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Evolução da Modelagem da Informação da Construção (BIM)

2.2 INTEGRAÇÃO DE BIM E INTERNET DAS COISAS

2.2.1 Conceituação

2.2.1.1 Evolução da Modelagem da Informação da Construção (BIM)

A Modelagem da Informação da Construção (BIM) consiste em um conjunto de políticas, processos e tecnologias que interagem entre si (SUCCAR, 2009) para produzir metodologias de gestão da produção e da informação da edificação por todo o seu ciclo de vida6 (PENTTILA, 2006). A espinha dorsal desse conjunto é constituída por modelos da informação da construção. Como campo de pesquisa ativo, a ênfase de BIM está na resolução de problemas relativos a requisitos chave da indústria da AECO: compartilhamento, gestão, intercâmbio e colaboração eficientes de dados e informações. Para tanto, possui raízes em duas esferas distintas, porém muito próximas: no Desenho Auxiliado por Computador (CAD) e na Representação da Informação de Produtos da Edificação (ISIKDAG, 2015). Além disso, é calcada em duas bases tecnológicas: a modelagem paramétrica baseada em objetos e a interoperabilidade (EASTMAN et al., 2014).

A modelagem paramétrica baseada em objetos representa objetos através de regras e propriedades, que determinam atributos geométricos e não geométricos, permitem definições de comportamento e atualizações automáticas, conforme ação do usuário ou mudança de contexto. As ferramentas BIM possuem objetos base predefinidos representativos da indústria da AECO, que constituem bibliotecas extensíveis, modificáveis ou complementáveis nas dimensões 2D e 3D (EASTMAN et al., 2014). A configuração de modelos da informação da construção abrange estruturas topológicas numerosas e complexas desses objetos, que representam virtualmente características físico-funcionais da edificação e viabilizam a aquisição, interpretação e análise de dados e informações geométricas e não geométricas pelo usuário e por um conjunto de aplicações (NBIMS, 2006; EASTMAN et al., 2014).

6 O ciclo de vida da edificação compreende seis fases: (i) Planejamento e Programa; (ii) Projeto; (iii)

Construção; (iv) Comissionamento; (v) Operação e Manutenção; e (vi) Descarte. Considerando-se os anos relativos à edificação, diversos agentes tornam-se responsáveis pelas fases mencionadas, como: projetistas; fornecedores de equipamentos e materiais; prestadores de serviço e subempreiteiras; gerentes de facilities; e o consumidor ou usuário final (NIST, 2006).

A interoperabilidade reside em “um mapeamento das estruturas internas de dados das aplicações envolvidas em relação a um modelo universal, independente de fabricantes” (SCHEER; AYRES FILHO, 2009, p.595). Seu emprego na indústria desdobra-se no estabelecimento de novos fluxos e demandas de trabalho (EASTMAN et al., 2014).

O principal padrão que atende a um protocolo internacional de intercâmbio, para a indústria da AECO, é o Industry Foundation Classes (IFC). O IFC é um schema aberto, independente de fornecedores e/ou desenvolvedores, concebido para facilitar a transferência e integração de dados entre modelos e sistemas de informação que atuam sobre a gestão da edificação (SABOL, 2013; EASTMAN et al., 2014). Entre os schemas interoperáveis, o IFC é classificado como um formato público de intercâmbio de modelos de dados e informações de produtos. As demais categorias contemplam: (i) ligações diretas e proprietárias entre ferramentas, que proporcionam conexão integrada (binária) entre duas aplicações (através de middleware7 ou interface proprietária); (ii) formatos de arquivos proprietários, desenvolvidos

por empresas para relacionar-se com outros aplicativos e aplicações, a exemplo do Data eXchange Format (DXF) da Autodesk; e (iii) formatos baseados em Linguagem de Marcação Extensível (XML), uma extensão para o HTML, que permitem a criação de schemas definidos pelo usuário (ANDRADE; RUSCHEL, 2009; EASTMAN et al., 2014).

Além destas categorias de intercâmbio, destaca-se a existência do schema aberto Construction Operations Building Information Exchange (COBie), concebido para atuar em modelos da informação e facilitar a captura, organização e registro de dados visando a fase de Operação e Manutenção (O&M) da edificação e a integração com ferramentas digitais de Sistemas de Gerenciamento de Facilities (EAST, 2013; ROJAS et al., 2009; SABOL, 2013).

Marcos de Implementação

A efetivação de BIM na indústria da AECO é realizada de forma gradativa e pode ser mensurada por meio de marcos de implementação (Figura 10). Esses marcos indicam potencialidades organizacionais de atender a requisitos mínimos inerentes à modelagem baseada em objeto, à colaboração baseada em modelo, e à integração baseada em rede. A transição entre os marcos desdobra-se em mudanças significativas e/ou transformadoras, que refletem: (i) nas políticas, envolvendo guias, protocolos e mandates; (ii) nos processos, incluindo recursos, atividades e fluxos de trabalho, produtos e serviços, liderança e

7 Middleware é uma camada de software posicionada entre o sistema operacional e uma dada aplicação, com o

propósito principal de superar a heterogeneidade de uma infraestrutura distribuída, através de sua homogeinezação (ISSARNY; CAPORUSCIO; GEORGANTAS, 2007).

gerenciamento; e (iii) nas tecnologias, compreendendo software, hardware e rede. A superação e consolidação desses estágios conduzem a um cenário variável, em constante evolução, denominado post-BIM (SUCCAR, 2010).

Figura 10 - Marcos de Implementação BIM

Fonte: Traduzido de Succar (2010).

Os estágios e consequentes marcos de implementação BIM estão discriminados a seguir, de acordo com Succar (2010) e Succar, Williams e Sher (2012).

O pre-BIM é definido como um ponto inicial fixo, que representa o momento de uma organização antes de implementar BIM.

O estágio 1, modelagem baseada em objeto, demanda: (i) nas tecnologias, a adoção de ferramentas BIM (ex. Autodesk Revit, ArchiCAD, Vectorworks) e requisitos decorrentes de hardware e rede; (ii) nos processos, fluxos de trabalho baseados no modelo e, portanto, novas funções BIM (ex. Gerente BIM); e (iii) nas políticas, a adoção de padrões de modelagem (ex. definições de nomenclatura, criação de bibliotecas de objetos, padronização de propriedades, níveis de desenvolvimento) e protocolos de intercâmbio de arquivos.

O estágio 2, colaboração baseada em modelo, requer a atuação em projetos multidisciplinares e colaborativos. Para tanto, demanda: (i) nas tecnologias, a adoção de ferramentas BIM de compartilhamento de modelos (ex. TrimbleConnect, TeklaBIMSight, Solibri Model Viewer) e middleware (ex. EcoDomus); (ii) nos processos, o crescimento de fluxos de trabalho baseados no modelo BIM e modelos de negócio centrados em colaboração, além da incorporação de novas funções BIM (ex. Gerente da Informação); e (iii) nas políticas, o crescimento de acordos contratuais centrados em colaboração e programas educacionais, bem como a adoção de protocolos de colaboração e padrões de modelagem.

O estágio 3, integração baseada em rede, demanda: (i) nas tecnologias, a incorporação de soluções de compartilhamento baseado em rede (ex. Servidores BIM, Software como Serviço - SaaS) e o crescimento da integração em tempo real baseada em rede, através de

sistemas distribuídos; (ii) nos processos, a implementação de processos integrados em relação a toda a cadeia de suprimentos e o crescimento de fluxos de trabalho interdisciplinares, em todas as fases de ciclo de vida da edificação; e (iii) nas políticas, a adoção de padrões aderentes à integração de processos relativa à cadeia de suprimentos, protocolos e acordos contratuais, além do crescimento de programas educacionais interdisciplinares.

O impacto de cada marco de implementação BIM em relação às fases do ciclo de vida da edificação é evidenciado na Figura 11, e indica a transição de um modelo sequencial de resolução de problemas e tomadas de decisão para um modelo integrado.

Finalmente, superado o estágio 3, encontra-se o post-BIM, que representa objetivos voltados para o emprego de ferramentas e conceitos virtualmente integrados no contexto da edificação (SUCCAR, 2010). Este cenário tende a ser subsidiado por Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), aptas a ampliar as capacidades de gestão das fases de seu ciclo de vida (UNDERWOOD; ISIKDAG, 2011; SABOL, 2013; ISIKDAG, 2015).

Figura 11 - Impactos da Implementação BIM por Fase do Ciclo de Vida

Requisitos e Especificações de Dados Históricosem [O]

PROJETO CONSTRUÇÃO [P] [C] OPERAÇÃO [P] [C] e[C] [P] Intercâmbio de Dados [C] [O] e [O] [C] Intercâmbio de Dados BIM Estágio

eixo-y: quantidade relativa de detalhes incorporados ao Modelo BIM em cada Fase do Ciclo de Vida do Projeto

Modelagem encoraja o rastreamento rápido

BIM Estágio

Requisitos e Especificações de Dados Históricosem [O]

PROJETO

CONSTRUÇÃO

OPERAÇÃO [P]

[C]

eixo-y: quantidade relativa de detalhes incorporados ao Modelo BIM em cada Fase do Ciclo de Vida do Projeto

[C] [O] e [O] [C] Intercâmbio de Dados [PC] Intercâmbio de Dados Colaboração instiga o rastreamento rápido BIM

Estágio eixo-y: quantidade relativa

de detalhes incorporados ao Modelo BIM em cada Fase do Ciclo de Vida do Projeto

PROJETO CONSTRUÇÃO OPERAÇÃO [C] [PCO] Intercâmbio de Dados [CO] Intercâmbio de Dados Requisitos e Especificações de Dados Atuaisem [O]

Integração impõe construção simultânea

Séries e Usos do Modelo e Ferramentas BIM

O cenário de evolução de BIM subsidiado por TICs é evidenciado em Succar, Saleeb e Sher (2016), que atribuem classificações de Séries e Usos do Modelo BIM associadas ao domínio de construção. Os usos identificam e coletam Requisitos de Informação da Entidade Contratante (EIR) que necessitam ser incorporados e/ou entregues no modelo.

Os referentes autores, além de sinalizarem o emprego de BIM para modelagens genéricas e/ou customizadas, configuram 7 Séries ou Categorias de Usos: (i) Captura e Representação, que envolve o uso de ferramentas BIM e equipamentos especializados para capturar e representar edificações e ambientes; (ii) Planejamento e Projeto, que abrange o uso de ferramentas BIM para concepção, planejamento e projeto; (iii) Simulação e Quantificação, que compreende o uso de ferramentas BIM para conduzir diversos tipos de simulações e estimativas baseadas no modelo; (iv) Construção e Fabricação, que inclui o uso de ferramentas BIM para propósitos específicos de construção e fabricação; (v) Operação e Manutenção, que abarca o uso de ferramentas BIM para operar, gerenciar e manter um empreendimento; (vi) Monitoramento e Controle, que contém o uso do modelo BIM para monitorar o desempenho da edificação e/ou controlar seus espaços, sistemas e equipamentos; e (vii) Ligação e Extensão, que proporciona o vínculo do modelo BIM e seus objetos com outros bancos de dados. Observa-se que as categorias não são necessariamente associadas e/ou limitadas a uma só fase do ciclo de vida da edificação. Além disso, os usos do modelo BIM podem integrar-se aos demais em uma mesma categoria ou em categorias distintas (Quadro 3).

Quadro 3 - Séries e Usos do Modelo BIM

SÉRIES DE USO DO MODELO BIM COD. USOS DO MODELO BIM

Captura e Representação 2000

Levantamento Topográfico; Escaneamento a Laser; Fotogrametria; Design Generativo; Documentação e Detalhamento; Representação As-Constructed;

Manutenção de Registro; Comunicação Visual...

Planejamento e Projeto 3000 Planejamentos (ex. Urbano, Concepção, Construção, Operação, Demolição); Programa; Análise (ex. Enxuta); Projeto Autoral; Seleção e Especificação... Simulação e Quantificação 4000 Avaliações (ex. ACV, Risco e Perigo); Simulações (ex. Realidade Virtual, Realidade Análises (ex. Local, Solar, Espacial, Estrutural, Termo Acústica, Lumínica);

Aumentada, Fogo e Fumaça); Checagem de Interferências; Estimativa de Custo... Construção e Fabricação 5000 Impressão 3D; Pré-Fabricação (ex. Módulos Arquitetônicos, Peças Mecânicas); Concreto Pré-Moldado; Logística de Construção... Operação e Manutenção 6000 Entrega e Comissionamento; Compras, Manutenção e Rastreamento de Ativos; Inspeção Predial; Relocação e Gestão de Espaços... Monitoramento e Controle 7000 Automação Predial; Monitoramento de Desempenho; BIM em Campo; Utilização em Tempo Real...

Ligação e Extensão 8000

Vínculos (ex. Especificação de Produtos Online, Planejamento de Recursos da Empresa - ERP); Integração (ex. Gerenciamento de Facilities - FM); Sobreposição (ex. Sistema de Informação Geográfica – SIG, Gerenciamento do Ciclo de Vida do Produto – PLM); Interface (ex. Internet das Coisas);Extensão (ex: Serviços Web)...

Como evidenciado na discriminação das Séries de Uso, os Usos do Modelo BIM estão diretamente associados ao emprego de um extenso conjunto de ferramentas. De modo geral, Tobin (2008) e Ruschel et al. (2013) observam que este conjunto compreende ferramentas de autoria e integração. As ferramentas de autoria estão associadas à modelagem, simulação e/ou análise de modelos BIM. As ferramentas de integração estão associadas à integração de múltiplos modelos BIM para colaboração e/ou compartilhamento entre aplicativos e agentes. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC, 2016), por sua vez, apresenta uma classificação discriminada deste conjunto associada às principais plataformas da indústria de software (ex. Autodesk, Nemetchesk, Bentley, Trimble), e agrupa as aplicações por etapas (pré-obra, obra e pós-obra) e finalidades (Figura 12).

Figura 12 - Categorias de Software BIM

Fonte: Baseado em Succar, Williams e Sher (2012) e CBIC (2016).

Destaca-se que as ferramentas podem deter funcionalidades de atuação em mais de uma etapa e/ou finalidade de aplicação (Quadro 4).

Quadro 4 - Conjunto de Ferramentas BIM por Fase e Finalidade

ETAPA FINALIDADE. FERRAMENTAS BIM

PR

É-

OBR

A

Desenvolvimento de Modelos e

Visualização Autodesk Revit, Tekla Structures, ArchiCAD, Vectorworks, Allplan, Scia Engineering, AECOsim Building, Dynamo, A360, TrimbleConnect... Coordenação e Verificação de

Códigos

Solibri, Autodesk Revit, Tekla Structures, Navisworks, VicoSoftware, AECOsim Building, BIM 360 Glue, Dynamo, A360, TrimbleConnect...

Simulação Navisworks, Robot, Simulation CFD, Autodesk Revit, Tekla Structures, Vico Software, Scia Engineering, AECOsim Energy Simulator, Dynamo, Insight 360... Quantificação Vico Software , Navisworks, Dynamo, Tekla Structures, Autodesk Revit, ArchiCAD, Vectorworks, Solibri, Allplan, Scia Engineering,TQS, TrimbleConnect...

Orçamento EADOC, ArchiCAD, Vectorworks, Dynamo, ProjectWise, TrimbleConnect... Planejamento 4D Autodesk Revit, Tekla Structures, TrimbleConnect, Synchro...

Detalhamento

Autodesk Revit, Advance Steel, Advance Concrete, Tekla Structures, Trimble Connect, ArchiCAD, Vectorworks, BIMx, BlueBeam, AllPlan, Scia Engineering,

ProStructures...

OBR

A

Fabricação Fabrication (MEP), Advance Steel, Advance Concrete, Tekla Structures, Pipe Design 3D, Vulcan, ProjectWise... Layout e Verificação ReCap, Point Layout, BIM 360 Field, BIM360 Layout, BIM 360 Glue, Soluções de Layout e Verificação, BIMx, ProjectWise... Execução no Campo BIM360Field, Estações Totais, Vico Software, BIMx, ProjectWise... Administração da Construção BIM 360 Field, Tekla Structures, Vico Software, TrimbleConnect, BIMx, ProjectWise...

Comissionamento e Entrega Navisworks, BIM 360 Field, Tekla Structures, Vico Software, TrimbleConnect...

PÓS

-OBR

A

Operação, Gestão de Ativos e Gestão de Manutenção

Building Ops, Manhatan, AllFM, AssertWise, Archibus, IBM Maximo/Tririga, EcoDomus FM, Maint3D, ArchiFM...

Fonte: Adaptado de CBIC (2016).

Benefícios

Após a compreensão acerca de definições, marcos de implementação, séries e usos do modelo e ferramentas BIM associadas, é possível destacar os benefícios significativos que os agentes da indústria de AECO podem obter em áreas potenciais de aplicação de BIM.

Eastman et al. (2014) destacam que na relação de proprietários com arquitetos e engenheiros, as contribuições de BIM podem envolver: (i) a garantia de que os requisitos e qualidade de projeto sejam alcançados; (ii) o aprimoramento de soluções de sustentabilidade e eficiência energética da edificação; (iii) a certificação de indicadores de qualidade e desempenho da edificação; e (iv) a melhoria de comunicação. Já na relação de proprietários com projetistas, engenheiros e empreiteiros: (i) a garantia de estimativas mais confiáveis e precisas; e (ii) a redução de erros no canteiro de obras e custos de construção. Por sua vez, na relação de proprietários com empreiteiros e fabricantes: (i) a comunicação visual do cronograma; (ii) o registro de atividades de projeto; e (iii) o aumento da qualidade de projetos e a redução do tempo de trabalho no canteiro de obras. Finalmente, as contribuições voltadas para proprietários, e sua relação com gerentes de facilities, podem abarcar: (i) o aumento da

confiabilidade dos custos; (ii) o aprimoramento da gestão e do monitoramento da edificação; e (iii) o suporte às demais atividades de Gerenciamento de Facilities (FM)8.

Gerenciamento de Facilities e Consumo de Energia

Tendo em vista a ênfase desta pesquisa em consumo de energia, as contribuições de BIM nesse aspecto estão associadas a FM, área a qual identifica-se crescente interesse de aplicação pela indústria da AECO. O interesse envolve gerir modelos da informação desde as fases de projeto e construção até a fase de Operação e Manutenção (O&M) da edificação (BECERICK-GERBER et al., 2012).

Devido a energia não tratar-se de um custo fixo, a gestão de energia é relevante (FERREIRA, 2004). Identificada na literatura como um dos principais tipos de gestão relativos a FM (MOTA, 2017)9, a gestão de energia envolve o processo de analisar a eficiência do consumo de energia em uma edificação e identificar se seu custo é competitivo. De acordo com Ferreira (2004), esse processo deve envolver dados simulados de desempenho e sua comparação com o consumo real para determinar, mediante auditoria, o potencial de consumo que se pode economizar. Este contexto conduz ao Monitoramento de Desempenho Energético da edificação, que segundo a ISO 50001 (ABNT, 2011) consiste em resultados mensuráveis relacionados à eficiência energética, uso e consumo de energia.

Segundo Becerick-Gerber et al. (2012), os sistemas tradicionais de gerenciamento da edificação (Sistema de Gestão Predial – BMS e/ou Sistema de Automação Predial – BAS) que possuem módulos de gestão de energia, detêm capacidades de medir o consumo real periodicamente. Entretanto, estes sistemas usualmente são programados e dependem de terceiros para inserir e atualizar informações geométricas e não geométricas da edificação (ex. adição de um novo pavimento ou objetos). Além disso, não há interconectividade entre representações gráficas em parte desses sistemas, existindo o isolamento de objetos, sem níveis de detalhe adequados, em relação ao contexto da edificação. Segundo os autores, a interface desses sistemas com BIM é um meio de resolução destes problemas, não somente pela Visualização 3D, como pela prevenção da entrada repetitiva e inconsistente de informações. Ademais, de acordo com os autores, o uso de BIM para Monitoramento e

8 Gerenciamento de Facilities é uma profissão multidisciplinar (SPRINGER, 2004) que abrange diversas

disciplinas para assegurar a funcionalidade do ambiente construído, através da integração de pessoas, lugares, processos e tecnologias (IFMA, 2016).

99 Mota (2017) identifica 10 principais tipos de gestão relativos a Gerenciamento de Facilities na literatura:

gestão estratégica, gestão do espaço, gestão da informação, gestão do risco, gestão de recursos humanos, gestão de operação, gestão do imóvel, gestão de ativos, gestão ambiental e gestão de energia.

Controle de Energia é menos desenvolvido em relação a outras aplicações, e a integração do modelo BIM com informações decorrentes de sensores e medidores pode proporcionar o monitoramento do consumo em tempo real e o controle automatizado da edificação. Este Uso do Modelo BIM é relativo a Monitoramento de Desempenho, indicado anteriormente no Quadro 3 (p.45). Em relação ao Monitoramento de Desempenho, Eastman et al. (2014) destaca que o modelo BIM deve atender aos requisitos de um escopo genérico em relação às disciplinas de Arquitetura, Estrutura e Sistemas Prediais e deve garantir minimamente em seus objetos propriedades com atributos geométricos e funcionais.

Em relação à integração do modelo BIM com informações decorrentes de sensores e medidores (BECERICK-GERBER et al., 2012), Eastman et al. (2014) reforçam que o modelo BIM proporciona uma interface natural com sensores e operações remotas de FM e detém a capacidade de dar suporte às atividades supracitadas. Os autores afirmam que BIM é uma plataforma ideal para seu desenvolvimento, ainda que parte destas capacidades não estejam desenvolvidas. Observa-se que essa abordagem conduz a outro tipo de gestão de FM: a gestão da informação, que contempla o denominado e-FM e envolve inovações tecnológicas que integram sistemas de gerenciamento e automatizam processos. Esse contexto abarca edifícios inteligentes10, sensores de monitoramento, ferramentas gráficas, bancos de dados baseados em rede, dentre outros serviços (SMITH, 2003).

Diante da potencial integração de sensores e do modelo BIM, agregando-se os mencionados tipos de gestão de FM, Becerick-Gerber et al. (2012) enumera como impactos desta abordagem no consumo de energia: (i) o controle de consumo mediante automação; (ii) a aplicação de sugestões de redução de consumo aos usuários; (iii) o rastreamento histórico de consumo de energia para cada ambiente/zona/usuário e associação destes dados com seus objetos, para análise e previsão; e (iv) a relação entre custos e atividades visando economia de energia. Além disso, seu uso como modelo comportamental da edificação pode subsidiar cenários de what-if, para simulação e análise de soluções de eficiência energética, aplicação efetiva também destacada por Sabol (2013).

Em conjunto com a atuação de BIM em outros tipos de gestão de FM, os desdobramentos apresentados em caso de implementação devem contribuir para a redução do custo total da edificação e o melhor retorno aos usuários (SABOL, 2013; TEICHOLZ, 2013).

10 Segundo Loftness et al. (2004), os edifícios inteligentes são aqueles que vão apoiar dinâmicas tecnológicas e

organizacionais contínuas em condições físicas, ambientais e configurações organizacionais, visando a melhoria de desempenho individual e coletivo, e a saúde, conforto e motivação humanas.

Pesquisas no Brasil

Objetivando a compreensão do nível de desenvolvimento científico sobre o assunto no Brasil, foram mapeadas e identificadas 103 dissertações e teses, publicadas entre 2003 e 2016. Estes números evidenciam a atualidade e apontam o crescente interesse pela temática (Figura 13). Nesse caso, aplicou-se os mesmos procedimentos utilizados em Machado, Ruschel e Scheer (2017) para delimitação, levantamento e atualização da amostra.

Figura 13 - Nº de Dissertações e Teses Brasileiras sobre BIM por Ano

Fonte: A autora.

Entre os contextos de aplicação das publicações, foram identificados estudos associados às fases de Planejamento/Programa e Projeto (ex. Estudo de Viabilidade, Concepção e Desenvolvimento de Projetos, Soluções de Sustentabilidade, Colaboração, Coordenação e Compatibilização de Projetos, Gestão de Projetos, Documentação, Verificação de Regras); Construção e Comissionamento (ex. Extração de Quantitativos, Estimativa de Custos, Orçamentação, Simulação 4D, Planejamento e Controle Logístico); Operação e Manutenção (ex. Gestão da Manutenção, Gestão de Espaços, Gestão da Informação); e Demolição ou Descarte (Gestão de Resíduos). A estas fases foram atribuídas 6 das 7 Séries de Usos do Modelo BIM, conforme Succar, Saleeb e Sher (2016): Captura e Representação, Planejamento e Projeto, Simulação e Quantificação, Construção e Fabricação, Operação e Manutenção, e Ligação e Extensão, esta última restrita à Integração de BIM e Sistemas FM. Além disso, foram identificadas abordagens sobre classes de problemas relativas a BIM no Ensino, Implementação de BIM nas Esferas Pública e Privada, Soluções de Interoperabilidade e Mineração de Dados. As pesquisas concentram-se em áreas do conhecimento associadas, principalmente, à Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo.

Entretanto, nenhum estudo desta amostra aborda como assunto principal a Integração de BIM e Internet das Coisas, inerente à Série de Ligação e Extensão, nem tanto qualquer uso atribuído à Série de Monitoramento e Controle ou questões similares relativas a Monitoramento de Desempenho, ênfases desta pesquisa. Essa constatação indica que a presente pesquisa representa avanço científico em relação aos demais estudos nacionais sobre BIM, por tratar-se da primeira dissertação brasileira sobre BIM e Internet das Coisas, e desdobrar-se, também, em abordagens relativas à Série de Monitoramento e Controle.