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M ETODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INTERVENÇÃO FLUVIAL

2.1. R EABILITAÇÃO DE SISTEMAS FLUVIAIS

2.2.1. M ETODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE INTERVENÇÃO FLUVIAL

A utilização de metodologias de avaliação é essencial, na medida em que estas proporcionam a sistematização dos processos de recolha, análise e divulgação de informação. A utilização dessas metodologias promove a rápida identificação de aspetos chave, a sintetização e a compilação de informação relacionada e, consequentemente, a facilidade de interpretação. A utilização de metodologias de avaliação pode ainda auxiliar na identificação de informação em falta (Walmsley, 2002).

Descrevem-se, em seguida, exemplos de metodologias de avaliação de projetos de intervenção fluvial existentes:

a) Análise DPSIR

No final dos anos 80 a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) criou a metodologia Pressure-State-Response (PSR). Esta metodologia foi mais tarde aprofundada pelas Nações Unidas, dando origem à metodologia Driving-Forces-Pressure-State- Impact-Response (DPSIR) (Walmsley, 2002).

Esta metodologia tem por base as relações representadas no esquema da figura 4. De acordo com este esquema, os desenvolvimentos sociais e económicos geram pressões no ambiente e, como consequência, o estado dos ecossistemas pode sofrer alterações. Estas alterações podem resultar em impactos na qualidade de vida humana ou na qualidade dos ecossistemas que podem gerar respostas da sociedade. Estas respostas podem traduzir-se em alterações no modo de vida da sociedade e, consequentemente, influenciar todo o ciclo, ou podem incidir diretamente sobre uma etapa mais avançada deste ciclo, como nas pressões, no estado ou nos impactos, através de medidas adaptativas ou corretivas (Gabrielsen & Bosch, 2003).

Mestrado Integrado em Engenharia do Ambiente Página 27 Figura 4 – Esquema representativo das relações analisadas na metodologia DPSIR (Walmsley, 2002; Gabrielsen &

Bosch, 2003; EPA, 2014).

A metodologia DPSIR constitui não só uma análise descritiva dos elementos que compõem os sistemas económico, social e ambiental, mas também uma análise dinâmica das relações causa- efeito entre estes elementos. Estas relações são complexas e dependem da interação de vários fatores, o que pode resultar em dinâmicas não-lineares. Cada análise realizada constitui uma caracterização instantânea do sistema, mas apresenta potencial de previsão de futuras alterações nas forças motrizes, pressões, estados, impactos e respostas (Gabrielsen & Bosch, 2003). Na tabela 10 encontra-se uma descrição mais pormenorizada de cada elemento do esquema anterior.

Tabela 10 – Descrição dos elementos analisados na aplicação da metodologia DPSIR (Walmsley, 2002; Gabrielsen & Bosch, 2003; EPA, 2014).

Elementos Descrição

Driving forces – Forças motrizes

Causas sócio-económicas, derivadas de desenvolvimentos, aos níveis social, demográfico e económico, na sociedade e consequentes alterações no seu estilo de vida e nos níveis de consumo e padrões de produção, potenciais causadoras de problemas ambientais. De um modo geral, constituem os setores sócio-económicos com influência no preenchimento das necessidades humanas de alimento, água, abrigo, saúde, segurança e cultura. Podem ser originadas e agir ao nível global, regional e local. Consideram-se também os fenómenos naturais potenciais causadores de pressões no ambiente.

Pressures – Pressões

Pressões geradas no ambiente, de modo intencional ou não intencional, pelas atividades humanas que visam suprimir as necessidades humanas. Dependem do tipo e nível de tecnologia envolvida nas atividades desenvolvidas e podem variar de acordo com a região geográfica e com a escala espacial de análise.

State – Estado

Alterações no estado dos ecossitemas provocadas, de modo intencional ou não intencional, na sequência das pressões geradas. Estas alterações podem ser geradas pelas pressões de modo direto ou de modo indireto, no caso de as pressões serem transportadas e transformadas por processos naturais.

Impact – Impacto Impactos que se refletem em alterações nas funções dos ecossitemas para os humanos. Constituem

alterações na qualidade dos ecossistemas e na qualidade de vida humana.

Response – Resposta Ações estruturais e não-estruturais levadas a cabo por grupos de indivíduos ou por indivíduos

singulares, com o objetivo de prevenção, reversão ou adaptação aos impactos sentidos.

Esta metodologia tem uma grande variedade de aplicações, nomeadamente (EPA, 2014):  Quantificação e acompanhamento de parâmetros em programas de monitorização;  Resumo e categorização de informação de diferentes fontes;

 Desenvolvimento de modelos ou ferramentas de apoio à decisão, para utilização na avaliação e comparação de resultados referentes a diferentes soluções implementadas.

Drivers Pressures State Impact

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Esta metodologia apresenta diversas vantagens que contribuem para a sua utilização generalizada, nomeadamente (Walmsley, 2002; EPA, 2014):

 Transparência e simplicidade, com a utilização de cinco conceitos básicos, de fácil compreensão para os diferentes intervenientes e partes interessadas nos processos;  Permite o isolamento de determinadas conexões ou interações e, simultaneamente, a sua

integração no sistema global;

 Permite flexibilidade de análise, nomeadamente, por permitir o cruzamento da informação reunida com outros métodos;

b) Análise de indicadores

Um indicador constitui um valor representativo e simplificado de um fenómeno em estudo. Em geral, os indicadores permitem a quantificação e sintetização de informação pela agregação de diferentes e múltiplos dados. A simplificação do fenómeno em estudo, nomeadamente a análise de certos aspetos específicos que são considerados relevantes e sobre os quais existem dados disponíveis, pode promover a compreensão de realidades complexas. Os indicadores ambientais fornecem informações sobre fenómenos considerados típicos e/ou críticos para a qualidade ambiental (Walmsley, 2002; Gabrielsen & Bosch, 2003).

A análise de indicadores apresenta diversas potencialidades de utilização na gestão ambiental, nomeadamente (Walmsley, 2002; Gabrielsen & Bosch, 2003):

 Monitorização e avaliação de condições e tendências ao nível global, nacional e regional;

 Fornecimento de informação sobre problemáticas ambientais, de modo a facilitar o processo de decisão e garantir o seu máximo ajustamento a estas problemáticas, nomeadamente através da identificação de fatores de pressão sobre o ambiente e da gravidade das problemáticas para definição de prioridades;

 Monitorização e avaliação da eficácia de intervenções;

Woolsey et al. (2007) distinguem indicadores que podem ser analisados pela população geral e indicadores cuja quantificação apenas pode ser realizada por especialistas, indicadores que exigem uma análise demorada e indicadores cuja quantificação pode ser realizada em poucos dias, indicadores cuja quantificação é dependente da época do ano em que é realizada a análise, indicadores que exigem mais mão-de-obra do que outros e indicadores que permitem avaliar o cumprimento de mais do que um dos objetivos relativos a projetos de intervenção fluvial e que, por isso, permitem a redução do tempo e da mão-de-obra de avaliação. Na tabela 11 encontram- se descritas as categorias de indicadores existentes, segundo Gabrielsen & Bosch (2003).

Mestrado Integrado em Engenharia do Ambiente Página 29 Tabela 11 – Categorias de indicadores (adaptado de Gabrielsen & Bosch, 2003).

Categorias de indicadores Descrição

Indicadores descritivos Permitem caracterizar as problemáticas. Geralmente são apresentados num diagrama linear

contendo a evolução de uma variável ao longo do tempo.

Indicadores de desempenho

Podem utilizar as mesmas variáveis que os indicadores descritivos, mas encontram-se relacionados com metas estabelecidas ou com valores alvo de sustentabilidade. Permitem avaliar a eficácia de intervenções e o progresso do sistema em resposta a estas intervenções relativamente às metas propostas, através da medição da distância do estado do sistema às metas ou a valores alvo.

Indicadores de eficiência Permitem caracterizar a eficiência dos processos socio-económicos na utilização de recursos e na

geração de resíduos e emissões.

Woolsey et al. (2007) propõem um conjunto de 49 indicadores, distribuídos por 13 objetivos específicos de projetos de intervenção fluvial, maioritariamente relativos a aspetos ecológicos, mas englobando também aspetos sócio-económicos, para avaliação do cumprimento de objetivos propostos para estes projetos.

Coelho (2009) propõe indicadores de avaliação de projetos de intervenção fluvial, com base na informação presente nos respetivos projetos entregues à entidade licenciadora, no que diz respeito à fase de conceção do projeto, nomeadamente à identificação de objetivos, à caracterização e ao diagnóstico realizados, à identificação de medidas a implementar e ao planeamento das fases de implementação, monitorização e manutenção.

Teiga (2011) propõe um conjunto de indicadores gerais de avaliação das etapas de conceção, implementação e acompanhamento de projetos de intervenção fluvial.

Na tabela 12 encontram-se identificados métodos de avaliação com base em indicadores, de acordo com Coelho (2009).

Tabela 12 – Métodos de avaliação com base em indicadores (adaptado de Coelho, 2009).

Métodos de avaliação Descrição

Avaliação ausência/presença

Bastante simples e aplicável a uma gama alargada de indicadores. Contudo, a escala é pouco detalhada e não permite avaliar procedimentos executados incorrecta ou desadequadamente. Por outro lado, esta metodologia adapta-se perfeitamente a certos indicadores em que este detalhe é suficiente.

Classificação por escalas de valores

Permite uma análise mais detalhada. No entanto, a utilização de escalas de valores de baixa graduação torna a análise pouco detalhada e uma elevada graduação pode ser difícil de implementar por falta de informação e pode tornar a análise subjetiva.

Matrizes de impactos

Baseia-se na elaboração de uma matriz que relaciona impactos com as suas causas. Este método é especialmente usado para definir evoluções temporais e comparar diferentes técnicas.

Coelho (2009) propõe ainda uma metodologia de avaliação de projetos de intervenção fluvial com base nos indicadores que propõe, segundo a qual cada indicador é classificado através de uma escala de valores, definida de acordo com a qualidade e profundidade com que a informação a que se refere é descrita no projeto entregue para licenciamento. Esta metodologia pode apresentar alguma subjetividade, na medida em que a classificação de alguns indicadores

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pode gerar dificuldades, nomeadamente, porque parte dos indicadores propostos resultam da aglutinação de informação proveniente de vários parâmetros. O objetivo da utilização desta metodologia é incluir o máximo de parâmetros sem, contudo, tornar o processo de avaliação demasiado complexo.

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3. M

ETODOLOGIAS APLICADAS PARA AVALIAÇÃO DOS CASOS DE ESTUDO

No presente capítulo procede-se à descrição das metodologias aplicadas nos dois tipos de avaliação de projetos de intervenção fluvial realizados, demonstrados em casos de estudo apresentados (capítulo 4).

Essas metodologias correspondem, assim, (i) à avaliação do processo de planeamento dos projetos de intervenção, no que diz respeito às fases de caracterização e diagnóstico e identificação de soluções e ao planeamento das fases de implementação, monitorização, manutenção e sensibilização e participação pública, e (ii) à avaliação da evolução dos sistemas fluviais, como resposta às intervenções preconizadas.

3.1. A

VALIAÇÃO DO PROCESSO DE PLANEAMENTO DOS PROJETOS DE