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ESTUDOS SOBRE GRANDES CONFLUÊNCIAS

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.6. ESTUDOS SOBRE GRANDES CONFLUÊNCIAS

Estudos de confluência têm se dedicado principalmente à junção de pequenos canais. A compreensão destas confluências está baseada principalmente em estudos de laboratório, modelos numéricos e trabalhos de campo (PARSONS et al.,2008).

Mesmo possibilitando a compreensão e identificação das principais variáveis que controlam a hidráulica e morfologia destes ambientes, este conhecimento não se aplica totalmente às grandes confluências (DOS SANTOS e STEVAUX, 2017).

Conforme Parsons et al. (2008), é importante questionar se os modelos conceituais para pequenas junções são apropriados para estudo de grandes confluências. Os autores destacam que confluências de canais maiores drenam áreas diferentes em relação à geologia e ao clima e podem apresentar uma dinâmica diferenciada com grande diversidade de condições em relação a pequenas junções que drenam áreas similares.

Analisando a morfologia de uma grande confluência formada pelos rios Jamuna e Ganges, em Blangladesh, Best e Ashworth (1997) encontraram semelhanças com as confluências formadas por pequenos canais (<100 m), com zona de escavação, barras laterais e uma zona de acumulação de sedimentos. Os autores também observaram que não havia um forte declínio da face de avalanche na confluência. Szupiany et al. (2009) demonstram que em confluências menores a inclinação da área de escavamento é muito maior do que as encontradas em grandes confluências. Sobre isto, Parsons et al. (2008) evidenciam que faces íngremes de avalanche podem ser características raras em canais maiores.

No Rio Paraná (Argentina), Parsons et al. (2007) constataram profundidade do escavamento de até 22 metros (m), com uma discordância de 6 m entre o canal principal e o tributário. Na confluência dos rios Ivaí e Paraná, Franco (2007) averiguou que o Rio Paraná apresenta profundidade menor que seu tributário. Szupiany et al.

(2009) notaram a discordância de leito na confluência de uma das ilhas onde o canal é mais raso.

Analisando duas confluências oriundas de ilhas/barras no Rio Paraná, na Argentina, Szupiany et al. (2009) constataram que em ambas as confluências ocorre uma área de escavamento, no entanto, apenas em uma das junções o escavamento é mais pronunciado, com 22 m, estendendo-se por uma distância de 1.000 m. Na confluência formada pelos rios Negro e Solimões, Franzinelli (2011) verificou que a

montante da confluência em cada um dos rios não ocorre uma queda do tipo face de avalanche, entretanto, a jusante da confluência, no Rio Amazonas, ocorre uma zona de escavação com 40 m de profundidade, sendo 1,5 a 2 vezes a profundidade dos tributários. Recentemente, Johnson (2017) constatou uma zona de escavação na confluência dos rios Wabash e Embarras (Illinois, Indiana). Para o alto curso do Rio Paraná, estudando a confluência do Rio Paraná com o Paranapanema, Paes (2007) identificou uma zona de escavamento a jusante da confluência.

De acordo com Parsons et al. (2008) e Szupiany et al. (2009), a formação de barras laterais a jusante da confluência reflete morfologias semelhantes às encontradas em junções menores, nas zonas de separação de fluxo. No estudo de Johnson (2017) não foi observada nenhuma barra na lateral a jusante da confluência, contudo, constatou-se a formação de uma barra na margem oposta à entrada do fluxo do canal tributário. No estudo de Nascimento (2016), referente à confluência dos rios Negro e Solimões, averiguou-se a existência de uma possível zona de deposição, com barra submersa após a junção dos canais.

A presença e formação de dunas também são notadas nos estudos de grandes confluências com leito arenoso. Segundo Parsons et al. (2005), dunas são formas de leito e sua presença influencia a estrutura do fluxo e, consequentemente, o transporte e deposição de sedimentos. Alguns estudos descrevem as dunas em áreas de confluência. Por exemplo, Parsons et al. (2005) descreveram as dunas no Rio Paraná acima da confluência com o Rio Paraguai e estimaram sua altura entre 1,2 a 2,5 m com comprimento de 45 a 85 m. Já numa unidade de confluência e difluência no Rio Paraná, Parsons et al. (2007) relataram que prevalecem dunas de 2,2 m de altura em profundidade de ~7,5 m, enquanto que dunas de até 4 m são encontradas na área mais profunda (escavamento).

Em relação à estrutura do fluxo para grandes confluências, alguns estudos apontaram comportamentos parecidos aos encontrados em junções menores. Assim como em pequenas confluências, Johnson (2017) identificou a área de baixa Paraná. Parsons et al. (2008) destacam que a aceleração do fluxo é condicionada a

fatores como a redução da área transversal e morfologia do leito com a presença de barras. Em seu estudo, Nascimento (2016) constatou fluxo uniforme antes da confluência nos rios Negro e Solimões, entretanto, na área da confluência é perceptível uma zona de estagnação do fluxo, uma zona de deflação de fluxo (após uma região de alta velocidade), a zona de separação de fluxo e a zona de recuperação do fluxo.

Sobre a estrutura de fluxo secundário em grandes confluências, Parsons et al. (2007) não averiguaram a existência deste comportamento do fluxo, todavia, Szupiany et al. (2007) e Szupiany et al. (2009), estudando as confluências formadas por ilhas no Rio Paraná, destacaram a existência de correntes secundárias do fluxo.

Os autores notaram que as células de fluxo secundário ocuparam 20% da largura do canal, sendo que em pequenas confluências o percentual é maior, entre 50% e 80%.

A distribuição de sedimentos em grandes confluências está relacionada com a estrutura do fluxo (SZUPIANY et al., 2009). Conforme esses autores, a distribuição e concentração de sedimentos assemelham-se aos modelos propostos para confluências menores, em que a concentração de sedimentos é maior ao redor da área de escavamento.

Em relação à mistura de fluxo, Lane et al. (2008) estimaram em estudo desenvolvido nos rios Paraguai e Paraná uma distância máxima de aproximadamente 400 quilômetros (km) para uma condição de mistura de fluxo lenta ou em até 8 km de distância para uma mistura mais rápida. Quanto à mistura de fluxo, Laraque et al.

(2009) averiguaram a interface de mistura dos fluxos após a confluência no Rio Amazonas por meio de variáveis como velocidade, condutividade, turbidez, pH da água e temperatura e estimaram 30 horas de tempo e uma distância de 100 km para a mistura completa dos fluxos.

A temperatura é uma variável que apresenta diferentes valores para os canais que compõem a confluência. Johnson (2017), ao pesquisar a confluência formada pelos rios Wabash e Embarras, em Illinois, Indiana (EUA), a partir da diferença de temperatura da água dos canais, determinou a interface de mistura do fluxo entre os dois rios. Nascimento (2016) identificou uma diferença de 1,2ºC na temperatura na confluência entre os rios Negro e Solimões. Essa diferença de temperatura entre o Rio Solimões (28,4ºC) e o Rio Negro (29,6ºC) foi atribuída ao fato de a cor da água do Rio Negro ter maior capacidade de absorção da radiação solar. Laraque et al.

(2009) também atribuem a diferença de temperatura desses dois rios ao albedo distinto das águas escuras do rio Negro.

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