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CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO DO FENÓMENO DO TURISMO

2.2. A evolução do fenómeno do turismo

Podemos considerar que o desejo de viajar remonta às origens do homem. As primeiras deslocações da população, na pré-história, estão ligadas a causas diversas, nomeadamente à própria sobrevivência humana, caça, catástrofes naturais ou alterações climáticas (Mazón, 2001). Contudo, nunca houve necessidade de identificar, por nenhuma razão em especial, estas pessoas que se movimentavam de um local para outro (Cunha, 2003). Estas deslocações e viagens não configuram o que atualmente designamos de turismo, mas constituíram o embrião do turismo que se desenvolverá ao longo dos séculos até à atualidade.

À medida que o homem transitou para uma situação de sedentarismo a necessidade de mobilidade continuou a existir e as viagens continuaram a ser uma atividade praticada pelas civilizações e povos mais remotos. As viagens converteram-se numa prática comum com o aparecimento de povoações, a necessidade de administrar territórios e estabelecer circuitos comerciais (Castro, 2004).

Na civilização grega as deslocações por motivos culturais, para assistir a espetáculos e atividades de lazer era uma prática comum nas classes mais altas desta civilização da antiguidade clássica. As viagens para assistir às olimpíadas ou ao teatro atraiam grande número de pessoas que, igualmente se deslocavam aos diversos santuários construídos no território grego, nomeadamente Delfos, Epidauro e Eleusis. Estas viagens recreativas,

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ocupação dos tempos livres para conforto físico e espiritual, implicavam a existência de algumas infraestruturas para acolhimento dos viajantes (Blasco, 2001). A cultura Romana, como a Helénica, também cultivou o gosto pelas viagens e atividades ligadas ao lazer. Durante o verão, as viagens ao campo e junto à costa e deslocações pelas terras do império era uma prática comum na elite do mundo romano (Saura, 2006). As deslocações com motivações culturais com o objetivo de visitar locais de interesse histórico e cultural também se destacam nas viagens que os romanos organizavam na época de maior esplendor (Mazón, 2001). A densa rede de caminhos construídos por todo o território, a unidade linguística e elaboração de mapas de caminhos e planos de cidades foram alguns fatores que contribuíram para o fomento das viagens no seio desta civilização. Após a queda do império romano o período da idade média é marcado por grande instabilidade no continente europeu, com guerras, invasões, fome generalizada, e epidemias. Esta insegurança reduz as deslocações e viagens das populações. Nesta época instaura-se um tipo de viagem com motivações religiosas em direção aos grandes centros religiosos da Europa. As peregrinações a Jerusalém, Santiago de Compostela, Roma e Meca são alguns exemplos de deslocações que eram efetuadas neste período da história.

A época renascentista foi um período importante no desenvolvimento do turismo e das viagens, sobretudo comerciais e culturais. A difusão das ideias renascentistas e o espírito de descobrimento, por toda a Europa, favoreceram a deslocações e viagens das pessoas (Blasco, 2001). Entre os séculos XVII e XVIII foi um período em que a realização de viagens por motivações comerciais e lazer se consolidou como um fenómeno na sociedade europeia (Castro, 2004). Existe algum consenso entre os diversos autores em aceitar que os antepassados do turismo moderno remontam a esta época (Mazón, 2001). O reaparecimento e crescimento da prática de viajar deve-se, em grande medida, aos ingleses que muito incentivaram as práticas de viajar. Desde os homens de negócios e diplomatas ingleses que se deslocavam pelos diversos países europeus “foi moda” a realização, pela jovem aristocracia inglesa, de viagens culturais como componente da sua formação académica. Denominadas de “Grand Tour”, já referido anteriormente, estas viagens tinham como objetivos proporcionar educação, visitar e conhecer outros países europeus, especialmente França e Itália e locais de interesse cultural aos jovens estudantes aristocratas ingleses (Blasco, 2001; Cunha, 2003 e Saura, 2006). A “Grand Tour” é encarada como um marco importante no desenvolvimento do turismo. Pode considerar-se o “fóssil” do turismo e turista moderno (Mazón, 2001).

No século XVIII começou, também, a incrementar-se uma nova motivação pelas viagens à natureza com visitas aos primeiros parques naturais, com especial interesse nas regiões montanhosas da Europa (Blasco, 2001).

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A revolução industrial (séc. XVIII) continuou a cimentar as bases para o desenvolvimento do turismo moderno. Época de grande progresso económico, da ciência, transmissão de novas ideias, desenvolvimento dos transportes, principalmente das ferrovias, favoreceram a abertura ao mundo e incrementaram a atividade turística. O aparecimento do comboio provocou uma verdadeira revolução no número de viagens e no aumento de passageiros. O inglês Thomas Cook (1841) foi pioneiro na organização das primeiras viagens coletivas e pacotes turísticos. As primeiras cadeias hoteleiras surgem naquela época, nomeadamente a “Charles Ritz” e são editadas as primeiras publicações turísticas pela marca Michelin (Mesplier & Bloc-Duraffour, 2000).

Segundo Moreno (1997), o aparecimento de uma burguesia abastada e com tempo livre para viajar foi um fator importante e decisivo para que as viagens, por motivos de lazer, se instalem com força na mentalidade da sociedade dos séculos XVIII e XIX. As transformações ocorridas no turismo, no período anterior, continuam a verificar-se ao longo do século XX. Neste século, o turismo conhece uma forte expansão e ocorreu o denominado “Boom” turístico (Castro, 2004). As inovações no campo tecnológico, nomeadamente o surgimento do automóvel e do avião comercial permitiram que estes meios de transporte fossem utilizados de forma massiva (Moreno, 1997). No campo social as mudanças também se verificaram quando a classe média e trabalhadora adquiriu direito ao gozo de férias pagas e à diminuição das horas de trabalho de que resultou maior tempo livre para atividades de lazer. No entanto, a democratização do turismo ocorreu após a segunda grande guerra mundial. O que diversos autores classificam de “turismo de massas” tem o seu expoente máximo a partir dos anos 50 do século XX. É um modelo de turismo, praticado pela sociedade, que cresce em número de turistas, quer no turismo interno quer no turismo internacional, cujo desenvolvimento foi muito mais rápido do que ocorreu ao longo da história do turismo (Mazón, 2001).

O crescimento que se verificou é devido a vários fatores de natureza diversa, mas a estabilidade social do pós-guerra e o processo de recuperação económica foram condições fundamentais. Estas, atuaram de forma combinada com alterações demográficas, sociais, culturais e tecnológicas cujos efeitos se repercutiram na atividade turística (Moreno, 1997). Assim, a democratização e massificação do turismo traduziu-se no rápido aumento dos fluxos turísticos à escala mundial e no desenvolvimento de novas tipologias e destinos turísticos. De acordo com a OMT o volume total de turistas internacionais em todo o mundo alcançou 24,1 milhões em 2000.

Atualmente, milhões de pessoas circulam por diversos países do mundo e o número de viajantes tem superado as expectativas. A Tabela n.º 2 permite analisar o movimento de turistas internacionais a nível mundial e nas diferentes sub-regiões.

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Tabela n.º 2 - Turistas internacionais entre 2000 e 2011 (milhões)

Mundo e sub-regiões 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Mundo 675,0 684,0 702,8 690,9 764,0 798,0 842,0 898,0 917,0 882,0 940,0 995,0 1035 África 26,5 29,2 29,9 30,8 33,8 35,4 39,5 43,2 44,4 46,0 49,4 49,4 52,4 Américas 128,2 122,2 116,6 113,0 125,7 133,3 135,8 144,0 148,0 140,7 149,8 156,0 163,1 Ásia e Pacífico 110,1 120,5 131,1 119,3 144,2 153,6 166,0 182,0 184,1 180,9 203,8 218,2 233,6 Europa 385,6 387,8 397,3 399,0 424,4 439,4 461,6 482,9 485,2 461,5 476,5 516,4 534,2 Médio Oriente 24,1 24,1 27,9 28,8 36,3 36,3 39,3 45,6 55,2 52,9 60,3 54,9 52,0

Fonte: OMT (2004b, 2006, 2011a, 2011b, 2013) e TP (2010)

Podemos verificar que o movimento de turistas internacionais registou aumentos, em todo o mundo, entre 2000 e 2012, com exceção dos anos de 2001, 2003. Em 2009 verifica-se, igualmente, uma descida no movimento de turistas que poderá estar relacionada com a crise económica e financeira que teve início em 2008. A dinâmica dos turistas internacionais cresceu entre 2009 e 2012 ao totalizar 1035,0 milhões de turistas em todo o mundo.

De salientar que a Europa é a sub-região que lidera o movimento do turistas internacionais. Em 2000 a chegada de turistas internacionais alcançaram 385,6 milhões e 534,2 milhões de turistas em 2012. Segue-se a sub-região das Américas com 128,2 milhões de turistas em 2000 e em 2012 a chegada de turistas internacionais alcançou 163,1 milhões. Os dados mostram a presença dos novos mercados emergentes da Ásia e Pacífico com um peso no movimento de turistas internacionais bastante significativo.

Em relação aos países em vias de desenvolvimento, na região Médio Oriente observamos uma dinâmica de crescimento elevada. Segundo a OMT (2012) tem-se verificado um crescimento contínuo do turismo ao longo das últimas seis décadas. A mesma organização calcula que o turismo internacional crescerá, em todo o mundo, em média entre 3,3 % entre 2010 e 2020 o que poderá levar a alcançar os 1,800 milhões de turistas internacionais em 2030.

Os dados apresentados permitem concluir que o turismo internacional, nos últimos anos tem evidenciado um comportamento ascendente.

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Síntese

Como afirmamos na introdução a este capítulo, reiteramos agora que o turismo é um fenómeno social que abarca áreas diversas da atividade humana e que, por isso, potencia estudos, a vários níveis, que tentam dar explicações, criar teorias fundamentar sistemas de análise que suportem conclusões firmes sobre a génese da problemática que o turismo induz.

O processo evolutivo do fenómeno turístico e a necessidade de áreas científicas que convoca para o seu estudo faz do turismo um campo fértil e propício para o nascimento e formulação de teses que pretendem justificar a grandeza e diversidade de atividades que, mais ou menos integradamente são desenvolvidas na orla deste fenómeno.

Referimos estudos, conferências, colóquios, organizações de âmbito e finalidades muito diversas mas que convergem para aprofundar e sistematizar tão vasto campo de análise multidisciplinar. E foi assim que encontramos estudos que passam por, Cunha (2003), Mazón (2001), Montejano (1991), Moreno (1997), OMT (1998), Ruiz (2007) e muitos outros que apresentamos, individualmente ou em parceria. Com base nas diferentes abordagens teóricas pretendeu-se expor o quadro conceptual que vão da simples definição do termo “turismo” passando por “viagem, “visitante, “turista”, até aos conceitos e temáticas mais alongadas e complexas.

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