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EXAME DO NOSSO ATUAL QUADRO PARTIDARIO

Antes de chegarmos ãs conclusões finais, a b o r d a r e m o s r a p ^ d amene o atual sistema partidário. De início, façamos u m r e t r o s p e c ­ to sobre os partidos anteriores.

n/ N os tempos do Império, o acesso ã v i d a p o l í t i c a e, princ_i palmente, a liderança p a r t i d á r i a e r a m vedados, n a prática, a m e m bros de outras classes que não a elite rural.

Os partidos e r a m uma c o n t i n g ê n c i a deste d o m í n i o e foram c r iados pelos Senhores d a t e r r a p a r a facilitar o c o n trole do povo e, também, para simular u m governo democrático, diminuindo, assim, a p r essão p a r a p a r t i c i p a ç ã o no sistem.a partidário.

A insat i s f a ç ã o d e s t a elite com a p o l í t i c a do imperador , quando da abolição d a e s c r a v a t u r a e d a p e r m i s s ã o da p a r t i c i p a ç ã o po lítica de grupos emergentes, causou o fim da m o n a r q u i a e dos p a r t ^ d o s políticos.

A P r oclamação d a R e p ú blica representou, p a r a a classe dia, u m p a s s o adiante n o sentido da p a r t i c i p a ç ã o no poder, atê a da ta c o n c e n t r a d a nas mãos dos p r o p r i e t á r i o s de terra. Ela impunha no v a s condições políticas, impedindo os senhores r u rais de usar os ve lhos m é t o d o s imperiais de controle.

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A reforma do sistema eleitoral, a b o lindo a r e p r e s e n t a ç ã o c o m base n a renda e e s t a b e l e c e n d o e l e ições d i r e t a s para G overnador alêm d a p r e s e n ç a da classe média, r e p r e s e n t a d a p e l o s m i l i t a r e s ^ no p r i m e i r o Governo republicano, e s t i m u l o u e s s e s setores m é d i o s a . con

siderar viável a idêia de ascensão ao poder.

N ã o obstante, os clãs e l e i t o r a i s não se d e s m a n t e l a r a m e o t i p o de controle, e x e r c i d o p e l a elite agrária d u r a n t e este perío do, pode ser d e f inido como parcialista.

Os t r a b a l h a d o r e s u r b a n o s e r u rais c o n t i n u a v a m e x c l u í d o s d o sistema partidário, da m e s m a forma que no Império, havendo, po rém, a p a r t i c i p a ç ã o dos grupos de classe média, i n d u s t r i a i s e pro f issionais urbanas, tendo, porém, sua ação n e u t r a l i z a d a p e l o s m e c a nism.os de c o n t r o l e .

No p e r íodo que vai da P r o c l a m a ç ã o da R e p ú b l i c a atê a cria ção d a A l i a n ç a Liberal Brasileira, a e l i t e a g rária u t i l i z o u - s e de m e c a n i s m o s para m a n t e r o controle do s i s t e m a partidário, ou seja, a p o l í t i c a dos governadores, que g a r antiu a e x i s t ê n c i a dos clãs e l e ^ torais e da corrupção nas e l e ições e o P oder de V e r i f i c a ç ã o que con cedia ao Congresso a p r e r r o g a t i v a de a c eitar ou não os resultados das eleições. Nas disputas mais graves se u t i l i z a v a o chamado "esta dq de s í t i o " .

Partidos oposit o r e s s u r g i a m e v e n t u a l m e n t e n a é p o c a das eleições e sua d u r a ç ã o c o i n c i d i a com a da c a m p a n h a eleitoral. Uma vez derrotados, d e i x a v a m de e x i s t i r e r e a p a r e c i a m com lideranças e organi z a ç õ e s diferentes. E s t e s p a r tidos - C a m p a n h a Civilista, Rea ção R e p u b l i c a n a e A l i a n ç a L i beral - n ã o p o s s u í a m e s t r u t u r a s o r g a n ^ zacionais semelhantes ãs estrut u r a s dos p a r t i d o s modernos; no entan to, e x e c u t a v a m funções semelhantes, a l t e r a n d o o s i s t e m a de controle e l e t i s t a existente no período.

Depois de d errotadas pelo m o v i m e n t o r e v o l u c i o n á i o (1930), que r e s ultou b a s i c a m e n t e da A l i a n ç a t e m p o r á r i a entre as facções bur guesas não vinculadas ao café, as classes m é d i a s e o setor m i l i t a r tenentista, as aliquarquias e s t a duais a d e r i r a m comple t a m e n t e ao no vo governo. Lembramos, que a R e v o l u ç ã o de 1930 p r o v o c o u o declínio' do sistema de clãs rurais - " c o r o n e l i s m o " .

As p r i m eiras m e d i d a s do g o verno r e v o l u c i o n á r i o v i s a v a m . ã d e s t r u i ç ã o das máquinas de controle eleitoral. Isso pode ser consta tado p e l a r e forma feita no s i s t e m a eleitoral, q u a n d o d a i nstituição do v o t o obriga t ó r i o e s e creto e do v o t o feminino, a l é m de outras mo dificações efetuadas.

A inexis t ê n c i a de p a r tidos n acionais, no p e r í o d o de 1930- 1937, d e c o r r i a d a h e t e r o g e n e i d a d e que c a r a c t e r i z a v a ás forças revo l ucionárias (1).

Depois de 1937, os p a r tidos foram o f i c i a l m e n t e abolidos. Porém, quatro grupos a t uavam politicamente: a elite rural, os mili tares, os trabalhadores e o grupo liberal c o n s t i t u í d o de industri ais, classe m é d i a e parte dos militares. Os' três p r i m eiros f aziam parte do governo e o último d e s e n v o l v e u - s e g r a d a t i v a m e n t e , como for

(1) Os outros partidos mencionados em, capítulos anteriores , a Ação Integralista Brasil e i r a e o Partido Comunista, eram de p o u c a ex pressão nacional, representando apenas duas correntes de p e n s a ­ mento que se defrontariam n a época. Ver Mello Franco, O b . cit. pag. 88.

ça de oposição, atê c aptar a o u t r a facção m i l i t a r e d e r r u b a r o re gime, c o m o golpe de 1945, que d e s t i t u i u o ditador.

Tomando c o n s c i ê n c i a do papel que a b u r o c r a c i a p o d e r i a de s empenhar n a v i d a política, a elite agrária se p r o j e t o u na área po lítica, através do controle desta.

Surge o sistema de clãs p arentais, que viria d e s e n v o l v e r rapidamente, ap5s a ditadura, sob a forma d e " p a n e l i n h a s " (2).

C o m a q u e d a da d i t a d u r a e m 1945, intens i f i c o u - s e a part_i cipação popular, realçando, aí, a m u l t i p l i c i d a d e dos partidos.

O Partido Social D e m o c r á t i c o ( P S D ) , fundado formalmente e m 1945, reunia, sobretudo, advogados, comerciantes, p r o p r i e t á r i o s rurais, enfim, figuras de m a i o r d e s taque nos m u n i c í p i o s e Estados.

A União D e m o c r á t i c a N a c i o n a l (UDN) surge i n i cialmente co m o u m a "ampla frente democrática" b a s tante h e t e r o g ê n e a e com u m üni^

CO p o n t o comum: o a n t i g e t u l i s m o ..

E o P a rtido T r a b a l h i s t a B r a s i l e i r o (PTB) criado e m a gosto de 1945, cujas origens p r o v ê m de m o v i m e n t o o r g a n i z a d o inform a l m e n t e pelos p a rtidários da c ontinuação de G e tülio no governo de 1945. Ele v i s a v a atingir os operários u r banos frente ã a m e a ç a que constituia a influê n c i a do P a rtido Comunista, n ã o apenas sobre a m a s s a traba lhadora. desorganizada, mas sobretudo sobre os s i n d i c a t o s . . y

O controle do s i s t e m a partidário, n e s t e período, pode ser d e f i n i d o como teleolégico. M a n t i n h a ele os v a l o r e s d a elite agrária no p r o c e s s o decisõrio político. E m b o r a e x i s t i s s e o m u l t i p a r t i d a r i ^ m ó competitivo, o m e c a n i s m o de c o n trole d e s s a elite não p e r m i t i a o acesso real de outros grupos ao poder político, sendo suas e s t r a - tégia a neutralização.

Chegamos, entao, ao s i s t e m a atual r e p r e s e n t a d o p e l o bipar tidarxüiuu. A Arena e o MDB que v i e r a m a ter e x i s t ê n c i a legal a par tir de 15 de m a r ç o de 1966.

Ambos os partidos a l m e j a v a m o m e l h o r a m e n t o da democracia, através de u m a p r a t i c a e f e t i v a de r e p r e s e n t a ç ã o popular, mas não t r o u x e r a m n e n h u m ideal inovador. V

(2) A "panelinha" e um sistema de articulação de interesses. Seria "uma confraria solidaria de i n d i v í d u o s - c h a v e , unidos por laços m u i t o fortes ãs suas respectivas e bastante abrangentes famí lias. 0 grupo age como um todo e a p a r t i c i p a ç ã o num grupo ex clui a possibilidade de p e r t e n c e r a outro". Ver Paulo Roberto Motta. Ob. cit., pãg. 44.

Pelo p r õ p r i o p r o c e s s o de seu surgimento, a A r e n a n ã o es conde o'obje t i v o de ser o e l e mento p o l í t i c o e p a r l a m e n t a r apoiador d o governo. O MDB, por outro lado, aceita aparen t e m e n t e as r egras do jogo que lhe fora imposto,

P oderíamos realçar alguns a s p ectos p o s i t i v o s e o utros ne gativos dos atuais p a r t i d o s p o l í t i c o s ,n o Brasil.

De p o s i t i v o teríamos: o c a ráter nacional, d i s c i p l i n a e fi délid a d e partidária, sua i n s t i t u c i o n a l i z a ç ã o constitucional, fisca iização financeira. De negativo: coerção da c ú p u l a sobre a base, in f l u ência do poderia econômico, c r e s c i m e n t o d e s m e d i d o de grupos de interesse, incapacidade de d i a l o g a r com o p o d e r e o b i p a r t i d a r i s m o imposto.

Mas, dentre estes prós e contras, não há como fugir ã rea lidade de que atê hoje n ã o há d i f e r e n ç a s s u bstanciais entre os pro gramas dos dois partidos. Os d o i s lutam pelos m e s m o s ideais, ou se ja: educação, política, b e m comum, d e f e s a de i n t e r e s s e s c o m unitá rios, etc. Porém, dentro dos p r ó p r i o s p a r t i d o s há dissensões. N o MDB, os moderados, e g r e s s o s n a sua m a i o r i a do PSD, fazem o p o s i ç ã o ao regime, sem se libertar de sua v o cação g o v e r n i s t a e conservadora. Já a Arena, só tem a u n í - l a a sua capaci d a d e governista.

Como se vê, é d i fícil para ambos os p a r t i d o s saírem de sua c o n dição de figura decorativa, para a t u a r e m como v e r d a d e i r o s ór gãos de r e p r e s e n t a ç ã o popular.

0 resultado é o "Amorfismo" que conduz a uma falta de coesão ideoló g i c a e p r o g r a m á t i c a dos p a r t i d o s e m que vivemos.

são parti d o s nacionais, porêm, d e n t r o d e l e s n ã o há essa identidade, e x i s t i n d o facções, o p i niões d i v e r g e n t e s c o m r e lação ãs p r ó p r i a s m e t a s a cumprir. Os c omponentes d o s Partidos se u n i r a m coni relação ao ideal comum, ou seja, ser p a r t i d o d a situação no ca so d a /vrena, e da oposição - o MDB.

< C o m a g r a d ativa a b e rtura política, a n e c e s s i d a d e inicial desapareceu, surgindo então d i v e r s a s c o r r e n t e s de p e n s a m e n t o e con seqiíiente desentendimento, e o que o p o v o d e s e j a são g r a ndes parti d o s nacionais, c o m clara d i f e r e n c i a ç ã o ideológica, que sejam causa e e feito de u m a ação r e p r e s e n t a t i v a t a m b é m d i ferencial. \

Há n e cessidade de que o p o v o se integre no sistema p olíti co, sendo essa i n t e g r a ç ã o tarefa d o s partidos. Ê e v i d e n t e que não e stão cumprindo esse papel, só no m o m e n t o da eleições, q uando deter

m i n a d a p a r c e l a se vale do MDB, p a r a o p o s i ç ã o a s i t u a ç a o vigente.

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