• Nenhum resultado encontrado

5.4 Biodeterioração do lenho das árvores de tipuana

5.4.1 Exame macroscópico do lenho sadio e deteriorado

Os resultados do exame macroscópico do lenho dos toretes das 13 árvores de tipuana são apresentados na Tabela 28 e Figuras 1 a 13 do Anexo D. O diâmetro médio do colo do tronco das árvores, com > 35 anos, de acordo a PMSP e moradores, foi de 0,74 ± 0,21 m

O cerne e o alburno do lenho das árvores de tipuana são indistintos, entretanto, observando-se, regiões de contorno irregular e com acúmulo de substância amarelada em 9 (69 %) amostras do lenho (Figura 30), considerada como extrativo(s) do lenho.

Figura 30 - Secção transversal do lenho de árvore de tipuana (amostra J) com cerne sadio sem extrativo (a) e com acúmulo de extrativo amarelado (b)

(a) (b)

Com relação ao grau de biodeterioração do lenho, evidenciou-se sua intensa deterioração interna, com valor médio de 34 ± 27 %, em relação à área transversal do tronco das árvores de tipuana; o lenho juvenil (cerne) foi biodeteriorado por fungos e/ou insetos (cupins e brocas-de-madeira), restando somente o lenho adulto, externo.

Fungo apodrecedor: o apodrecimento do cerne foi observado em 11 (85 %)

das árvores de tipuana, confirmando as observações de Rayner (1986 apud RAYNER; BODDY, 1988) de, constituir-se em causa da deterioração e de problemas estruturais das árvores; os fungos apodrecedores provocaram a deterioração da região central interna do tronco (cerne), constituído por células do xilema não funcionais e com teor de umidade adequado para seu desenvolvimento. Esses fungos podem ser considerados seletivos, adaptando-se a regime gasoso característico e tolerando os possíveis extrativos alelopáticos tóxicos. Por outro lado, o apodrecimento do alburno das árvores, estratégia de oportunismo não especializado segundo Rayner e Boddy (1988), relacionou-se às injúrias, sendo detectado em apenas duas árvores D e F (15 %). Desta forma, pode-se inferir que o apodrecimento do cerne das árvores de tipuana originou-se no interior do tronco sem associação com injúrias provocadas na sua região externa.

Cupim-subterrâneo: dez (91%) árvores de tipuana mostraram infestação de

cupins no cerne, evidenciada pela presença de oco interno e/ou vestígios de túneis no tronco, descritos por inúmeros autores, como Fontes (1998); Juttner (1997); Coli e Costa-Leonardo (1999). Na análise das amostras do lenho das árvores (C e J) identificou-se a espécie Coptotermes gestroi (família Rhinotermitidae).

O ataque dos cupins-subterrâneos observado somente na região do cerne apodrecido do tronco, pode-se inferir a existência de uma associação entre estes insetos e os fungos apodrecedores. Por outro lado, o ataque incipiente e restrito dos cupins no lenho das árvores de tipuana (C e D) evidenciou uma ocorrência secundária e indicativa da deterioração do lenho iniciada pelos fungos apodrecedores, conforme observado por Kalshoven (1963); Hickin (1971). Essas observações corroboram, também, os resultados de Cooper e Grace (1987) de que a infestação dos cupins- subterrâneos ocorre sem a indução de injúrias na superfície do tronco das árvores.

Broca-de-madeira: a incidência de brocas-de-madeira foi observada no lenho

e apodrecido de 8 (61%) árvores de tipuana, caracterizada pelas galerias escurecidas e indicativas do besouro-de-ambrosia (família Scolytidae e/ou Platypodidae).

Das árvores de tipuana, apenas a árvore C apresentou sintomas de declínio, com poucas folhas na copa e ausência de exsudação de goma como mecanismo de defesa. Nesta árvore o apodrecimento do lenho inclui a região do alburno e do sistema radicular pelo fungo Ganoderma sp.. As demais árvores de tipuana com característica e pronunciada biodeterioração do cerne pelos fungos apodrecedores, cupins e brocas-de- madeira apresentavam-se vivas e sem sinais de declínio evidentes.

Mecanismo de resistência: o exame macroscópico da secção transversal do

lenho evidenciou a formação de linhas escuras avermelhadas, denominadas de linhas

de compartimentalização, delimitando ou separando o lenho biodeteriorado do sadio em

todas as amostras analisadas (Figuras 1 a 13 do Anexo D e Figura 31), seja por fungos ou insetos xilófagos (cupins e de brocas-de-madeira).

Em 3 (23%) amostras do lenho das árvores de tipuana foram detectadas regiões mais escuras e avermelhadas, zonas de reação, (Figura 31), separando, também, o lenho biodeteriorado do sadio; verificou-se o apodrecimento do lenho por fungos de podridão branca nas amostras do lenho das árvores de tipuana (K, L) e infestação de besouros-de-ambrosia (família Scolitydae e/ou Platipodydae).na região central do lenho da árvore (X).

Essas alterações no lenho de árvores vivas foram descritas por Shigo (1979, 1983, 1984), como uma resposta às injúrias ou infecção por microrganismo ou insetos para compartimentalizar ou reduzir o avanço desses agentes infecciosos, denominando-se processo de compartimentalização. Para Hills (1962); Shigo e Hillis (1973); Manion e Zabel (1978); Shigo (1984) a zona de reação constitui-se em processo fisiológico de formação de cerne, resultante das alterações das células parenquimáticas vivas e não afetadas pelos fungos; o termo "cerne patológico" também foi proposto por Dadswell e Hillis (1962), considerando que diferentes extrativos podem ser encontrados no cerne, além dos normalmente.formados pelo metabolismo das árvores.

Entretanto, as zonas de reação e linhas de compartimentalização observadas nas árvores de tipuanas (Figura 31) encontravam-se na região do cerne, onde não existem mais células fisiologicamente ativas. Segundo Shigo (1984) os mecanismos de compartimentalização no cerne não estão ainda bem esclarecidos havendo, entretanto, algumas evidências, como: i) atividade enzimática residual (oxidases) no cerne promovendo a formação/transformação de substâncias existentes (SHIGO; HILLIS, 1973; SHIGO, 1984); ii) oxidação de substâncias, principalmente fenóis, pela presença de oxigênio (HILLIS, 1962; KNOKE, 2003; SORZ; HEITZ, 2007) e/ou; iii) a indução por fungo apodrecedor na formação do cerne (zona de reação). As linhas de compartimentalização ao redor das galerias de broca-de-madeira no lenho das tipuanas, podem indicar um processo físico-químico, sem a participação de células vivas.

Figura 31 - Secção transversal o lenho de árvores de tipuana (A, B e C = amostras K; D = amostra X) mostrando as linha de compartimentalização delimitando a área com ataque de fungo de podridão branca (lcf), de cupim-subterrâneo (lcc) e com túnel de broca-de-madeira (lcb) e as zonas de reação (zr) lcf zr lcb lcb zr lcf lcc lcb zr lcb

A

C

B

D

Tabela 28 – Exame macroscópico das árvores de tipuana da cidade de São Paulo

Parâmetros de descrição das amostras

Árvore de tipuana

A B C D E F G H J K L X Y Diâmetro do torete (m) 0,60 0,60 0,67 0,66 0,89 0,63 0,95 1,25 0,83 0,73 0,82 0,58 0,42

Deterioração interna (%) 27 30 100 65 16 32 33 21 36 28 54 0 0

Árvore viva / exsudação de seiva (+) (+) (-) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) Cerne com acúmulo de extrativos (-) (+) (-) (-) (+) (+) (+) (-) (+) (+) (+) (+) (+)

Oco interno (-) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (-) (-)

Apodrecimento do cerne (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (-) (-)

Apodrecimento do alburno / injúria (-) (-) (-) (+) (-) (+) (-) (-) (-) (-) (-) (-) (-) Ataque de cupim-subterrâneo (-) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (-) (-)

Ataque de broca-de-madeira (+) (+) (-) (+) (-) (-) (+) (-) (+) (+) (+) (+) (+)

Associação fungo e cupim (-) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (-) (-) Zona de reação (compartimentalização) (-) (-) (-) (-) (-) (-) (-) (-) (-) (+) (+) (+) (-) Linhas escuras (compartimentalização) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (+) (-)

Figura (Anexo D) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

(+) presença ou (-) da característica analisada