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O conceito de fábrica compreende uma congregação de elementos e factores que compreendem uma unidade central de energia, conjunto de sistemas e mecanismos, ferramentas, máquinas que substituem, complementam e facilitam as tarefas realizadas pelo homem. O modelo da fábrica traz consigo também modelos de gestão e de produção que eram inexistentes numa fase de indústrias artesanais. O aproveitamento dos recursos naturais através da evolução da mecânica e da hidráulica vão rentabilizar muito mais a produção artesanal tradicional141. A unidade fabril opera uma grande mudança na cidade e na produção relativamente às indústrias manufactoreiras, com aumento de produção, diminuição de trabalhadores, alteração da estrutura laboral com criação de novos cargos, apontado para a especialização que de resto também pauta a concepção do edifício.

A introdução da máquina a vapor foi responsável por uma grande mudança na arquitectura industrial. A necessidade de dotar as estruturas de maior capacidade de carga, de maiores áreas, de conseguir maiores vãos, maiores panos de vidro, vai ter resposta pela arquitectura com o recurso a novos materiais, como o ferro, vidro e betão. A implementação de máquinas vai desenvolver-se a par de edifícios da arquitectura do ferro, que não acompanham a evolução tecnológica e formalmente se reportam ao passado, apresentando arquitecturas revivalistas ou exóticas, características do Romantismo do séc. XIX. Apresentam diferentes expressões regionais, como o neo-palladianismo em Inglaterra, ou medievalismo Gótico em França,

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O desenvolvimento industrial pode assim ser referido em três momentos distintos no que diz respeito ao mundo ocidental: período pré-industrial (até final do séc. XVII), período proto-industrial (desde o séc. XVIII) e período industrial (desde as últimas décadas do séc. XIX). As proto-industrias apresentam a congregação dos vários processos e fases num mesmo edifício, um único local de produção, diferenciando-se da produção dispersa em unidades familiares da fase pré industrial mas não congregam num local uma mesma fonte de energia centralizada, características do período industrial. Estas utilizariam energia animal numa primeira fase, a qual posteriormente seria substituída por sistemas de energia hidráulica. Esta substituição terá sido mais lenta em países como Portugal, tal como a posterior incorporação pela energia a vapor, uma vez que o consumo de energia sendo reduzido, não fomentava a substuituição por novos sistemas energéticos.

impulsionadas em parte pelo movimento restaurador europeu, e pela emergência de movimentos nacionalistas por toda a Europa.

Estas arquitecturas recorrendo ao ferro eram contudo em aparência e decoração semelhantes às de tecnologia de alvenaria de pedra ou tijolo, já que numa fase inicial o ferro foi utilizado em sistemas de cobertura142, de modo a proporcionar maiores vãos necessários quer para as naves industriais quer para os grandes edifícios públicos, característicos da nova urbanidade do séc. XIX.

Eram ainda elaborados em ferro elementos estruturais, como colunas143,

sistemas de fixação de panos de parede, tipo gatos, perfis para aumento de vãos144, sem uma preocupação decorativa ou de composição – pelo que eram remetidos para o interior ou cobertos por outros materiais. Só mais tarde vão ser aplicados nas fachadas ou em elementos de distribuição como galerias e escadas, recriando os modelos neoclássicos, nos elementos de fachada, de suporte e cobertura.

A sua aplicação é sobretudo com carácer eminentemente utilitário145, em que a função leva ao descurar da decoração, uma vez que as zonas nobres do edifício continuavam a ser trabalhadas e revestidas em pedra, e ainda que se suportassem do ferro, a sua utilização não era por norma era aparente146.

Viollet-le-Duc, entre outros critica a necessidade de encontrar uma nova arquitectura, que rejeitasse os formalismos arcaizantes, potenciados pela sua

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“On the Continental iron was first used for buildings purposes as a roofing material” (GIEDION: 175)

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. Relativamente ao edifício de Fiação e Tecidos Lisbonense (1846-49, arq. João Pina de Fonte) refere- se que neste se encontram “(…) enormes pilares de ferro fundido imitando as formas clássicas habituais na pedra e suportando pavimentos de abobadilha de tijolo, com dimensões globais e uma expressão algo «primitiva», que o uso posterior do ferro laminado, mais leve e resistente, modernizará.” FERNANDES, João Manuel. Arquitectura Modernista em Portugal (1890-1940). Lisboa: Gradiva, 2005.

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No edifício da central Tejo, é a incorporação do ferro nos vãos que permite que estes sejam alargados e forneçam a luminosidade necessária e a ventilação para dispersão dos gases de combustão.

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A sua utilização amplia-se em Portugal a partir de 1860, após quase um século de experimentação. Relativamente ao edifício de Fiação e Tecidos Lisbonense (1846-49, arq. João Pina de Fonte) refere-se que neste se encontram “(…) enormes pilares de ferro fundido imitando as formas clássicas habituais na pedra e suportando pavimentos de abobadilha de tijolo, com dimensões globais e uma expressão algo «primitiva», que o uso posterior do ferro laminado, mais leve e resistente, modernizará.” (FERNANDES:2005).

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Mais tarde as estruturas em ferro irão adquirir uma estética própria e estar representadas em zonas nobres como é o exemplo da Biblioteca Nacional de Paris (1858-68), onde Henri Labrouste, através das grelhas de ferro que serviam de percurso nos vários pisos permite a chegada da luz zenital de um tecto em vidro aos pisos inferiores, e ser empregues nos mercados e nas exposições universais. (GIEDION:1982:223-6 e 265).

fácil modelação do ferro, capaz de se ajustar ao gosto revivalista da época, e

retomasse o projecto com coerência entre estrutura e a forma147, que se

promete desde o Palácio de Cristal148 - referência como percursor de uma estética e coerência de projecto que vai chegar no séc. XX com o emprego em grande escala do ferro e do vidro149.

Fig.57 Royal Pavilion (1818-21) em Brighton, do arquitecto John Nash, é dos exemplos mais efusivos da aplicação do ferro.

Fig. 58 Palacete na Avenida Fontes Pereira de Melo, 1914, de Norte Júnior.

Com o início do emprego do betão armado150 nos edifícios industriais em França – de 1890 a 1900 – por François Hennebique151 vão-se testar as novas tecnologias para aplicar de seguida, em todo o tipo de edifícios, com os mais diversos usos.

A influência dos edifícios industriais e da sua lógica e construção contaminam Tony Garnier no seu projecto para uma cidade industrial (1899-1904) onde aplicava o betão em todas as suas construções e retirava partido das novas

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Ou como Pevsner a coloca: unificação entre a função (programa), estrutura, matéria e decoração.

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Já anteriormente se tinha empregue o ferro e vidro em espaços de exposição como o caso da Galeria de Orleães, no Palais Royal, Paris (1829-31) que serviria de modelo e ensaio para as Galerias Vittorio Emanuelle, Milão (1865-67) e mesmo para os pavilhões de vidro das grandes exposições (GIEDION:179- 181).

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As primeiras construções em ferro foram pontes. A primeira ponte de ferro do mundo em Coalbrookdale, Shropshire construída entre 1777-1781 (PEVZNER:1968:12). O primeiro edificio totalmente erigido em estrutura de ferro aparente foi uma fábrica de chocolate (FRAMPTON). Giedion apresenta a ponte sobre o rio Severn (1775-79) como a primeira ponte em ferro (cast iron).

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potencialidades do material: coberturas delgadas, consolas, grandes vãos, paredes finas não estruturais, e possibilidade de maiores superfícies de vidro. Daqui bebem as arquiteturas modernistas, do fascínio pela simplicidade e assumpção do material e suas potencialidades. Arquitectos alemães e vienenses – veja-se o trabalho de Loos, ou de Wagner – recusam a aplicação de formalismos do passado a uma nova sociedade.

Fig. 59 “Postal Savings Bank” (1904-06), Otto Wagner.

Outros projectos de cidades jardim ou cidades radiais, desenvolvem-se como resposta aos novos problemas que decorrem do rápido crescimento industrial, e das decorrentes necessidade de transporte de bens, matérias e pessoas, a que os movimentos modernistas tentaram responder, colmatando carências sociais. De forma eficaz, práctica, contemplando uma estética própria, integram a linguagem da máquina e formalismos que provinham da construção para a indústria.

Fig. 60 “Canadian grain stores and elevators”. Le Corbusier – Vers une Architecture (1923).

“(…) whereas the Futurists intended to conjure an aesthetic out of machinery end engineering, the Germans hoped to conjure some aesthetics into them.”(Banham:1994: 68)

Fig. 61 e 62 Sala de Montagem da Fábrica de turbinas da AEG (1908-1909). Peter Behrens. Fig. 63 Fábrica de formas de alçado Fagus (1910-1914, Walter Gropius.

Em 1907, a fábrica da AEG, de Peter Behrens em Berlin, constitui-se como referência (e mais tarde a fábrica Fagus de Walter Gropius, de 1910) e vem reinterpretar a relação entre os métodos de produção e a arquitectura de autor, com a conjugação dos processos industriais de produção e das suas espacialidades a um desenho e composição do edifício rigoroso.

No mesmo ano, a fundação da Deutcher Werkbund pretende a aproximação dos designers à indústria, e o pronto reconhecimento de que a qualidade estética não estava dependente de uma nobreza do material (os materiais tradicionais até aqui sempre estiveram associados a zonas mais importantes da construção, ou com funções representativas mais fortes e a um estatuto152), investindo na estandardização, simplificação e abstração das formas com base no incremento do estudo e qualidade do processo de desenho.

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Os novos materiais eram remetidos para o interior ou rejeitados pelas deficiências de laboração, pelo seu recente desenvolvimento. Numa época de pesquisas e experiências sobre as matérias e a produção, o movimento Arts and Crafts apontava para a restituição da qualidade, mas também a protecção social dos artesãos.

A nova organização do trabalho faziam com que o artesão, agora operário, perdesse estatuto e controlo sobre o produto final, uma vez que se priveligiava a repartição de tarefas, para uma simplificação das mesmas. O Taylorismo implantado com mais eficácia nos EUA levam a uma sistematização dos processos, que na Europa tardam em ser adoptados devido aos movimentos de incentivo à aprendizagem artesanal bem como a uma questão logística pois muitos das indústrias eram incorporadas em edifícios antigos, cujo esquema de hierarquização de espaços não permitia a liberdade de uso para um esquema sequencial (BARATA:2004)

Gropius na sua fábrica Fagus153 vai conseguir a expressão da união entre forma e estrutura154 com a fachada cortina a separação da estrutura que é reduida e monofuncional, e por isso verdadeira. O pilar formaliza-se onde e apenas para o cumprimento estrito da sua função. O mesmo sucedendo com as paredes e que depois vemos acontecer com Mies na Bauhaus.

Esta coerência entre estrutura e forma vai ser mais explícita, na produção arquitectónica ainda no séc. XIX, Nos EUA, desenvolvendo-se em três momentos que se podem distinguir, de seguida.