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3 MATERIAL DIDÁTICO

3.1 O PAPEL DO MATERIAL DIDÁTICO NO ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

3.1.2 Etapas da produção de Material Didático

Leffa (2003, p.15) define produção de materiais de ensino como “uma seqüência de atividades que tem por objetivo criar um instrumento de aprendizagem”. A produção dessas atividades envolve quatro etapas: análise, desenvolvimento, implementação e avaliação18.

A primeira etapa consiste na análise que se caracteriza pelo levantamento das necessidades de aprendizagem dos alunos, incluindo o nível de conhecimento da língua alvo e o conteúdo que ainda precisam aprender. Dessa forma, as necessidades serão melhores atendidas ao se conhecer suas expectativas com relação à aprendizagem da língua, seus estilos de aprendizagem e as características pessoais dos aprendizes.

Leffa (2003, p.16) afirma que para que a aprendizagem ocorra é necessário que o material seja adequado “ao nível de conhecimento do conteúdo a ser desenvolvido”. O conhecimento prévio do aluno servirá de ponte para o conhecimento ainda a ser alcançado, e o material produzido deve preencher a lacuna existente entre o conhecimento já adquirido e o que ainda está por conhecer.

A próxima etapa chama-se desenvolvimento e se origina nos objetivos estipulados após a análise das necessidades dos estudantes. Os objetivos são classificados em gerais ou específicos e especificam o que os alunos devam alcançar. Harmer (2001, p.314) declara que os melhores são aqueles direcionados para um resultado que pode ser medido, e refletem o que o professor espera que os alunos realizem. Leffa (2003 p.18) afirma que os objetivos de um material didático podem ser traçados nos domínios cognitivo, afetivo e psicomotor, envolvendo conhecimento, atitudes e habilidades consecutivamente. Por exemplo: no nível cognitivo o aluno possui o conhecimento do vocabulário relacionado a um determinado tema, compreende a estrutura gramatical, aplica regras gramaticais, analisa textos escritos, integra conhecimentos de áreas diferentes e julga o valor de material escrito; no domínio afetivo, ele aceita as diferenças culturais, demonstra interesse no

18 A implementação e avaliação das atividades didáticas interculturais não serão abordadas nesta

tópico, aprecia obras literárias, Integra conhecimento da língua em seu plano de vida e demonstra consistência na prática da língua estrangeira; no domínio psicomotor e ainda de acordo com Leffa, o aluno:

Reconhece vogais na língua estrangeira;

Sabe a posição dos órgãos da fala para os diferentes fonemas;

Imita sentenças que ouve; Fala naturalmente;

Fala fluentemente; Ajusta a fala à situação;

Muda a pronúncia. (LEFFA, 2003, p. 10)

Após a definição dos objetivos de aprendizagem, o autor afirma que é necessário selecionar os conteúdos através dos quais as metas serão alcançadas, e decidir qual abordagem será adotada no material. Leffa (2003, p.25) destaca seis abordagens: abordagem estrutural, nocional/funcional, situacional, baseada em competências, baseada em tarefa, baseada em conteúdo. A abordagem intercultural não foi mencionada pelo autor, por esse motivo a incluo na lista, pois as teorias sobre a natureza do ensino e aprendizagem da língua dessa abordagem servem como fonte de princípios e práticas para a elaboração do material proposto nessa pesquisa.

O autor salienta que uma das formas de se definir os conteúdos é através da concepção que se tem de língua. Se a compreendo como um conjunto de elementos gramaticais, devo realizar um recorte da sintaxe e do léxico; se a concebo como um instrumento para desempenhar determinadas atividades, seleciono tarefas para serem executadas pelos alunos, mas se a concebo como a expressão de uma realidade cultural, devo selecionar conteúdos que proporcionem aos alunos informações culturais, conduzindo-os a compreender e lidar com uma nova cultura.

Kramsch (1993) define língua como: um “sistema de signos que possui nele mesmo um valor cultural”, e complementa afirmando que a língua é um instrumento social que promove a interação e inserção do indivíduo no mundo. Ela está intimamente ligada à vida social, à arte, à forma de pensar, à política e a vários outros aspectos que envolvem a vida do ser humano. Portanto, os conteúdos que serão propostos nessa pesquisa deverão ser “culturalmente sensíveis” (ERIKSON, 1987 apud MENDES, 2008 p.61), atender às necessidades e expectativas dos alunos-alvo e apresentar características da

interculturalidade, as quais serão mencionadas no item 3.2.

Cunningsworth (1995, p.90) explica que embora os livros e todos os demais materiais didáticos sejam um meio de facilitar o aprendizado da língua alvo, eles não deveriam se restringir apenas a essa questão, porque a língua é usada em situações reais com propósitos reais. O estudo isolado da língua como um sistema abstrato não fornece as ferramentas necessárias para que o aluno use a língua no mundo real. Por esse motivo, espera-se que os materiais incluam elementos da cultura da língua-alvo.

Ainda segundo o autor, conhecimento, atitudes, habilidades, curiosidade, experiência são alguns atributos que vem com os alunos para a sala de aula. O aprendizado de língua concebido como processo se envolve com esses atributos tornando-se rico e significativo para os aprendizes. Os conteúdos podem contribuir para este processo sendo informativos, desafiadores, divertidos, excitantes e provocantes, além de proporcionarem de modo geral oportunidades para os alunos expandirem suas experiências.

O conteúdo não precisa ser pesado nem intelectual para valer a pena, há muito espaço para humor e estórias interessantes também. Busca-se um grau de autenticidade nos materiais e por uma abordagem intercultural que leve os alunos a compreenderem a língua como ela é usada no mundo real. Os materiais autênticos criam respostas autênticas, que informam, desafiam, estimulam, enriquecem experiências, estimulam a curiosidade, desenvolvem julgamentos e ajudam os alunos a transferirem o que aprendem em sala de aula para situações verdadeiras. Como diz Weininger (2001, p.65) é como se os alunos fossem transferidos de um aquário onde a língua se apresenta artificialmente para o mar aberto, no qual a língua se apresenta de forma autêntica, da forma como ela é usada pelos membros da língua-alvo. Conclui- se, portanto, que o material autêntico propicia a interação entre os aprendizes envolvendo-os no desenvolvimento e expressão de opiniões, na formação e comunicação de suas próprias conclusões, na discussão e justificativa, em influenciar e ser influenciado por outros.