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4 A LGUNS ASPECTOS AMBIENTAIS

4.2 O S METAIS PESADOS COMO FACTORES DE PROMOÇÃO DE ( ECO ) TOXICIDADE

4.2.2 M ETAIS PESADOS E AMBIENTE

Um dos problemas que alguns metais pesados apresentam, reside na sua capacidade de bioacumulação e/ou de bioamplificação, ao longo da cadeia trófica. Esta característica, aliada ao seu potencial efeito tóxico nos organismos, define a prioridade a respeitar aquando da definição de toxicidade destes elementos.

Na Figura 4.4 são indicados os “caminhos” que o mercúrio pode sofrer até chegar por exemplo, ao Homem. Este fenómeno de acumulação selectiva num organismo vivo denomina-se bioacumulação. O processo pode iniciar-se nos sedimentos de um meio aquático, atingindo, por via directa ou indirecta, o Homem.

Figura 4.4 – Biacumulação de mercúrio ao longo da cadeia trófica/alimentar (adaptado de AAF, 2002)

Como foi referido, o mercúrio, presente nos sedimentos, manifesta a sua toxicidade de uma forma directa ao ser incorporado nos tecidos dos organismos presentes nesses sedimentos.

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Estes organismos que irão incorporar o mercúrio podem servir de alimento para organismos superiores (como por exemplo os peixes), os quais, mais tarde, servirão de alimento ao Homem. A intoxicação pode, porém, efectuar-se de forma mais directa. O mercúrio presente nos sedimentos pode ser solubilizado e tornar-se disponível para os peixes sendo transferido destes para o Homem.

O exemplo aqui apresentado constitui apenas uma das formas de se concretizar a acumulação de metais pesados nos organismos vivos. Nos sistemas terrestres é, igualmente, fácil descrever formas de bioacumulação, desde os produtores primários até ao topo da cadeia trófica. Poderá perguntar-se se alguém monitoriza a qualidade dos pastos e da ração, que servem de alimento aos animais que terminarão no nosso prato, e como o efectuam.

Os efeitos de cada metal, em solução, são determinados pela sua concentração total e pela especiação a que se encontra submetido. As condições geoquímicas, bastante variáveis na natureza, determinarão a especiação do elemento em causa e, deste modo, qual o impacte biológico, exercido sobre os organismos, através da sua assimilação. Daí resulta, ou não, a eventual tradução em fenómenos de toxicidade em relação a estes (Luoma, 1995).

Os mecanismos, através dos quais a geoquímica afecta a biodisponibilidade dos metais a partir dos sedimentos, não se encontra tão bem estudado como a biodisponilidade dos metais em solução. No entanto, segundo Luoma (1995), a concentração de metais nos sedimentos, poderá ser influenciada pela variação da textura dos sedimentos, pela sua composição, pelas reacções de oxidação/redução determinadas pelos mecanismos de absorção/desabsorção, e pela dispersão e transporte físico dos metais. A combinação destes factores traduzir-se-á, como consequência, na flutuação da concentração do metal nos sedimentos, com a concomitante alteração na sua solubilização e, em resultado desses processos, na sua biodisponibilidade para com os organismos em causa.

No Quadro 4.3 sumarizam-se alguns dos efeitos desencadeados por alguns metais pesados no Homem, quando ingeridos na água de consumo humano.

Quadro 4.3 – Metais pesados e alguns efeitos potenciais no Homem, quando se encontram presentes na água destinada ao consumo humano.

Elemento Efeitos potenciais no Homem Fontes de contaminação

Arsénio Lesões na pele, problemas no sistema circulatório, possível aumento de cancro, teratogénico

Erosão de depósitos naturais, escorrências de resíduos de produção de vidro e produtos electrónicos, munições, pesticidas, combustão de carvão, tintas,

conservantes da madeira

Cádmio Supostamente carcinogénico, lesões no fígado

Combustão de carvão, corrosão de tubos galvanizados, erosão de depósitos naturais, descarga de refinarias, baterias Ni-Cd, incineração de resíduos,

fertilizantes

Crómio Alguns compostos, no estado de oxidação Cr(+6) são carcinogénicos, provocando dermatite alérgica

Descargas da indústria do aço e da indústria de pasta de papel, erosão de depósitos naturais, indústria química, incineração de resíduos,

electrometalurgia, lamas de ETAR’s.

Cobre Exposição por períodos curtos conduz a perturbações gastro-intestinais Exposição por períodos longos provoca lesões no fígado e/ou rins

Corrosão de sistemas domésticos de abastecimento de água, escorrências de depósitos naturais, pesticidas, lamas de ETAR’s, agricultura, indústria de

plásticos

Chumbo

Em crianças ou jovens induz atrasos no desenvolvimento físico e mental, com dificuldade de aprendizagem ou atenção.

Em adultos provocam problemas nos rins e pressão arterial elevada.

Corrosão de sistemas domésticos de abastecimento de água, escorrências de depósitos naturais, baterias, pigmentos, estabilizadores de plásticos, lamas de

ETAR’s, combustão de carvão, incineração de resíduos

Ferro Essencial para todos os organismos Indústria do ferro e aço, pigmentos, construção civil, lamas de ETAR’s

Estanho As formas inorgânicas são, aparentemente, não tóxicas, alguns compostos organo-estanosos são considerados disruptores endócrinos

Ligas metálicas, pesticidas, amálgamas dentarias, lamas de ETAR’s, incineração de resíduos, combustão de carvão e madeira

Níquel

Essencial para alguns organismos, sendo os compostos de Ni(+2) relativamente não tóxicos; outros são muito tóxicos e/ou carcinogénicos,

provocando alergias

Pigmentos, baterias, catalisadores, ligas metálicas

Zinco Essencial para todos os organismos, não sendo considerado carcinogénico, a apresentar baixa toxicidade

Galvanoplastia, ligas de indústria da borracha, pigmentos, tintas, vidro, plásticos, baterias, pesticidas, indústria farmacêutica, lamas de ETAR’s Mercúrio

(formas inorgânicas)

Muito tóxico, teratogénico, lesões nos rins

Erosão de depósitos naturais, descarga de refinarias e de outras indústrias, escorrências de aterros, lâmpadas, produção de soda cáustica, impregnação

em madeira, detonadores Fonte: portal da Agência de Protecção Ambiental dos EUA e Chemical elements in the environment (Reinman e Caritat, 1998)