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ESTUDOS SOBRE PERCEPÇÃO TÉRMICA EM EDIFICAÇÕES PASSIVAS

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.2 ESTUDOS SOBRE PERCEPÇÃO TÉRMICA EM EDIFICAÇÕES PASSIVAS

Percepção é um conceito subjetivo e de difícil definição (OLIVEIRA; MOURÃO- JÚNIOR, 2013, p. 51). Seu entendimento passa pelo entendimento do termo sensação. Para Oliveira e Mourão-Júnio:

A sensação é percebida como sendo uma reação corporal imediata a um estímulo externo sem que seja possível diferenciar, no ato mesmo da sensação, o estímulo externo e o sentimento interior. Essa distinção só seria possível num laboratório, através de análise da fisiologia e sistema nervoso (OLIVEIRA; MOURÃO-JÚNIOR, 2013, p. 42).

Da Silva et al. (2014, p. 65) entendem que:

sensação é uma experiência sensorial, que se inicia com um estímulo externo cuja origem está nos mecanismos biológicos dos sentidos. Quanto à percepção, entendemo-la como a interpretação que o sistema cognitivo, principalmente o cérebro, tem da sensação recebida ou que ele mesmo é capaz de produzir.

Para (MARIA; VEZZÁ; MARTINS, 2008), percepção relaciona os sentidos (sensações) com o pensamento. Possibilita a constituição de um todo significativo que sintetiza informações provenientes de vários sentidos. A percepção é um processo ativo do indivíduo, que explora as informações para dar relevo a elas.

Neste trabalho, tem-se então percepção térmica como a interpretação do ambiente térmico dada pelo usuário a partir das suas sensações.

Os estudos sobre percepção térmica e desempenho térmico estão intimamente relacionados. Os estudos sobre percepção possibilitam apontar condições térmicas apropriadas para as atividades humanas. Permitem definir índices de conforto, temperaturas neutras e faixas de conforto. Estas, por sua vez, servem de parâmetros para as avaliações de desempenho térmico das edificações e dos ambientes externos.

Geralmente, os estudos sobre percepção térmica comparam resultados declarados com resultados preditos, contribuindo para a aferição ou validação de modelos e índices. Neste estudo, os votos sobre percepção térmica declarados pelos voluntários foram comparados com: os índices genéricos, PMV e PPD, prescritos pela norma ISO 7730 (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION - ISO, 2005); e com os modelos específicos para ambientes naturalmente ventilados, ou seja, modelos adaptativos, prescritos pelas normas ANSI/ASHRAE Standard 55 (AMERICAN SOCIETY OF HEATING REFRIGERATING AND AIR-CONDITIONING ENGINEERS - ASHRAE, 2013) e EN-15.251 (EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION - CEN, 2007).

Os estudos sobre desempenho térmico não contam com a participação de voluntários, utilizam modelos e índices como parâmetros para avaliar o comportamento térmico dos ambientes.

Apresenta-se, a seguir, breve revisão bibliográfica sobre estudos realizados em território brasileiro sobre o tema percepção térmica em edificações passivas.

Considerando a bibliografia consultada, o primeiro estudo tratando da percepção térmica em edificações naturalmente ventilada foi realizado por Araújo13, em 1996, em

edificações escolares da cidade de Natal – RN (XAVIER, 1999).

Na sequência, Xavier (1999), relatou estudo realizado a partir de 1997. O trabalho teve como objetivos a determinação de índices e parâmetros de conforto térmico a partir de estudo de campo. Os dados foram colhidos em uma escola técnica (2º grau), na cidade de São José, Santa Catarina. O levantamento de dados utilizou uma mesma sala de aula e participaram como voluntários alunos de quatro turmas distintas. O trabalho adotou metodologias descritas pelas normas: ISO 7726, edição 1996, sobre instrumentos, sua instalação e formas para obtenção dos valores das variáveis ambientais (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION - ISO, 1998); ISO 10551, para elaboração dos questionários (ISO, 1995); e ISO 7730, edição de 1994, para o cálculo dos índices PMV e PPD (ISO, 1995). Os resultados indicaram maior concordância com os modelos adaptativos (XAVIER, 1999).

Silveira, Kallas e Ribeiro (2003), relataram estudo realizado entre 2001 e 2002, com o objetivo de determinar a zona de conforto térmico para ambientes escolares em Teresina, PI. Aplicaram os questionários em duas escolas, sendo que em cada escola utilizaram três salas de aula. Participaram 1132 pessoas, entre alunos e professores. A zona de conforto obtida foi comparada com as propostas de Olgyay (2008), Givoni (1998) e Koenigsberger et al. (1977). A maior semelhança se deu com a zona de conforto proposta por Koenigsberger et al. (SILVEIRA; KALLAS; RIBEIRO, 2003).

Grzybowski (2004), relatou estudo realizado em 2003 em uma escola pública na cidade de Cuiabá – MT. O trabalho foi caracterizado como análise pós-ocupação (APO). Buscou seguir a metodologia apresentada nas normas ISO 7730 (1995) e pela ISO 10551

13 ARAÚJO, V. M. D. Parâmetros de conforto térmico para usuários de edificações escolares no litoral

nordestino brasileiro. São Paulo, 1996. Tese de Doutorado - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da

(1995). Os resultados indicaram discordância entre os votos médios declarados e preditos (GRZYBOWSKI, 2004).

Lazzarotto (2007), realizou estudo com dados de 2006. O trabalho teve por objetivo verificar a aplicabilidade dos modelos normalizados para a avaliação das condições de conforto térmico de crianças em atividade escolar. As pesquisas de campo foram realizadas em sala de aula com cinco turmas da terceira e quarta série, de duas escolas de Ijuí (RS), totalizando 116 estudantes de 8 a 11 anos. O trabalho concluiu que o modelo PMV (ISO, 1995) é aplicável para avaliação de conforto térmico considerando a população pesquisada, contudo registrou tendência de as crianças sentirem-se levemente mais aquecidas que o predito. O modelo adaptativo (ASHRAE, 2004) mostrou-se satisfatório apenas para dias quentes (LAZZAROTTO, 2007).

Souza (2017), relatou estudo realizado no ano de 2016. O objetivo da pesquisa foi avaliar as condições de conforto térmico de salas de aula e salas administrativas, naturalmente ventiladas, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), na cidade de Campina Grande - PB. Participaram da pesquisa, como voluntários, estudantes e funcionários. O estudo também utilizou do cálculo dos índices PMV e PPD conforme a ISO 7730 (2005). Os resultados apontaram discordância entre os votos médios declarados e os votos médios preditos pelo modelo proposto pela ISO 7730 (2005). Para Souza (2017), a pesquisa corrobora o modelo adaptativo.

O volume de obras nacionais consultadas sobre percepção térmica em edificações naturalmente ventiladas indica que o tema ainda está amadurecendo no Brasil. Aparentemente, a grande maioria dos estudos foi realizada no ambiente escolar. Ou seja, os estudos ainda apresentam pouca diversidade e novos trabalhos serão bem-vindos.

Em contraste, internacionalmente, acumulam-se diversos estudos buscando validar diferentes modelos adaptativos. Como resultado desse estágio de maturação do campo de pesquisa, várias normas nacionais e internacionais têm sido atualizadas, inserindo tais modelos. No entanto, persistem diferenças entre os modelos e suas formas de aplicação (CARLUCCI et al., 2018).

2.3 DESEMPENHO TÉRMICO E FAIXAS DE CONFORTO PARA EDIFICAÇÕES