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Eventos extremos climáticos no sul de Santa catarina

Enchente de 1974: Ocorreu em março de 1974, nas bacias do Rio Tu-

barão, araranguá e mampituba uma inundação catastrófica. Na bacia do Rio Tubarão, o número de mortos chegou a 199 (uma das maiores em nú- mero de mortos no Brasil), sendo 40 mortes provocadas por deslizamen- tos e as demais por afogamento. Entretanto, este fenômeno ocorreu em diversas encostas de toda a região. Os desmoronamentos que demons- tram a contribuição do intemperismo químico das rochas, as vertentes íngremes, o inadequado uso do solo (provocador da instabilização das encostas) e o grande volume de chuva (maRQUES, 2010).

a atmosfera nos dias do fenômeno apresentava características de predo- minância de vento do quadrante Leste, condição esta promovida por um sistema de alta pressão estacionário na costa catarinense (ocorrido em

1974) e conjuntamente, a presença de um Vórtice Ciclônico em média altitude (sistema de baixa pressão), deixando o ar instável, carreando umidade para níveis mais altos e frios e promovendo o aumento da pre- cipitação na região, essas características atmosféricas foram semelhan- tes a da catástrofe que ocorreu no mês de novembro de 2008 no Vale do itajaí (maRQUES, 2010).

Enxurrada de 23 e 24/12/1995: chuvas violentas atingiram a metade sul

do Estado de Santa Catarina, fazendo muito estragos de Florianópolis até Praia Grande. as enchentes foram súbitas e violentas, e partes de três mu- nicípios do sul do estado foram destruídas por deslizamentos e enxurradas catastróficas, fazendo, pelo menos, 29 vítimas fatais e centenas de de- sabrigados. as áreas das sub-bacias do Rio Figueira, em Timbé do Sul, Rio Pinheirinho, em Jacinto machado, e do alto Rio São Bento, em Siderópolis e Nova Veneza foram as mais atingidas (PELLERiN et al, 1997).

durante a catástrofe a elevada concentração de cúmulos-nimbus deve ter provocado rajadas de ventos muito fortes, destruindo parte da vegetação e, em seguida, chuva intensa. a remoção de grande parte da floresta e da cobertura do solo, numa ordem de 3.600ha, ocasionou avalanches de blocos e deslizamento mais ou menos generalizados, desde o topo do pla- nalto. Localmente, foram também destruídas plantações de bananeiras nas vertentes menos inclinadas e com solos argilosos mais espessos em altitudes inferiores a 600 m. Todo o material formado por blocos, seixos e árvores, além de aterrar o fundo dos vales, deixaram marcas de mais de 30 Km das nascentes dos rios (SCHEiBE, BUSS e FURTadO, 2010).

as escarpas da Serra Geral auxiliam na intensificação da chuva, havendo sempre o risco de temporais, principalmente, quando sistemas de tem- po instáveis como as frentes frias associadas a vórtices ciclônicos estão atuando, como ocorreu nesse evento (SCHEiBE, BUSS e FURTadO, 2010).

Figura 18: da esquerda para a direita - cicatrizes de escorregamentos; troncos de árvores arrancadas pela enxurrada; depósito de madeira e destroços na praia do morro dos Conventos. junto à foz do rio araranguá Fonte: imagens extraídas de Pellerin/UFSC

ANOTAÇÕES:

Furacão catarina: Por ter sido fenômeno atípico no território brasileiro,

é apresentado um breve resgate da experiência vivida com o furacão “Catarina”. Esse resgate tem o objetivo de refletir sobre um aspecto da vulnerabilidade que se refere à condição necessária de se ter noção de determinado perigo para que se perceba a existência do risco envolvido. Ou seja, o fato de não haver representação mental de um dado perigo internalizada no indivíduo ou na coletividade, dificilmente estes have- rão de ter percepção dos riscos associados. isso ocorreu em boa medida no evento Catarina.

além disso, até 2004, se dizia que furacões não ocorriam no atlântico Sul devido à baixa temperatura da superfície do mar e também devido aos ventos desfavoráveis nos níveis atmosféricos mais altos. Por ser um fenômeno atípico, no Brasil, há falta de experiência e poucos recursos para o monitoramento e previsão de evento dessa categoria. Esses dois aspectos podem ser considerados como a ponta de uma reflexão sobre o quão vulnerável o Brasil, mais especificamente, a população da costa sul brasileira é para eventos conhecidos como furacão, ciclone tropical ou tufão, variações na denominação de um mesmo tipo de evento climático. Sobre o furacão Catarina, de acordo com artigo publicado por meteoro- logistas do Centro integrado de meteorologia e Recursos Hídricos de SC - EPaGRi/CLimERH e colaboradores1, inicialmente, o fenômeno Catarina

foi uma perturbação que desprendeu de uma frente fria no oceano. Em dois dias adquiriu características típicas de furacão (com bandas de nu- vens convergentes em espiral e um olho bem definido) e deslocamento de leste para oeste. Esse comportamento que culminou em movimento ciclônico foi apontado como atípico na região do atlântico Sul pelos meteorologistas.

Segundo o artigo, o Catarina atingiu a costa sul de Santa Catarina e nor- te do Rio Grande do Sul, entre os dias 27 e 28 de março de 2004 e vinha sendo monitorado desde o dia 23. a perturbação inicial pareceu des- prender-se de uma frente fria que estava entre o Espírito do Santo e o sul da Bahia. O ciclone foi classificado e batizado pelo centro operacio- nal da EPaGRi/CLimERH como furacão Catarina e o centro americano de meteorologia e oceanografia da NOaa o classificou como furacão classe 1, segundo a escala Saffir-Simpson, com ventos de 120 a 150 km/h em torno de seu centro.

Há, contudo, literatura que aponta2 o Furacão Catarina como de catego-

ria 2 da escala Saffir-Simpson, com ventos de até 180 Km/h, tendo em

1 disponível em http://intranetdoc.epagri.sc.gov.br/producao_tecnico_cientifica/DOC_32978.pdf

2 Como o atlas de desastres organizado pela pesquisadora maria Lúcia Herrmann (2014) e o ma-

terial didático Prevenção de desastres naturais: conceitos básicos organizado pelo professor e pesquisador masato Kobiyama (2006)

ANOTAÇÕES:

vista os impactos observados como arvores tombadas, danos estruturais em telhados, destruição total de casas de madeira, entre outros, totali- zando danos em 34,4% das edificações existentes na área afetada. Na época, os técnicos do Centro de meteorologia EPaGRi/CiRam avi- saram autoridades competentes para que medidas para minimizar os possíveis danos materiais e humanos fossem tomadas.

Em 26 de março, verificando a intensificação do até então ciclone e seu deslocamento em direção à costa, a equipe de previsão de tempo da Epagri entrou em contato com a defesa Civil de Santa Catarina, soli- citando a presença de um representante. Embarcações pesqueiras que se encontravam em alto mar, próximo à área de deslocamento deste ciclone, foram avisadas por sistema de radiocomunicação da Epagri, em Passo de Torres, que foram direcionadas para fora da área de risco. aler- tas passaram a ser emitidas a cada meia hora com resumo das condições de vento e do mar. Técnicos do CPTEC, iNPE, USP, SimEPaR/PR, Climerh e defesa Civil Nacional foram contatados para troca de informações e acompanhamento permanente do deslocamento do sistema.

na tarde da sexta-feira do dia 26/03/2004 foi divulgado o primeiro

alerta à população através da página na internet e dos meios de comu- nicação, alertando para as condições de ventos fortes e mar agitado provocado por um ciclone extratropical, durante o sábado, para a região entre a Grande Florianópolis e Litoral Sul catarinense.

Embarcações de pesca que estavam em alto-mar também enviavam in- formações sobre temporais e rajadas de vento muito fortes próximo ao ciclone, de até 70 km/h e ondas de até 3,5 metros.

No final da tarde do dia 26, os meteorologistas da EPaGRi iniciaram esquema de plantão 24 horas no Centro de meteorologia para o moni- toramento do sistema. devido à rápida intensificação do sistema e a proximidade da costa, novamente, a defesa Civil foi contatada para estabelecer um consenso sobre qual seria a melhor forma de divulgar à população, tomando o cuidado de não causar pânico.

no início da madrugada do sábado 27/03/2004, pesqueiros sofrem avarias sob ventos de 100 km/h ocorreu uma reunião com autoridades

do governo de Santa Catarina, defesa Civil estadual e meteorologistas com objetivo de tomar medidas frente a situação. O governador assumiu o controle e foi decretado estado de alerta. inicialmente, a área de risco que poderia ser atingida pelo furacão foi considerada entre a Grande Flo- rianópolis e o Litoral Sul de Santa Catarina. No decorrer da madrugada, a meteopesca de Passo de Torres informou que, segundo a estimativa dos pescadores, os ventos que atingiram embarcações superaram 100 km/h.

ANOTAÇÕES:

antenas de rádio foram arrancadas, materiais de pesca perdidos, vidros quebrados e em algumas embarcações bordas de barcos foi arrancadas.

na manhã do sábado 27/03/2004, o furacão avança em direção à costa.

O departamento de meteorologia e ciência atmosférica da Universidade da Pensilvânia/EUa, disponibilizou um modelo de previsão numérica para o monitoramento do furacão que começou a ser utilizado como ferramen- ta para acompanhar a evolução do sistema e seu deslocamento. Com base nesse modelo, o litoral Sul catarinense e o norte do Rio Grande do Sul pas- saram a ser considerados áreas de risco. daí foi liberado aviso especial, alertando a população sobre a possibilidade de chuva forte e ventos de 120 a 150 km/h. a defesa Civil de Santa Catarina deslocou 3.000 homens para o Litoral Sul de Santa Catarina e um plantão foi iniciado na central de operações da defesa Civil em Florianópolis pelas próximas 48 horas.

na tarde do sábado 27/03/2004 os ventos começaram a se intensificar

em toda a costa catarinense. Pescadores no mar continuavam enviando informações sobre rajadas de vento próximo a 90 km/h e ondas com picos de 4 metros de altura. No Porto de Laguna e de Passo de Torres, as barras de acesso foram fechadas por causa da forte agitação do mar. Com isso, muitas embarcações de pesca ficaram presas do lado de fora. Em Passo de Torres, 5 embarcações não conseguiram entrar na barra. Seguindo instruções, deslocaram-se em direção ao Rio Grande do Sul para escapar da rota do furacão que, no momento, mostrava rota de deslocamento em direção a Laguna.

na noite do sábado 27/03/2004 verificou-se evolução da força do vento

durante a noite e avanço em direção ao extremo sul do estado. informa-

ções de pesquisadores da UFSC e pessoal da defesa Civil que se deslocaram para o arroio do Silva relatavam condição de ressaca naquela localidade e destruição de construções a beira da praia. meteorologistas da Epagri entraram em contato com o serviço de resgate da marinha, do Rio Grande do Sul, avisando sobre as embarcações que não conseguiram se abrigar.

na madrugada do domingo 28/03/2004 o furacão Catarina já estava com

seu olho totalmente no continente, provocando ventos de mais de 100 km/h nos municípios do Litoral Sul. Pela previsão do modelo disponibili- zado pelo NOaa, a previsão é de que o sistema se desintensificaria nas próximas horas. Passado o evento que atingiu a área afetada entre a noite de sábado e a madrugada do domingo, os ventos foram estimados em 100 a 150 km/h e mar agitado com picos de onda de até 5 m próximos à costa.

na manhã do domingo 28/03/2004, o furacão Catarina perde força

dentro do continente. Gradativamente a velocidade do vento e as chu- vas diminuem no litoral, mas Litoral Sul, Planalto Sul catarinense e nor- deste do RS o vento forte e a chuva ainda se mantinha.

ANOTAÇÕES:

na tarde do domingo 28/03/2004, apesar de muita nebulosidade e ainda

algumas chuvas entre o Planalto e o Litoral, procurou-se acalmar a popu- lação com avisos por meio de telefone, internet e meios de comunicação de massa que o pior já havia passado. Relatos de pessoas que passaram pela experiência do Catarina apontam que os ventos ganharam força a partir das 23 horas acompanhados de chuva forte. Entre 1:00 e 3:00 horas da manhã, os ventos ficaram calmos e o céu estrelado (passagem do olho do furacão), quando se teve sensação de abafamento como se a tempe- ratura se elevasse em alguns graus. a partir de 3h, as chuvas fortes e os ventos voltaram a ocorrer com maior intensidade, com rajadas acima de 150 km/h, desta vez, em outra direção. Os depoimentos mencionam que os fortes ventos provocavam ruído como som de turbina de avião.