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Ao longo da evolução do Sistema Internacionais (S.I), os recursos minerais foram por várias situações ele mentos que provocaram instabilidade política, económica e social de vários Estados, devido aos interesses

de actores regionais e globais. Os conflitos sobre a exploração de recursos naturais que, ao longo de déca-

das, constituem fenómenos integrantes do quotidiano de vários Estados africanos em desenvolvimento, são

potenciados e perpetuados pelas situações de pobreza e de declínio económico que os caracteriza. O pre-

sente trabalho versa sobre o tema a natureza conflituosa da exploração dos recursos minerais na África

Subsahariana, com enfoque no território moçambicano.

Introdução

A

s várias pesquisas feitas no ramo da exploração dos recursos naturais, verificou-se que a abundância de recursos naturais num Estado pode ser um factor de bênção ou maldição pois, o simples facto de um Estado, por exemplo, Moçambique possuir recursos minerais estra- tégicos pode constituir um factor de estabili- dade, paz e segurança interna como regio- nal, pois estes recursos minerais estratégicos, disponibilizam recursos essências para o desenvolvimento de novas fronteiras econó- micas e geográficas, abrindo espaço para o desenvolvimento e gerando oportunidades económicas, na medida em que proporcio- na a interiorização da população, cria demandas por infra-estruturas e serviços, induz a instalação de indústrias de transfor- mação de bens de capital, gera emprego e renda, reduzindo as disparidades regionais e torna um ambiente social propício para polí- ticas de desenvolvimento, paz e segurança. Ao contrário, pode constituir fonte de instabi-

lidade, insegurança e conflito, tanto interna como regional, na medida em que pode despertar cobiça por parte dos Estados que não possuem tais recursos, o que pode atiçar agressão ou ameaças. Estas podem vir a nível interno ou externo.

Em Moçambique particularmente, a exploração de recursos energéticos, gás natural e carvão mineral, tem verificado um rápido desenvolvimento, nos últimos anos, como resultado da exploração de abundan- tes reservas destes recursos por várias multi- nacionais, como são os casos da brasileira Vale (Moatize), a australiana Rio Tinto (Benga e Zambeze), as britânicas Ncondezi Coal Company (Ncondezi) e Beacon Hill Resour- ces – Minas de Moatize (Moatize), a JSP Lda. Índia (Changara), a Eta Star do Dubai (Moatize), a ENRC (Cahora Bassa), Minas de Revubué – Talbot/Nippon Steel (Revubué), Sasol (Pande e Temane). Estas descobertas de recursos minerais com grande influência a nível local e internacional estão a ganhar consistência e podem por em causa uma longa tradição de convivência pacífica e

ISSN: 2519-7207

Vol. 2, Nº 04, Ano II, Abril - Junho de 2015

estabilidade nos e entre Estados, como é o caso dos conflitos que acontecem em Moma província de Nampula no norte de Moçambique e em Moatize província de Tete no centro de Moçambique.

O objectivo desta pesquisa é o de com- preender qual é a natureza dos conflitos sobre a exploração dos recursos minerais, na África Subsahariana, em geral, e em Moçam- bique em particular tomando como caso, a exploração das areias pesadas em Moma e a exploração do carvão mineral em Moatize na região norte e centro de Moçambique. O tema resulta da constatação da elevada expectativa que os diversos seguimentos sociais moçambicanos têm face aos anún- cios da descoberta desses recursos naturais, e a verificação de manifestações sociais vio- lentas face à exploração dos mesmos. O estudo resultou da recolha, revisão e sistema- tização bibliográfica sobre conflito, recursos naturais e exploração de recursos, primeiro a nível da África Subsahariana e segundo, os aspectos referentes a situação moçambica- na.

1. Breve Historial da Exploração dos

Recursos Naturais na África Subsaharia-

na e os Conflitos Emergentes Dessa Acti-

vidade

A África Subsahariana é dotada de recursos naturais abundantes, encontrados especialmente em rochas, onde estão cerca de 80% dos minerais e metais industriais. Os recursos naturais africanos têm participado do comércio internacional e além-mar há mais de quinze séculos. A história moderna dos minerais na África começou com a corri- da pelos diamantes no sul de África nos finais do Século XX, onde se concentrou a activi- dade mineira até 1930, com excepção do ouro de Gana e os diamantes da Serra Leoa, principais recursos de extracção da época.

Este cenário começou a mudar a partir da bem-sucedida extracção do cobre na República Democrática do Congo nos anos de 1950, seguida pelo aumento da produ- ção de ferro na Libéria, bauxita na Guiné e urânio na Namíbia e no Níger. Mas tarde, aumentaram as demandas por metais bási-

cos como o ouro, diamantes, cobre, alumínio e ferro e por metais industriais considerados matais raros, como platina, titânio e tântalo usados para computadores, electrodomésti- cos, carros, comunicações e energia nuclear.

O aumento da demanda por recursos naturais impostos pela crescente urbaniza- ção e altos custos das guerras europeias, as reservas metálicas africanas tornam-se cada vez mais estratégicos. “A região mais rica do continente está localizada na África Austral, que engloba a África do Sul, Angola, Botswa- na, Lesoto, Malawi, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Esta área é também considerada geopoliti- camente estratégica devido á rota do Cabo, uma importante via marítima que conecta o oriente ao ociden- te” (Machado,2012:37).

Estas crescentes descobertas de recursos minerais estratégicos na África Subsahariana tornou o continente africano palco das aten- ções dos Estados industrializados e depen- dentes de recursos minerais. Para estes Esta- dos, o seu poder nacional torna-se cada vez mais dependente do controle das matérias- primas. Daí podemos prever uma competi- ção para o acesso e controle desses recursos minerais.

1.1. Recursos Naturais e os Conflitos em

África

Os recursos naturais parecem ter estado no epicentro dos conflitos da década 1990 em diante, seja pela sua abundância ou escassez. Segundo Kofi Annan, em muitos anos os recursos naturais têm sido uma pre- sença em conflitos internos ou regionais de África e, por vezes, catalisadores dos mes- mos. Rivalidade pelo acesso aos recursos naturais tem alimentado guerras e rebeliões na Serra Leoa, na Libéria, na República Democrática do Congo, no Sudão e no Sudão do Sul, entre outros países. Esta estrei- ta e recorrente situação entre os recursos naturais e guerras levou algumas pessoas a descreverem a descoberta e exploração de recursos naturais em África como uma pra- ga.

A abundância dos recursos minerais

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constitui um forte motivo para a sucessiva eclosão e perpetuação de conflitos nos Esta- dos africanos, mas, a lógica diz-nos que um Estado no qual abundam recursos naturais de elevado valor possui as condições neces- sárias para a implementação de medidas de prossecução do desenvolvimento, face a grande disponibilidade de recursos financei- ros provenientes da exploração dessas maté- rias-primas. Com tudo a prática demonstra precisamente o contrário, os Estados mais pobres e ricos em recursos naturais, encon- tram-se perante uma maior predisposição para o irromper de uma guerra civil. A abun- dância dos recursos naturais, em vez de pro- mover o desenvolvimento e contribuir para o bem-estar das populações, contribui para exacerbar das situações de pobreza, preca- riedade e desigualdade económicas.

A natureza dos conflitos é complexa e diversificada e contém raízes históricas baseadas na exploração colonial. Esta natu- reza dos conflitos, embora complexa e parti- cular a cada caso, segue características comuns a quase todos os países, pratica- mente um consenso entre académicos e cientistas políticos. Os conflitos sobre a explo- ração de recursos naturais, acontecem quando as instituições nacionais são dema- siadas fracas para conter as tensões políti- cas, étnicas ou religiosas no âmbito do diálo- go nacional pacífico. Esta inaptidão e insufi- ciência das instituições públicas, que carac- teriza a estrutura dos países em desenvolvi- mento traduz-se na ausência de meios e recursos para assegurar a provisão dos servi- ços básicos; garantir uma eficiente gestão da riqueza proveniente da exploração dos recursos naturais; e salvaguardar os interesses dos grupos mais vulneráveis. Como se regis- tou na história os conflitos ocorridos em Angola (guerra civil de 1975-2002); Serra Leoa (a guerra civil que assolou o Estado de 1997- 2001); Sudão (a guerra civil de 1983-2005 e 2003-2011), (Rosa,2007:5).

2. Visão Geral dos Recursos Naturais em

Moçambique

Recursos Naturais são, geralmente, entendidos como todos aqueles que consti- tuem uma dádiva, sua existência não decor-

re da acção do homem e que sejam úteis para o alcance do desenvolvimento econó- mico. Têm uma contribuição relevante para a economia do país que ostenta tais recursos e, tal contribuição crescerá consideravel- mente a curto prazo com os projectos de exploração. A actual actividade de pesquisa de mineiras em Moçambique é considerada a maior de todos os tempos, e há possibilida- de de a curto prazo se verificar novas desco- bertas nesta área (CIP, 2008).

A produção dos recursos minerais em Moçambique, está ganhar impacto no cres- cimento da economia e na melhoria das contas nacionais. A concretização dos pro- jectos em curso na área de carvão mineral, minerais indústrias, para além da potencial descoberta de mais reservas de hidrocarbo- neto, vai impulsionar o sector mineiro e ao mesmo tempo ter impactos positivos na eco- nomia nacional. Moçambique devido a estas crescentes descobertas e exploração de recursos minerais, pode aumentar os níveis de exportação de recursos naturais para o mercado mundial e observar um aumento de receitas durante as próximas décadas e por um período longo. Embora esta possa ser uma boa notícia para um Esta- do de baixo rendimento e com largas cama- das da população abaixo da linha de pobreza, também prefigura alguns proble- mas no futuro a nível da gestão da econo- mia. A principal preocupação prende-se com o fraco desempenho económico de outros países, também de baixo rendimento, mas ricos em recursos naturais.

É notável a forma como muitas vezes esses Estados registaram taxas de crescimen- to menores em comparação com Estados que não possuem tais riquezas naturais. Esse padrão, conhecido como a “maldição dos recursos naturais”, tem sido documentado em variadas pesquisas empíricas utilizando uma ampla amostra de nações. As suas cau- sas têm sido atribuídas a efeitos importantes colaterais negativos, provenientes da ultra- especialização na exportação de recursos naturais e tem sido mostrado que esses efei- tos adversos possam ser particularmente acentuados em países de baixo rendimento, com mercados financeiros embrionários e instituições frágeis, (Biggs,2012:12). De desta-

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car também que há evidências de que os países ricos em recursos naturais podem fazer algo para resolver este problema. A riqueza de recursos não é necessariamente um bilhe- te de ida e sem retorno para resultados eco- nómicos negativos. Mais precisamente, a riqueza de recursos naturais é uma situação que confere possibilidades mistas, permitindo simultaneamente benefícios e riscos, (Biggs,2012:12:13).

2.1. A Exploração dos Recursos Natu-

rais em Moçambique e os Conflitos Emer-