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M ETODOLOGIA DE A VALIAÇÃO DO P OTENCIAL T ÓXICO E E COTÓXICO DOS R ESÍDUOS

505 A LIXIVIAÇÃO DE RESÍDUOS

6 M ETODOLOGIA DE A VALIAÇÃO DO P OTENCIAL T ÓXICO E E COTÓXICO DOS R ESÍDUOS

6.1 ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO DA METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DA ECOTOXICIDADE DE RESÍDUOS

Em 12 de Dezembro de 1991, o Conselho Europeu adoptou a Directiva nº 91/689/CEE, que tinha como objectivo principal a aproximação dos textos legislativos dos Estados-membros da UE, no que diz respeito à gestão controlada dos resíduos perigosos. Deste modo, esta Directiva definiu, pela primeira vez, diferentes categorias ou tipos de resíduos perigosos, em função da sua natureza ou da actividade que os geraram. Foram igualmente definidos os elementos e compostos químicos considerados como os mais significativos na avaliação do carácter tóxico de alguns dos resíduos enunciados na Directiva, nomeadamente no seu anexo IB.

De qualquer modo, uma vez que o carácter tóxico de um resíduo depende, entre outras variáveis, da presença de uma ou mais substâncias tóxicas, assim como da sua concentração e mobilidade a partir do resíduo, foi também necessário definir, na Directiva nº 91/689/CEE, quais as características de perigo que podem ser atribuíveis a um dado resíduo. Estas características foram definidas por um código constituído pela letra H e por um número inteiro variável de 1 a 14. Por exemplo, os códigos H4, H5, H6 e H8 definem as substâncias irritantes, nocivas, tóxicas e corrosivas, respectivamente. A atribuição destas classificações foi efectuada de acordo com os critérios fixados pelo anexo VI, partes IA e IIB, da Directiva do Conselho nº 67/548/CEE. As classificações de “substância cancerígena” (cód. H7), “substância teratogénica” (cód. H10) e “substância mutagénica” (cód. H11) deveriam ter em conta, à data de publicação da referida Directiva, os dados suplementares indicados no guia de classificação e rotulagem do anexo VI (parte IID) da Directiva 67/548/CEE, com a redacção que lhes foi dada pela Directiva da Comissão nº 83/467/CEE.

Significa isto, que a maior parte das características de perigo definidas no anexo III da Directiva nº 91/689/CEE, se encontram tecnicamente regulamentadas, sendo teoricamente fácil a avaliação destas características, assim como a atribuição de classificações a qualquer resíduo. Todavia, uma das mais importantes características de perigosidade, enunciadas nesta Directiva, do ponto de vista de protecção do ambiente e de prevenção de riscos para a saúde

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humana, não se encontra tecnicamente regulamentada, pelo menos no que se refere a uma posição comum relativa a todos os Estados-Membros. Trata-se da característica que se refere às “substâncias com propriedades ecotóxicas” (cód. H14).

A avaliação desta característica, assume uma importância significativa em resíduos destinados quer à deposição em aterro, quer à valorização em materiais de construção. Com efeito, é importante, para os primeiros, determinar o respectivo nível de ecotoxicidade, uma vez que ele condicionará o tipo de aterro em que os resíduos poderão ser depositados. Para os segundos, o seu nível de ecotoxicidade determinará a possibilidade dos resíduos serem ou não valorizados, bem como o nível de tratamento a que terão que ser submetidos. É importante salientar que, tanto para os primeiros como para os segundos, o principal veículo de uma eventual contaminação ambiental resultará do seu contacto com a água presente no ambiente, em que eles forem colocados. A solubilidade dos contaminantes determinará, pelo menos parcialmente, a concentração nos lixiviados desses materiais, a qual, em função do tempo de exposição, da espécie química presente e da sensibilidade do organismo exposto, determinará o nível de ecotoxicidade do resíduo.

Dada a importância da determinação desta característica em resíduos destinados à deposição em aterros ou à valorização em materiais para construção civil, a Agência Francesa de Energia e Ambiente (ADEME), com base nalguns trabalhos de investigação desenvolvidos naqueles tipos de materiais, elaborou uma proposta para a regulamentação técnica da Directiva nº 91/689/CEE. Esta proposta, designada por Criterion and Evaluation Methods of Waste Ecotoxicity (CEMWE), foi inicialmente implementada, avaliada e desenvolvida em França. Se vier a permitir obter resultados generalizáveis, na avaliação da ecotoxicidade de resíduos ou materiais resultantes da sua valorização, será depois tentada a sua adopção como regulamento comunitário.

6.2 MODELO CONCEPTUAL PARA A AVALIAÇÃO DO CARÁCTER ECOTÓXICO DOS RESÍDUOS

A caracterização do risco ecotóxico das amostras de lama residual urbana, de carvão e de cinzas, teve como base a proposta francesa CEMWE, desenvolvida, tal como foi referido, pela Agência Francesa de Energia e Ambiente (ADEME) e apresentada ao Ministério Francês do

Ambiente. Ela enquadra um conjunto de critérios físico-químicos e ecotoxicológicos, que visam regulamentar a classificação europeia de resíduos enquadráveis no código H14 (características ecotóxicas dos resíduos).

Segundo a metodologia apresentada nesta proposta, a ecotoxicidade de um qualquer material deverá ser avaliada através da caracterização conjunta das suas propriedades químicas e ecotoxicológicas. Ambas devem ser avaliadas, quer nos materiais brutos, quer nos seus lixiviados. Todavia, uma vez que a eventual libertação de poluentes e a consequente contaminação de diferentes compartimentos ambientais, se efectiva pela sua solubilização na água que se encontra na envolvente do material, a proposta atribui maior importância ao estudo dos lixiviados do que à quantificação da massa total do material em si mesmo. Este foi, também, o princípio adoptado no projecto Bimetal. Por isso, os trabalhos realizados incidiram, principal e especificamente, na caracterização dos lixiviados.

Na proposta técnica francesa, a caracterização química foi considerada como um critério de classificação positivo, ou seja, a presença de pelo menos um poluente, numa concentração superior ao limite máximo fixado, conduz à classificação do material estudado como ecotóxico. Se a caracterização química for inconclusiva, isto é, se todos os parâmetros químicos, indicados naquele documento, apresentarem concentrações nos lixiviados inferiores aos limites máximos fixados, a avaliação do carácter ecotóxico deverá continuada, através da sua caracterização ecotoxicológica.

A caracterização ecotoxicológica é encarada quer como um critério positivo, quer como negativo. O critério positivo é utilizado quando pelo menos um teste ecotoxicológico apresentar um resultado positivo. Neste caso, o material deverá ser classificado como ecotóxico. Quando todos os ensaios ecotoxicológicos gerarem respostas negativas, deverá ser usado o critério negativo. O material será, então, classificado como não ecotóxico.

Material Caracterização Ecotoxicológica (CE) Caracterização Química (CQ) CQ > Valores-limite CE > Valores-limite MATERIAL NÃO ECOTÓXICO MATERIAL ECOTÓXICO OU Não Sim Sim Não Material Caracterização Ecotoxicológica (CE) Caracterização Química (CQ) CQ > Valores-limite CE > Valores-limite MATERIAL NÃO ECOTÓXICO MATERIAL ECOTÓXICO OU Não Sim Sim Não

Figura 6.1 – Modelo conceptual definido no documento CEMWE

O modelo conceptual proposto neste trabalho diferiu do modelo indicado no CEMWE. As alterações, ainda que não muito profundas, são consideradas essenciais na classificação dos resíduos.

Indica-se na Figura 6.2, o modelo conceptual adoptado no presente trabalho.

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