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4. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL

4.2. EVOLUÇÃO TECTONO-MAGMÁTICA DA PAAF

Estudo desenvolvido por Assis (2015) propõe, com base em dados de campo, litogeoquímicos e geocronológicos, que o setor leste da PAAF registra três eventos intrusivos paleoproterozóicos, separados por aproximadamente 311 Ma, e representados na Figura 4:

(1) Orosiniano (1,980 e 1,970 Ma) representado pelo embasamento (gnaisse Nova Guarita e biotita tonalito foliado), correlacionado com o Complexo Cuiú-Cuiú (1,98 – 2,03 Ga; Santos et al., 1997; Paes de Barros, 2007; 1,98, Assis, 2015), além do Granito Novo Mundo (1,95 – 1,97 Ga; Paes de Barros, 2007) e monzonito Pé Quente (1,97 Ga; Miguel-Jr, 2011).

(2) Final do Orosiniano (1,931 – 1,878 Ma) que inclui o Granito Aragão (1,93 Ga; Miguel-Jr, 2011), granodiorito X1 (1,904 Ma; Assis, 2015), tonalito Pé Quente (1,901 Ma; Assis, 2015), Granito Nhandu (1,88 – 1,87 Ga; Paes de Barros, 2007), Suíte Intrusiva Matupá (1,87 Ga; Moura, 1998; Silva, 2014), Suíte Granodiorítica União (1,85 Ga; Miguel-Jr, 2011) e Suíte Juruena (1,82 – 1,81 Ga; JICA/MMAJ, 2000), em sua maioria hospedeiras da mineralização aurífera.

(3) Estateriano (1,782 e 1,727 Ma) que abrange o Granito Peixoto (1,79 – 1,76 Ga; Paes de Barros, 2007; Silva, 2014), Suíte Intrusiva Teles Pires (1,79 – 1,75 Ga; Santos, 2000; Pinho et al., 2003; Prado et al., 2013), Suíte Colíder (1,78 Ga; Pimentel, 2001; Silva & Abram, 2008), Pórfiro União do Norte (1,774 Ga; Miguel-Jr, 2011) e quartzo-feldspato pórfiro X1 (1,773 Ma; Assis, 2015), também hospedeiras da mineralização aurífera. De acordo com Assis (2015), os dois últimos estão inclusos nas suítes Teles Pires e Colíder, respectivamente.

Adicionalmente, os dados geoquímicos de elementos maiores e traço, além dos dados isotópicos e geocronológicos, sugerem para a petrogênese das rochas encontradas no setor leste

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da província uma fonte magmática neoarqueana a paleoproterozóica derivada do manto metassomatizado e com um longo tempo de residência crustal que evoluiu através da combinação entre cristalização fracionada e, com menor contribuição, processos de contaminação crustal (Assis, 2015).

Com relação ao regime tectônico da PAAF, há duas propostas diferentes na literatura. Na visão de Souza et al. (2005), complementado por Silva & Abram (2008), o modelo evolutivo da área é constituído por três ciclos orogênicos: (1) Arco Magmático Cuiú-Cuiú (2,1 – 1,95 Ga), representado por migmatitos, gnaisses e granitos sin- a pós-orogênicos; (2) Arco Magmático Juruena (1,95 – 1,75 Ga), acrescionado à unidade anterior e composto por sequências plutono- vulcânicas cálcio-alcalinas de baixo grau metamórfico e em menor proporção, por rochas de médio a alto grau metamórfico deformadas em regime rúptil, rúptil-dúctil a dúctil; e (3) Rochas metavulcano-sedimentares originadas em ambiente extensional e intrudidas por granitóides cálcio-alcalinos deformados (1,743 ±4 Ma).

Por outro lado, Assis (2015) propõe que as sequências plutono-vulcânicas do setor leste da PAAF foram geradas por magmatismo desencadeado por subducção em um ambiente de arco vulcânico. Nesse contexto, este autor propõe três eventos tectono-magmáticos para a evolução da PAAF:

Estágio 1: Arco Magmático Cuiú-Cuiú (2.1 – 1.95 Ga)

Este estágio está associado à produção de expressiva atividade magmática, similar à observada em arcos vulcânicos modernos (Souza et al., 2005). Neste estágio deve ter ocorrido a geração dos magmas graníticos do tipo I, oxidados e cálcio-alcalinos que interagiram com crosta juvenil, representados pelo embasamento granítico e granitóides foliados orosinianos do primeiro evento magmático. Neste cenário, o magma granítico teria se alojado em um nível crustal profundo e, consequentemente, metamorfizado em condições de alta P-T, com posterior formação dos gnaisses do embasamento. O biotita tonalito foliado, por sua vez, pode representar um magma félsico do tipo I, hidratado e oxidado, alojado, no entanto, em um nível crustal menos profundo, onde as condições de P-T não foram elevadas o suficiente para o desenvolvimento de bandamento composicional como nos gnaisses. Além disso, os plútons mais antigos da província não metamorfisados (e.g. monzonito Pé Quente e Granito Novo Mundo) também devem ter se formado nesta plataforma, porém em um estágio mais tardio. Dessa forma, estas unidades podem

representam a evolução geodinâmica da região desde uma plataforma com arco vulcânico onde se cristalizaram rochas graníticas, que posteriormente metamorfizaram gerando os gnaisses e, rochas tonalíticas (rochas do embasamento), para um ambiente mais evoluído, com o subsequente alojamento do monzonito Pé Quente e Granito Novo Mundo. Tais observações são justificadas pela tendência cada vez mais negativa dos valores de ƐNd(t) e pelas assinaturas petrográficas e geoquímicas mais evoluídas reportadas por Assis (2015). Alternativamente, segundo Assis (2015), este estágio pode ser relacionado ao desenvolvimento do arco vulcânico Ventuari- Tapajós (1,95 – 1,8 Ga) no modelo de Tassinari & Macambira (1999) e também com as assinaturas petrotectônicas e geoquímicas típicas de arcos vulcânicos modernos.

Estágio 2: Arco Magmático Juruena – fase inicial (1.9 – 1.8 Ga)

Este estágio, relacionado com a construção do Arco Juruena, corresponde ao evento de maior espessamento crustal registrado na província, ou seja, representa o momento no qual ocorre a formação de um grande número de sequências plutono-vulcânicas, igualmente correlacionadas aos modelos de arco vulcânicos modernos. Este estágio pode ser relacionado ao segundo evento magmático. Novamente, esse estágio está associado com a origem de magmas graníticos paleoproterozóicos do tipo I, cálcio-alcalinos e oxidados, porém, agora representados pela colocação do tonalito Pé Quente (1,901 ±6,8 Ma; Assis, 2015), biotita granodiorito X1 (1,904 ±4,6 Ma; Assis, 2015), granodiorito Jorge (1,863 ±4,8 Ma; Assis, 2015), Granito Nhandu (1,889 ±17 a 1,879 ±5,5 Ma; Silva & Abram, 2008), além das suítes intrusivas Matupá (1,872 ±12 Ma; Moura, 1998), Juruena (1,823 ±35 Ma a 1,817 ±17 Ma; JICA/MMAJ, 2000) e Paranaíta (1,816 – 1,793 Ma; Santos, 2000; Souza et al., 2005; Silva & Abram, 2008), estas duas últimas unidades localizadas no setor noroeste da PAAF. Assim como sugerido para o primeiro estágio, se tomadas em conjunto, essa unidades representam a evolução deste segmento da província, com a produção de um magmatismo primitivo em um ambiente de arco vulcânico (e.g. plútons tonalítico Pé Quente e granodiorítico X1) e sua evolução em direção a uma plataforma mais estável, com a geração de magmas mais evoluídos com maior assimilação/contaminação por rochas crustais (e.g. suítes intrusivas Matupá e Paranaíta).

Entretanto, segundo Assis (2015), este estágio poderia estar relacionado com a construção do arco Rio Negro-Juruena (1,8 – 1,55 Ga) no modelo de Tassinari & Macambira (1999), como

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Teixeira, 2007). No entanto, os plútons mais antigos do segundo evento magmático (tonalito Pé Quente, biotita granodiorito X1, granodiorito Jorge e Granito Nhandu) estariam associados ao arco Ventuari-Tapajós, enquanto que as suítes Paranaíta e Matupá ficariam restritas ao arco Rio Negro-Juruena, um arco vulcânico mais novo. Segundo Assis (2015), as novas idades U-Pb obtidas são as primeiras idades da província mais antigas do que Suíte Intrusiva Matupá não pertencentes ao embasamento. Esta nova perspectiva traz importantes implicações tectônicas para o limite entre as províncias geocronológicas Ventuari-Tapajós (PVT) e Rio Negro-Juruena (PRNJ) e, consequentemente, para a PAAF. Dessa forma, os plúton mais antigos datados no setor leste da PAAF possivelmente não pertencem à PRNJ, mas à PVT. Consequentemente, o Grabén do Cachimbo não corresponderia ao limite entre as províncias auríferas Tapajós (Almeida et al., 1981; Tassinari & Macambira, 1999) e Alta Floresta, ou seja, o limite estaria levemente deslocado para sudoeste. Nesse sentido, haveria uma prolongação da Província Tapajós sob o gráben na direção sudoeste. Outra possibilidade, segundo Assis (2015), seria a de que o embasamento e os plútons mais antigos podem corresponder a uma estreita zona de sutura entre a PVT e a PRNJ.

Estágio 3: Arco Magmático Juruena – fase pós-colisional (1.78 – 1.75 Ga)

Este último episódio plutono-vulcânico pode ser relacionado à geração das unidades porfiríticas e vulcânicas a subvulcânicas em uma plataforma mais estável, em um ambiente pós- colisional evoluindo para um ambiente intra-placa e, correspondente, portanto, ao terceiro e último evento magmático no Estateriano. Durante este período, um magmatismo félsico evoluído do tipo I com afinidade continental, além de magmas anorogênicos foram produzidos e podem ser representados no setor leste da província pelas suítes Colíder (1,78 Ga; Pimentel, 2001; Silva & Abram, 2008) e Teles Pires (1,79 – 1,75 Ga; Santos, 2000; Pinho et al., 2003; Prado et al., 2013), respectivamente, sendo esta última também representativa dos magmas graníticos alcalinos. Em um ambiente pós-colisional, o pico de maior espessamento crustal usualmente se inicia em uma fase extensional como resultado de uma instabilidade gravitacional da crosta continental espessa, ocasionando a elevação da astenosfera e a fusão da crosta continental inferior, com consequente colocação de magmas derivados do manto na base da crosta continental. De acordo com Harris et al. (1986) e Liégeois (1998), dentro deste contexto, se a crosta continental é relativamente fina, ocorre a produção e colocação de magma basáltico, no

entanto, se a crosta é espessa, o fluxo de calor gerado pela elevação da astenosfera, devido ao adelgaçamento da crosta continental, causa a fusão da porção inferior, com consequente formação de magmas graníticos alcalinos do tipo A. Nesse sentido, este último processo deve ter sido o responsável pela construção do ambiente de back-arc e, consequentemente, pela sua instabilidade e extensão. Como resultado, deve ter ocorrido a formação dos magmas graníticos alcalinos seguida pela formação dos granitos do tipo A2 (Eby, 1992), como, por exemplo, a Suíte Teles Pires e o Pórfiro União do Norte. Adicionalmente, essa prosposta é confimada pela presença de rochas félsicas alcalinas contemporâneas a rochas máficas, como descrito por Barros et al. (2009), que interpretaram essa associação como resultado de fusão do manto peridotítico modificado pela subducção litosférica em um ambiente pós-colisional extensional.

Alternativamente, de acordo com o Assis (2015), o terceiro evento magmático poderia ter ocorrido durante o período pós-colisional associado ao evento Rio Negro-Juruena depois de sua amalgamação com a PVT no modelo de Tassinari & Macambira (1999).

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