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III. Materiais e métodos

4. Metodologia e Colheita de dados

4.1. Etograma

Todos os dados presentes neste trabalho foram recolhidos no Zoo da Maia, parque zoológico localizado no município da Maia pertencente ao distrito do Porto. Os dados sobre a rotina dos animais e sobre as suas respetivas histórias pregressas foram recolhidos interrogando o staff que trabalha diariamente com os animais. Além disso, por cada animal participante neste estudo, foi realizada uma semana de observação sem filmagem de modo a melhor planear o estudo e de modo a melhor entender o dia-a-dia do animal. Esta semana foi também crucial para a elaboração de bons etogramas para cada animal.

Assim, utilizando as observações prévias realizadas (sem filmagem) e com a definição dos comportamentos necessários a analisar, foram criados três etogramas, um por cada animal (Tabelas 1-7)( Tabelas suplementares 10-12). A execução destes etogramas foi essencial para realizar uma boa análise dos dados recolhidos. Além destes comportamentos naturais, com a introdução de objetos de enriquecimento ambiental, foram criadas novas secções nos etogramas, para contabilizar o tempo que o animal passava em contacto com o objeto de enriquecimento. Durante as gravações, tempos de filmagem onde não fosse possível observar o animal, foram classificados como “sem observação”.

Primeiramente os comportamentos foram divididos em duas classes abrangentes: comportamento ativo e comportamento inativo. Comportamentos que não envolvam atividade ou movimento, foram colocados na classe de comportamento inativo. Todos os outros comportamentos exibidos pelo animal foram colocados na classe do comportamento ativo.

Os comportamentos ativos foram subdivididos em várias classes de comportamentos naturais menos abrangentes. Nelas incluem-se comportamentos de manutenção, comportamentos de locomoção, comportamentos de marcação territorial, comportamentos exploratórios e vocalizações.

Todos os animais participantes neste estudo encontravam-se confinados individualmente. Por este motivo, não houve registos de comportamentos sociais dos animais como seria de esperar num estudo deste tipo.

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Tabela 4 – Comportamentos ativos de manutenção (Adaptado de Stanton et al, 2015).

Comportamentos de Manutenção Ursus arctos Panthera leo Panthera tigris Defecar Libertação de fezes enquanto se encontra numa posição

agachada.

X X X

Urinar Libertação de urina enquanto se encontra numa posição

agachada

X X X

Banho Engloba comportamentos nos quais o animal se encontra em atividade totalmente ou parcialmente dentro de água

X X X

Comer Animal ingere alimentos (ou outras substâncias comestíveis) por

meio da mastigação e deglutição

X X X

Beber Ingestão de água (ou outros líquidos) lambendo, utilizando a

língua

X X X

Grooming Todas as ações que envolvam limpeza própria como lamber, arranhar, morder ou mastigar a pelagem do seu corpo e

membros.

X X X

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Tabela 5 – Comportamentos ativos de locomoção (Adaptado de Renner & Lussier, 2002; Stanton et al, 2015).

Tabela 6 – Comportamentos ativos de vocalização (Adaptado de Stanton et al, 2015; Tavernier et al., 2020).

Comportamentos de Locomoção Ursus arctos Panthera leo Panthera tigris

Caminhar Locomoção para a frente em marcha lenta.

X X X

Correr Locomoção para a frente em uma marcha rápida, movimento

mais rápido do que caminhar

X X X

Trepar Engloba todos os movimentos de locomoção em relação a um objeto ou estrutura escalável. Normalmente inclui deslocação vertical

X

Vocalizações Ursus arctos Panthera leo Panthera tigris Yowl Uma longa e prolongada vocalização com intensidade, tonalidade

e duração variável. Pode ser utilizada em situações reprodutivas

ou de ameaça.

X

Prusten (chuff) Animal expele jatos de ar através do

nariz criando um som pulsado de baixa intensidade, macio, descrito como sendo

semelhante ao bufar de um cavalo. É utilizado para demonstrar afiliação ou amizade.

X

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Tabela 6 – Comportamentos ativos de marcação territorial (Adaptado de Stanton et al., 2015).

Comportamentos de Marcação Territorial Ursus arctos Panthera leo Panthera tigris Arranhar Movimento dos membros anteriores contra um objeto, estrutura

ou superfície. Estes movimentos são realizados com intenção de deixar marcas visuais. Frequentemente não são comportamentos

singulares, mas repetidos.

X X X

Raspar Utilizando os membros posteriores, o animal raspa no chão para

trás, arrastando um pé após o outro.

X X X

Rolar O animal deita-se no chão e gira o corpo de um lado para o outro.

Durante esta ação, as costas são esfregadas contra o solo, a zona

abdominal fica exposta e todas as patas estão no ar.

X X

Roçar O animal utiliza uma parte do corpo (normalmente a cabeça ou o tronco) para se roçar numa superfície ou objeto deixando assim a sua marca de odor.

X X X

Marcação de Urina Enquanto se encontra de pé, com o rabo levantado verticalmente, liberta um jato de urina para trás contra uma superfície vertical ou objeto. A cauda pode tremer enquanto a

urina é expelida.

X X

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Tabela 7 – Comportamentos ativos exploratórios (Renner & Lussier, 2002; Mill & Marchant-Forde, 2010; Stanton et al., 2015).

Além destas divisões, foi também acrescentada dentro dos comportamentos ativos, uma outra classe de comportamentos estereotipados. Apesar de ativos estes comportamentos não ocorrem no habitat natural e por consequência são considerados anormais.

Comportamentos Exploratórios Ursus arctos Panthera leo Panthera tigris Agarrar O animal utiliza os membros anteriores para segurar um objeto

na mesma posição.

X X X

Carregar O animal utilizando a boca ou os membros para pegar num objeto

e move-lo para um local diferente.

X X X

Farejar O animal cheira um objeto, ou uma superfície ao inalar ar pelo

nariz.

X X X

Flehmen O animal exibe uma expressão facial, em que a boca está aberta, o lábio superior está elevado e a língua pode projetar-se para fora da boca. Este comportamento é utilizado ao investigar locais de interesse com odores ou sabores.

X X

Lamber A língua estende-se para fora da boca e entra em contato com a

superfície ou objeto.

X X X

Morder O animal ferra um objeto usando os dentes.

X X X

Patada O animal utiliza um dos membros num movimento único contra

um objeto ou superfície.

X X X

Foraging Engloba todos os comportamentos de procura, obtenção e consumo de alimento. É um comportamento contínuo muito comum nesta espécie.

X

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Tabela 8 – Comportamentos ativos estereotipados (Adaptado de Renner & Lussier, 2002; Stanton et al, 2015).

Os Comportamentos inativos apresentam menor número de ações e consequentemente estão divididos em menor número de classes.

Tabela 9 – Comportamentos inativos.

Comportamentos Estereotipados Ursus arctos Panthera leo Panthera tigris Pacing Locomoção repetitiva com um padrão fixo, ao longo da mesma

rota. Pode incluir comportamentos de corrida ou caminhar. O movimento parece não ter objetivo ou função aparente. Deve ser realizado pelo menos duas vezes consecutivas antes de se qualificar como comportamento estereotipado.

X X X

Circling O animal realiza movimentos repetitivos, movendo-se em círculos

apertados.

X

Comportamentos Estereotipados Ursus arctos Panthera leo Panthera tigris Descansar/Dormir O animal encontra-se deitado, parado e geralmente inativo. Os

olhos podem estar fechados ou abertos, e a cabeça pode estar para cima ou para baixo e realizar movimentos mínimos.

X X X

Sentado O animal mantem uma posição vertical angular, com os membros posteriores flexionados e apoiados no chão, enquanto os membros anteriores estendidos e retos.

X X X

Em pé (quatro membros) O animal apresenta-se numa posição vertical e imóvel, com os quatro membros no chão e as pernas estendidas, apoiando o corpo.

X X X

Em pé (dois membros) O animal encontra-se numa posição vertical, ou quase vertical, apoiando apenas os dois membros posteriores no solo ou superfície.

X

Espreguiçar O animal estica e estende a zona lombar ou outra zona do corpo.

X X X

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4.2. Análise comportamental

As filmagens foram realizadas presencialmente utilizando uma câmara NatGeo Action Cam FULL HD WIFI. O objetivo destas filmagens era captar a totalidade do comportamento do animal enquanto este se encontrava fora da recolha do recinto. As filmagens começavam todos os dias quando o animal era libertado da recolha e terminavam quando o animal era recolhido de novo. Por motivos de hardware e bateria, as gravações foram feitas em períodos de uma hora, com pausas de meia hora para recarregar a camara e descarregar os ficheiros no computador. A acrescentar a estas pausas, durante a hora de almoço, era realizada uma pausa de uma hora. Contudo, devido a ocorrência de imprevistos, nem sempre os períodos de filmagens foram de uma hora, variando entre quarenta e cinco minutos e duas horas.

Foi recolhido um total de aproximadamente 16380 minutos (273 horas) de filmagem. Destas duzentas e setenta e três horas, foram captadas sensivelmente cem horas de filme de observação do Júnior (Ursos arctos); noventa e sete horas de filme de observação da Anna (Panthera leo); e setenta e seis horas de filme de observação do Ankur (Panthera tigris). Posteriormente as filmagens foram analisadas em clips não superiores a três minutos, tendo em conta os etogramas pré-estabelecidos. Todas as ações com duração superior a dois segundos foram contabilizadas e compiladas em tabelas utilizando o Microsoft® EXCEL®.

5.ANÁLISE DE DADOS

Este processo começou com um extenso período de visualização dos vídeos, realizados após colheita de dados. Como anteriormente referimos, optou-se por organizar os mesmos nas fases 3 fases: a fase de controlo, a fase de enriquecimento ambiental e a fase de pós-enriquecimento ambiental. Para o cálculo da percentagem de tempo de realização de cada comportamento, foi contabilizado o tempo total de cada comportamento durante cada fase e dividido pelo tempo total observado na fase correspondente. Os dados foram organizados e processado recorrendo ao programa Excel. Com intuito de perceber se as diferenças obtidas entre as percentagens dos comportamentos em cada fase foram significativas utilizou-se o programa Medcalc, para o cálculo do teste Z de comparação de proporções. Para a realização deste teste foi considerado como critério para o cálculo do tamanho da amostra o número total de minutos de observação. As diferenças foram consideradas significativas neste teste quando o valor de p obtido foi menor que 0.05.

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IV. RESULTADOS

No início deste trabalho foi possível observar que todos estes animais apresentavam comportamentos estereotipados, sendo que presença dos mesmos era mais acentuada no Ankur (Panther tigris) e no Júnior (Ursus arctos). Um dos objetivos deste trabalho passava por conseguir uma redução significativa destes comportamentos, já que os mesmos podem ser indicadores de maus níveis de bem-estar dos animais. Outro objetivo seria aumentar os comportamentos ativos e reduzir a inatividade dos animais, sendo que períodos elevados de inatividade podem ser prejudicais para o bem-estar dos animais e são menos apelativos ao público. Ou seja, idealmente com este plano de enriquecimento ocorreria uma substituição de comportamentos estereotipados e de inatividade por comportamentos ativos.

Além disso, ao avaliarmos os comportamentos na semana de pós-enriquecimento, estamos a ponderar se o efeito do plano de enriquecimento se perpetua no tempo.

Também foi avaliado qual o enriquecimento teve mais impacto individual nos diferentes animais. E especificamente qual foi a especiaria que o cada animal mais interagiu, mostrando preferência.

Em seguida, apresentaremos em primeiro lugar os resultados obtidos em cada animal estudado e por fim fazemos uma análise de conjunto.

1. Ursus arctos (Júnior)

Através da análise do gráfico 1 conseguimos perceber que o plano de enriquecimento ambiental testado alterou o reportório comportamental observado na fase de controlo. No geral, obtemos uma mudança de comportamentos significativa e positiva para o animal.

Nas 3 fases do estudo, os comportamentos mais manifestados foram os exploratórios (23,4%-30%) e os comportamentos inativos (48,5%-53,7%).

Quanto ao período de inatividade podemos ver que o nível máximo de comportamentos inativos ocorreu na FC (53,7%) e o menor aconteceu na FEA (48,5%).

Estes resultados mostram que na presença de EA o Júnior mostrou maiores períodos de atividade. Este aumento de atividade foi mantido na semana de FPEA (50,3%).

Já os comportamentos exploratórios mostraram uma variação inversa. O maior valor regista-se na semana de FPEA (30,1%) e o menor na semana de FEA (24,2%). Os valores reduzidos em FEA podem ser explicados pelo tempo que o animal passou a interagir com o EA na semana de FEA (10%). No entanto, se compararmos o valor de FC (24,2%) com o valor obtido em FPEA (30,1%) (p= 0.0001), verificamos que houve uma variação positiva pois a percentagem dos comportamentos ativos exploratórios subiu na FPEA em relação ao FC.

Finalmente, podemos verificar que o CE reduziu na semana de FEA e manteve-se reduzido em FPEA. O valor obtido em FC foi de 14,8% que desceu para 11% (p=0,0001) em FEA e manteve-se em FPEA (11,3%) (p= 0,0028).

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Através da análise do gráfico 2, podemos perceber a variação dos comportamentos do animal associados à introdução de cada item de enriquecimento ambiental.

A boomer ball foi o item que despoletou maior curiosidade ao animal, pois observa-se o tempo de interação mais elevado (19,5%). Aliado a esta preferência, está uma redução bastante drástica do CE (para 2,3%) nos dias em que o animal teve este item de enriquecimento disponível. Podemos então concluir que este item teve bastante sucesso na redução do CE. No entanto, aquando da utilização deste item, registou-se um alto período de comportamentos inativos (49,1%).

Outro item que mostrou ter um grande impacto na redução dos CE, foi a Bobine de Madeira. Na presença deste item o animal apresentou apenas 1% de CE. Contudo, tal como ocorreu com a utilização da boomer ball, este item falhou na redução dos comportamentos inativos, tendo apresentado um valor de 65%.

Contrariamente a estes dois itens, as esferas de sangue, revelaram ser as que mais causaram uma redução nos comportamentos inativos, fazendo com que o valor dos mesmos baixasse para 36,5%. Além disso, nos dias em que foram introduzidas as esferas, o valor dos comportamentos exploratórios mostrou ser o mais elevado de todos os EA (25,8%) e o tempo de interação com o EA o segundo mais elevado (9,3%). Porém estas alterações isoladas não revelam uma melhoria no comportamento geral do animal, pois também foi registado o valor mais elevado de CE (21,4%) quando o animal tinha este item disponível.

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FC FEA FPEA

Grafico 1 – Análise comportamental do Júnior (Ursus arctos) ao longo das 3 fases do estudo. No eixo dos X podemos ver o reportório de comportamentos realizados pelo animal. O eixo dos Y representa a percentagem de manifestação comportamental de cada um deles. *CE – Comportamento Estereotipado; **EA – percentagem de tempo despendido na utilização do Enriquecimento Ambiental.

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Por último, as canas com especiarias, apresentam o segundo maior valor de exibição de comportamentos estereotipados (16,7%) e o segundo menor tempo de interação do animal com o objeto (6,6%).

Além de ter sido analisado o efeito das canas nas manifestações comportamentais dos animais, como item de EA, foi ainda descriminado o efeito das mesmas como itens individuais. Assim, foi contabilizado o tempo que o mesmo passou em interação com as canas de diferentes especiarias. No gráfico 3 conseguimos perceber a preferência do urso pelas canas com pimentão-doce (39,7%) e paprika (30,7%).

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BOOMER CANA ESFERA BOBINE

Grafico 2 – Análise sobre o efeito de cada item no comportamento do Júnior (Ursus arctos) na Fase de Enriquecimento Ambiental. O eixo dos Y representa a frequência média da realização de cada um deles. *CE – Comportamento Estereotipado; **EA - percentagem de tempo despendido na utilização do Enriquecimento Ambiental.

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Paprika Pimentão-Doce Gengibre Canela Controlo

Grafico 3 – Análise da percentagem de tempo de interação do Júnior (Ursus arctos) com as canas contendo diferntes especiarias.

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2. Panthera leo (Anna)

Ao analisarmos o gráfico 4, averiguamos que na grande maioria do seu tempo, a Anna exibiu inatividade (73,7%-79%). Os valores percentuais dos outros comportamentos ficam muito aquém dos comportamentos inativos. Contudo, globalmente o plano de enriquecimento teve impacto na rotina do animal, pois conseguimos observar alterações significativas no seu comportamento nas diferentes fases.

O valor de comportamento inativo registado na FC (78,3%) baixou em relação ao ocorrido na FEA (73,7%) (p= 0,0004), o que só por si já um indicador de que o plano aplicado teve efeitos positivos. Contudo, houve um retorno aos valores da FC durante a FPEA (79%). Quanto aos outros comportamentos, apesar de percentualmente os valores não serem muito elevados, houve uma diminuição dos CE de FC (1,7%) para FEA (0,49%) (p=0,0001), mantendo-se baixo na FPEA (0,46%) (p=0,0006). Esta diminuição é acompanhada de uma diminuição dos comportamentos inativos (passaram de 78,3% na FC para 73,7% na FEA), dos comportamentos de grooming [de 5,6% na FC para 3% na FEA (p=0,0001)] e das vocalizações [de 2,1% na FC para 0,04% na FEA(p=0,0001)]. De notar também que houve um aumento dos comportamentos de marcação territorial da FC (1%) para a FPEA (3,4%)(p=0,0001). Por fim, durante a FEA a leoa passou 11,7% do seu tempo em utilização dos EA.

Embora todas estas variações pareçam pequenas, são, no entanto, significativas e demonstram uma redução de stress e consequentemente uma melhoria no bem-estar do animal. Isto porque, apesar de na FPEA não termos tido uma redução dos comportamentos inativos, houve um aumento dos comportamentos ativos, substituindo os comportamentos estereotipados.

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FC FEA FPEA

Grafico 4 - Análise comportamental da Anna (Panthera leo) ao longo das 3 fases do estudo. No eixo dos X podemos ver o reportório de comportamentos realizados pelo animal. O eixo dos Y representa a frequência média da realização de cada um deles. *CE – Comportamento estereotipado; **EA – percentagem de tempo despendido na utilização do enriquecimento ambiental.

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Da análise detalhada dos gráficos 4 e 5, podemos destacar os valores elevados do comportamento inativo. Outro comportamento que se destaca, são os valores quase nulos de comportamento estereotipado, na presença de todos os itens de enriquecimento ambiental.

A presença da zebra de cartão, foi o item de enriquecimento ambiental que trouxe mais benefícios em termos de redução do comportamento inativo do animal, fazendo-o baixar para 55,3%. Também a zebra de cartão, obteve o maior tempo de interação animal-item (34,6%), mostrando que foi o item que teve maior impacto na melhoria do bem-estar. Além disso, na presença deste item, o comportamento de grooming foi quase nulo (0,3%) e as vocalizações registaram o valor mais baixo de todos os EA (1,4%).

As esferas congeladas levaram ao segundo melhor tempo de interação animal-item (17,4%). Também se verificou a segunda maior diminuição de comportamentos inativos, com um valor de 67,3%. Em sintonia, os valores dos comportamentos de grooming (2,3%) e vocalizações (2%) também são os segundos mais reduzidos comparativamente aos restantes itens de enriquecimento.

Quanto aos resultados obtidos com a introdução da boomer ball, verificamos que este EA obteve o menor tempo de interação animal-item (2,5%) e o segundo maior valor de comportamento inativo (78%). Além do mais, com este item no recinto, o animal apresentou o valor mais elevado de vocalizações (2,6%).

Por fim, as canas com especiarias levaram ao maior valor de comportamentos inativos (83,5%) e ao segundo menor valor de interação animal-item (4,6%). De notar,

Gráfico 5 - Análise sobre o efeito de cada item no comportamento da Anna (Panthera leo) na Fase de Enriquecimento Ambiental. O eixo dos Y representa a frequência média da realização de cada um deles. *CE – comportamento estereotipado; **EA - percentagem de tempo despendido na utilização do Enriquecimento Ambiental.

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BOOMER CANA ESFERA ZEBRA

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que foi na presença destes itens que foi registado o maior valor de grooming (4,3%) comparado com os restantes itens.

Tal como estudado nos outros animais, também no caso da Leoa se avaliou a preferência entre as especiarias utilizadas (gráfico 6). Assim, conclui-se que o animal mostrou preferência pela cana que continha gengibre (75,6%)

3. Panthera tigris (Ankur)

Os resultados obtidos com o Ankur, são distintos dos obtidos nos dois outros animais. Os dois comportamentos mais prevalentes no conjunto de ações do indivíduo foram os comportamentos inativos (26,5%-64,5%) e os de CE (7,7%-42%). As diferenças podem ser constatadas apenas analisando os intervalos percentuais dos comportamentos mais comuns. Este dado pode ser indicador de um comportamento menos constante e mais errático.

Ao analisarmos com mais detalhe o gráfico 7, conferimos que da FC para a FEA houve um forte aumento na expressão de CE (de 19,6% para 42%) (p=0,0001). Contudo, se observamos os comportamentos inativos, verificamos que houve uma forte diminuição dos mesmos da FC (46,7%) para a FEA (26,6%) (p=0,001). No geral, comparando FC com FEA o animal mostrou-se mais ativo, substituindo os comportamentos inativos por comportamentos ativos naturais e estereotipados. O aumento dos comportamentos naturais ativos poderia indicar progressão positiva no comportamento do animal. Outro indicador positivo poderia ser a redução dos comportamentos de grooming (de 2,8% para 1,3%) (p=0,0017). No entanto, com o aumento de CE e um tempo de interação animal-item tão reduzido (1,4%) não é possível retirar essa conclusão.

Se olharmos para os valores de FPEA é possível observar que foi nesta fase que foi registado o valor percentual mais alto de comportamentos inativos (64,5%). Tendo em conta que um dos objetivos da introdução deste plano de enriquecimento ambiental seria uma diminuição dos comportamentos inativos, o aumento dos mesmos na fase final, não seria o resultado esperado. Contudo, é em FPEA que verificamos o menor valor de CE (7,7%). Ou seja, a exibição de CE reduziu para valores abaixo dos registados em FC. Normalmente esta redução seria bastante positiva, no entanto tal variação poderá ser atribuída ao ato de retirar os itens de EA que poderiam estar a ser o fator causador de stress.

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Paprika Pimentão-Doce Gengibre Canela Controlo

Gráfico 6 - Análise da percentagem de tempo de interação da Anna (Panthera leo) com as canas contendo diferentes especiarias.

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Tal como no gráfico anterior, também no gráfico 8 predominam os CE (36,1%-48,9%) e os comportamentos inativos (18,9%-32,9%). Em relação a todos os itens de enriquecimento podemos observar que os tempos de interação animal-item são bastante reduzidos variando apenas entre 0,1% e 3,1%. Comportamentos de

Tal como no gráfico anterior, também no gráfico 8 predominam os CE (36,1%-48,9%) e os comportamentos inativos (18,9%-32,9%). Em relação a todos os itens de enriquecimento podemos observar que os tempos de interação animal-item são bastante reduzidos variando apenas entre 0,1% e 3,1%. Comportamentos de

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