fonte:Elementos do estilo tipográfico,Robert Bringhurst Princípio geral
É tarefa dorevisor de provas zelar por uma boa composição. Uma composição bem feita tem como princípio básico uma mancha de texto com textura o mais uniforme possível, para que o olhar do leitor possa fluir de uma linha à outra sem distrações, concentrando-se exclusivamente no conteúdo.
Para tanto as linhas não podem ficar nem abertas nem espremidas. Num texto justificado (alinhado à direita e à esquerda) a hifenização é o instrumento para se obter uma boa textura.
Orevisor deve prestar atenção em ocorrências que se
particularizem visualmente desviando a atenção do leitor, como espaços brancos ou paralelismos. Em um livro apenas de texto, a cada página a composição deve aparecer como um tecido
(textus em latim) bem urdido pelo tecelão.
Recuos
O recuo na primeira linha de um parágrafo tem a função de marcar o início de um parágrafo. Eles devem ser dispensados nos primeiros parágrafos de cada texto e após títulos, subtítulos e citações, exceto no caso de a primeira linha iniciar com um travessão, nesse caso o recuo deve ser mantido.
Em alguns projetos o início de um novo parágrafo pode ser indicado de outras maneiras, nesses casos orevisor deve zelar pela consistência do critério adotado.
Órfas e viúvas
Nunca iniciar uma página com a última linha de um parágrafo. Linhas isoladas de um parágrafo que principia na última linha de
ETIQUETA TIPOGRÁFICA
uma página são chamadas deórfãs. Elas não têm passado, mas têm um futuro, e não precisam preocupar o tipógrafo. Já as réstias dos parágrafos que terminam na primeira linha de uma página são chamadas deviúvas. Elas têm passado mas não têm futuro. Parecem escorçadas e desoladas. Na maioria das culturas tipográficas do mundo, é costume dar a elas a companhia de uma linha adicional. Essa regra é aplicada em íntima conjunção com o texto.
No meio editorial brasileiro, o termoviúva também é usado
para indicar a palavra que sobra sozinha na última linha de um parágrafo e os termoslinha enforcadaouforca são usados para indicar linhas isoladas que enfeiam uma página. (Elementos do
estilo tipográfico,p.52)
A última linha do parágrafo não deve ter menos que 1/5 da largura da mancha de texto preenchida.
Que mistura mais assombrosamente blasfema! A frase é real- mente suja, em parte porque se encaixa na conhecida acepção de “sujeira”− algoque nãocabe ali,o que porsua vez éa própria defi- niçãoda mistura de registroelevado e registrovulgar. Mas porque Roth entra nesses movimentos e rodeios tão barrocos? Por que escrever tão complicado? Se pegarmos só o tema direto da frase e deixarmos tudonodevido lugar− istoé, se tirarmos a mistura de registros −, entenderemos a razão. Uma versão simples sairia as- sim: “Ultimamente,quando Sabbathchupava os seios de Drenka, era possuídopeloardente desejo de sua falecida mãe”. Ainda éen- graçado,por causa da transferência da amante para a mãe,mas não éexuberante . Assim, a primeira coisa que a complexidade conse- gue é representara exuberância,o gozoimpaciente e odesejocaó- tico,do sexo. Em segundolugar,a longa sentença entre travessões, com seu pedantismo cômico, sobre a origem latina de úbere e a pintura de Juno de Tintoretto, funciona, como num teatro de va- riedades,paraadiareprepararachegadadoclímaxcom“eleestava possuídopelomaisardentedesejodesuafalecidamãe”.(Também prepara e torna mais chocante e inesperada a entrada de “boceta”.) Em terceiro lugar, como o cômico da frase inclui essa passagem de um registro para outro − do peito da amante para o peito da −, encaixa bem que o estilo imite essa mudança escandalosa, en- tregando-se a suas oscilações estilísticas, subindo e descendo como um eletrocardiograma alucinado: assim temos “sugava” (registro elevado), “peitos” (médio),uberare (elevado), quadro de Tintoretto (elevado), “da teta dela” (vulgar), “frenesi insanciá- vel”(registro elevado,bastante formal),“como Junopode outrora gemido” (ainda bem elevado), “boceta” (muito vulgar), “pene- trado pela mais aguda das saudades” (de novo registro elevado e formal). Insistindo em igualar todos esses níveis de registro, o estilo da frase funciona como deveria, encarnando o significado. Mas as analogias e metáforas,pelomenos as visuais, moldam o
de Tintoretto (elevado), “da teta dela” (vulgar), “frenesi insanciá - vel” (registro elevado, bastante formal), “como Juno pode outrora gemido” (ainda bem elevado), “boceta” (muito vulgar), “pene- trado pela mais aguda das saudades” (de novo registro elevado e formal). Insistindo em igualar todos esses níveis de registro, o estilo da frase funciona como deveria, encarnando o significado.
Mas as analogias e metáforas, pelo menos as visuais, moldam o
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Hifenização
Nos textos justificados os hifens são indispensáveis para garantir um bom espaçamento entre as palavras, evitando linhas abertas ou fechadas demais. Quanto mais estreita for a coluna de texto mais frequentes se tornam os hifens. Em alguns casos mesmo textos não justificados podem ser hifenizados.
Os manuais de estilo às vezes insistem que ambas as partes de uma palavra hifenizada precisam estar na mesma página (em outras palavras, que a última linha de uma página nunca deve terminar com um hífen). Virar a página, no entanto, não é um ato de interrupção do texto em si mesmo. No entanto, é importante evitar quebras de palavra em locais onde o leitor tende a ser facilmente distraído por outras informações, por exemplo, sempre que um mapa, um gráfico, uma fotografia, um olho de texto, uma barra lateral ou outra interrupção qualquer se intrometer. (Elementos do estilo
tipográfico p.53)
parâmetros de hifenizacão
Odesigner deve configurar as preferências de hifenização do
documento antes de compor o texto. Orevisordeve zelar por esse padrão.
• Apenas palavras com cinco ou mais letras podem ser hifenizadas, deixando ao menos duas letras no início e três no final.
• Não se deve hifenizar mais do que3 linhas consecutivas. • Normalmente não se hifenizam nomes próprios. • Em palavras estrangeiras a hifenização deve respeitar as
convenções da respectiva língua.
• O hífen nunca pode separar duas vogais , mesmo que estejam em sílabas diferentes. Ou seja, por convenção, não se separam hiatos.
ETIQUETA TIPOGRÁFICA
Paralelismos
A partir da segunda prova o revisor e odesigner devem atentar a ocorrências de paralelismos indesejáveis, isto é quando uma mesma palavra ou sequência de palavras se repete em linhas consecutivas formando desenhos que saltam da mancha. Sequências de mais de três letras repetidas no início de linhas consecutivas também devem ser evitadas para que o leitor não pule ou repita uma linha.
Que mistura mais assombrosamente blasfema! A frase é real- mente suja, em parte porque se encaixa na conhecida acepção de “sujeira” − algo que não cabe ali, o que por sua vez é a própria defi-
nição da mistura de registro elevado e registro vulgar. Mas por que Roth entra nesses movimentos e rodeios tão barrocos? Por que escrever tão complicado? Se pegarmos só o tema direto da frase e deixarmos tudo no devido lugar − isto é, se tirarmos a mistura de registros −, entenderemos a razão. Uma versão simples sairia as-
gemido” (ainda bem elevado), “boceta” (muito vulgar), “pene- trado pela mais aguda das saudades” (de novo registro elevado e formal). Insistindo em igualar todos esses níveis de registro, o estilo da frase funciona como deveria, encarnando o significado.
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Os paralelismos algumas vezes podem indicar repetiçõesde palavras ou aliterações indesejáveis no texto. Outras recomendações ao designer e ao revisor • É indesejável que travessões iniciem uma linha, exceto em
diálogos. O mesmo vale para sinais matemáticos.
• Sempre que possível os números não devem se separar de suas respectivas unidades de medida pela quebra de linha.
• Evita-se terminar uma linha com um início de frase de uma única letra.
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Em expressões matemáticas ou em dimensões de obrasdeve-se utilizar o símbolo de versus “×” e não a letra “x”
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Não se usa parêntesis e colchetes em itálico.Usa-se espaço fino após milhar, e seus múltiplos, exceto datas: 5 000 pessoas, na década de 1950
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[N.T.] [N.E.] devem ser compostos em versalete e com um152
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FERRAMENTAS DE TRABALHO
5 ABREVIATURAS
1º. ,2º. ,3º. primeiro, segundo, terceiro
2ª. ,3ª. ,29ª. segunda, terça/terceira, vigésima nona
aC, dC ou AC, BC antes de Cristo, depois de Cristo
Bol. Boletim
c. circa (aproximadamente)
cA, cb, cAb caixa alta, caixa baixa, caixa alta e baixa
Cf. Conferir
col. coleção
coord./coords. coordenação/ coordenadores
dir., esq. direita, esquerda
dpi dots per inch (pontos por polegada)
dvd digital versatil disc
ed. editora
ed. bras. edição brasileira
et al. et alii
etc. et coetera (e as demais coisas)
fasc. fascículo
g grama
ibid. ibidem (a mesma obra)
id. idem (o mesmo autor)
il./ ils. ilustração/ ilustrações
kg quilograma
km/h quilometros por hora
loc. cit. loco citado (local citado)
Ltda. Limitada
M./ Mme/ Mlle Monsieur/ Madame/ Mademoiselle
mimeo mimeografado (manuscrito)
mm, dm, cm, m, km milímetro, decímetro, centímetro, metro, quilometro
Mr./ Ms./ Mrs. Mister/ Miss/ Misses
n. número / nota
ABREVIATURAS
nº. número
n. b. nota bene(note bem)
n. s. nova série n. e. nota da edição n. o. nota do organizador n. t. nota da tradução obs. observação º C Celsius
op. cit. obra citada
org./ orgs. organização/organizadores
p. / pp. página/s
p. ex. (em notas de rodapé) por exemplo
pb preto e branco
PhD Philosophiae Doctor (título de doutor)
s./ ss. seguinte/seguintes Sr./Sra./Dr./Dra. Senhor/Senhora/Doutor/Doutora t. tomo univ. universidade V. Ver v./ vol. volume EXPRESSÕES LATINAS
apud citado por
infra abaixo
supra acima
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concepção Florencia Ferrari e Paulo Werneck coordenação editorialFlorencia Ferrari
projeto gráfico Elisa von Randow e Gabriela Castro
colaboraram Andressa Veronesi, Augusto Massi, Cassiano Elek
Machado, Célia Euvaldo, Elaine Ramos, Emilio Fraia, Flavia Lago, Gabriela Castro, Gustavo Marchetti, Isabel Coelho, Luciana Araujo, Luiza Barbara, Maria Helena Arrigucci, Mariana Lanari, Miguel Del Castillo, Milton Ohata, Vanessa Gonçalves.
Este manual foi desenvolvido pela equipe de editores e designers da Cosac Naify, entre2003 e2010, com aportes de preparadores e revisores da casa. Ele não se pretende um manual exaustivo, mas uma orientação para a solução dos problemas mais frequentes na edição de nossos livros. Esta versão1.0 poderá ser ampliada e detalhada. Contamos com as sugestões de todos.