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2 Revisão Bibliográfica

2.1 Evolução da Arquitetura Escolar no Brasil

Para compreender a realidade das edificações escolares da atualidade, torna- se relevante conhecer ainda que brevemente, os momentos importantes relacionados à arquitetura escolar no Brasil.

Até a primeira metade do século XIX, as escolas possuíam uma organização espacial coerente com a proposta pedagógica centrada no controle e na disciplina. Em resumo, as escolas apresentavam uma tipologia arquitetônica bastante simples, com uma forma externa bem definida, sem recortes e com uma rigorosa simetria (NASCIMENTO, 2012).

No Brasil, antes do período de desenvolvimento industrial, as escolas eram voltadas para a formação dos futuros dirigentes, refletindo na arquitetura a superioridade das elites dominantes. No final do século XIX até 1920, após a ascensão econômica da República, por meio das riquezas produzidas pela política cafeeira, que permitiu a intensificação do processo de industrialização e urbanização das cidades, alguns setores empenharam-se na defesa pela educação, e assim surgiu a sistemática de projeto escolar que assumiu os padrões já determinados e utilizados pela Europa, importando o estilo, materiais e até profissionais (FDE, 1998). No trabalho realizado por Buffa e Pinto (2002), sobre a organização do espaço e propostas pedagógicas em escolas paulistas, os autores confirmam que é possível perceber a importância conferida à educação, neste período, pela imponência dos prédios e seus detalhamentos.

A década de 20 é marcada pela valorização da escola, promovida pela sua função social e enfatizando um caráter nacionalista. A inspiração nos estilos clássicos da arquitetura europeia foi dando espaço para uma linguagem formal moldada nas tradições do passado luso-brasileiro (AZEVEDO, 2002). Desta época até 1930 começaram a surgir os primeiros ambientes de apoio ao ensino, como bibliotecas, e os destinados aos cuidados de higiene e saúde dos estudantes (VENTURA, 2003).

Nas décadas de 40 e 50, a preocupação com a forma na arquitetura moderna prevalece, e demonstra certa preocupação com os aspectos ambientais utilizando- se de elementos que favorecem o condicionamento térmico passivo, como a utilização de elementos vazados para permitir a circulação de ar (cobogós), quebra- sóis para proteção das fachadas ensolaradas, simplicidade da forma volumétrica e pilotis que favoreciam o controle da insolação e ventilação. Também, neste período, em decorrência das exigências das políticas educacionais, verifica-se o aumento da demanda por construções de novos espaços escolares, o que levou a padronização, racionalização e normatização projetiva e construtiva (AZEVEDO, 2002).

Em 1950 foram concretizadas as ideias de Anísio Teixeira, um personagem importante na história da educação no Brasil, sobre a escola classe e a escola parque, em Salvador. Enquanto na primeira os alunos teriam todo a atendimento para a educação tradicional, na segunda, seriam atendidas outras necessidades, como atividades socializantes, aulas de arte, esportes e cursos profissionalizantes. Esses conceitos inspiraram futuramente outras propostas de projeto.

Na década de 60, segundo Nascimento (2012, apud FDE, 1998, p. 25), o arquiteto Sami Bussab reconhece que foram construídas obras escolares notáveis, porém se fazia arquitetura pela arquitetura, com grandes vãos e pátios amplos, mas tudo sem sistematização. Em outras palavras, sem a preocupação de se fazer uma arquitetura realmente comprometida com a educação, a fim de proporcionar condições ambientais adequadas para o pleno desenvolvimento dos ideais pedagógicas daquele momento.

Na década de 70, com a implantação da Lei de Diretrizes e Base (1971), para o ensino de primeiro e segundo graus, como era denominado, houve a necessidade de uma nova interpretação física e espacial dos prédios e da rede de edificações escolares. Assim o programa arquitetônico teve que ser adequado para o desenvolvimento das novas atividades didáticas oriundas da reforma do ensino.

Nos anos 80, destaca-se a construção dos chamados CIEPs (Centro Integrado de Educação Pública), cujo objetivo era oferecer educação pública de qualidade e em grande escala para a população mais carente, em período integral, das 8 horas às 17 horas, os quais foram inspirados nas escolas parque de Anísio Teixeira. O projeto previa a utilização de peças pré-moldadas, proporcionando a redução de custo e tempo para a execução da obra (RIBEIRO, 1986).

Em 1987, foi criada a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), órgão instituído no Estado de São Paulo, que cuidava, e ainda está em vigor, dos assuntos relativos à educação, dando seguimento ao trabalho realizado pela CONESP (Companhia de Construções de São Paulo). Atualmente, tem responsabilidade pela construção de novas escolas, seja por iniciativa própria ou a partir de convênios firmados com Prefeituras Municipais. Também investe em obras de ampliação e adequação das escolas já existentes, de acordo com a demanda e as necessidades apresentadas em cada região do Estado, além de disponibilizar equipamentos e mobiliários destinados à educação (FDE, 1998).

No final da década de 80 e início de 90, Ventura (2003) observa que há o aprimoramento das técnicas construtivas das edificações escolares e o surgimento de novos componentes. Também se começa a perceber a importância da adaptação dos espaços escolares para atendimento das novas demandas pedagógicas. Porém sobre essa questão, relacionada à padronização das escolas, torna-se importante destacar que a utilização de soluções padronizadas, adotadas pelo Estado e regulamentações locais, ainda está muito distante daquilo que pode ser dito como aceitável. Além disso, ainda não contemplam a diversidade de métodos de aprendizado que consequentemente demandam diferentes requisitos espaciais (SANOFF, 1996).

Nos anos 2000, o Ministério da Educação – MEC, através do Fundo de Fortalecimento da Escola – FUNDESCOLA, apresenta a Série de Cadernos Técnicos I (nº 4, vol. I, 2002), com o objetivo de colaborar para a melhoria qualitativa do sistema educacional apresentando informações técnicas e recomendações a respeito de projetos e espaços educativos adequados às necessidades do processo de ensino-aprendizagem.

Na atualidade, destaca-se o crescente interesse por questões relacionadas à qualidade de vida no ambiente construído, sendo principalmente abordadas na área da arquitetura. Também aponta-se a necessidade de um olhar mais atento às relações entre o usuário e o ambiente físico, a fim de contribuir para a contínua investigação pela qualidade da educação. Neste sentido, este trabalho de pesquisa também busca colaborar neste campo do conhecimento. Tendo em vista que poderá informar sobre o desempenho de diferentes sistemas construtivos frente sua adequação, térmica, lumínica e acústica.