acionário brasileiro apresentando uma análise do desempenho de portfólios de ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, construídos em função de suas razões book-to-market e betas, durante o período compreendido entre 1995 e 2005, período pós-hiperinflacionário. Os resultados obtidos apontaram retornos superiores das ações value em relação às ações growth, porém com nível de risco semelhante. No entanto, as diferenças entre as rentabilidades e entre os riscos médios dos dois portfólios não foram estatisticamente relevantes. 3 METODOLOGIA No documento Roberta Marin Faneco Saad ANÁLISE DO EFEITO VALOR NO MERCADO ACIONÁRIO LATINOAMERICANO: UM ESTUDO DO DESEMPENHO DAS CARTEIRAS VALUE E GROWTH NO PERÍODO DE 2003 A 2008 (páginas 47-50)