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A implementação do neoliberalismo no Brasil, a partir dos anos de 1990, promoveu diversas modificações no âmbito político, econômico e educacional, sendo este último o que mais interessa a esta pesquisa. Gentili (1996, p.14), ao falar sobre a influência do neoliberalismo na educação, destaca que “[...] a grande operação estratégica do neoliberalismo consiste em transferir a educação da esfera política para a esfera do mercado questionando assim seu caráter de direito e reduzindo-a a sua condição de propriedade”. Entretanto, mais que uma racionalidade política e econômica, a racionalidade neoliberal vai se instituir enquanto um ethos, um modo de viver e de se colocar no mundo, que é atravessado pelos princípios do capitalismo, do ultra individualismo, pela competitividade e o empreendedorismo de si.

Nesse sentido, Veiga-Neto (2011, p.38) ressalta que, em vez de entender o liberalismo e o neoliberalismo enquanto ideologias que sustentam e justificam o capitalismo, “é mais produtivo compreendê-los como modo de vida, como ethos, como maneira de estar e se relacionar no mundo”. Embora o ethos neoliberal apreenda todos os âmbitos da vida dos sujeitos, incluindo as relações interpessoais e afetivas, o cuidado com o corpo e a saúde mental, faço um recorte para a escola e o mercado de trabalho para pensar tais implicações.

Assim como no campo da educação, a lógica neoliberal, de acordo com Migowski (2015) transformou a visão e o pensamento a respeito dos trabalhadores. Inicialmente, a teoria tradicional percebia o trabalhador enquanto um objeto, isto é, como algo dotado de neutralidade; porém, através das ideais neoliberais, “o trabalho passa a se organizar do ponto de vista do trabalhador” (MIGOWSKI, 2015, p.9), invertendo tal concepção de neutralidade. O autor ressalta que, a partir disso, vai se estabelecer também uma nova noção de que o trabalhador é uma empresa, isto é, que ele é “chefe de si mesmo” e que, por essa razão, impõe-se a ele um agir voltado para a ampliação da sua própria produção em termos de trabalho e para o desenvolvimento de suas habilidades, com o fim de maximizar seu bem estar. Nessa perspectiva, o autor destaca que:

A economia, portanto, não é formada somente por indivíduos que trabalham, mas por

‘indivíduos-empresas’, por ‘unidades econômicas’ que produzem não só renda, mas criam fluxos de renda, ou melhor, produzem a si mesmos para poderem produzir mais e melhor no futuro. (MIGOWSKI, 2015, p.5).

Conforme Veiga-Neto (2013), uma das principais distinções entre o liberalismo e o neoliberalismo está na relevância atribuída ao ethos empresarial na constituição dos sujeitos,

pois, de um lado, o liberalismo enxergava a liberdade, através da garantia de determinados direitos individuais, que dariam a oportunidade de o sujeito agir como um agente econômico de forma livre. Enquanto, para o neoliberalismo as liberdades não se expressam apenas por meio das garantias dos indivíduos, mas sim por meio do incessante estímulo à concorrência, partindo-se do pressuposto de que os sujeitos livres disputam entre si, tal como empresas que concorrem por determinado espaço no mercado. Em outras palavras, o sujeito, influenciado pelas ideias neoliberais, se encontra em um processo, através do qual a liberdade representa algo a ser produzido e consumido a todo tempo. Além disso, o autor destaca a alteração da ênfase atribuída ao funcionamento do capitalismo, pois se verifica uma mudança de uma sociedade pautada e instituída com base na produção, como reflexo do modelo disciplinar, para uma sociedade de consumidores. (VEIGA-NETO, 2013)

Ainda que seja óbvia a relação entre produção e o consumo, a evolução tecnológica, que permitiu grande automação e consequentemente a saída de significativa parcela dos trabalhadores das fábricas, bem como o fim dos mecanismos de controle mantidos, sobretudo, em espaços fechados, modificaram a forma como é pensada a lógica do mercado, de maneira que as empresas não buscam mais necessariamente produzir o máximo de mercadorias possíveis, mas sim em cativar mais consumidores, por meio do desejo do ato de consumir. Nota-se, com isso, o processo de subjetivação, que constrói o ethos neoliberal, por meio de dispositivos altamente eficientes de exercício de poder, pois possibilitam ao sujeito a liberdade de escolha, e a partir disso, é possível afirmar que nunca se governou tanto fazendo tão pouco, porque o próprio mercado vai regular e incentivar que as pessoas sejam consumidoras e empreendedoras de si.

Ao tratar sobre poder, Foucault salienta que esse somente se tornará efetivo, ao construir saber, isto é, quando é capaz de produzir subjetividades (FOUCAULT, 2010). Dessa forma, o poder só será eficiente diante das práticas de liberdade, ou seja, somente se o próprio sujeito estiver amarrado por escolha a esses mecanismos. Para isso, o poder deve operar de duas formas distintas. A primeira, por meio da constituição da subjetividade, e a segunda, por meio de uma vigilância contínua. Então, a partir dessa lógica, evidencia-se que o incentivo à concorrência permitiu uma remodelação de determinados dogmas morais, que precisaram, cada vez mais, serem aprofundados no debate ético (MIGOWSKI, 2015).

Assim, é possível pensar a respeito do enfrentamento do racismo, que está vinculado a uma concepção identitária, e constituído nas lutas em coletividade, de encontro, ao que propõe o ethos neoliberal, em que tais ações assumem um aspecto individualista e anti-coletivista que age no desmonte dos discursos antirracistas. Essa manutenção do racismo é reforçada

socialmente de acordo com Migowski (2015, p.15), primeiro, devido “a emergência do controle como mecanismo de poder trouxe uma sensação de liberdade e inclusão que reascendeu velhos pensamentos conversadores que possuem forte relação com o racismo clássico”; e, em segundo, pois o ethos concorrencial compreende os indivíduos enquanto livres e iguais, para disputar / competir, no entanto, a efetiva prática de tal igualdade é mais complexa e possui amarras fundamentadas na hierarquização social construída nos processos históricos. A respeito disso, Migowski (2015, p.15) aponta que o estímulo à competitividade:

(...) deixa o preconceito e a discriminação mais evidente. Em uma sociedade em que a competitividade é a regra, a cor da pele, a sexualidade e o gênero, também são levados em consideração em uma competição entre ‘iguais’. De um lado, fortalece a ação de grupos que defendem as minorias; mas, de outro, cria uma situação diferente da luta histórica contra a discriminação.

Tratando-se da questão racial, as desigualdades podem ser observadas nos indicadores do Atlas da Violência (IPEA, 2020), o qual evidencia que a população negra está mais suscetível a diferentes tipos de violência e vulnerabilidades, encontrando-se limitada no acesso aos direitos básicos, como o ensino de qualidade, ascensão no mercado de trabalho, acesso à saúde, assistência social, segurança, entre outros. Nesse sentido, afirmar que a competição entre brancos e negros é igualitária representa uma falácia, que flerta com os discursos conservadores e meritocráticos, acabando por revisitar o mito da democracia racial.

Verifica-se que a forma neoliberal de governar é exercida, conforme ressalta Noguera, Seixas e Alves (2019, p.160), “no sentido da generalização da forma política do mercado para todo o corpo social; de modo que a economia de mercado funcionará como princípio de inteligibilidade das relações sociais e condutas individuais”. Os autores também destacam que, através da lógica neoliberal, “a economia será uma análise da programação estratégica das atividades e dos comportamentos dos indivíduos.” (p.160), dessa forma, o governamento do poder soberano se mostra no condão de poder administrar os corpos e gerir a vida de maneira calculista, por meio de uma biopolítica.

A partir da relação entre neoliberalismo e biopolítica, é necessário enfatizar o surgimento de uma Necropolítica, que se configura enquanto ação política sob o cálculo da precarização da população, com estratégias de governamento que atuam na exclusão e no aumento das desigualdades e vulnerabilidades sociais. Isso faz parte integrante do projeto neoliberal, uma vez que atende ao objetivo de destruir as populações julgadas como desnecessárias ou dispensáveis socialmente, isto é, a Necropolítica permite a eliminação dos excedentes (NOGUERA; SEIXAS; ALVES, 2019). Os autores ressaltam que Mbembe, através da obra

Crítica da Razão Negra, promove uma descrição de tais corpos descartáveis, que são deixados em uma condição supérflua de humanidade, por não serem úteis ao funcionamento do capital, tornando-se vidas matáveis, precisamente, em razão da pouca ou nenhuma capacidade para o trabalho.

Diante das exigências do mercado de trabalho neoliberal, de formação constante, necessidade de se reinventar nas adversidades financeiras, com a responsabilização pelos riscos e fracassos, ocorre que o contraste na mobilidade e ascensão social entre a população branca e demais grupos raciais se evidencia, fazendo com que os negros permaneçam nos espaços de exclusão.

Além disso, na lógica neoliberal não é apenas a população negra, mais vulnerável econômica e socialmente, que enfrenta a precarização no Brasil. Mas sim, de forma geral, todos os indivíduos são atravessados pelos discursos neoliberais, e como consequência, subjetivados por essas concepções. Um exemplo dessa reconfiguração na relação com o trabalho, que evidencia a processo de precarização, pode ser observado na troca do emprego formal, com carteira assinada e direitos trabalhistas pelo emprego informal – como o caso dos ubers – que ora se dá pela necessidade de garantir a renda familiar aceitando atividades laborais que não correspondem à formação inicial do trabalhador, e ora se dá pelo desejo de se tornar seu próprio chefe, fazer os horários, mas também se colocar a mercê da total responsabilização caso haja fracasso no empreendedorismo de si.

Conforme Mbembe (2014), existe um processo que retoma o modelo exploratório escravagista, mas, por meio de uma outra roupagem, o que pode ser observado nas reflexões do autor a respeito do “devir-negro do mundo”. Mbembe afirma que o neoliberalismo e a escravização são coexistentes, mesmo que as lutas por qualificação do trabalho e os direitos trabalhistas ganhem espaço dentro do sistema. De acordo com o autor o neoliberalismo representa a intensificação desse processo, ao passo em que caracteriza um plano de extinção total das garantias, deixando o sujeito “empreendedor de si” como o único responsável pelo seu sucesso, mas também pelo seu fracasso.

Segundo Noguera, Seixas e Alves (2019, p.163):

O ponto interessante sobre a tese de um devir-negro no mundo nos parece ser justamente essa população que está vulnerável sob esse poder de coação, de extermínio. A diferença marcante entre o modo como Mbembe demarcará essa raça não participa diretamente da fantasia da raça criada pela modernidade ocidental. Tão pouco encontra ares de imprecisão na sua definição. É mister lembrar que, para Mbembe, a raça, bem como o Negro nunca foram definidos de uma só maneira imutável ao longo do tempo. E ele argumenta no sentido desse devir-negro não ser baseado na fantasia ocidental chamada raça.

Se todos estão à mercê do governamento neoliberal, sofrendo as implicações que a instabilidade e precarização econômica podem gerar, é plausível pensar que a população negra, que já se encontra em desvantagens estruturais em comparação aos brancos, será deixada cada vez mais à margem, considerando a competitividade que se intensifica nesse contexto. Além das implicações de uma racionalidade neoliberal na relação com o trabalho, a educação também será atravessada por esses discursos. Ademais, ainda sobre os efeitos dessa conjuntura neoliberal, é preciso considerar a transformação da educação em mercadoria, o que corrobora com as desigualdades sociais e raciais, antes mesmo do ingresso no mercado de trabalho.

Conforme Oliveira (2009), a educação passa a ser vista como uma oportunidade de ganhar lucros. O autor ressalta que, a partir dos anos 2000, quando se percebeu que o ensino superior no Brasil seria rapidamente expandido, os fundos de investimentos encontraram a possibilidade de alocar seus recursos com a finalidade de obter ganhos a partir da educação. Nesse pensamento, na medida em que a educação torna-se uma mercadoria, ela passa paulatinamente a intensificar as desigualdades, entre elas as raciais, visto que, somente uma parcela da população consegue acompanhar essas mudanças, as quais reforçam, por exemplo, a diferença do ensino público e privado e ampliam o privilégio de pessoas que já se encontram em uma situação econômica favorável, pois podem estar em constante formação, pois possuem subsídios financeiros para se capacitar e melhor se colocar no mercado de trabalho.

Nesse período, foram constituídos os primeiros fundos no Brasil especialmente voltados para a educação. Tais fundos de venture capital e private equity possuíam condições de aplicar grandes quantias de recursos em empresas do setor educacional, ao mesmo tempo que

“profissionalizam” a operação de tais escolas e universidades, introduzindo uma visão empresarial de eficiência e reduzindo ou cortando custos, isto é, promovendo uma verdadeira gestão empresarial das instituições de ensino, com vistas à maximização dos lucros (OLIVEIRA, 2009).

Todas essas transformações denotam um processo de mercantilização da atividade educacional, que é observado não só no Brasil, mas também na maioria dos países do mundo, podendo ser classificado como uma das dimensões da globalização (OLIVEIRA, 2009, p.752-753). De acordo com o autor:

As áreas em que isso ocorre vão da oferta direta de cursos, presenciais e a distância, à produção de materiais instrucionais, na forma de livros, apostilas e softwares, às empresas de avaliação, ou, mais precisamente, de medida em larga escala, às consultorias empresariais na área e até mesmo à ação de consultores do meio empresarial que assessoram tanto a inserção de empresas educacionais no mercado

financeiro, quanto direcionam investimentos de recursos para a educação. São facetas de acentuada transformação do panorama educacional em escala mundial.

De acordo com Oliveira (2009) não restam dúvidas de que a educação foi relegada a uma posição de mercadoria, pois pode ser mercantilizada, “comprada ou vendida” tal como qualquer outro produto ou serviço. O autor também destaca que a negação a respeito do processo de mercantilização da educação é muito mais a manifestação de “um desejo ou de uma bandeira de luta do que algo que se espelhe na realidade.” (OLIVEIRA, 2009, p.753). O debate ético acerca da classificação da educação enquanto mercadoria ou como um bem público pode ser visto na literatura anglo-saxã desde o final da década de 1980, dessa forma, nota-se que tais discussões não são tão recentes, já que vêm sendo travadas há mais de três décadas (OLIVEIRA, 2009). Segundo o autor “reduzir o sentido social da educação aos interesses do lucro representa um empobrecimento tanto do conceito de educação, quando de seu sentido para a coesão e viabilidade das sociedades” (OLIVEIRA, 2009, p.753)

Com a pandemia do COVID-19, a educação, em especial, a pública brasileira, ganhou maior visibilidade, pois se configurou uma problemática de precariedade, que já era anunciada antes mesmo do início dessa crise sanitária. Apesar das desigualdades existentes no país, o ensino remoto e a educação à distância se consolidaram como “falsas soluções para a continuidade das atividades do ensino básico e universitário” (PRAUN, 2020, p.4). A autora ressalta que a pandemia permitiu enxergar mais facilmente as nuances das desigualdades sociais brasileiras. Percebeu-se que os professores, exaustos e sem condições materiais adequadas para tanto, foram “jogados” na prática do ensino remoto, até mesmo sem treinamento e organização prévios. A autora destaca, ainda, a intensificação de sintomas de ansiedade e esgotamento psíquico por parte dos professores, o que se pode associar diretamente às atuais formas de trabalho decorrentes da pandemia (PRAUN, 2020).

Por outro lado, também se pode pensar sobre a questão da falta de acesso às condições materiais (recursos tecnológicos) para viabilizar a participação em plataformas virtuais de ensino, o que ainda não é realidade para muitos professores e estudantes (PRAUN, 2020). Cabe ressaltar que a vulnerabilidade dos estudantes que não possuem condições econômicas e sociais para acompanharem as aulas foi amplamente divulgada nas mídias, assim como as estratégias para enfrentar essa adversidade, pois, compactuando com o que configura o neoliberalismo, houve a necessidade da população se organizar para acompanhar os estudos, indiferentemente do contexto social, e não houve uma ação do Estado para garantir que, efetivamente, esses alunos (cabe destacar, a grande maioria negros, residentes das periferias e favelas)

conseguissem acompanhar o ensino que era ofertado nas escolas privadas, por exemplo, que conseguiram se reorganizar diante da pandemia, pois possuíam uma melhor infraestrutura.

Segundo Praun (2020), os relatos de docentes, estudantes e respectivos familiares evidenciam a ausência de condições para acessar os materiais de estudos, e que somente em poucos casos, foram entregues apostilas e materiais impressos. Tudo isso demonstra como o contexto pandêmico escancarou e ampliou as desigualdades existentes no país, que foram enfrentadas através de “‘soluções’ individualizantes propostas pela cartilha neoliberal”

(PRAUN, 2020, p.5). Nesse contexto:

Impõe-se, assim, um tipo de trabalho que, além de debilitar as solidariedades coletivas, instaura o reino da flexibilidade laboral, com seus contratos temporários, com a individualização dos salários, com a aparição de avaliações permanentes, além da fixação de metas e objetivos a serem atingidos. Essa nova forma de organização do trabalho supõe e precisa criar estratégias de ‘responsabilização’ individual, transformando cada trabalhador em um sujeito responsável por seus êxitos e seus fracassos, independentemente dos contextos sociais de formação e de existência (CAPONI; DARÉ, 2020, p.304).

Pode-se concluir que a precariedade laboral intensificada na pandemia é consequência direta da omissão estatal, que abandonou não só os professores, mas também os próprios estudantes; todos relegados a nenhuma ou a mínimas condições para concretizar um ensino adequado e de qualidade. (PRAUN, 2020).

Mas além das questões a respeito do acesso aos recursos tecnológicos, da precarização do trabalho e das soluções universais (e desiguais) propostas pela agenda neoliberal para contornar as limitações impostas à educação pela pandemia, há ainda o discurso que defendeu a permanência do currículo escolar apenas para se impedir que alunos acabassem “perdendo o ano letivo”. Essa prática discursiva desconsidera a realidade posta e os impactos evidentes causados pela pandemia do novo coronavírus, que acabou com a vida de milhares de pessoas, deixando também uma quantidade enorme de desempregados sem condições mínimas para garantir o sustento de suas famílias, enquanto o que se ecoava “não podemos perder o ano letivo” (PRAUN, 2020).

Embora os efeitos desse hiato na educação, que se constituiu durante a pandemia, ainda estejam em voga e não possam ser calculados a longo prazo, é possível perceber que os prejuízos já estão recaindo, principalmente sob a população negra, não só em relação ao adoecimento e morte em razão da COVID-19, mas indiretamente pelo desemprego, precarização da educação e abandono das políticas públicas, que não conseguem ser efetivas frente a uma calamidade como essa que vem enfrentando o Brasil. A questão central não se

trata de culpabilizar a pandemia por uma crise na educação, tampouco pelo cenário de desigualdade e exclusão da população negra, mas sim considerar que, a partir do seu surgimento, acarretou uma intensificação dessas questões, tornando visível uma outra realidade, que era muitas vezes, invisibilizada.

Refletir acerca dessas questões se fez importante, na medida em que os sujeitos de pesquisa demonstraram um atravessamento discursivo da racionalidade neoliberal, bem como narrativas que colocam a pandemia enquanto divisor de águas na educação, pois denuncia a precariedade que já vem sendo enfrentada nas escolas públicas. Sobre o recorte racial, considero que tanto a competitividade característica do neoliberalismo, quanto o cenário de (in)exclusão que ganhou força com a pandemia, acabam por construir barreiras, cada vez mais delimitadas, que agem no intuito de manter a população negra à margem, distante de direitos sociais igualitários e equânimes.