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Evolução da Cadeia Produtiva da Música

4. SEGUNDO MOMENTO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO:

4.3 Evolução da Cadeia Produtiva da Música

A dinamicidade apresentada pela evolução da cadeia produtiva da música simboliza, entre outros aspectos, a diversificação do mercado de entretenimento na vida contemporânea, assim como realça os impactos da evolução tecnológica criação e campo artístico. Como afirma Nakano (2010, p. 637)

Da invenção do suporte físico, que possibilitou a comercialização de fonogramas, sua evolução pelos diferentes formatos, até a tecnologia digital, cada fase do desenvolvimento tecnológico acarretou modificações na atuação e estrutura do setor.

A evolução tecnológica aplicada à produção e distribuição do conteúdo musical oportunizou a desverticalização das grandes empresas, reduzindo as barreiras à entrada, significando possibilidades comerciais para as pequenas gravadoras e seus conteúdos de qualidade e com baixo custo. Tais avanços ainda significaram a ruptura entre conteúdo e suporte no produto fonográfico, sem isto signifique ausência dos modelos antigos, como o vinil, por exemplo.

A cadeia produtiva da música está distante de uma configuração estável. Que tipo de produção artística não estaria, na verdade, no contexto tecnológico contemporâneo? O fato é que a cada reconfiguração desta cadeia, surgem novos papéis e agentes que alteram as relações de força e poder no campo da produção musical.

4.3.1 Integração vertical ou verticalização da indústria fonográfica

Integração vertical ou verticalização é um modelo organizacional que vigorou entre as grandes empresas até as últimas do século XX. As organizações da indústria fonográfica iniciaram suas atividades com estruturas e modelos produtivos verticalmente integrados, ou seja, sendo responsáveis pelas diversas etapas da cadeia

produtiva da música. Parte considerável das primeiras fabricantes de reprodutores fonográficos no início do século XX se configurariam majors na década de 195067,

possuindo, além da produção dos fonógrafos, catálogo de artistas e instrumentistas, estúdios, fabricação de suportes, e estruturas de divulgação.

A complexidade da produção fonográfica, a partir de um conjunto de atividades sob responsabilidade de um número reduzido de empresas, representou poder, assimetria de informações, barreiras à entrada e acumulação de capital e influência. Contudo, o desenvolvimento da indústria fonográfica registrou processos progressivos de desverticalização, limitando-se à produção e divulgação de conteúdo. Dentre os fatores que, conjugados, apontaram para esta situação, a expansão do mercado, os avanços tecnológicos que baratearam o processo produtivo em si, e a disseminação de competências e informações. Neste processo, o desenvolvimento tecnológico se destaca como fator de maior influência isolada (NAKANO, 2010).

A dinamicidade do campo tecnológico, vide exemplo, aponta a década de 1950 como temporalidade significativa na produção de fonogramas, com o desenvolvimento da fita magnética, que reduziu os investimentos e os custos de produção. Uma das conseqüências foi o surgimento das primeiras companhias discográficas independentesque souberam, a partir do comportamento oportunista e isomórfico, estabelecer selos que logo se tornariam representativos, com destaque para Motown e Electra, Savoy, Chess, Modern, Imperial e Specialty (NAKANO, 2010; ALEXANDER, 1994; PETERSON; BERGER, 1975).

Percebendo o sucesso das independentes, seus artistas e novos gêneros, as

majors se comportaram de forma estratégica, utilizando seus recursos financeiros e o

poder na cadeia, para estabelecer contratos e parcerias visando à distribuição e divulgação dos produtos concorrentes. Ainda estrategistas, procuravam controlar ou manter influência sobre as gravadoras independentes, adquirindo, parcial ou integralmente, as mesmas.

4.3.2 O “sistema aberto”

O ―sistema aberto‖ (LOPES, 1992) foi o modelo dominante, onde as majors controlavam etapas como as de prensagem, distribuição e divulgação, beneficiando-se da exploração de economias de escala, diversificando gêneros musicais, facilitando a sua incursão em novos segmentos do mercado. Em outras palavras, a parceria com as independentes, não raro, também funcionava para a ―prospecção de novas tendências e artistas‖, fortalecendo, consideravelmente, a atuação das maiores empresas (NAKANO, 2010, p. 632).

O cenário de grandes empresas e conglomerados dominando o mercado permaneceu até o final da década de 1980, quando a redução dos custos de produção oportunizada pela tecnologia digital redimensionou mercado, a partir do novo surgimento de gravadoras independentes e de novos modelos de distribuição (HESMONDHALGH, 1998; De MARCHI, 2006; CASTRO, 2009). A distribuição virtual, entretanto, só se tornou viável economicamente com o surgimento da internet e do MP3.

Música digital que logo impulsionaria as redes P2P, e uma reação sem sucesso das majors em estabelecer lojas virtuais próprias. O surgimento de inúmeras empresas com atuação em segmentos específicos conferiu à cadeia produtiva da música uma caracterização de rede, na qual interagem e se complementam organizações distintas em seus objetivos e tamanhos (LEYSHON et al., 2005; GRAHAM et al. 2004). Para Leyshon et al. (2005), há diferentes redes em cada etapa ou processo da cadeia, onde a centralidade das gravadoras é relativa. Para outros autores (ALKMIM et al., 2005; PRESTES FILHO, 2005), a cadeia produtiva da música, em seu processo de desverticalização, a partir de seu caráter repetitivo em escalas distintas, pode ser compreendida como um fractal68.

4.3.3 Acumulação flexível e desverticalização

A partir das últimas décadas do século XX, as grandes empresas iniciaram o processo de desverticalização de seus modelos produtivos, a partir de apoio e

68

De aspecto irregular ou fragmentado, forma geométrica que pode ser subdividida indefinidamente em partes, que, por sua vez, podem ser entendidas como cópias reduzidas do todo.

investimentos em desenvolvimento colaborativo de produtos. Os fatores responsáveis por estas transformações são a necessidade de redução dos custos e o escopo de suas atividades. O desenvolvimento tecnológico oportunizou redução dos custos de produção, eliminando os ganhos de escala das plantas com elevada capacidade (NAKANO, 2010). Escalas produtivas de menor porte representavam redução de custos e investimentos para a produção, redução às barreiras de entrada financeiras (LANGLOIS, 2003).

Quadro 11: Fatores para a desverticalização produtiva.

Fonte: NAKANO, 2010, p. 630.

Como conseqüência, o mercado passou a contar com fornecedores menores, mas de alta dinamicidade e flexibilidade. O desenvolvimento empresarial criou e fortaleceu atividades, competências e necessidades. A disseminação do conhecimento entre fornecedores e clientes representava maior nível de simetria de informações, e menor distanciamento entre os atores.

Não diferente de outros setores, a indústria fonográfica e a reestruturação de suas maiores representantes também pode ser relacionada ao tamanho e crescimento de um mercado que ainda tem volume suficiente de transações comerciais, garantindo receitas para os seus diversos agentes, reduzindo os custos fixos e os riscos. Em paralelo, a expansão do mercado atrai novas empresas, e, entre elas, agentes e fornecedores

especializados, que externalizam suas atividades (NAKANO, 2010; MALERBA et al., 2008).

À guisa de conclusão, os fatores que oportunizaram comportamentos de desverticalização das organizações da indústria fonográfica, foram o desenvolvimento tecnológico, e o crescimento dos mercados e de suas instituições. Se em outros momentos aqui já descritos, investimentos e riscos altos, assimetria de informações e competências, as gravadoras se verticalizaram e fortaleceram relações de oligopólio. Numa outra perspectiva, a redução dos investimentos e custos oportunizados pelo desenvolvimento tecnológico, o crescimento do mercado, a diminuição dos riscos, a simetria de informações e a disseminação das competências técnicas, houve a externalização das atividades e a desverticalização. A análise da indústria fonográfica deve analisar esses fatores conjuntamente, e, como não há evolução sincronizada e equilibrada dos mesmos, a cada novo desenho, uma nova configuração pode se concretizar.

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