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e não pousas em nenhum deles, mas onde a dúvida apalpa o mármore da verdade, a descobrir

a fenda necessária”26

Para Marcondes (2008, p.15), “nos últimos tempos, o 'machadismo' está se tornando uma praga”. No entanto, a expressão nos últimos tempos não se refere apenas a um passado recente, pois, desde que Machado passou a ser companhia constante de José de Alencar (maior ícone literário brasileiro do século XIX), e a escrever com frequência - em especial, após o lançamento de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881 - que muito se tem escrito, discutido e especulado a seu respeito.

Os únicos que não se dedicaram aos estudos machadianos foram os participantes do movimento modernista brasileiro das primeiras décadas do século XX, que não só fizeram questão de ignorar o criador de Dr. Simão Bacamarte, como também o condenaram, por acreditarem que Machado não havia se importado com os acontecimentos políticos de seu país; além de afirmarem a falta de nacionalismo e de identidade brasileira nas obras machadianas.27

Em 1897, Sílvio Romero publicou Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira. Tal estudo é reconhecido até hoje como uma das críticas mais ferinas feitas à vida e à obra de Machado. Publicado quando Machado ainda estava vivo, o livro de Romero se coloca na contra-mão da maioria dos estudos machadianos, pois não glorifica a obra tampouco a pessoa do criador de Brás Cubas. Além disso, percebe-se na crítica de Romero uma confusão entre o indivíduo e a obra; uma ligação feita de modo tão intrínseco, que não se pode determinar se

26 Op. Cit.

27 A seguir, serão citados alguns estudos biográficos e críticos sobre Machado de Assis e sua obra. A seleção dos mesmos baseou-se na quantidade expressiva de vezes em que foram citados em outras obras, bem como a relevância que tiveram em suas respectivas épocas de criação. Além disso, levou-se em consideração as informações disponíveis em Marcondes (2008), que além de ser o autor de um dos trabalhos mais recentes sobre Machado de Assis, foi muito feliz na união e relação de estudos realizados anteriormente.

Romero travava luta contra Machado ou contra a literatura que este fazia.

A obra Página de Saudade, escrita em 1908 por Mário de Alencar (filho de José de Alencar), embora não se trate de uma biografia propriamente dita, é, de acordo com Marcondes (2008, p.17), “a maior fonte de proximidade que alcançaremos de Joaquim Maria Machado de Assis”. Proximidade essa possível graças ao convívio de Alencar com Machado, que se encontrava em um período frágil, devido ao recente falecimento de sua esposa, Dona Carolina, em 1904. A obra de Alencar é repleta de emoção, e consegue retratar não o escritor e homem público Machado de Assis, mas o indivíduo, tomado pela dor da perda e assolado pela doença.

Uma das primeiras biografias machadianas de que se tem notícia é a obra Machado de Assis, de 1934, escrita por Alfredo Pujol. Sendo esta o resultado final de conferências ministradas, entre 1915 e 1917, pelo autor, na Sociedade de Cultura Artística de São Paulo.

Lúcia Miguel Pereira escreveu aquela que é considerada por muitos críticos como a melhor e mais fidedigna obra escrita sobre a vida de Machado de Assis. Em Machado de Assis, de 1936, a romancista procura preencher as lacunas sobre a vida de Machado com histórias de suas personagens. Ao trazer para o livro depoimentos de contemporâneos do escritor, e informações retiradas de cartas e documentos, Pereira pinta um retrato bastante humano do criador de Rubião.

Em 1953, Augusto Meyer publicou Machado de Assis, um estudo de cunho impressionista, característica que vigorava na maioria dos estudos críticos de sua época. Sua obra é marcada por uma forte ligação entre autor e obra, de forma a dar a impressão de que ambos seriam indissociáveis. Embora possua características que limitem uma análise literária mais objetiva, a obra de Meyer é, ainda hoje, considerada um dos estudos mais ricos sobre Machado de Assis, em especial por sua originalidade e inovação, na comparação que fez entre o homem Machado de Assis e o personagem da obra Memórias do Subsolo, escrita por Fiódor Dostoiévski.

Em 1957, Brito Broca publicou Machado de Assis e a política - mais outros estudos. Tal obra merece ser citada por seu objetivo de analisar o conteúdo político presente na obra machadiana, principalmente pelo fato de a maioria dos críticos

haver acusado Machado de absente no que diz respeito à política e aos acontecimentos históricos relevantes de sua época.

Em 1977, Roberto Schwarz publicou Ao vencedor as batatas - sobre os romances da Primeira Fase - e em 1990, Um mestre na periferia do capitalismo - sobretudo sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas -, obras que figuram entre os mais referenciados estudos a respeito de Machado de Assis. Os estudos de Schwarz são uma espécie de referência obrigatória, pois tratam tanto das questões literárias quanto dos aspectos sócio-históricos da obra machadiana.28

O objetivo da próxima seção é traçar uma cronologia da vida e obra de Machado de Assis. Além disso, pretende-se compreender de que forma a visão que o escritor imortalizou em suas palavras pode ser atual a ponto de ser aplicável na sociedade de hoje, para que se possa, através dessa ponte entre passado e presente, discutir qual é a relevância de O Alienista, e como ele se faz caber nas discussões contemporâneas a ponto de ser representado em um veículo artístico tão moderno como a História em Quadrinhos.

3.2 UM EMARANHADO DE REALIDADE E FICÇÃO: VIDA E OBRA

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