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Ter raízes é talvez a necessidade mais importante e menos reconhecida da alma humana.

Como o próprio título do romance de Elisa Lispector sugere, a narrativa central se desenvolve em torno do movimento de exílio vivido pelas personagens principais. O exílio, como anteriormente citado, deu-se em virtude das invasões russas na Ucrânia (1921). O romance de Elisa Lispector inicia com a notícia da criação do Estado de Israel, em 1948:

Nascia-lhe uma doce esperança nos destinos do mundo. A humanidade estava-se redimindo. Começava, enfim, a resgatar sua dívida para com os judeus. Valera ter padecido e lutado. Quantas lágrimas, quanto sangue derramado. Eles não morreram em vão. (LISPECTOR, 2005, p.8)

A visão da personagem sobre o fato é de um recomeço para o povo judeu, agora em um território seu, deixando de ser estigmatizado como povo errante e passando a ter um lugar. A partir daí, surge, no início do segundo capítulo, em flashback, a narrativa de exílio. A viagem da família ucraniana é narrada com riqueza de detalhes sobre os lugares por onde passaram e as sensações da personagem Lizza. Conforme Nádia Gotlib (2014, P. 47):

Essa narradora foi criada por Elisa. Não é Elisa. E a personagem também não é Elisa. É Lizza. Isto é, quase Elisa. A semelhança fonética do nome parece contribuir para que a personagem do romance não seja, na verdade, Elisa, a autora, nem talvez narrador ou narradora, mas que remeta, de certa forma, a esta autora e/ou narradora.

A reflexão acima trata justamente do teor “quase autobiográfico” do relato de Elisa Lispector, o que retoma a ideia do capítulo anterior de ler o romance como autoficção, visto que Gotlib aborda a questão da criação da personagem Lizza, que, por diversos momentos, é o centro da narrativa.

A narração em No exílio é feita em terceira pessoa, mesmo com o foco narrativo estando nas lembranças da personagem Lizza, que representa Elisa Lispector no romance, porém, não é. A narrativa é construída como um espaço de memória da autora, o que deixa evidente o seu teor autoficcional. O ato de escrita do romance, portanto, “deseja perpetuar o vivo, mantendo sua lembrança para as gerações futuras, mas só pode salvá-lo quando o codifica e o fixa, transformando

sua plasticidade em rigidez, afirmando e confirmando sua ausência — quando pronuncia sua morte. (GAGNEBIN, 2006, p. 11).

O exílio aparece na trama como o evento central a ser narrado, não só o momento da viagem da família como a vida das personagens no Brasil, seus percursos, trajetórias, e, principalmente, o sentimento de Lizza, de ser exilada pelo resto de sua vida Para os Lispector, o exílio foi uma opção de fuga à violência sofrida. Conforme Said:

[...] não falo do exílio como um privilégio, mas como uma alternativa às instituições de massa que dominam a vida moderna. No fim das contas, o exílio não é uma questão de escolha: nascemos nele, ou ele nos acontece. Mas, desde que o exilado se recuse a ficar sentado à margem, afagando uma ferida, há coisas a aprender: ele deve cultivar uma subjetividade escrupulosa (não complacente ou intratável). (SAID, 2001, p. 57)

A subjetividade à qual Said se refere não aparece bem resolvida para Elisa Lispector, visto que a autora praticamente anula sua vida pessoal (não cumpre o esperado para uma mulher de seu tempo, como casar, ter filhos, etc.) em função de uma responsabilidade que toma para si: a de estar presa à memória da família, de registrar as vivências de sua família judaica/ucraniana exilada no Brasil. A função de ser a memória da família – que assume Elisa Lispector, tanto na escrita de No exílio (em forma de romance) quanto na escrita de Retratos antigos (como texto de memória) - chega a ela através de um anseio de seu pai.

Curiosamente, é ele, o pai, que sugere à filha que escreva uma história sobre “um homem que se perdeu”. Esse motivo de peça literária aí aparece como um esboço de história dentro do grande esboço que é o texto de memória de Elisa. Esboço dentro do esboço. Um dos pedaços de vitral desse mural de “destinos descumpridos”. (GOTLIB, 2012, P. 64)

A obra de Elisa apresenta teor de testemunho, pois visa

[…] contar, pela via ficcional, uma história com pilares fundados em territórios que efetivamente fazem parte da história da cultura judaica e da história das famílias judaicas-russo-ucranianas Krimgold (por parte de mãe) e Lispector (por parte de pai). (GOTLIB, 2014, p. 47)

Dito isto, a leitura que ora apresento de No exílio busca analisar o romance como um testemunho de sua autora, pois a escrita de Elisa Lispector contempla como espaço de memória não só de sua própria família, mas também uma parcela de judeus exilados. A escrita da autora, logo, relata um percurso histórico de perseguição aos judeus: as invasões russas na Ucrânia após 1917 e o contexto da Segunda Guerra Mundial e seu desfecho, com a criação do estado judeu em 1948.

No romance, portanto, Elisa Lispector cria personagens e recria ambientes vividos com o intuito de narrar a saga da família. Usando subterfúgios de ficção, como narrador em terceira pessoa, personagens, descrições, a autora traça o seu testemunho, o qual é descrito como: “Autobiografia disfarçada na forma do romance (...) o percurso da escritora desenha um compromisso respeitosamente sério em relação a valores pessoais, no âmbito familiar, e à cultura judaica, no âmbito coletivo.” (GOTLIB, 2014,P. 65)

No presente trabalho, procuro ler o romance como uma forma de testemunho, visto que:

O testemunho tanto artístico/literário como o jurídico pode servir para se fazer um novo espaço político para além dos traumas que serviram tanto para esfacelar a sociedade como para construir novos laços políticos. Esta passagem pelo testemunho é, portanto, fundamental tanto para indivíduos que vivenciaram experiências-limite, como para sociedades pós-ditadura. (SELIGMANN-SILVA, 2010, p. 12)

Para a família Lispector, a experiência-limite de que trata Seligmann-Silva é o pogrom. A violência sofrida fez com que tomassem a decisão do exílio, pois era a opção que tinham para fugir da violência. Passar pelo momento de registrar seu testemunho foi essencial para Elisa Lispector, já que esse registro fez com que exorcizasse lembranças7.

É, portanto, necessário que se pense o romance como ficção, o que não significa que, nos limites da ficção, não narre algo real. Dentre traços que se podem considerar verídicos dentro da

narrativa de Elisa8, destacam-se as cenas de terror vividas ainda na Ucrânia. Nessas cenas, o narrador conta com riqueza de detalhes como são os ambientes em que se passa a violência, as reações das personagens a essas violências e, principalmente, focaliza a experiência familiar e coletiva a partir do ponto de vista da personagem Lizza.

Falando na língua da melancolia, podemos pensar que algo da cena traumática sempre permanece incorporado, como um corpo estranho, dentro do sobrevivente. Na cena do trabalho do trauma, nunca podemos contar com uma introjeção absoluta. Esta cena nos ensina a ser menos ambiciosos ou idealistas em nossos objetivos terapêuticos. Para o sobrevivente, sempre restará este estranhamento do mundo, que lhe vem do fato de ele ter morado como que “do outro lado” do campo simbólico. (SELIGMANN-SILVA, 2010, p. 11)

A então sobrevivente Lizza carrega consigo o que Seligmann-Silva trata como estranhamento do mundo, ou seja, para ela, é o sentimento de ser estrangeira de tudo, e até para si mesma. Elisa Lispector trava, em sua obra, uma batalha contra o esquecimento. O desejo de silêncio sobre sua origem que tinha a irmã Clarice é justamente o inverso do desejo de fala e de se colocar em um lugar de estrangeira/judaica em sua fala que tem Elisa.

A narração é um contraponto do não-narrado, bem como a lembrança é contraponto do esquecimento. Para Lívia Reis (2007, P. 80), “a memória existe ao lado do esquecimento, um complementa e alimenta o outro. Para quem conta, a narração combina memória e esquecimento.”. O que se narra é, portanto, resultado desse conjunto de fatores. A ideia de testemunho, para Reis, é a de que, “tem uma conotação política muito marcada que se traduz em permitir o uso da palavra por aqueles que tradicionalmente se encontram excluídos.” (REIS, 2007, p. 79). É o caso de No exílio: através da ficção, uma imigrante judaica/ucraniana toma a palavra para narrar o que viveu, ou viu, ou criou.

O rastro de trauma na narrativa de Elisa Lispector é perceptível em diversos momentos de ação do romance. O trauma atinge todos, é ligado não só à personagem Lizza, mas diz respeito a uma vivência e a um conjunto de sentimentos que são coletivos. Retomando a noção de trauma:

Parece que as feridas continuam abertas, que não podem ser curadas, nem por encantações, nem por narrativas. A ferida não cicatriza e o viajante, quando, por sorte, consegue voltar para algo como uma “pátria”, não tem nem as palavras para contar, nem os ouvintes afetuosos para escutá-lo. (GAGNEBIN, 2002, p. 127)

A sorte de viver em algo como “pátria” Elisa Lispector não teve, tendo se sentido estrangeira no Brasil e não voltando à Ucrânia, lugar ao qual também, talvez, não pertencesse. Para Said: “O exílio, ao contrário do nacionalismo, é fundamentalmente um estado de ser descontínuo” (SAID, 2001 p. 50). Justamente esse evidente sentimento de não-pertencer, de descontinuidade, é marcado no romance No exílio. No trecho seguinte, é narrado, ficcionalmente, o fim da Segunda Guerra, no momento de criação do tão esperado Estado Judeu, que, para a população judaica, seria justamente uma pátria à qual pertencer.

Na hora derradeira, uns riram, outros choraram. Mais uma vez saíram às ruas, gritaram e se embebedaram. Alguns apenas ergueram os olhos para o alto e fizeram uma prece por um morto querido. Muito poucos foram os que oraram por todos os mortos esquecidos. Houve, ainda, os que não interromperam seus afazeres, não beberam nem oraram. Simplesmente ouviram e silenciaram. (LISPECTOR, 2005, p. 189)

Vale lembrar que a Lizza não foi “devolvida” a sensação de pertencimento, que nunca lhe coube, que nunca chegou a conhecer. Foi exilada ainda menina, vivendo radicalmente o exílio, não só em sua dimensão concreta, mas também nos seus aspectos subjetivos mais sutis, o que reafirma a sensação do modo de ser descontínuo.

O exercício de memória realizado pela romancista traz consigo traços de lembrança, rememoração, (re)vivências.

Porque a memória vive essa tensão entre a presença e a ausência, presença do presente que se lembra do passado desaparecido, mas também presença do passado desaparecido que faz sua irrupção em um presente evanescente. (GAGNEBIN, 2006, p.44. )

No caso dos Retratos antigos o testemunho se dá em forma do que Gotlib chama de “remembrança” - para usar um termo arcaico referente a rememorações e lembranças”.(GOTLIB, 2012, p. 59). É justamente o que Elisa Lispector faz ao longo do texto: rememorações e lembranças. Isso tudo com apenas um objetivo: não esquecer.

A narradora de Retratos é, assumidamente, Elisa Lispector. O foco narrativo está centrado nas fotografias da família, e o objetivo é contar a história dos antepassados à sobrinha-neta. As presenças e ausências da memória da autora são registradas, visto que os retratos, em alguns casos, são de “pessoas que nem sequer cheguei a conhecer, mas das quais não posso me descartar.” (LISPECTOR, 2012, p. 81). Como citado anteriormente, a escritora toma para si essa responsabilidade de contar a história da família, com o peso de não se poder descartar de pessoas que nem mesmo conheceu, mas com as quais assume este compromisso de memória.

Outro aspecto tratado por Gagnebin (2006) sobre a questão das memórias (especificamente as do povo judeu num contexto pós-guerra) é o desejo de extermínio dos judeus também para que não houvesse posterior narrativa do horror vivido. Para a autora,

As teses revisionistas são, com efeito, a conseqüência lógica, previsível e prevista de uma estratégia absolutamente explícita e consciente de parte dos altos dignitarios nazistas. Essa estratégia consiste em abolir as provas de aniquilação dos judeus (e de todos os prisioneiros dos campos). A “solução final” deveria, por assim dizer, ultrapassar a si mesma anulando os próprios rastros da existência. (GAGNEBIN, 2006, p. 46)

A obra de Elisa Lispector (aqui, refiro-me a ambas as publicações estudadas neste trabalho, No exílio e Retratos antigos) remonta a um passado, não sempre o seu, para externar o trauma vivido, o qual não pode e não deve ser esquecido

É próprio da experiência traumática essa impossibilidade do esquecimento, essa insistência na repetição. Assim, seu primeiro esforço consistia em tentar dizer o indizível, numa tentativa de elaboração simbólica do trauma que lhes permitisse continuar a viver e, simultaneamente, numa atitude de testemunha de algo que não podia nem devia ser apagado da memória e da consciência da humanidade. (GAGNEBIN, 2006, p. 27)

Gagnebin destaca a “impossibilidade do esquecimento”, característica notada no romance e, mais evidentemente, nos Retratos, por estarem inacabados e serem publicados como a autora os deixou: esboços a serem ampliados. Na epígrafe, Elisa Lispector chama a atenção para os descendentes, para que não se desvinculem da história dos antepassados.

Outro traço que merece destaque em No exílio é a violência contra o povo judeu, o que lhe confere grau de texto de memória também coletiva. Através das lembranças da autora e do seu ponto de vista, é possível construir, na leitura do romance, uma noção do que os judeus russos- ucranianos sofreram no início do século XX. Sobre as lembranças coletivas, Halbwachs postula:

Mas nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos. E porque, em realidade, nunca estamos sós. (HALBWACHS, p. 26, 1990).

As memórias narradas no romance variam de foco narrativo, aparecendo ora em falas das personagens, ora ao longo das descrições, na voz do narrador. Varia, também, o agente da lembrança: a fala, em alguns momentos, é de Lizza, em outros, calcada na memória de Pinkhas.

Em seguida eles assistiram à implantação do novo regime, como quem pisa em areias movediças. As ruas, de aparência festiva; as lojas, de portas cerradas. Praças e avenidas constantemente apinhadas de gente que trazia lenços vermelhos, fitas, flores e gravatas da mesma cor. Falava-se em liberdade, igualdade, fraternidade, enquanto municipalizavam casas e confiscavam pequenas indústrias.

“Ao judeu”, rememorou Pinkhas”, “fizeram sentir, uma vez mais, que era judeu”. (LISPECTOR, 2005, p. 45)

Para analisar a escrita de Elisa Lispector como registo de memória, como venho fazendo ao longo deste trabalho, é possível considerar que o exilado apresenta o que Said chama de “uma necessidade urgente de reconstituir suas vidas rompidas e preferem ver a si mesmos como parte de uma ideologia triunfante ou de um povo restaurado” (SAID, 2001 ,p. 50). Tendo em vista a reflexão de Said, é possível entender a obra de Lispector como uma vontade de pertencimento, por assim dizer, a um “povo restaurado”, alimentando, em última instância, um desejo e uma utopia de

pertencimento e de restituição, ao povo judeu, da paz, da pátria e da dignidade que lhe foram extirpadas.

A conclusão a que chego após as leituras e reflexões neste capítulo abordadas é a de que, em suas obras, Elisa Lispector deixa transparecer a dialética entre a celebração de suas raízes e a falta delas. A escritora vive, portanto, numa espécie de não-lugar, pois carrega consigo sempre o sentimento de não pertencer. Mesmo com a proclamação do Estado de Israel, terra prometida dos judeus, em 1948 (curiosamente, ano de publicação de No exílio), a escritora continua a carregar o fardo de ser estrangeira, juntamente à função de não deixar cair no esquecimento toda a violência vivida por seu povo.

CONCLUSÃO

Por que nada é seguro. O exílio é uma condição ciumenta. O que você consegue é exatamente o que você não tem vontade de compartilhar, e é ao traçar linhas ao seu redor e ao redor dos seus compatriotas que os aspectos mais atraentes de estar no exílio emergem: um sentimento exagerado de solidariedade de grupo e uma

hostilidade exaltada em relação aos de fora do grupo, mesmo aqueles que podem, na verdade, estar na mesma situação que você. (SAID, 2001 ,p. 51)

As palavras de Said ajudam a encerrar este trabalho. A condição de exilada faz com que a personagem Lizza permaneça, ao longo de toda a narrativa, distante de todos e reclusa em sua solidão. Relaciona-se timidamente com todos, mesmo com suas irmãs, não desenvolve laços sociais, não se casa, como era esperado de uma mulher nessa época. O pai sonhara para Lizza um casamento com marido judeu, que levasse as tradições adiante, mesmo que longe da pátria natal. Lizza não realiza o sonho paterno, dedica-se a estudar e a cultivar uma vida solitária.

Caminho semelhante foi seguido pela autora. A maneira que Elisa Lispector encontra para perpetuar os costumes, a vivência do exílio e do trauma, bem como a história de seus antepassados, foge do ideal doméstico previsto para as mulheres de sua época: sua estratégia é a literatura. Através de sua escrita, cria personagens, momentos, situações que mostram ao seu público leitor, ora como ficção (No exílio), ora como texto escrito em primeira pessoa (Retratos antigos), o que viu e vivenciou.

A conclusão a que chego com a leitura apresentada neste trabalho é a de que a romancista escreve como uma responsabilidade assumida: a de registrar o passado de sua família, marcando bem seu lugar de fala: imigrante judaica, ucraniana, nascida no início do século XX e fugitiva do terror bolchevique instaurado em seu país.

O modo que a escritora encontra para registrar seu testemunho é, primeiramente, o romance. Em No exílio, portanto, há momentos em que a narradora se detém ao momento histórico que se vive na Ucrânia, mostrando preocupação com a memória coletiva. Há, também, momentos em que a maior preocupação do romance é mostrar os sentimentos/as sensações da protagonista Lizza diante de tudo que, quando criança, presencia, e que carrega como pesado fardo emocional ao longo de toda sua vida.

Num segundo momento, ainda com anseios de registro de memória, Elisa Lispector trata de escrever essa história através do álbum de fotografias da família. Sobre as fotografias, (re)cria cenas e personagens, como se dividisse este momento e fruição das fotografias com o interlocutor.

Tanto lendo No exílio, como Retratos antigos, a leitora se depara, logo, com uma escritora madura, que narra a história familiar com riqueza de detalhes, aliando as descrições de pessoas e ambientes com momentos de reflexão. O que justifica, neste trabalho, apresentar ambas as leituras é que Retratos antigos auxilia a leitora a reconstituir, mesmo que com muitas lacunas, um pouco da biografia da autora e, portanto, valida a leitura de No exílio como autoficção.

Concluo, portanto, que a criação literária, o registro do testemunho e a narrativa de exílio são as linhas traçadas por Elisa Lispector ao seu redor, demonstrando uma noção de coletividade do povo judeu, mostrando-a solidária com seus semelhantes e mantendo viva, ao longo da vida da escritora, a sensação de ser exilada.

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