• Nenhum resultado encontrado

A ETIOLOGIA DA ASMA

No documento O design no tratamento da asma (páginas 69-72)

CAPÍTULO 3 ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3.5 A SAÚDE CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA A ABORDAR

3.5.6 A ETIOLOGIA DA ASMA

A dificuldade em estabelecer uma definição para a Asma, como referido nos pontos anteriores, deve-se em larga medida à controvérsia acerca da sua etiologia, ou seja, à ausência de uma completa compreensão dos factores/agentes que podem provocar a doença num dado indivíduo.

Os sintomas da Asma podem ser activados ou agravados por diversos agentes ou factores. Adicionalmente, a reacção provocada pelo mesmo agente ou factor pode não ser idêntica em todos os pacientes asmáticos. De uma forma geral, a gravidade da asma, assim como a sua evolução e tratamento, depende do número de diferentes agentes que activam os sintomas asmáticos num indivíduo e da sen- sibilidade que os pulmões deste revelam em relação a esses agentes.

A identificação dos potenciais agentes provocadores de Asma pode ajudar a explicar, em grande parte, as diferentes manifestações da doença. Garcia (cit. in Botella & Benedito, 1993) distingue três diferentes tipologias de factores ou agentes presentes na etiologia da Asma:

- Agentes indutores de Asma; - Factores predisponentes;

- Factores desencadeantes das crises ou episódios de Asma.

Os (a) agentes indutores de Asma incluem as substâncias que, ao promoverem alterações orgânicas, levam a uma reacção ao nível dos brônquios e, consequen- temente, a uma situação asmática, mesmo em indivíduos sem qualquer historial asmático. Estes agentes consistem em determinadas substâncias que podem actuar como alergénicos, substâncias industriais e infecções brônquicas de natureza viral (Botella & Benedito, 1993).

Os (b) factores predisponentes incluem os factores inerentes a cada indivíduo que o tornam mais predisposto a sofrer de Asma. Entre estes factores, a hereditariedade surge como o factor predisponente mais significativo (Gila & Martin-Mateos, 1991;

Price, 1994; Partridge & Alwan, 1997). Apesar da inexistência de um conhecimento completo sobre os mecanismos genéticos da Asma, existe uma noção consensual de que esta doença possui uma forte componente familiar, tendo em conta os dados estatísticos recolhidos (McFadden, 2002).

Botella & Benedito (1993) referem que, quando os dois progenitores possuem Asma, a probabilidade da criança desenvolver a doença é elevada. Esta conclusão é também suportada por Kurukulaaratchy, Matthews & Arshad (2004). Ao estudar o papel dos factores ambientais e hereditários, os autores concluíram que, mesmo quando a criança não é exposta a factores ambientais (por exemplo, hábitos tabá- gicos dos progenitores), a predisposição genética para a atopia (alergias) mantém a facilidade de desenvolvimento de uma condição asmática.

Os (c) factores desencadeantes das crises de Asma são os que dão origem aos mecanis- mos de obstrução brônquica. Vázquez & Buceta (1996) dividem estes factores em qua- tro categorias: factores alergénicos, infecciosos, inespecíficos e, por fim, psicológicos. Comparativamente aos dois grupos anteriores (a) e b) ), os (c) factores desenca- deantes constituem um grupo mais extenso e podem, com excepção dos factores inespecíficos, coincidir com os (a) agentes indutores. Adicionalmente, possuem a particularidade de poderem não provocar a mesma reacção em todos os indivíduos/ pacientes ou no mesmo indivíduo, em diferentes alturas.

Os factores alergénicos afectam um indivíduo quando o seu sistema imunológico tem uma propensão para responder de forma anormal e repetida, ao contacto com uma substância tolerada pela maioria dos “indivíduos saudáveis”. Sempre que este indivíduo, dito atópico, entra em contacto com tais substâncias, o seu organismo reconhece-as como sendo um elemento intruso/inimigo e inicia um mecanismo de defesa, libertando um anticorpo (imunoglobulina E) no sistema sanguíneo. Este processo provoca, no indivíduo, manifestações tidas como anormais, como por exemplo, reacções cutâneas (Botella & Benedito, 1993).

Estes factores podem constituir substâncias inaláveis (por exemplo, pólen, pêlos de animais, pó, fungos, entre outros), substâncias ingeríveis (por exemplo, alimentos, medicamentos, etc.) ou, simplesmente, substâncias de contacto cutâneo (por exemplo, produtos de higiene).

Os factores infecciosos consistem em infecções das vias respiratórias e mucosas, de natureza bacteriana ou viral, como otites, amigdalites ou bronquites que podem desencadear reacções alérgicas inflamatórias. Estes factores podem contribuir tanto para o agravamento dos sintomas asmáticos, como para a ocorrência de crises agudas de asma (McFadden, 2002).

Os factores inespecíficos são constituídos por substâncias que provocam reacções à generalidade dos indivíduos, não sendo por isso específicos dos indivíduos alér- gicos e/ou asmáticos. Como exemplos, podem indicar-se as substâncias irritantes das vias respiratórias, o ar frio, vento, nevoeiro e o exercício físico.

Sobre as substâncias irritantes (por exemplo, poluição industrial, fumo do tabaco, insecticidas ou perfumes), apesar destas poderem provocar reacções à generalidade dos indivíduos, os asmáticos possuem uma maior sensibilidade às mesmas, apresentando sintomas de irritação e inflamação perante quantidades mínimas destas substâncias (Falardeau, 2000).

Os fenómenos como o ar frio, vento ou nevoeiro causam reacções devido à alteração do comportamento das vias respiratórias que provocam, podendo levar, como consequência, a crises asmáticas (por vezes, agudas). Por seu lado, o exercício físico também pode provocar crises asmáticas, sobretudo na forma de broncoes- pasmos, devido ao grau de ventilação e à temperatura e humidade do ar inspirado (Vázquez & Buceta, 1996).

Os factores psicológicos, também desencadeantes de crises de asma, desempenham um papel muito importante na vida dos asmáticos, pois o stress emocional pode precipitar ou agravar os sintomas asmáticos. Smith (2013) refere que a relação entre a Asma e os factores psicológicos é bidireccional: o estado psicológico de um indivíduo asmático pode influenciar o controlo da asma, ao ter um impacto tanto na apresentação dos sintomas, como na aderência ao seu tratamento.

Segundo Smith (2013), os indivíduos asmáticos tendem a apresentar elevados níveis de “emoções negativas” e o agravamento da Asma tem sido associado a períodos de perturbações emocionais. A autora afirma ainda que se estima que a ocorrência de estados depressivos é cerca de 40% mais provável de se verificar em indivíduos asmáticos, em relação à população geral. Os pacientes com distúrbios bipolares apresentam, igualmente, um risco mais elevado de vir a desenvolverem condições alérgicas, incluindo a Asma. Da mesma forma, verifica-se, cada vez mais, a ocor- rência de distúrbios de ansiedade em indivíduos asmáticos (33% em crianças e adolescentes e 24% em adultos asmáticos).

Ainda de acordo com a autora (Smith, 2013), apesar de ainda não existir um extenso corpo teórico e estudos empíricos sobre o tema, algumas investigações recentes indicam que o distúrbio emocional pode ter uma contribuição no agravamento da Asma, assim como os factores psicológicos podem ter um papel na própria génese da Asma. Tanto a Asma como os distúrbios depressivos apresentam um padrão semelhante de desregulação de sistemas biológicos críticos, incluindo a resposta da neuroendócrina ao stress emocional.

No documento O design no tratamento da asma (páginas 69-72)