• Nenhum resultado encontrado

Evolução recente do trabalho a tempo parcial

No documento Boletim Económico. Número 2 / ,5E 7,5E (páginas 53-58)

Evolução das taxas de juro

4 Evolução recente do trabalho a tempo parcial

Por Katalin Bodnár

Na área do euro, tem -se observado um maior recurso ao trabalho a tempo parcial. A percentagem de trabalhadores a tempo parcial está agora em torno dos 22% do emprego total e o trabalho a tempo parcial representou cerca de um quarto do crescimento líquido do emprego durante a recuperação observada no mercado de trabalho da área do euro (que teve início no segundo trimestre de 2013). A presente caixa analisa a evolução mais recente e as caraterísticas dos dois grupos principais de trabalhadores a tempo parcial: trabalhadores a tempo parcial subempregados e não subempregados.

O número de trabalhadores a tempo parcial subempregados aumentou durante a crise, embora tenha diminuído recentemente. No inquérito às forças de trabalho da UE, é possível distinguir entre os trabalhadores a tempo parcial que pretendem trabalhar mais horas e os que não pretendem. O primeiro grupo é designado por “trabalhadores subempregados”13. Embora os trabalhadores incluídos neste grupo estejam empregados, são normalmente considerados trabalhadores parcialmente desempregados ou subutilizados, o que significa que o número de horas que gostariam de trabalhar ultrapassa o número de horas exigido pelos respetivos empregadores. O subemprego na área do euro aumentou quer na primeira fase da Grande Recessão quer na sequência da crise da dívida soberana. Tem diminuído recentemente, embora ainda se mantenha acima dos níveis pré -crise (ver Gráfico A). Este padrão cíclico é semelhante ao do desemprego.

Os trabalhadores a tempo parcial não subempregados aumentaram no decurso da crise e da recuperação. O segundo grupo, os trabalhadores a tempo parcial que não procuram trabalhar mais horas, trabalham tipicamente em empregos a tempo parcial por razões familiares, de saúde ou outras (por exemplo, por estarem a estudar). Este grupo representa a maior percentagem de trabalhadores a tempo parcial: quatro em cinco trabalhadores a tempo parcial na área do euro estão satisfeitos com as horas que trabalham. Esta categoria de trabalho a tempo parcial não tem apresentado qualquer padrão cíclico nos últimos anos, tendo, pelo contrário, aumentado de forma constante no decurso da crise e da recuperação (ver Gráfico A). Este padrão sugere que esta categoria de trabalho a tempo parcial é principalmente influenciada por fatores estruturais.

13 Ver a página Eurostat Statistics Explained, “Underemployment and potential additional labour force

statistics”. O trabalho a tempo parcial involuntário refere -se a um conceito semelhante ao do

subemprego, embora com algumas diferenças: o trabalho a tempo parcial involuntário refere -se aos indivíduos que trabalham a tempo parcial porque não conseguem encontrar trabalho a tempo inteiro. Ver igualmente a página do Eurostat, intitulada “EU labour force survey – methodology”.

53

Boletim Económico do BCE, Número 2 / 2018 – Caixas Evolução recente do trabalho a tempo parcial

O número de trabalhadores a tempo parcial não subempregados tem vindo a aumentar sobretudo na Alemanha, embora Espanha tenha dado os maiores contributos para as alterações no subemprego na área do euro (ver Gráfico B). Entre os quatro maiores países da área do euro, a percentagem de trabalho a tempo parcial no emprego total é mais elevada na Alemanha. Este país também tem a percentagem mais elevada de trabalhadores a tempo parcial que estão satisfeitos com as horas que trabalham, sendo que, na Alemanha, os recentes aumentos do trabalho a tempo parcial não têm estado associados ao subemprego. Pelo contrário, o subemprego aumentou de forma particularmente pronunciada em Espanha e Itália durante a crise. Em Espanha, observaram -se fluxos de entrada no subemprego do desemprego, do emprego a tempo inteiro e do trabalho a tempo parcial exceto subemprego14. O aumento considerável do subemprego durante a crise reflete provavelmente alterações na regulamentação relativa ao trabalho a tempo parcial, bem como o impacto da crise sobre o rendimento e a riqueza durante a contração, o que resultou num aumento da oferta de trabalho em termos de horas. Em Itália, o subemprego pode ter sido influenciado pelas medidas governamentais de apoio à redução das horas. Embora tenha diminuído recentemente, o subemprego mantémse acima dos níveis pré -crise em Itália e Espanha, estando bastante abaixo dos níveis pré--crise na Alemanha.

14 Ver igualmente a caixa intitulada “Alternative measures of unemployment for the Spanish Economy”, Boletim Económico, Número 2, Banco de España, 2017.

Gráfico A

Número de trabalhadores a tempo parcial subempregados e não subempregados na área do euro (milhares) 0 1 000 2 000 3 000 4 000 5 000 6 000 7 000 8 000 19 000 20 000 21 000 22 000 23 000 24 000 25 000 26 000 27 000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

trabalhadores a tempo parcial subempregados (escala da direita) trabalhadores a tempo parcial não subempregados (escala da esquerda)

Fontes: Eurostat e cálculos dos especialistas do BCE.

Notas: Corrigido do impacto estimado de alterações metodológicas nas séries temporais. Os dados relativos ao período de 2005 -2008 têm por base estimativas de especialistas do BCE.

Ambas as categorias de trabalho a tempo parcial registam uma maior prevalência nos setores dos serviços e nas mulheres. Os trabalhadores a tempo parcial na área do euro estão concentrados em três setores: 1) no setor dos serviços públicos; 2) no setor do comércio, transportes, alojamento e restauração; e 3) no setor da informação e comunicação. Ambas as categorias de trabalho a tempo parcial estão, por conseguinte, concentradas nestes setores (ver Gráfico C). Em termos de caraterísticas pessoais, a faixa etária de forte atividade e as mulheres de idade mais avançada constituem a grande maioria dos trabalhadores a tempo parcial (ver Gráfico D). A distribuição do trabalho a tempo parcial entre trabalhadores a tempo parcial subempregados e não subempregados é ligeiramente diferente consoante os setores e as caraterísticas pessoais. Os trabalhadores a tempo parcial subempregados detêm a maior percentagem do emprego total a tempo parcial no setor dos outros serviços (incluindo atividades artísticas, de espetáculos e recreativas; outras atividades de serviços; e atividades das famílias e dos organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais), seguido do setor da construção, comércio e transportes e do setor da informação e comunicação. O subemprego de trabalhadores a tempo parcial é igualmente elevado nos homens na faixa etária de forte atividade e nos jovens. Por último, os trabalhadores a tempo parcial subempregados tendem a trabalhar um número de horas ligeiramente inferior ao dos trabalhadores a tempo parcial não subempregados.

Gráfico B

Alteração no número de trabalhadores a tempo parcial subempregados e não subempregados na área do euro durante a crise e a recuperação por país

(milhares) -1 000 -500 0 500 1 000 1 500 2 000 2 500 3 000 T1 2008 - T2 2013 T2 2013 - T3 2017 T1 2008 - T2 2013 T2 2013 - T3 2017 trabalhadores não subempregados trabalhadores subempregados área do euro Alemanha Espanha França Itália outros

Fontes: Eurostat e cálculos dos especialistas do BCE.

55

Boletim Económico do BCE, Número 2 / 2018 – Caixas Evolução recente do trabalho a tempo parcial

O grau em que os trabalhadores a tempo parcial subempregados representam o trabalho precário e/ou a capacidade produtiva disponível na economia continua a ser uma questão importante. A literatura empírica conclui que os trabalhadores a tempo parcial subempregados tendem a ter menor segurança no emprego, menor satisfação no trabalho15 e menores

15 Ver, por exemplo, Vaalavuo, M., “Part -time work: A divided Europe”, Evidence in focus, Comissão Europeia, 2016; e Kauhanen, M. e Nätti, J., “Involuntary temporary and part -time work, job quality

and well -being at work”, Working Papers, n.º 272, Labour Institute for Economic Research,

Helsínquia, 2011. Gráfico C

Número de trabalhadores a tempo parcial subempregados e não subempregados e percentagem de trabalhadores a tempo parcial no emprego total por setor na área do euro em 2016

(escala da esquerda: milhares; escala da direita: percentagens)

0 5 10 15 20 25 30 0 2 000 4,000 6 000 8 000 10 000 12 000 agricultura indústria (excluindo a construção) construção comércio e transportes informação e comunicação atividades financeiras e de seguros atividades

imobiliárias serviçospúblicos serviçosoutros trabalhadores subempregados (escala da esquerda)

trabalhadores não subempregados (escala da esquerda)

percentagem de trabalhadores a tempo parcial no emprego total (escala da direita)

Fontes: Eurostat e cálculos dos especialistas do BCE. Gráfico D

Número de trabalhadores a tempo parcial subempregados e não subempregados e percentagem de trabalhadores a tempo parcial no emprego total por género e idade na área do euro no terceiro trimestre de 2017

(escala da esquerda: milhares; escala da direita: percentagens)

0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 2 000 4 000 6 000 8 000 10 000 12 000 14 000 16 000 18 000 15-24 25-54 55-74 15-24 25-54 55-74 homens mulheres

trabalhadores subempregados (escala da esquerda) trabalhadores não subempregados (escala da esquerda)

percentagem de trabalhadores a tempo parcial no emprego total (escala da direita)

salários16 do que os trabalhadores não subempregados. O subemprego de trabalhadores a tempo parcial pode, por conseguinte, ser considerado precário em alguns casos. Contudo, é também uma incógnita o grau em que os trabalhadores a tempo parcial subempregados estão efetivamente disponíveis para trabalhar mais horas, podendo, assim, ser considerados mão de obra subutilizada17. Simultaneamente, o trabalhado a tempo parcial exceto subemprego pode ser considerado por muitos trabalhadores uma oportunidade para entrar ou permanecer no mercado de trabalho, podendo frequentemente resultar numa maior satisfação no trabalho18. Parece menos provável que os trabalhadores a tempo parcial nesta categoria representem capacidade produtiva disponível ou trabalho precário. Todos estes fatores sugerem que as recentes descidas no subemprego a tempo parcial e o aumento contínuo do número de trabalhadores a tempo parcial não subempregados podem ser considerados como conducentes ao aumento do bem -estar global.

16 Veliziotis, M., Matsaganis, M. e Karakitsios, A., “Involuntary part -time employment: perspectives from two European labour markets”, Working Papers n.º 15/02, ImPRovE, janeiro de 2015.

17 Ver, por exemplo, Weale, M., “Slack and the labour market”, discurso proferido no Thames Valley Chamber of Commerce, 20 de março de 2014.

18 Gallie, D. et al., “Quality of work and job satisfaction: comparing female part -time work in four European countries”, International Review of Sociology, Vol. 26, n.º 3, 2016, pp. 457 -481.

57

Boletim Económico do BCE, Número 2 / 2018 – Caixas

A fiabilidade da estimativa provisória preliminar do PIB da área do euro

5 A fiabilidade da estimativa provisória preliminar do PIB da

No documento Boletim Económico. Número 2 / ,5E 7,5E (páginas 53-58)