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4 A EDUCAÇÃO SUPERIOR EM CAMPINA GRANDE-PB

4.3 Indicadores acadêmicos

4.3.5 Evolução do Número de Abandono

Para o cálculo e análise do abandono no ensino superior de Campina Grande- PB, tomamos como base o modelo desenvolvido por Castelo Branco, Jezine

e Nakamura (2016, p.278)19 que tem, como referência, os dados do número de matrículas esperadas e o número de matrículas efetuadas. A partir dos cálculos podemos chegar aos dados apresentados na Tabela 05, a seguir.

Por meio da Tabela 05, verificamos a evolução quantitativa de abandono, por categoria administrativa, do Ensino Superior em Campina Grande-PB, no período de 2008 a 2014.

Tabela 05 – Evolução do Número de Abandono

ABANDONO

ANO PARTICULAR FEDERAL ESTADUAL

2008 641 474 1929 2009 1442 1294 4608 2010 1861 520 -609 2011 944 1139 -2076 2012 1145 1945 596 2013 856 1629 2031 2014 875 2298 1025

Fonte: Censo da Educação Superior (MEC/INEP) – 2008/2014

Justificamos que a análise passou a ser feita a partir de 2008, porque o cálculo para este ano utiliza os dados do ano anterior (2007). Em função da constatação de inconsistência no comportamento dos dados, também não foram analisados os dados de abandono dos anos de 2009 a 2011 do setor público estadual, destacados em vermelho na tabela.

Verificamos, na Tabela 05, que, no ano de 2008, ocorreram 3.044 abandonos no ensino superior de Campina Grande-PB, envolvendo tanto o setor público (federal e estadual) quanto o setor privado, mas com predominância do setor público estadual. Do total geral do número de abandono da educação superior em Campina Grande-PB, em 2008, o setor privado foi responsável por 21,06%, o setor público,

19 Assim definido: A = Me – M Onde: Me = M – C + I i i i i i-1 i-1 i

sendo: Ai = Abandono no ano i; Mei = Matrícula esperada no ano i; Mi = Matrícula no ano i; Ci = Concluintes no ano i e Ii = Ingressos no ano i.

categoria federal, por 15,57% e a categoria estadual por 63,37%. No ano de 2014, foram 4.198 abandonos, tendo um crescimento de 37,91% em relação ao ano de 2008. Em 2014, o setor privado representou 20,84% do total geral do número de abandono em Campina Grande-PB, o setor público federal representou 54,74% e o setor público estadual, 24,42%.

Atentamos que o número de abandono no setor privado, entre 2008 e 2014, cresceu 36,50%, mesmo com a retração nos anos de 2011, 2013 e 2014, passando de 641, em 2008, para 875 em 2014. No setor público, categoria federal, constatamos que houve um crescimento expressivo, quase que quintuplicou o número de abandono em relação a 2008, mesmo com o recuo em 2010, passando de 474 para 2.298 em 2014, um aumento de 384,81%. Já na categoria estadual, houve um decréscimo de 46,86%, o número de abandono passou de 1.929, em 2008, para 1.025, em 2014.

Em 2009, no setor privado, houve um acréscimo no número de abandono de 124,96% em relação a 2008. No ano seguinte, 2010, verificamos, nesse setor, outro acréscimo no número de abandono de 29,06% em relação ao ano anterior. A crise financeira internacional de 2008 que afetou o Brasil, e que provavelmente, tenha levado ao decréscimo do número de concluintes em 2009, pode ter ocasionado o crescimento do número de alunos que abandonaram o ensino superior nos anos seguintes, ou seja, 2009 e 2010.

No ano de 2011 houve um decréscimo de 97,14% no abandono no setor privado em relação a 2010. Já em 2012, é possível evidenciar que houve um acréscimo de 21,29% no número de abandono em relação ao ano de 2011. Percebemos que, em 2013, houve uma queda acentuada no número de abandono de 33,76% em relação ao ano de 2012. Em 2014, houve um ínfimo crescimento no número de abandono de estudantes nesse setor em relação a 2013.

Dentre as observações que podemos fazer é que essa retração no número de abandono de alunos, nos anos 2013 e 2014, no setor privado, pode ser devida a uma forte influência da expansão do Fies que decorreu das mudanças ocorridas no ano de 2010. Sabemos que um dos principais problemas nas IES privadas é a inadimplência e, possivelmente, as mudanças no Fies fizeram com que os estudantes beneficiários desse programa, mesmo aqueles que não conseguiram terminar seu curso no tempo previsto, permanecessem na IES, baixando o número

de abandono. Outros fatores que podem ter influenciado a retração no número de abandono de alunos nos anos de 2013 e 2014 foram o aumento no número de beneficiados pelo ProUni e o aumento no número de financiamento da IES não reembolsável (Tabela 06). Ressaltamos que o número de matrículas efetuadas no setor privado, nesse período, foi bastante expressivo (Tabela 03).

Em relação ao setor público federal, em 2009, ocorreu um acréscimo no número de abandono de 173% em relação a 2008. Vale salientarmos que do total do número de matriculados nesse setor em Campina Grande-PB, apenas 11,36% foram contemplados com algum tipo de assistência estudantil, o que pode ter influenciado o crescimento do número de abandono no ano de 2009 (Tabela 07).

Em 2010, o número de abandono no setor público federal sofreu uma retração de 59,81% em relação a 2009. Nesse ano, foi regulamentado o PNAES que abrangeu tanto a UFCG como o IFPB, tendo aumentado o percentual de estudantes beneficiados pela assistência estudantil para 22,34%, o que pode ter gerado uma grande expectativa por parte dos estudantes, propiciando maior confiança no sistema.

A partir de 2011, é notório o crescimento do número de abandono por parte do setor público federal, apresentando um pequeno recuo em 2013. Esse crescimento relevante, provavelmente, está relacionado à ampliação de vagas e, consequentemente, ao crescimento no número de matrículas efetuadas através da institucionalização do REUNI na UFCG e da criação de novos cursos no IFPB a partir de 2009. Essa expansão é ainda mais evidenciada pelo crescimento do número de matrículas efetuadas que passou de 5.395 em 2007, para 8.123, em 2014 (Tabela 03).

A expansão do número de vagas e de matrículas efetuadas, provavelmente, contribuiu para que estudantes de baixa renda tivessem acesso ao ensino superior público federal, mas por motivos vários, que não cabe aqui discuti-los, pois não fez parte de nossa pesquisa, esses estudantes abandonaram o ensino superior, apesar de ter aumentado, significativamente, a assistência estudantil nesse período (Tabela 07).

Em 2012, no setor público federal, o crescimento do número de alunos que abandonaram o ensino superior foi de 70,76% em relação ao ano de 2011. Percebemos que, em 2013, houve um declínio de 16,25% em relação ao ano

anterior. A tendência de crescimento do abandono da educação superior se tornou mais acentuada em 2014 com 2.298 abandonos, um crescimento de 41,07% em relação ao ano de 2013. Verificamos, na Tabela 04, que houve um crescimento no número de concluintes do setor público federal nos anos de 2013 e 2014, levando- nos a crer que houve um decréscimo no número de retenção.

Quanto ao setor público estadual, no ano de 2008, foram registrados 1.929 abandonos e, em 2012, esse setor apresentou 596 abandonos. Em 2013, ocorreu um acréscimo de 240,77% no número de abandono em relação a 2012. Vale salientarmos que, em 2013, professores e técnico-administrativos da UEPB entraram em greve, o que pode ter contribuído com esse significativo acréscimo no número de abandono. No ano de 2014, no setor público estadual, houve um decréscimo de 49,53% no número de abandono em relação a 2013.

A partir dos dados obtidos, podemos concluir que o número de abandono no ensino superior em Campina Grande-PB, no período em análise, como um todo, apresentou variações significativas nas três categorias administrativas analisadas, sendo que o setor público federal apresentou o maior índice de abandono. De acordo com Castelo Branco, Jezine e Nakamura (2016, p.280), “O filtro seletivo que ocorria nos processos seletivos somente mudou de lugar: agora deslocado para a trajetória dentro do sistema”, tornando a permanência o grande desafio para a inclusão social.