Evolução do Ensino Médio no Rio Grande do Sul

Ao analisar a evolução do Ensino Médio no RS foco, principalmente, o período compreendido pelos três governos pesquisados (2003 a 2014). A realidade do Ensino Médio no Rio Grande do Sul, em certos aspectos, corresponde à realidade do sistema educacional brasileiro. Contudo, a partir da responsabilização dos Estados pelo Ensino Médio, as políticas públicas estaduais, voltadas para essa etapa de formação dos estudantes, passam a ter importância fundamental.

Considerando as matrículas da Educação Básica do Estado do RS (tabela 11) distribuídas entre Fundamental e Médio, no ano de 2014, alguns aspectos são importantes de serem destacados. Levando em consideração que existem 1.367.027

matrículas no Ensino Fundamental e que no Médio são 396.332, existe uma lacuna enorme de possibilidade de os estudantes seguirem seus estudos (1.367.027 – 396.332 = 970.695). Ainda que existam vagas em modalidades de educação profissional, regular ou não (99.524) e EJA de Ensino Médio (141.615) totalizando 241.139, a discrepância ainda é muito grande (970.695 – 241.139 = 729.556). Ainda que todos os matriculados dessem sequência aos seus estudos o deslocamento dessa massa de estudantes não encontraria vagas suficientes para os períodos subsequentes.

Tabela 11 – Matrícula Inicial por Etapas e/ou Modalidades de Ensino no Rio Grande do Sul 2003 e 2014

Dependência Administrativa

Quantidade de Matrícula Inicial na Educação Básica Ensino Fundamental Ensino Médio Total

2003 2014 2003 2014 2003 2014 Estadual 822.798 556.556 416.409 334.829 1.239.132 891.385 Federal 1.244 1.260 5.907 11.138 7.151 12.398 Municipal 731.738 660.521 6.512 5.563 738.250 666.094 Particular 136.854 148.690 61.165 44.802 198.019 193.492 Total 1.692.432 1.367.027 489.993 396.332 2.184.555 1.763.359 Fonte: INEP (2003; 2014).34

Conforme se observa a proporção de vagas do Ensino Médio no âmbito federal apresentou incrementos, em função da criação dos Institutos Federais. Esse fato deve ser considerado, ainda que a representatividade não seja muito significativa. No total de vagas as reduções acontecem ainda em função da alteração da pirâmide etária brasileira, com sucessivas reduções nas taxas de fecundidade. Com isso, ainda novos reflexos na redução populacional vão ser observados ao longo do tempo. Considerando que houve uma redução do número de matrículas, esse fato também atinge a escola privada. No entanto, considerando a representação percentual de matrículas em escolas públicas em 2013 a participação era de 9,06%, passando para 10,97% em 2014, ou seja, a redução aconteceu mais na escola pública. Parte das variações dos resultados dos indicadores é resultante dessas considerações feitas anteriormente. Essa etapa do sistema educacional brasileiro tem sido constantemente desassistida. Em consequência disso, apresenta mais problemas.

34 _{Não inclui matrículas de Atividade Complementar e matrículas de Atendimento Educacional}

Especializado; Ensino Médio inclui matrículas do Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e do Ensino Médio Normal/Magistério, em função disso algumas somas divergem.

Os dados do Ensino Médio, no Rio Grande do Sul (tabela 12) expressam o número de matrículas dos estudantes nesse nível de ensino, bem como as taxas de atendimento e de matrícula líquida. Entre 2002 e 2004 a quantidade de matrículas obteve um acréscimo de 7,69%. No mesmo período a taxa de atendimento, que representa o percentual da população em idade escolar que frequenta a escola passou de 74,70% para 81,90% (acréscimo de 7,2 pontos percentuais).

Esse indicador precisa ser relativizado, pois se considerarmos a faixa de idade de 15 a 17 anos temos pessoas que estão em defasagem idade-série na educação fundamental e ainda há outros que já se encontram no Ensino Superior. A taxa líquida de matrícula, que apresenta o porcentual da população em determinada faixa etária que se encontra matriculada no nível de ensino adequado à sua idade, o incremento foi de 8,9 pontos percentuais no período 2002-2014. De modo geral, independente de governo os indicadores apresentaram pouca melhoria nos seus resultados.

Tabela 12 – Porcentagem de jovens de 15 a 17 anos atendidos e taxa líquida de matrícula, no Ensino Médio do Rio Grande do Sul 2001-201435

Anos Número de matrículas Taxa de atendimento Taxa líquida de matrícula

2002 395.555 74,70% 50,30% 2003 414.935 77,30% 52,80% 2004 405.368 78,40% 56,40% 2005 399.968 77,30% 53,10% 2006 390.706 77,40% 55,30% 2007 391.419 77,60% 53,80% 2008 396.938 79,00% 55,60% 2009 433.203 81,30% 55,80% 2011 397.040 80,40% 55,30% 2012 415.394 78,20% 54,30% 2013 425.954 81,90% 58,70% 2014 406.845 80,40% 59,20% Fonte: INEP (2001; 2014).

A taxa de defasagem idade-série, considerando a escola pública e a privada (tabela 13) no Rio Grande do Sul indica uma diferença significativa entre as redes. Enquanto que na rede pública gira em torno de 30%, na rede privada fica em 5%. As diferenças encontradas têm se reduzido ao longo do tempo, ainda de modo lento. O fato expressa a distorção existente entre os perfis de estudantes das duas redes e remete à ideia de que o problema da defasagem esteja relacionado a uma camada da

população de menor poder aquisitivo, por sofrerem mais adversidades. Tendem a parar de estudar, ingressarem com idade além da indicada.

Pode, ainda, revelar que as reprovações na rede privada sejam em menor expressividade, gerando um manancial menor de estudantes na condição de defasagem. De qualquer forma, como existe uma relação entre a taxa de defasagem e os resultados das taxas de abandono e reprovação escolar, a escola privada tem um quadro mais favorável no seu desempenho por meio desses indicadores.

Tabela 13 – Taxa de defasagem idade-série, no Ensino Médio do Rio Grande do Sul, por tipo de rede 2006-2014

Anos Escola Pública Escola Privada

2006 38,50% 5,80% 2007 37,10% 5,90% 2008 37,00% 5,70% 2009 35,30% 5,90% 2010 33,60% 5,40% 2011 32,50% 5,30% 2012 32,70% 5,20% 2013 31,20% 4,90% 2014 29,40% 5,00% Fonte: INEP (2006; 2014).

Outro fato que reforça a discrepância existente entre as duas redes de ensino é com relação ao percentual de matrículas no Ensino Médio noturno (tabela 14). O aluno do noturno, em grande parte, está em defasagem idade-série. Com isso, explica-se o fato de que as taxas de defasagem da rede pública serem superiores à privada, em função do número de matrículas do noturno na rede pública.

Em realidade, as escolas públicas e privadas atendem a um perfil de alunado muito diferente. Enquanto na escola privada a instituição de ensino escolhe o perfil de aluno que quer atender, a escola pública não faz nenhum tipo de restrição dos alunos e das famílias para democratizar o acesso a todos ao sistema educacional. Com isso, a escola pública e a privada, por vários motivos, não são passíveis de comparação.

Tabela 14 – Taxa de defasagem idade-série, no Ensino Médio noturno no Rio Grande do Sul, por rede de ensino 2006-2014

Anos Escola Pública Escola Privada

2006 38,50% 5,80%

2007 37,10% 5,90%

Anos Escola Pública Escola Privada 2009 35,30% 5,90% 2010 33,60% 5,40% 2011 32,11% 5,30% 2012 32,70% 5,20% 2013 31,20% 4,90% 2014 29,40% 5,00% Fonte: INEP (2007-2014).

Os resultados do ENEM, em escolas de Ensino Médio em Porto Alegre também revelam diferenças entre os resultados médios obtidos. Conforme mostra a tabela 15, o desempenho das escolas tem diferenças conforme a sua natureza. Como discutido anteriormente, apenas observar esses resultados sem contextualizar as demais condições de cada escola é fazer uma análise simplista da realidade observada. Contudo, é interessante observar que a diferença mais significativa se encontra no resultado da área da matemática e de redação, que são as áreas prioritárias na avaliação do IDEB. Se considerarmos também o sistema público os melhores desempenhos são no âmbito federal, depois o municipal, e, por fim, o estadual. Também é importante destacar que a rede estadual tem a maior parte das escolas públicas, em função da redistribuição da responsabilização pelos níveis de ensino no Brasil.

Tabela 15 – Resultados médios do ENEM por tipo de escola de Ensino Médio, em Porto Alegre 2012

Tipo de Escola Matemática Ciências da Natureza

Ciências

Humanas Linguagens Redação Pública Federal 625,24 547,76 590,00 545,08 613,07 Pública Estadual 491,18 457,94 506,94 480,71 491,41 Pública Municipal 546,73 487,79 539,47 513,23 533,48

Privada 615,07 541,28 583,94 544,52 602,16

Fonte: INEP (2012).