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Para uma tipologia do livro religioso

No documento O MERCADO EDITORIAL DEL (páginas 67-95)

A análise realizada sobre o mercado livreiro lisboeta, nomeadamente a parte que concerne aos catálogos, deixou em aberto a pergunta pelo conteúdo dos mesmos, a qual permitiria perceber que tipo de publicações é que se vendia e de que modo estas se conjugariam com as problemáticas do período em análise. Ou seja, conforme se foi delineando no primeiro capítulo, a edição de livros não deve ser dissociada do entorno social que os vê nascer, por muito que este não seja aferido e identificado através de instrumentos sociológicos, tal como parece suceder no espaço cronológico e geográfico em análise. Do mesmo modo, o mercado livreiro não vivia num mundo distinto do de outros setores comerciais, estando sujeito aos mecanismos da oferta e da procura, ainda que estes não fossem os únicos a determinar os motivos pelos quais se procedia à edição e, por conseguinte, comercialização de livros.

Contudo, dado o exaustivo acervo de publicações que se pode encontrar referido nos catálogos, seria praticamente impossível a recolha de todos os títulos dos mesmos, bem como dos outros detalhes que poderiam ser disponibilizados, como autores ou datas de impressão. Assim, optou-se por tomar como ângulo de análise um tipo específico de livros: o “livro religioso”. Se outras opções teriam sido viáveis, como a análise dos romances103, ou das publicações associadas a determinado quadrante político, como o republicano, a escolha efetuada é pertinente, na medida em que a questão religiosa está presente noutras fontes, como a imprensa periódica104, ou os debates parlamentares105, o que faz supor que ela também encontre acolhimento no mercado livreiro. Ademais, num país constitucionalmente católico e onde, mesmo do ponto de vista sociológico, uma larga maioria dos cidadãos se revia nessa confissão

103 É o que faz, por exemplo, Martyn Lyons, ao partir dos diversos tipos de romance em circulação na França da primeira metade do século XIX, com o objetivo de aferir dos seus gostos e mundividências. Cf. LYONS, Martyn – Le triomphe du livre, p. 105–128.

104 Embora fora do arco cronológico do presente trabalho, o estudo de Maria Lúcia de Brito Moura sobre a “guerra religiosa” na Primeira República (MOURA, Maria Lúcia de Brito – A guerra religiosa na I República. 2a ed. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa - UCP, 2010) é um bom exemplo de como as mais diversas problemáticas religiosas tinham acolhimento por parte da imprensa periódica, quer aquela local, quer aquela com um âmbito mais nacional. Por outro lado, o próprio catolicismo não era alheio às dinâmicas dos periódicos, possuindo publicações deste tipo, tal como outros grupos sociais. Para um elenco deste tipo de escritos ver AZEVEDO, Joaquim; RAMOS, José – Inventário da imprensa católica entre 1820 e 1910. Lusitania Sacra. Vol. 3 (1991), p. 215–264.

105 Para um estudo da “questão religiosa” no parlamento durante a época em estudo, ver NETO, Vítor –

A questão religiosa no Parlamento: 1821-1910. Lisboa: Assembleia da República / Texto Editores, 2010.

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religiosa, é natural presumir que haja mercado para publicações deste tipo no espaço geográfico da capital. Por outro lado, as questões de índole religiosa estão intimamente imbrincadas com outras de cariz social e político106, constituindo, portanto, um sólido elemento de análise historiográfica da sociedade portuguesa em aspetos como a criação de vínculos, estabelecimento de pertenças e construção de identidades.

De referir ainda que “livro religioso” não deve ser reduzido a “teologia”, uma vez que este segundo tipo de publicações possui um grau de especialização assinalável, o que faz com que não sejam produtos que possam ser destinados a um grande público, sendo que esta está longe de ser uma característica do século XIX107. Isto não quer dizer que as publicações de índole religiosa não tenham elementos teológicos que lhes estão associados, tal como um romance veicula visões sobre a sociedade, sem que tenha, como tal, que considerar-se um livro de sociologia.

Um outro aspeto que deve ser indicado e que resulta desta abrangência do campo do religioso é que ele não é, nem poderia ser, totalmente uniforme. Surgiu, por isso, a necessidade de criar uma categorização que servisse como sustentáculo da análise realizada e que permitisse uma visão mais fina do universo em questão. Com efeito, com um número total de publicações na ordem da dezena de milhar de títulos e com uma percentagem significativa destes de índole religiosa, seria praticamente impossível consultar com detalhe todas as publicações presentes nos catálogos, mesmo partindo do princípio que estas seriam acessíveis. Assim, optou-se por desenhar uma categorização que permitisse a catalogação das obras de índole religiosa apenas pelo título, que é o único elemento que está sempre presente em todos os catálogos que foram consultados108. Devido a estas condicionantes, o estabelecimento de um instrumento deste género não coincide com o de uma catalogação de âmbito bibliográfico, uma vez que esta pode apresentar outro tipo de fronteiras e é pensada para ser operativa no âmbito da biblioteconomia, que pode contar com uma análise mais fina e detalhada do

106 Sobre a interpenetração destas três “questões”, ver CATROGA, Fernando – O laicismo e a questão religiosa em Portugal, p. 211–218.

107 A pequena clientela para obras deste género é também referida em LYONS, Martyn – Le triomphe

du livre, p. 97.

108 O exercício que se pretende realizar será semelhante ao que Franco Moretti entende por “distant

reading”, no sentido em que a análise que se faz dos textos não parte da leitura integral de um pequeno cânone, mas sim da análise de um conjunto o mais alargado possível de textos (Cf. MORETTI, Franco – Conjectures on World Literature. New Left Review. Vol. 1 (2000), p. 56–58). Difere, contudo, do entendimento deste, no sentido em que não se procura fazer um estudo literário enquanto tal que se baseie somente nas análises já realizadas por outros, mas sim nas próprias obras produzidas no período em estudo.

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conteúdo das obras. Por outro lado, trabalhos deste tipo para o domínio do livro religioso não abundam, pelo que se teve que elaborar uma categorização sem contar com um apoio bibliográfico direto muito grande.

Ainda assim, há alguns trabalhos que se tiveram em consideração. Um primeiro contributo, da autoria de Marcel Lajounesse, ao tratar da edição de livros religiosos no Québec do século XX, propõe uma divisão quadriforme deste tipo de publicações: livro de divulgação, que engloba a espiritualidade, a oração e as vidas de santos; livro bíblico; publicações pastorais que têm diretamente a ver com a liturgia; livro teológico109. Referência também importante, embora algo marginal, é a do artigo liderado por Jacques Dane, que indica como livros religiosos aqueles que têm como tema a teologia, a liturgia, matérias devocionais, ou que contribuem para preparar os sacramentos110. Yvan Cloutier propõe uma dupla definição de livro religioso: uma mais estrita, como sendo «o conjunto das edições cujos títulos têm uma conotação religiosa explícita: espiritualidade, Bíblia, moral, teologia, livros de oração, etc.»; uma mais alargada, que engloba «todo o título produzido dentro de uma visão evangelizadora, sem ter em conta a conotação religiosa explícita do seu conteúdo. A finalidade visada pelo editor determina a pertença de um livro ao campo religioso»111. Estas categorizações, contudo, não exibem nem um nível de detalhe muito alto, nem têm como foco o arco cronológico em estudo, pelo que se achou necessário a elaboração de raiz de um instrumento de análise. Ademais, a visão sobre o campo cultural do religioso que apresentam parece ser algo restritiva, na medida em que nenhuma delas contempla a possibilidade deste campo incluir também escritos que são produzidos com teor anti-confessional manifesto, ou que têm como objetivo discutir o papel do religioso na sociedade de uma forma mais ampla.

A tipologia elaborada divide em sete o campo do livro religioso e tem, sobretudo, uma índole temática, secundarizando, por isso, outros fatores como a

109 Cf. LAJEUNESSE, Marcel – Le livre religieux au Québec, 1968-2007: analyse des données de l’édition. SCHEC, Études d’histoire religieuse. Vol. 76 (2010), p. 35. Embora se tenha recolhido a divisão referida deste artigo, ela é da autoria de Michel Lessard.

110 Cf. DANE, Jacques; GHONEM-WOETS, Karen; GHESQUIÈRE, Rita; et al. – For Religion, Education and Literature: a Comparative Study of Changes in the Strategy and Profile of Traditionally Religious Publishing Houses in Belgium and the Netherlands in the Twentieth Century. Paedagogica Historica. Vol. 42, n.o 6 (2006), p. 713.

111 CLOUTIER, Yvan – Les communautés éditrices et l’avenir du livre religieux. In MICHON, Jacques; MOLLIER, Jean-Yves (eds.) – Les mutations du livre et de l’édition dans le monde du XVIIIe siècle à l’an 2000. Saint-Nicolas (Québec): Université Laval, 2001, p. 422. As traduções são da nossa autoria.

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cronologia das obras ou o público-alvo a que elas se destinariam. Assim, as sete divisões correspondem a “teologia”, “devocional e litúrgico”, “espiritualidade”, “apologética e polémica”, “institucional e pastoral”, “sagrada escritura”, “história e património”. A abrangência das categorias revela, por si só, o vasto campo de análise a que ela se reporta, o que indica que seria possível uma subcategorização com alguma relevância, sendo que esta foi elaborada apenas como ferramenta de trabalho e não será utilizada para retirar conclusões, devido à natural proximidade interna das subcategorias e ao facto de não se possuirem dados que permitissem desambiguar devidamente todas as dúvidas que pudessem surgir da sua eventual aplicação. Ter-se-á sobretudo atenção às divisões de livros tal como se poderiam estabelecer à época, ainda que, em alguns casos, os desenvolvimentos posteriores no campo do religioso possam também influir.

O objetivo deste capítulo, por conseguinte será o de, em primeiro lugar, delinear as fronteiras do instrumento de análise aplicado, procurando apresentar as divisões de cada categoria considerada, bem como a sua unidade interna. Este primeiro momento permite que, posteriormente, seja possível a aplicação das tipologias estabelecidas aos catálogos consultados, com o objetivo de perceber não só a quantidade de obras que podem ser consideradas como “livro religioso”, mas também, dentro deste, quais os tipos de edições que estavam mais disponíveis no contexto histórico e geográfico em análise.

Deste modo será posteriormente possível escolher e analisar, a partir das tipologias mais representativas, algumas obras que permitam ilustrar a ligação entre publicações e questões sociais.

Tipos de publicações de índole religiosa

Proceder-se-á, de seguida, ao desdobramento de cada uma das categorias nos seus elementos mais básicos, apresentando também as razões que justificam quer a sua autonomia, quer a sua unidade interna. O objetivo é o de descrever uma ferramenta que serviu como meio de acesso aos catálogos, caracterizando os seus limites e fronteiras, quer internos, quer externos.

Teologia

Esta categoria contempla o seguinte tipo de livros: dogmática; exegética; direito canónico; direito eclesiástico.

O primeiro género de escritos caracteriza-se pelo caráter especulativo da reflexão, associada aos dogmas da Igreja. Está sobretudo ligado à fundamentação filosófica e teológica dos pressupostos que servem de base à reflexão característica deste último ramo do saber112.

O segundo caso, exegética, agrupa um conjunto de títulos que se debruçam sobre a Bíblia, procurando discutir quais as traduções e o sentido que os diversos passos podem ter, convocando, para tal, uma série de metodologias, que vão desde o estudo das origens do escrito e dos eventuais estratos históricos, até à análise da literariedade dos mesmos113.

Nos dois últimos casos, a nota dominante é o facto de se tratar de publicações que dizem respeito ao direito e, portanto, à normatividade, distinguindo-as os objetivos e destinatários desta. Assim, o direito canónico remete, sobretudo, para a organização intraeclesial e para o modo como a hierarquia e os fiéis se devem relacionar, procurando dirimir conflitos sobretudo no foro interno114.

A outra subcategoria, direito eclesiástico, aponta para um volume de escritos, produzido pelos governos dos estados, sobretudo aqueles confessionais, como o caso português, que têm como objetivo regular a presença da Igreja na sociedade, os limites legítimos desta e o modo como ela deve interagir com os restantes órgãos de poder e de

112 Para uma definição de teologia operativa neste contexto ver: RAHNER, Karl – Teologia. In RAHNER, Karl (ed.) – Sacramentum Mundi. Barcelona: Herder, 1976. Vol. 6, p. 530–563, sobretudo p. 532-540. No contexto das temáticas teológicas oitocentistas, veja-se, por exemplo, a Explicação do Syllabus, opúsculo escrito com o objetivo de explicar o Syllabus errorum, documento promulgado por Pio IX em 1864, contendo proposições supostamente defendidas por autores contemporâneos e condenadas pela Igreja (Cf. DIAS, Eugénio Vicente (trad.) – O syllabus justificado ou explicação do syllabus segundo a theologia, a rasão e o bom senso. Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira & C.a, 1876).

113 Embora uma boa parte dos métodos exegéticos que compõem hodiernamente este ramo da teologia não se encontrem estabelecidos no período cronológico em estudo, a exegese, num sentido mais lato, enquanto interpretação do texto bíblico é algo que sempre esteve presente ao longo da história do cristianismo. Sobre os diversos métodos, os autores a eles ligados e o modo como vão temporalmente surgindo, ver HARVEY, Anthony E. – Exégèse. In Dictionaire Critique de la Théologie. Paris: Presses Universitaires de France, 1998, p. 447–449. De referir, no entanto, que os chamados métodos histórico- críticos, que procuram fazer uma análise do texto sagrado tendo em conta o contexto histórico e social em que foram escritos, eram já amplamente usados, sobretudo em contexto alemão, e iriam provocar importantes fraturas no campo teológico e cultural praticamente até, pelo menos, ao Concílio Vaticano II.

114 Se é certo que a Igreja Católica apenas procurará adotar uma codificação com sentido universal aquando da publicação do primeiro código de Direito Canónico em 1917, tal não significa que, anteriormente, não existissem elementos normativos, com diversas proveniências e, por conseguinte, com importâncias diferenciadas (Cf. DAHYOT-DOLIVET, Jehan – Précis d’histoire du droit canonique: fondement et evolution. Roma: Libreria Editrice Vaticana / Libreria Editrice Lateranense, 1984, p. 155– 161). Como exemplo deste tipo de livros, veja-se SCHENKL, Amaro de – Institutiones Juris Ecclesiastici Germaniae imprimis et Bavariae accommodatae. Coimbra: Typis Academicis, 1874.

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soberania115. Deve-se ter em atenção, contudo, que, em Portugal, o direito eclesiástico não se limitava ao foro normativo externo, implicando também as normativas internas à própria eclesialidade. Ou seja, a confessionalização do Estado implicava que este tinha legitimidade para intervir e legislar em matérias da jurisdição interna da Igreja, o que conduzia, por exemplo, a uma multiplicidade de funções distintas atribuídas ao clero paroquial116.

A unidade desta categoria é dada pelo teor especializado deste tipo de escritos. Quer isto dizer que o seu público não tende a ser muito alargado, uma vez que requere um maior grau de escolaridade, predisposição para estas temáticas e uma iniciação às mesmas, dada a tecnicidade de muitas destas matérias. Por outro lado, os assuntos tratados, embora não tenham que se restringir ao meio escolar, estão próximos dos conteúdos lecionados nos institutos de formação do clero, por onde passava muita gente que não seguia carreira eclesiástica. Tal ajuda a diluir a restrita abrangência e alcance que estas temáticas teriam no período em estudo.

Devocional e litúrgico

À categoria “devocional e litúrgico” pertence o seguinte tipo de livros: missais (ou livros de missa); livros de oração; devocionários; sermões.

O primeiro conjunto de escritos, bastante publicitado no contexto do livro religioso, refere-se a um tipo de publicações cujo objetivo é o de permitir que os fiéis acompanhem o desenrolar das missas, ou que o clero as celebre. Dada a estrutura que esta celebração então tinha, devido ao facto de se usar o latim no decorrer da mesma,

115 Não se pretende, contudo, entrar na discussão técnica acerca dos limites do direito eclesiástico, que pode englobar, ou não, o direito canónico, uma vez que ambos os tipos de obras foram classificados dentro da mesma tipologia. Ainda assim, uma possível definição concerne sobretudo ao direito eclesiástico civil, que «abrange só as normas estabelecidas pelo Estado a respeito da Igreja» (SOUSA, José Ferreira Marnoco e – Direito ecclesiástico português: prelecções feitas ao curso do terceiro anno jurídico do anno de 1909-1910. Coimbra: Tip. França Amado, 1910, p. 69). Um outro entendimento mais genérico, que inclui o direito canónico dentro do eclesiástico está na base de uma outra obra, de referência para a época, compendiada inicialmente por Bernardino Joaquim da Silva Carneiro e postumamente revista e corrigida por José Pereira de Paiva Pitta (Cf. CARNEIRO, Bernardino J. da S.; PITA, José Pereira Paiva – Elementos de direito ecclesiastico portuguez e seu respectivo processo. 4a ed. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1888). Deve-se, no entanto, ter em atenção que, no caso português, uma parte da legislação canónica – como o caso das determinações tridentinas – foi subsumida pela legislação régia como “leis do Reino”, o que o aproxima mais da posição expressa nesta segunda obra.

116 Para o elenco destas atribuições veja-se PINTO, Sérgio Ribeiro – O pároco, funcionário do Estado Liberal: alguns aspectos fundamentais. In O eterno retorno: estudos em homenagem a António Reis. Lisboa: Campo da Comunicação, 2013, p. 215–222.

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este tipo de instrumentos era necessário para que pudesse haver participação das pessoas que não fossem clérigos, mas que soubessem ler117.

O segundo tipo de livros tinha como âmbito a oração privada, procurando promover diversas formas de piedade e divulgar fórmulas que, posteriormente, podiam ser repetidas e inclusivamente ensinadas a outros118.

Os devocionários, embora tenham um objetivo semelhante, distinguem-se destes pelo facto de conjugarem as diversas formulações em torno de uma devoção particular. Ou seja, são orações cujo relevo é dado ao conjunto, mais do que ao valor particular de cada uma delas. Estabelece-se assim, por vezes, uma frequência temporal associada à devoção, procurando marcar a vida do crente não apenas no espaço, mas também no tempo119. A divulgação deste tipo de escritos recorrendo aos instrumentos da indústria tipográfica visava ainda dar uma publicidade às devoções, que permitiria a criação de identidades religiosas em torno delas120.

O quarto tipo de escritos, os sermões, não se trata de orações em sentido estrito. Contudo, o seu lugar primigénio é o das celebrações litúrgicas, como missas ou funerais. Com efeito, as chamadas orações fúnebres eram frequentemente publicadas e difundidas. Algumas destas composições constituem verdadeiras peças de oratória cuja utilidade iria, por isso, para além da replicação dos seus conteúdos em contextos

117 Este tipo de livros teria sobretudo um caráter pessoalizado, o que se depreende pelas características das edições que foram consultadas (Livro abreviado da missa e da confissão e outras orações: edição feita sobre a do prior d’Abrantes. Paris: Antiga Casa Morizot), tais como a sua pequena dimensão, ou as encadernações cuidadas. Quanto a este segundo aspeto, as múltiplas opções de encadernação, adicionam um lado estético e não meramente funcional a estas publicações. A participação podia tomar o formato de determinadas orações que deviam ser recitadas interiormente durante os diversos momentos da celebração.

118 Como exemplo de um escrito deste género pode-se elencar GUIMARÃES, Delfim – Evangelho:

livro de orações. Lisboa: Casa Bertrand, 1895, composto por orações sob a forma de versos.

119 Tal é o caso das “novenas”, uma das formas mais difundidas de devoção. Nestas, durante nove dias, procura-se estabelecer uma cadência de orações em torno de um determinado tema religioso, que pode ser um santo, alguma das cenas da vida de Cristo, uma das invocações de Nossa Senhora, etc. Como exemplo deste tipo de escritos pode-se apontar Novena da Conceição Immaculada da Virgem Maria Senhora nossa. 6a ed. Lisboa: Livraria Catholica, 1896. Está aqui em jogo a criação de universos de representação

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