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Estudos, pesquisas e investimentos em sistemas de drenagem

No documento AGRICULTURA IRRIGADA EM AMBIENTES SALINOS (páginas 68-73)

DRENAGEM NOS PROJETOS PÚBLICOS DE IRRIGAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

IRRIGAÇÃO DO NORDESTE DO BRASIL

2.3.1 Estudos, pesquisas e investimentos em sistemas de drenagem

Estudos realizados pela Missão de Israel em meados da década de 1970, já mostravam percentuais significativos de áreas degradadas por sais em alguns

perímetros irrigados, tais como os de Morada Nova e Jaguaruana, ambos no Ceará, com 57,2 e 56,4% de suas superfícies agrícolas úteis, respectivamente. Os estudos indicavam ainda que, no perímetro Morada Nova, com 40% da área degradada, a instalação de um sistema de drenagem subterrânea com vistas ao processo de recuperação, seria inviável economicamente (BEZERRA, 2006). Percentuais significativos de áreas degradadas por níveis elevados de salinidade foram registrados nos Perímetros Irrigados de Sumé, PB, com 30,1%; Vaza Barris, BA com 29,4% e São Gonçalo, PB com 22,0% (BARRETO et al. 2004).

No projeto Curu‐Recuperação, atual Perímetro Irrigado Curu‐Pentecoste, a Missão de Israel recomendou a aplicação de gesso, lavagens dos solos e implantação de um sistema de drenagem, com vistas à possibilidade da obtenção de melhores rendimentos. Quanto à drenagem, o documento afirma que havia áreas com pequenas limitações e facilmente corrigíveis, porém outras com níveis elevados de degradação, carecendo de investimentos em sistemas de drenagem (DNOCS, 1976).

Estudo conduzido por Albuquerque et al. (2018) permitiu verificar que a degradação dos solos no Perímetro Irrigado Curu‐Pentecoste, CE, foi decorrente do tipo de solo, da qualidade da água de irrigação, sobretudo da drenagem deficiente do excesso da água de irrigação e a inadequada condução do sistema deirrigação por sulcos. Cabe destacar que, originalmente, esses solos apresentavam uma concentração elevada de sais, dada sua formação (Neossolos Flúvicos). A drenagem inadequada, no entanto, se configurou como a principal causadora do acúmulo de sais na superfície do solo e no lençol freático. No decorrer da pesquisa de campo identificaram‐se áreas sem implantação de culturas e lotes sem a presença do irrigante, demonstrando, claramente, o abandono dessas áreas por parte dos agricultores irrigantes. Os solos dessas áreas vão de medianamente salino e ligeiramente sódico para fortemente salino e extremamente sódico, conforme

classificação de Pizarro (1978), caracterizando‐se por apresentar uma forte degradação por sais. A área abandonada pelos agricultores irrigantes corresponde, atualmente, a 24% das áreas degradadas por sais, cuja recuperação é significativamenteonerosa.

Além das Missões de Israel e Espanhola, o Dnocs procurou capacitar o seu quadro técnico em drenagem agrícola. Assim, é que em setembro de 1976, o Prof. Fernando Pizarro, lançou na sede do Dnocs, em Fortaleza, a segunda edição do livro “Drenaje agrícola y recuperación de suelos salinos”, e, logoem seguida, ministrou um curso de capacitação, realizado no período de 11 de outubro a 14 de novembro daquele ano. Cabe destacar as pesquisas desenvolvidas por este pesquisador espanhol no setor K do Perímetro Irrigado Morada Nova, Cearána recuperação de solos degradados por sais.

Nas regiões semiáridas, embora a estratégia de drenagem requeira a instalação de drenos a maiores profundidades, na prática, nem sempre é possível em decorrência de limitações na cota de saída, como ocorre no Perímetro Irrigado Curu Pentecoste‐CE, onde dificilmente se consegue instalar drenos a uma profundidade superior a 1,0 m.

Costa (1988) instalou em área contígua ao Perímetro Curu‐Pentecoste sistema de drenagem subterrânea constituído de manilhas de barro de 0,30 m de comprimento e 4” de diâmetro interno com objetivo da recuperação de um solo sódico. O sistema foi instalado a 0,70 m de profundidade e espaçamento de 17,5 m entre linhas de drenos (Figura 1), cuja área havia um outro sistema que fora instalado no início da década de 1980 a 1,20 m de profundidade e 35,0 m entre linhas de drenos, porém trabalhando em muitas ocasiões de forma afogada. Na área foram realizadas rotação de culturas, adubação verde, subsolagem, aplicação de gesso e cultivo de arroz. A intervenção permitiu uma melhoria nas condições de

transmissão de água no perfil do solo e alteração nos atributos químicos, inicialmente classificados de muito fortemente sódico para não sódico (PST < 10%).

Figura 1 – Drenagem subterrânea e coletora no Vale do Curu – CE

Fonte: COSTA,1988.

Sousa (2012) instalou sistema de drenagem subterrânea no Perímetro Irrigado Curu‐Pentecoste em área cultivada com coqueiro aos dois anos de idade e baixo desenvolvimento vegetativo. O sistema de drenagem era composto por tubos drenoflex DN 65 mm, manta bidim OP‐20 e uma caixa de brita n° 01, instalado a 1,0 m de profundidade. Além da subsolagem em toda a área, associaram‐se tratamentos com gesso e/ou matéria orgânica, além de rotação de culturas. A utilização da subsolagem juntamente com a instalação do sistema de drenagem subterrâneo proporcionou um rebaixamento médio do lençol freático de 0,3 m e promoveu melhorias nas condições físicas do solo aumentando a condutividade hidráulica. A produção do coqueiro desde a primeira colheita realizada apresentou evolução crescente passando de 33,3 frutos por planta por ano em 2010/2011 para 152,4 frutos por planta por ano em 2011/2012.

A presença de impedimento físico muito forte a uma pequena profundidade, constitui em outro empecilho à instalação de drenos a uma

profundidade desejável, não obstante, mesmo com drenos instalados na interface com a camada de impedimento, ser possível minimizar problemas relacionados ao excesso de sais, conforme se verificou em sistema de drenagem subterrânea instalado num espaçamento de 18,0 m e a 0,8 m de profundidade em uma área de 4,0 ha com a cultura da videira em área contígua ao Perímetro Irrigado Jaguaruana ‐ CE (SALES et al., 2004). A decisão do produtor em instalar o sistema de drenagem se deu em razão dos níveis de salinidade no solo em terem alcançado valores bem superiores à salinidade limiar da videira, evidenciando assim a necessidade de um sistema artificial de drenagem, como forma de promover um decréscimo nos níveis de salinidade, de vez que os mesmos já vinham comprometendo de forma bastante acentuada o rendimento da cultura.

A ausência na manutenção da macrodrenagem ou coletores principais tem sido a responsável pelo agravamento dos problemas de salinidade em diversas áreas irrigadas do nordeste brasileiro e, em especial, em Perímetros Irrigados por superfície, sobretudo após o início do programa transferência de gestão do governo federal, uma vez que os Distritos de Irrigação não vinham realizando a manutenção adequada dos coletores.

Em nível de projeto, recursos financeiros devem ser alocados para a manutenção da macrodrenagem, imprescindível para permitir um fluxo adequado nos coletores, o que acarreta um gradiente hidráulico em relação à área e, portanto, um fluxo subterrâneo no sentido dos coletores, propiciando um rebaixamento nos níveis do lençol freático. A manutenção adequada e periódica da macrodrenagem poderá dispensar, em algumas situações, a instalação de drenos subterrâneos no controle da salinização dos solos, conforme estudo desenvolvido por Araújo (2011) no Perímetro Irrigado Curu‐Pentecoste.

No documento AGRICULTURA IRRIGADA EM AMBIENTES SALINOS (páginas 68-73)