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O município de Jacarezinho sempre teve, na pecuária, uma importante atividade econômica. No decorrer do seu processo de formação territorial, a suinocultura destacou-se pelo sistema de safras e, em menor grau, estimulou a produção de subsistência efetivada por pequenos produtores.

Comparando a área ocupada pelas pastagens plantadas, se constata que esta se expandiu e superou as pastagens naturais, no período 1970-1995/96, como foi visto anteriormente na Tabela 18.

Inicialmente, deve-se entender o processo de transformação da agricultura, iniciado em 1960, pela erradicação dos cafezais, em que parcelas das terras liberadas foram rapidamente transformadas em pastagens.

De rápida implantação e com baixos custos, foi a primeira forma adotada de uso da terra, porém, ao longo do período anteriormente mencionado, estas terras foram ocupadas por lavouras temporárias.

Os produtores que optaram em permanecer com a pecuária passaram a investir em melhoria de pastagens (plantadas), para reduzir o tempo de engorda e garantir um retorno rápido do capital.

Entretanto, deve-se entender, primeiramente, como ocorreu a evolução dos principais efetivos da pecuária no município, ou seja, a criação do gado leiteiro, das lagartas do bicho-da-seda e do frango de corte. Neste estudo considerou-se a seqüência cronológica de implantação de cada atividade em Jacarezinho.

Os dados da Tabela 25 possibilitam uma melhor compreensão da evolução do efetivo bovino, das vacas ordenhadas e da produção leiteira desenvolvida no município pesquisado, no período de 1970 a 2004.

Pode-se constatar que o rebanho de bovinos teve oscilações crescentes, no período de 1970 a 1985, tanto na Microrregião Geográfica como no município de Jacarezinho.

Em 1970, o efetivo da Microrregião era de 249.424 cabeças e, em Jacarezinho, era de 22.073 cabeças de gado.

Uma elevação significativa ocorreu em 1985, sendo que na Microrregião o efetivo era de 414.378 cabeças e, no município de Jacarezinho, atingiu 36.468 cabeças de gado.

O efetivo bovino apresentou redução nos dados de 1995/96, ficando em 176.612 cabeças na Microrregião Geográfica de Jacarezinho e 33.371, no município de Jacarezinho.

Abrahão et al.(2004) destacam que o desempenho global da cadeia da carne bovina na Microrregião é limitado por problemas como: a baixa qualidade das pastagens; o manejo animal inadequado; a ausência de melhoria genética dos rebanhos; a descapitalização do produtor; e, a falta de retorno imediato ao investimento em melhoria de qualidade.

Além destes agravantes, Abrahão et al. (2004) ressaltam ainda que, no início dos anos de 1990, em virtude da política de câmbio, com o preço do boi gordo superior a US$ 22,00 a arroba, em média, resultou num prejuízo às exportações nacionais de carne.

Para os referidos autores, a carne bovina brasileira somente seria competitiva no mercado mundial, com a cotação da arroba abaixo de US$ 21,00.

No Estado do Paraná, as exportações de carne bovina passaram de 4.605.303 Kg (1994) para 1.352.950 Kg (1995), enquanto as importações, que eram de 2.346.919 Kg (1994) passaram para 5.485.309 Kg (1995).

A política de câmbio impulsionada pelo Plano Real (1994) teve seus reflexos sentidos também na Microrregião Geográfica e no município de Jacarezinho.

Os levantamentos realizados pela Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) de 2000 e 2004 demonstram uma reação do efetivo do rebanho bovino.

Na Microrregião, o rebanho, no ano de 2000, era de 188.038 e passou para 214.842 cabeças em 2004, enquanto que, no município de Jacarezinho, o efetivo bovino foi ampliado de 37.000 em 2000, para 42.124 em 2004. Esta ampliação está associado à presença do Frigorífico Norte Pioneiro.

O Frigorífico Norte Pioneiro Ltda., de capital local, está associado à pecuária de corte. Sua capacidade de abate diário é de 800 cabeças, entretanto o abate tem girado em torno de 300 a 400 bois/dia.

O gado abatido é oriundo do município e de outros adjacentes. A carne é comercializada com distribuidores de São Paulo e Rio de Janeiro.

De acordo com as informações fornecidas pelo entrevistado, o Sr. N.F. (46 anos), funcionário da Prefeitura Municipal de Jacarezinho, os distribuidores pertencem à iniciativa privada, cujo funcionamento é bastante oscilante. Há períodos com atividades e, em outros, com paralisações, dependendo da oferta e da procura.

Quanto ao número de vacas ordenhadas, verificou-se que na Microrregião Geográfica de Jacarezinho, no período de 1970 a 1995/96, houve oscilação positiva. Os dados de 1970, totalizaram 27.981 e, em 1995/96, esse número atingiu 36.130 vacas ordenhadas. No ano de 2000 ocorreu redução para 21.400 e, em 2004, recuperou-se, atingindo o número de 33.196 vacas ordenhadas.

No município de Jacarezinho, em 1970, eram 4.088 vacas ordenhadas, reduzindo-se, nos dados de 1995/96 para 3.200. A Pesquisa Pecuária Municipal – PPM demonstra a ampliação do efetivo, que cresceu de 3.500 (2000) para 4.500 (2004).

Segundo Filippsen, Pellini e Pfau (2004), a atividade

leiteira é desenvolvida, principalmente, em pequenos estabelecimentos agropecuários e utiliza da mão-de-obra familiar.

As oscilações no número de vacas ordenhadas devem-se aos preços pagos aos produtores pelo litro de leite produzido. A ausência

do melhoramento genético inviabiliza a rentabilidade da atividade durante a entressafra.

Com relação ao leite produzido, segundo dados dos Censos Agropecuários de 1970 até 1995/96, na Microrregião Geográfica de Jacarezinho verificam-se oscilações no volume produzido.

Na década de 1970 era de 17.804.000 litros produzidos, atingindo, em 1995/96, 26.083.000 litros de leite. De acordo com os dados da Pesquisa Pecuária Municipal, em 2000 observa-se queda para 20.869.000 litros e em 2004, a produção elevou-se para 34.365.000 litros produzidos.

Já o município de Jacarezinho, no período de 1970 a 1995/96, também apresentou oscilações. Conforme os dados do Censo Agropecuário, se observa que em 1970 a produção era de 3.066.000 litros, reduzindo, em 1995/96, para 2.980.000 litros.

Em 2000 e 2004, o município apresentou crescimento na produção leiteira, atingindo 3.200.000 e 3.900.000 litros, respectivamente, segundo os dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM). Para Filippsen; Pellini e Pfau (2004), os pontos críticos verificados no estudo da agroindústria do leite na Microrregião Geográfica de Jacarezinho relacionam-se: à sazonalidade da produção; ao manejo reprodutivo; à sanidade do rebanho; à alimentação; às pastagens e forrageiras; à qualidade do leite; à assistência técnica; e, ao crédito.

A pecuária leiteira merece uma análise mais pormenorizada que possibilitará verificar as transformações ocorridas conforme a sua finalidade econômica para, assim, se entender a importância dos pequenos produtores familiares.

Estes, ao serem estimulados pela crescente necessidade de matéria-prima (leite) da Cooperativa de Laticínios Carolina Ltda (situada em Ribeirão Claro/PR há 39 anos, distante 25 Km de Jacarezinho), facilitou a substituição da agricultura pela pecuária leiteira.

Além desta atividade utilizar predominantemente a mão-de- obra familiar, o período médio de lactação das vacas é em torno de 280

dias, garantindo uma renda ao produtor diferente de outras atividades agropecuárias.

Com relação ao efetivo de animais de pequeno porte, destacam-se: a lagarta do bicho-da-seda, os frangos de corte e os suínos. Os números coletados pelos Censos Agropecuários, do período compreendido entre 1970 e 1995/96, e da Pesquisa Pecuária Municipal, de 2000 e 2004, foram sistematizados na Tabela 26. Com tais informações constata-se, de forma geral, oscilações positivas e negativas.

Os dados dos Censos Agropecuários sobre a produção de

lagartas do bicho-da-seda, entre 1970 e 1995/96, apontam um aumento

significativo na produção do município de Jacarezinho. Em 1970, essa produção era de 1,5 toneladas, e passou para 11,0, em 1995/96. As informações apresentadas para a Microrregião Geográfica de Jacarezinho oscilaram, já que era de 3,4 toneladas em 1970 e atingiu 16,7 toneladas, em 1995/96.

Os dados da Pesquisa Pecuária Municipal de 2000 evidenciaram uma redução, tanto para a Microrregião como para o município de Jacarezinho, que atingiu 6,5 e 2,3 toneladas da produção, respectivamente.

Em 2004, os dados referentes ao efetivo de lagartas do bicho-da-seda voltam a reagir, saltando para 37,8 toneladas de produção de casulos na Microrregião Geográfica de Jacarezinho, e de 16,8 toneladas produzidas no município de Jacarezinho.

A atividade sericícola no Estado do Paraná desenvolveu-se a partir de 1970, em virtude: da instalação de novas indústrias; da definição de novas tecnologias de produção; e, principalmente, pela integração que houve entre todos os segmentos envolvidos.

Em 2003, apenas três (3) empresas foram responsáveis por toda a produção brasileira de fios de seda: a maior produtora nacional é a Burajiru Takushoku Kumiai – Fiação de Seda Bratac S/A, com 68,6% da produção nacional, localizada em Bastos (SP).

A segunda maior produtora é a Fujimura do Brasil S.A., com 23,3% da produção, sediada em Cornélio Procópio(PR); em seguida aparece a Cooperativa de Cafeicultores de Maringá Ltda. – Cocamar - com 8,1%, localizada em Maringá (PR), como destaca a publicação da ABRASSEDA (2004).

Costa (2004) salienta que, entre 1995 e 2001, houve a redução do número de produtores e da área plantada com amoreira na Microrregião Geográfica de Jacarezinho.

O lucro com a atividade deixou de ser interessante para os proprietários de barracões, levando a um encolhimento da atividade e, em alguns casos, até seu abandono.

A reação na produção de casulos de bicho-da-seda na Microrregião foi motivada pela alta nos preços do quilo do casulo: de R$2,00 saltou para valores entre R$5,44 e R$6,50, a partir de 2003, como menciona Costa (2004).

Os motivos dessa elevação se devem aos baixos estoques do casulo no mercado interno e ao fato de que a China, maior produtora mundial de casulos (detentora de 86,0% do mercado mundial), teve problemas e deixou de cumprir seus contratos externos.

A avicultura de corte no município de Jacarezinho, no

período de 1970 a 1995/96, apresentou oscilações e, de modo geral, aumentou de 39,4 mil para 555,4 mil cabeças de aves abatidas no período analisado.

Na Microrregião Geográfica de Jacarezinho, a oscilação ocorreu de 1.068,0 mil cabeças de aves, em 1970, para 1.032,0 mil cabeças de aves, em 1995/96.

Os dados da Pesquisa Pecuária Municipal para a Microrregião, em 2000, indicavam 922,1 mil cabeças, apresentando uma redução de 109,9 mil cabeças, porém, já em 2004 esse efetivo se elevou para 1.086,2 mil cabeças de aves.

O auge da avicultura no município de Jacarezinho está registrado nos dados do PPM de 2004, com 670,0 mil cabeças aves.

A avicultura de corte ganhou expressão a partir do final da década de 1970, com a implantação, no município de Jacarezinho, do abatedouro Avicultura Comércio e Indústria Ltda. – AVISCO, em 1976.

Além do abatedouro, a empresa contava com uma fábrica de ração para animais e duas unidades de criação de aves, pertencentes à Renato da Costa Lima, de acordo com as informações de Fresca (2000).

Já na década de 1990, a instalação da agroindústria SEARA Alimentos S.A. no município, atraiu vários produtores a participarem desta atividade de criação de aves de forma integrada.

Richter; Fietcher e Guimarães (2002) mencionam que, estimulados pelo preço competitivo em relação às demais carnes, o frango apresenta-se como a principal proteína animal comercializada.

O setor avícola nacional, atendendo as necessidades do mercado interno e projetando-se, a cada ano, no competitivo mercado mundial, vem se desenvolvendo de maneira extraordinária nessas últimas décadas.

As indústrias avícolas, de acordo com Richter; Fietcher e Guimarães (2002), tomando como referência o preço internacional, conduzem a um modelo de produção inserido na globalização, permitindo o abastecimento do mercado interno a preços baixos e destinando significativa parcela ao mercado internacional.

Em entrevista realizada com o Sr. A. P., gerente administrativo da Seara Jacarezinho (Jan/2006), mencionou que o sistema de integração tem contribuído para o desempenho desse segmento, contando com 76 produtores integrados à Seara na Microrregião Geográfica de Jacarezinho.

O número total de empregos diretos gerados pelos segmentos produtivo e industrial do setor ultrapassa os dois (2) mil postos, devendo atingir os elos integrantes da cadeia (matéria-prima e insumos, produção primária e industrial, varejo e exportação), nesta região.

De acordo com Richter; Fietcher e Guimarães (2002), a partir da implantação do Plano Real, em Julho de 1994, o setor avícola experimentou significativo aumento na demanda por seus produtos.

Isto foi ocasionado devido à melhoria do poder aquisitivo da população, levando à ampliação do consumo de frango no mercado nacional, o que estimulou o aumento da produção e oferta do produto.

Já o efetivo de suínos no município de Jacarezinho foi sendo

reduzido, sucessivamente, no período de 1970 a 2000, passando de 7,0 mil para 1,9 mil cabeças, respectivamente.

A produção de suínos no município tinha como grande comprador desse tipo de carne, o Frigorífico do Grupo Rajá, que se implantou nesta localidade desde a década de 1940.

Segundo Martins (2006), a presença deste frigorífico na cidade de Jacarezinho representava 300 empregos diretos e abatia suínos de toda a Microrregião e arredores. A partir de 2000 a empresa expandiu sua produção e passou a exportá-la para a Rússia.

Entretanto, no final de 2005, com a crise do setor, em virtude do embargo russo à carne suína brasileira, a unidade foi desativada. A reativação ocorreu em 2006, em parceria com uma empresa de capital chinês, para onde passou a destinar sua produção.

Os dados demonstram que em 2004 houve crescimento no número de suínos que atingiu 7,2 mil cabeças no município. A presença do frigorífico refletiu a expansão da atividade. Na Microrregião, o número de suínos atingiu o volume de 55,4 mil cabeças.

Richter; Fietcher e Guimarães (2002) mencionam que a suinocultura paranaense é uma atividade presente nas pequenas propriedades rurais, em que 80,0% dos suínos são criados em unidades de até 100 hectares, empregando significativa mão-de-obra familiar e se constituindo numa importante fonte de renda e de estabilidade social.

A suinocultura apresenta considerável participação no consumo de milho e, principalmente, de soja. O setor contribui, também, para a complementação e regulamentação do mercado interno de carnes.

Por fim, na análise da dinâmica agrária do município de Jacarezinho é importante ressaltar que, mesmo com a incorporação de máquinas, equipamentos, insumos químicos e a diminuição da população decorrente da concentração fundiária, percebe-se que a produção familiar ainda persiste no espaço rural do município de Jacarezinho.

2.5 A INCORPORAÇÃO DE MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E INSUMOS QUÍMICOS NO