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1) Foram selecionadas duas reportagens sobre o mesmo evento; 2) Verificou-se que as reportagens abordavam o mesmo assunto, ou

seja, o casamento real da corte inglesa;

3) Baixaram-se da internet as duas reportagens passíveis de serem postas em paralelo, com vistas às análises pretendidas;

4) Transcreveram-se ortograficamente, nas duas línguas, as duas reportagens: em francês e português, realizando também a tradução do texto estrangeiro (em francês).

5) Legendou-se a reportagem francesa em português, pois futuramente pretende-se dar continuidade à pesquisa para além da presente abordagem, o que implicará também a legendagem da reportagem brasileira para o francês;

6) Selecionaram-se trechos cujas marcas culturais pareceram passíveis de destaque, relativamente a cada uma das duas culturas confrontadas;

7) Analisaram-se os excertos destacados à luz de, e nos encontros entre quatro teorias, a saber: 1) funcionalista, para a análise textual; 2) representação cultural, para traços singulares; 3) processos alusivos, em relação à definição de recursos lingüístico-discursivos e 4) postulados de Esser para ancorar o componente telejornalístico.

O capítulo seguinte analisa os dados e discute-os com base nos elementos teóricos apresentados.

4 DI S C U S SÃ O D O S D A D O S

Foram examinados três exemplos do texto em português, dois do texto em francês e um comum aos dois textos. Por quais razões?

Na verdade, o texto em português pareceu estar mais carregado de fórmulas alusivas. Uma detecção preliminar permitiu destacar 40 recursos alusivos. O texto em francês, talvez em razão de seu ambiente cultural, pareceu mais asseptizado neste sentido. Talvez em razão da característica pragmática do jornalismo francês, ou seja, a tendência em ancorar os discursos de forma lógica e referencial, em consonância com as orientações e tendências culturais francesas. Nesse sentido, parece que as heranças de Descartes (Séc. XVII) se fazem sentir. Contrariamente, o discurso da Globo parece visar um público mais geral e popularizado.

Com o objetivo de investigar eventuais marcas culturais presentes nos textos jornalísticos veiculados na França e no Brasil de forma paralela, propõem-se as duas referidas reportagens telejornalísticas redigida a partir de um mesmo acontecimento: o casamento da corte

inglesa. A escolha da Rede Globo de televisão e TF1, se deve ao fato de

que ambas as emissoras são as de maior alcance no seus segmentos em termos de público, no Brasil e na França respectivamente. Outrossim, buscou-se estabelecer paralelismo pelo fato de as duas reportagens terem sido levadas ao ar no dia, 29 de abril de 2011, ambas no jornal das 20 horas, naturalmente, cada qual em seu país de origem.

O fazer jornalístico de cada país está, evidentemente, moldado de forma a atender a demandas de seu público. A partir de tais orientações, parece se possível delinear características do público ao qual a notícia se destina, bem como o contexto no qual se inserem os jornalistas e os meios para os quais trabalham. Os direcionamentos concedidos ao fato nos permite identificar marcas culturais presentes nas duas reportagens e perceber partes do entorno cultural do público receptor. Logo, acredita- se ser possível identificar o peso do espectador no processo de elaboração das reportagens.

Os dois textos serão analisados a partir do filtro cultural brasileiro. As discussões poderão estar sujeitas a interferências de uma visão habituada ao contexto do jornalismo brasileiro. Sendo assim, acredita-se que mesmo que se busque o máximo de imparcialidade, assume-se a possibilidade de eventuais interferências do olhar do pesquisador culturalmente construído de antemão.

Parte-se do princípio que língua e cultura são elementos indissociáveis. Sob essa ótica, a cultura manifesta-se, entre outros,

através do uso da língua e vice-versa. O jornalismo tem como matéria prima principal a língua(gem). Nos elementos que compõem o texto jornalístico, observando pelo viés cultural, pode-se perceber características do público receptor. No caso desta pesquisa propõe-se verificar marcas culturais expressas nos textos em forma de alusão.

Pretende-se identificar o contexto cultural em que estão situados o jornalista/tradutor/repórter e o telespectador, e a partir dessa definição, verificar como determinadas alusões são passíveis de representar culturalmente suas configurações culturais. As reportagens e as telerreportagens parecem ser culturalmente confeccionadas através dessa perspectiva. Percebe-se, então, que o enfoque atribuído a um mesmo fato, observado a partir de pontos de vista diferentes – leia-se em culturas diferentes – geralmente também é distinto. Nesse sentido, o panorama cultural do telespectador/leitor valida a importância de considerar a cultura à qual o texto se destina.

Para Oliveira (1999), o texto jornalístico está situado nos processos dialéticos do sistema sociopolítico-cultural, ultrapassando uma multiplicidade de fatores que perpassam as fronteiras da linguagem. O texto jornalístico, incluindo o telejornalismo, emerge das configurações ideológicas que assinalam a história dos homens ao longo dos tempos. Assim, essa tipologia textual, ou seja, o telejornalismo, está alicerçado na relação de dependência entre aqueles que fazem a notícia e aqueles que assistem à notícia.

Através do discurso jornalístico projetam-se anseios, expectativas e aspirações do auditório que receberá as informações elaboradas. No

casamento na corte inglesa, transmitido pela TV Globo, parece evidente

uma suposta tentativa de reproduzir cenas dos contos de fadas, ou seja, traços que marcam as suposições de uma união perfeita com final feliz. Possivelmente uma resposta àquilo que se supunha esperado por grande parte do público projetado. Já na reportagem da TF1 parece evidente uma descrição dos acontecimentos com certos tons de ironia sobre a cultura inglesa.

Vale lembrar, ainda que a comunicação – o texto jornalístico – é um meio de comunicação, à luz desse imbricamento, cumpre o papel enunciativo de manifestar anseios, expectativas e aspirações dos sujeitos de uma comunidade nos mais amplos domínios, razão por que a linguagem traduz os assujeitamentos que deixam entrever o conjunto de constantes e coerções preexistentes a qualquer

ato efetivo de produção de significação. (OLIVEIRA, 1999, p. 95).

Na sequencia analisam-se as duas reportagens com o intuito de verificar os panoramas culturais do público receptor e a sua influência sobre a confecção das reportagens. Escolhemos alguns elementos relevantes da tabela proposta por Nord, são eles: emissor, receptor, pressuposição, conteúdo, bem como elementos do modelo pluriestratificado e integrado proposto por Esser (1998) e algumas premissas referentes ao fenômeno da alusão.

4.1 EXEMPLOS E ANÁLISES NA REPORTAGEM BRASILEIRA