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Evolução da distribuição dos livreiros e editores de Lisboa (pormenor) por freguesia no período 1890-

No documento O MERCADO EDITORIAL DEL (páginas 64-67)

O mercado editorial lisboeta

Mapa 3 Evolução da distribuição dos livreiros e editores de Lisboa (pormenor) por freguesia no período 1890-

No que toca ao universo dos catálogos, uma das primeiras conclusões que se pode tirar é que o volume de obras aí referido é substancialmente maior do que aquele presente nos mesmos instrumentos do início do século XIX100. Estamos, por conseguinte, diante de um indicador que parece sugerir não só o alargamento do público leitor, mas também a introdução de novos mecanismos de impressão que permitem maiores tiragens, a um custo menor. De facto, embora as tipografias não tenham sido exaustivamente estudadas, é possível assinalar a existência de tipografias a vapor, e até mesmo eletrificadas, e a própria composição das existências que chegaram até nós dá a entender um trabalho com maior qualidade e menor cariz artesanal nas obras produzidas no período em estudo, quando comparadas com anos mais remotos. Assim, não é de excluir que os fenómenos da mecanização, que provocaram alterações nos mercados livreiros de outros quadrantes geográficos também tenham afetado Portugal, nomeadamente Lisboa. Com efeito, como já se referiu, em alguns anúncios pode-se constatar a existência de tipografias a vapor, ou até mesmo eletrificadas, associadas a livrarias e editoras, o que significa que, embora seja difícil conhecer a extensão e o grau de modernização que lhes estava associado, os desenvolvimentos tecnológicos tipográficos do século XIX não passaram ao lado da produção de livros em Lisboa101.

Por outro lado, os catálogos que referem a data da edição das obras, e embora não se tenham recolhido dados quantitativos explícitos, dão a clara indicação de que há em circulação muitos livros já com algumas décadas, quando não mesmo exemplares do século XVIII. Quer isto dizer que, embora a designação de “alfarrabista” exista e surja comercialmente, ainda que poucas vezes, os livreiros estudados não têm pejo em vender obras que hodiernamente seriam consideradas como pertença exclusiva desse mercado. Este fenómeno também contribuiria para a permanência do livro como objeto cuja influência cultural se faz sentir bem para além do seu aparecimento como novidade. Ou seja, as questões transportadas pelo mercado livreiro e as temáticas por si abordadas, se 100 Por comparação com as cifras indicadas em GUEDES, Fernando – Livros e leitura na primeira metade do século XIX, p. 124.

101 Para uma descrição deste tipo de avanços, ainda que no caso de França, veja-se, para a primeira metade do século XIX, CHARLET, Louis; RANC, Robert – L’évolution des techniques de 1820 à 1865. In BELLANGER, Claude; GODECHOT, Jacques; GUIRAL, Pierre; et al. (eds.) – Histoire Générale de la Presse Française. Paris: Presses Universitaires de France, 1969. Vol. 2, p. 13–26 e, para a segunda, CHARLET, Louis; RANC, Robert – L’évolution des techniques de 1865 à 1945. In BELLANGER, Claude; GODECHOT, Jacques; GUIRAL, Pierre; et al. (eds.) – Histoire Générale de la Presse Française. Paris: Presses Universitaires de France, 1972. Vol. 3, p. 61–103. Para o caso americano e para o mesmo período veja-se EMERY, Edwin – The press and America: an interpretative history of the mass media, p. 160–162; 201–203; 337–344.

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bem que não ignorem as preocupações do momento, têm um arco temporal mais alargado do que o da imprensa periódica e do mercado livreiro hodierno.

Outra constatação que se impõe é que, com efeito, o número de catálogos que até nós chegaram é relativamente baixo, comparativamente com a totalidade do mercado livreiro que conseguimos apurar. Como já se referiu, é difícil saber se existiriam mais catálogos, que simplesmente não foram conservados, ou se, de facto, tal era uma prática pouco difundida, dado o custo de produção dos mesmos. Contudo, o facto de se poder aferir da existência de uma livraria fora do período em que os seus catálogos foram recolhidos, como o caso das livrarias que têm catálogos apenas na última década do século XIX e que continuam ainda ativas em, pelo menos, 1905, dá a entender que algum deste material se perdeu entretanto102. Ainda assim, é de assinalar a notável clivagem existente entre o século XIX e XX, no que aos catálogos diz respeito. Se conjugarmos este dado com o da expansão do mercado livreiro, sobretudo no panorama editorial, tudo parece indicar que, mesmo que alguns catálogos se tenham perdido, a primeira década do século XX é mais profícua na produção de instrumentos deste tipo.

Uma vez que a maioria dos catálogos foi produzido por livrarias, pode-se concluir que seria este tipo de estabelecimentos, que atuam, como é sabido, do lado da distribuição, os que mais recorriam a este meio publicitário e de divulgação. Contudo, ele estava longe de ser um exclusivo daquelas, na medida em que todas as tipologias estudadas se encontram representadas no universo dos catálogos, dando a entender a pertinência e transversalidade destes.

102 Também Henrique Marques, nas suas memórias, refere ter sido o responsável pela elaboração do catálogo da Parceria António Maria Pereira de 1898, sendo que, contudo, não se conseguiu localizar esta publicação. De resto, o seu relato parece indicar que foi necessário um período bastante longo para a elaboração do referido catálogo: «no meu regresso a Lisboa, em 1894, [António Maria] Pereira encarregou-me de vários serviços próprios das minhas habilitações, sendo um deles a elaboração de um catálogo das obras que a sua livraria possuía e que é o que se publicou em 1898, e que se intitula Catalogo ilustrado das edições e obras de fundo, e sortimento» (MARQUES, Henrique – Memórias de um editor, p. 204–205).

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