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EVOLUÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA PRODUÇÃO DE FEIJÃO

Dados obtidos a partir do FAO STAT, banco de dados estatísticos de público acesso administrado pela FAO, apontam que a cultura do feijão tem apresentado franco crescimento em diversos aspectos. Esta evolução se reflete nos indicadores de produção, produtividade e área plantada em escala global quando analisado o período compreendido entre os anos de 1961 e 2013. Os dados abaixo ilustram a evolução da atividade ao longo do período citado acima. Muito deste crescimento reflete o comportamento observado em relação a dois conjuntos agrupados por aquela fonte, quais sejam o grupo dos países menos desenvolvidos e o grupo dos países desenvolvimento importadores líquidos de alimentos.

Gráfico 05 - Área plantada global (em hectares) - 1961 a 2013

Fonte: Elaboração própria do autor, 2015 a partir de dados obtidos via FAOSTAT, 2014

Gráfico 06 - Produção global (em toneladas) - 1961 a 2013

Fonte: Elaboração própria do autor, 2015 a partir de dados obtidos via FAOSTAT, 2014

Uma das grandes barreiras ao comércio internacional de feijão é a existência de um mercado consumidor incipiente. Poucos são os países cuja demanda é mais expressiva. De acordo com

Wander et al. (2007, p.6) as exportações são o destino de menos de 20% da quantidade produzida de feijão em escala global. Segundo dados da CONAB (2015, p.1), Brasil, Mianmar, China, Estados Unidos, Índia e México produzem mais de 60% do total produzido mundialmente. Porém nem todos os países consomem as mesmas espécies de feijão produzida no Brasil (CHAVES, 2010, p.1)

Alguns países se destacam sobremaneira em relação aos índices de produtividade verificados. Este é o caso de Burundi e Ruanda, que apresentam em 2005 rendimento médio em torno de 8 toneladas por hectare (WANDER et al., 2007, p.6). Apenas a título de referência, no período entre 2003 e 2012 a maior produtividade média alcançada pelo Brasil ocorreu em 2012, quando chegou ao rendimento de 1.032 quilogramas por hectare. A evolução recente do nível de produtividade média em escala global encontra-se expresso no Gráfico 07.

Gráfico 07 - Produtividade média em escala global (em quilos) - 1961 a 2013

Fonte: Elaboração própria do autor a partir de dados obtidos via FAOSTAT, 2014

Por trás destes resultados, existe uma dinâmica específica. Algumas regiões mundiais apresentaram diminuição em sua área plantada. É o caso das áreas continentais mais ricas do ponto de vista da renda. Esta foi a interpretação realizada a partir da análise do gráfico 08. Por outro lado, regiões que abrigam populações mais carentes têm optado por alocar maiores

porções de terra ao cultivo do feijão. O gráfico 09 sinaliza esta tendência. Esta dinâmica poderá em dado momento futuro redesenhar os fluxos de comércio internacional do produto.

Gráfico 08 - Área plantada com feijão (em hectares) - América do Norte, Europa e Leste Asiático - 1961 a 2013

Fonte: Elaboração própria do autor , 2015 a partir de dados obtidos via FAOSTAT, 2014

Gráfico 09 - Área plantada com feijão (em hectares) - países menos desenvolvidos e países em desenvolvimento importadores líquidos de alimentos - 1961 a 2013

Diferentemente da dinâmica verificada em escala global, o cenário nacional tem apontado uma perda de espaço da cultura. Tosto e outros (2012, p.11) associa este fato à ocorrência de perdas de safra. Ao longo do período em estudo, houve uma expressiva redução na área plantada com feijão no Brasil. Dados da Pesquisa Agrícola Municipal apurados no período entre 2003 e 2012 já sinalizam uma redução da área plantada de 4.38 milhões de hectares em 2003 para 3.18 milhões em 2012, confirmando um processo que já ocorre há algumas décadas, conforme tratado na sessão 2.2 do presente trabalho. À exceção da Região Centro- Oeste, todas as Macrorregiões Brasileiras experimentaram uma paulatina redução da sua área plantada com feijão. O Gráfico 10 pode ser utilizado para amparar esta análise.

Gráfico 10 - Área plantada com feijão (em hectares) no Brasil por macrorregião - 2003 a 2012

Fonte: Elaboração própria do autor, 2015 a partir de dados obtidos do IBGE, 2014

No entanto, conforme tratado na seção 2.2 deste trabalho, ao longo do período entre 2003 e 2012 o volume produzido de feijão nacionalmente oscilou em função das tendências de ganhos de produtividade e redução da área plantada. A Tabela 07 apresenta a evolução da produtividade apurada em escalas nacional e regional. Podemos afirmar que há um processo contínuo de ganho de produtividade ao longo dos anos em quase todas regiões. A única exceção seria a Região Centro-Oeste, que por outro lado apresentou indicadores superiores

aos das demais regiões em todos os períodos verificados. O Gráfico 11 apresenta a evolução da quantidade produzida em ambas escalas nacional e regional.

Tabela 07 – Rendimento médio por hectare no Brasil por macrorregião (em toneladas) – 2003 a 2012

Região 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Média Brasil 807 746 806 857 837 915 803 884 935 1032 862 Norte 784 746 673 725 759 751 744 579 767 780 731 Nordeste 393 360 441 481 381 476 392 357 427 249 396 Sudeste 1256 1218 1318 1269 1323 1436 1411 1490 1494 1577 1379 Sul 1228 1214 1133 1313 1418 1513 1230 1460 1530 1423 1346 Centro- Oeste 1866 1759 2080 1775 1880 1937 2036 1890 1733 1845 1880

Fonte: Elaboração própria do autor, 2015 a partir de dados obtidos do IBGE, 2014

Gráfico 11 - Quantidade produzida no Brasil por macrorregião (em toneladas) - 2003 a 2012

Gráfico 12 - Participação regional na produção nacional de feijão - 2003 a 2012

Fonte: Elaboração própria do autor, 2015 a partir de dados obtidos do IBGE, 2014

A Região Nordeste foi a segunda maior produtora de feijão durante anos seguidos até a perda de safra ocorrida em 2012. Esta região foi a que mais produziu feijão no ano de 2005. A redução da área plantada (GRÁFICO 10) e do nível de produtividade (TABELA 07) em decorrência da estiagem iniciada em 2012 derrubou estes resultados no último período estudado. A região foi aquela que apresentou menor produtividade e maior área plantada em todos o período estudado. A ausência de acesso a tecnologia adequada e ocorrência de pragas e doenças também ajudam a explicar esta realidade, segundo Tôsto e outro (2012, p. 10).

Outras regiões apresentaram uma constância maior. As regiões Norte e Centro-Oeste foram as que menos produziram na maior parte do período estudado. As regiões Sul e Sudeste, por sua vez, contribuíram significativamente com a produção agregada. Merecem destaque os estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Os resultados relacionados ao rendimento médio podem ser explicados em parte pelas condições naturais e em parte pelo acesso a tecnologias mais apropriadas (SILVA; WANDER, 2013, p.11).

A atividade é desenvolvida em todas as macrorregiões do País, independentemente das conjunturas socioeconômicas. No entanto, há sinais de heterogeneidade espacial nos dados

obtidos para análise. A cultura vem perdendo espaço para outras capazes de otimizar o rendimento do solo. Este aspecto pode se traduzir em diferentes resultados do ponto de vista da concentração territorial da atividade. Parte dos resultados dos testes constantes deste trabalho podem estar correlacionados com esta concentração territorial. lO próximo capítulo apresentará um referencial teórico e revisará os trabalhos empíricos relacionados à análise de convergência espacial. A ocorrência de arranjos produtivos locais em regiões vocacionadas poderá ser identificada dentro da metodologia aplicada.