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No capítulo anterior foi trabalhado tudo sobre a exclusão por indignidade, analisou-se seu conceito, hipóteses, legitimidade, dentre outros aspectos, porém não há somente essa forma de exclusão do direito sucessório, o Código Civil prevê mais uma alternativa para aqueles que querem privar algum herdeiro de receber seu quinhão.

E é por isso que este capítulo irá discorrer sobre o instituto da deserdação, que está prevista nos artigos 1.814, 1.962 e 1.963 do Código Civil de 2002. Falar-se- á sobre seu conceito, sobre a forma como se declara a deserdação, sobre as diversas hipóteses de cabimento, sobre legitimidade e prazo, para que ao fim não haja dúvidas quanto a essa forma de exclusão.

3.1 – CONCEITO DE DESERDAÇÃO

O instituto da deserdação pode ser conceituado como uma possibilidade de o testador aplicar uma sanção civil em face de seu herdeiro, que resulta na exclusão do seu direito sucessório.

É nesse sentido que o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2014, pág. 284) conceitua o instituto da deserção, como observa-se a seguir.

Deserdação é o ato unilateral pelo qual o testador exclui da sucessão herdeiro necessário, mediante disposição testamentária motivada em uma das causas previstas em lei. Para excluir da sucessão os parentes colaterais não é preciso deserdá-los; “basta que o testador disponha do seu patrimônio sem os contemplar” (CC, art. 1.850)

O doutrinador Silvio Venosa (2013, pág. 316) também leciona sobre o conceito deserdação, dispondo que: “a deserdação é, portanto, uma cláusula testamentária, a qual, descrevendo a existência de uma causa autorizada pela lei, priva um ou mais herdeiros necessários de sua legítima, excluindo-os, desse modo, da sucessão.

Destes trechos, é possível retirar três informações muito importantes. A primeira delas é referente ao testamento, pois a deserdação só se dá através de declaração expressa de vontade pelo testamento. Em segundo lugar, destaca-se a

necessdade de motivação em uma causa prevista em lei, ou seja, só é cabível a deserdação por meio de motivo previamente previsto em lei.

Por último, mas não menos importante, dá-se ênfase no polo passivo da relação, pois só é cabível a deserdação em face dos herdeiros necessários, como será abordado nos próximos temas.

3.2 – DECLARAÇÃO DOS DESERDADOS

Assim como no instituto da indignidade, a norma que regulamenta a deserdação também traz diversas limitações quanto aos polos que constituirão a relação jurídica no ato da deserdação.

Diante disso, passa-se a análise daquele que pode deserdar e daquele que pode ser deserdado.

3.2.1 – Aquele Que Possui o Poder de Deserdar

A deserdação é ato personalíssimo do autor da herança, seja na relação do testador para com seus descendentes (artigo 1.962, CC), seja com seus ascendentes (artigo 1.963, CC), ou ainda com relação ao cônjuge (artigo 1.814, CC). Portanto, somente ao autor da herança é dada a legitimidade para excluir um herdeiro necessário do seu direito sucessório.

Fala-se em herdeiro necessário, pois este é protegido pela legítima, ou seja, é possuidor do direito de 50% do quinhão total da herança, por isso, para deserda-los é preciso uma declaração de vontade expressa e motivada em dispositivo previsto em lei. Essa declaração de vontade expressa é realizada por meio de testamento, no qual deve conter a justificativa que motivou a deserdação do herdeiro necessário.

Porém, somente essa declaração em testamento não basta, é preciso que os motivos que ensejaram essa vontade sejam comprovados em juízo, através de uma ação judicial, onde, ao final, a vontade será confirmada por sentença e, somente a partir daí a deserdação começaria a produzir seus efeitos.

O professor Fábio Ulhoa Coelho (2012, pág. 520), confirma esse entendimento em sua obra doutrinária, conforme disposto a seguir.

A deserdação, como se disse, faz-se por testamento. Mas como o deserdado é sempre um herdeiro necessário, não basta a vontade do testador. A exclusão por deserdação só pode ser feita se realmente tiver ocorrido uma das causas que a autorizam. Por isso, para ter validade a deserdação, o testador deve declarar no testamento expressamente o fato que a motivou (CC, art. 1.964). Além disso, deve municiar seus herdeiros dos elementos probatórios que tiver às mãos, para que possam ter sucesso na ação judicial visando à declaração da exclusão. (Grifo meu)

Como mencionado anteriormente, a motivação que deu causa a deserdação deve ser provada em juízo, e incumbe ao herdeiro instituído, ou àquele que aproveite a deserdação provar a veracidade de tudo o que for alegado em testamento, conforme disposição do artigo 1.965 do Código Civil. Entretanto, esse direito não é ad eternum, pois há previsão de um prazo decadencial de 04 (quatro) anos, contados a partir da data de abertura da sucessão (morte do testador), de acordo com o disposto no parágrafo único do mesmo dispositivo legal.

É também nesse ínterim, que dispõem os doutrinadores Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2017, pág. 1417) em sua obra de direito civil, quanto a necessidade de uma ação judicial para provar o alegado após a abertura da sucessão, veja a transcrição a seguir.

Aberta a relação sucessória, com a morte do testador, será necessário, ainda, que o herdeiro instituído ou beneficiário, mediante ação própria – que deverá tramitar no próprio juízo do inventário ou arrolamento -, prove a veracidade da causa alegada pelo testador (art. 1.965 do CC).

O prazo para o exercício do direito potestativo é decadencial de quatro anos, a contar da abertura do testamento, coincidindo com o mesmo prazo para a ação de exclusão de herdeiro por indignidade (parágrafo único do art. 1.815 do CC/2002), o que ressalta a proximidade dos institutos.

Findo o prazo ou julgado improcedente o pedido, restará sem efeito a deserdação imposta no testamento.

Diante disso, é possível concluir que para o instituto da deserdação ser plenamente eficaz é necessária uma combinação de vários fatores, quais sejam, a declaração de vontade expressa em testamento, que esse testamento seja válido, que o motivo seja previsto em lei, provado em ação judicial própria, dentro do prazo legal e que essa ação seja julgada procedente, só então o herdeiro necessário será deserdado.

3.2.2 – Aquele Que Pode Ser Declarado Deserdado

Conforme já mencionado diversas vezes ao longo do texto, os únicos que podem ser deserdados, mediante declaração de vontade expressa em testamento, são os herdeiros necessários. Dentro desse grupo, compreendem-se os ascendentes, os descendentes, o cônjuge e agora o companheiro.

Os herdeiros facultativos não entram no rol da deserdação porque não há previsão legal que obrigue o testador a deixar parte da herança para esse grupo, portanto, caso o autor da herança não tenha a intenção de beneficiar algum herdeiro facultativo, basta apenas não os mencionar nas disposições testamentárias.

Carlos Roberto Gonçalves (2014, pág. 284), em sua obra de direito civil, volume de direito das sucessões, consagrou seu entendimento nesse sentindo, ao constar que os herdeiros facultativos são excluídos pela simples vontade do autor, não os contemplando em seu testamento, conforme a seguir.

Deserdação é o ato unilateral pelo qual o testador exclui da sucessão herdeiro necessário, mediante disposição testamentária motivada em uma das causas previstas em lei. Para excluir da sucessão os parentes colaterais não é preciso deserdá-los; “basta que o testador disponha do seu patrimônio sem os contemplar” (CC, art. 1.850).

Por fim, insta destacar que os motivos que levaram o autor da herança a desejar excluir o seu herdeiro deve estar previsto em lei, ou seja, estar no rol taxativo dos artigos 1.814, 1.962 e 1.963, do Código Civil e, ainda, o ato deve ser cometido anteriormente a disposição testamentária.

3.3 – REQUISITOS DE EFICÁCIA

O primeiro requisito de eficácia é o da existência de herdeiros necessários, pois como já explicado, o instituto da deserdação aplica-se somente a esse grupo de pessoas, portanto, não há que se falar em deserdação em casos que haja apenas herdeiros facultativos.

Em segundo plano, contempla-se o requisito da validade do testamento, pois àquele que for declarado nulo, caduco ou revogado não produzirá efeitos jurídicos, e por consequência o herdeiro necessário que seria deserdado, herdará normalmente. Destaca-se ainda que o testamento não pode ser substituído por instrumento

particular autenticado, escritura pública, codicilo ou termo judicial, pois é o único meio legal para excluir um herdeiro necessário da partilha.

Dentro do testamento deve conter o terceiro requisito de eficácia, qual seja, a expressa declaração de vontade baseada em causa prevista em lei, pois o rol que traz as possibilidades de declaração de deserdação é taxativo. Ou seja, não há outras possibilidades, nem mesmo por emprego de analogia, pois se trata de uma norma restritiva de direito.

Por fim, o último requisito de eficácia da deserdação é a propositura de uma ação ordinária própria, pois não basta apenas o herdeiro ser necessário, o testamento ser válido e a causa prevista em lei, se o herdeiro a quem aproveita a deserdação não ingressar em juízo para comprovar as alegações e buscar a confirmação, do disposto em testamento, através de sentença.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais corrobora com tal entendimento, uma vez que a lei é clara e o entendimento é pacífico, veja o julgado a seguir.

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ABERTURA DE INVENTÁRIO. HERDEIROS TESTAMENTÁRIOS. INVENTARIANTE. HERDEIRA NECESSÁRIA. DESERDAÇÃO. NECESSIDADE DE AÇÃO. PRÓPRIA NÃO MANEJO DESTA. A QUE SE NEGA PROVIMENTO AO RECURSO “IN SPECIE”. – A eficácia da disposição testamentária de deserdação subordina-se à comprovação da veracidade de causa arguida pelo testador, o que fará por meio da propositura de uma ação de rito ordinário. – Se os herdeiros a quem aproveitar a deserdação não manejarem a ação própria, consolidada resta a sucessão nos moldes do art. 1784 do Código Civil. (BRASIL, TJMG, 2013)

Portanto, deve o herdeiro instituído ingressar em juízo uma ação declaratória de deserdação, no prazo decadencial de 04 (quatro) anos, contados a partir da data de abertura da sucessão, e, provar a veracidade das alegações, pois caso não o faça no tempo correto, o herdeiro deserdado herdará normalmente.

3.4 – HIPÓTESES DE DESERDAÇÃO

Um dos requisitos de validade da declaração de deserdação é a motivação baseada em fato previsto em lei, portanto é imprescindível que qualquer declaração esteja motivada dentro do rol taxativo previsto pelo legislador, os quais se encontram nos dispositivos 1.814, 1.962 e 1.963, todos do Código Civil de 2002.

Os artigos 1.962 e 1.963 tratam das mesmas hipóteses, diferenciando-se pelo fato do primeiro ser em relação a deserdação dos descendentes e o segundo da deserdação dos ascendentes, porém, como uma forma mais didática, trabalhar-se-á com ambos os incisos juntos.

3.4.1 – Ofensa Física

A ofensa física está prevista no inciso I, dos artigos 1.962 e 1.963, do Código civil. Nesse dispositivo, o legislador pretendeu proteger os descendentes e ascendentes das agressões físicas, sendo estas de qualquer intensidade, tendo em vista a omissão legislativa em mensurar a intensidade da agressão, podendo, portanto, ser até mesmo uma agressão leve.

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:

I - ofensa física;

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:

I - ofensa física; (BRASIL, 2002)

Entende-se por ofensa física, as agressões de qualquer maneira, desde que sejam físicas, e não há necessidade de conduta reiterada, basta que tenha sido praticada pelo menos uma vez, pois as agressões representam uma falta de afinidade, de carinho e respeito com o testador. Entendimento compartilhado pelo professor e ex-desembargador, Carlos Roberto Gonçalves (2014, pág. 288), veja.

A ofensa física ou sevícia demonstra falta de afetividade, de carinho e de respeito, legitimando por isso a deserdação. Não se exige a reiteração. Basta uma única ofensa física que um filho cometa contra seu pai, ou uma filha contra sua mãe, por exemplo, para que a hipótese de deserdação seja cogitada.

Portanto, em casos de ofensa física entre descendentes e ascendentes, demostrada a agressão em juízo através de provas incontroversas, declarar-se-á o herdeiro necessário como deserdado.

3.4.2 – Injúria Grave

A injúria grave está prevista no inciso II, dos artigos 1.962 e 1.963, do Código civil. Aqui, ao contrário do item anterior, o legislador se preocupou em mensurar a intensidade da ação, pois não basta qualquer injúria, esta deve ser grave, deve ofender profundamente a honra, moral e boa fama do testador.

A apreciação da gravidade fica a cargo do juiz competente, que analisará o caso concreto, levando em consideração diversos fatores como as características pessoais dos envolvidos, a relação entre ambos, formação moral, entre outros. Portanto, é muito importante que o testador descreva minuciosamente a agressão e deixe provas concretas para provar o alegado.

Mais uma vez o ilustre professor e doutrinador Carlos Roberto (2014, págs. 288 e 289) corrobora com esse entendimento, veja a seguir.

Não basta qualquer injúria, pois o adjetivo “grave” exige que tenha atingido seriamente a dignidade do testador e contenha o animus injuriandi. Compete ao juiz apreciar a gravidade da injúria no caso concreto, segundo o seu prudente arbítrio, não deixando, porém, de levar em conta as características pessoais dos envolvidos, tais como formação moral, nível social e cultural da família, bem como o ambiente em que vivem. Configurada a ofensa à dignidade do testador, a deserdação por ele imposta punitivamente ao ofensor será mantida.

A injúria grave constitui ofensa moral à honra, dignidade e reputação da vítima, sendo praticada por palavras ou escritos, tais como cartas, bilhetes, telegramas, bem como por meio de gestos obscenos e condutas desonrosas. Muitas vezes o comportamento ultrajante e afrontoso de um filho pode magoar e insultar de forma mais profunda o pai do que palavras ofensivas.

Desse trecho conseguimos extrair uma informação importante, a de que a injúria grave não é, necessariamente, apenas verbal, mas como elucidado acima, ela pode ser realizada através de meios escritos, como recados, bilhetes, textos, cartas, e-mails, dentre outras formas.

3.4.3 – Relações Ilícitas

Primeiramente, se faz necessário explicar quais relações ilícitas o legislador se preocupou em observar nesse momento, pois no mundo jurídico existem várias delas, porém se tratando do direito das sucessões, o legislador trouxe como relação ilícita as relações incestuosas e adulterinas.

O doutrinador Silvio de Salvo Venosa (2013, pág. 327), discorre sobre o assunto em sua obra, confirmando o disposto pelo legislador, como vê-se a seguir.

O inciso III fala das relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto. As relações só serão lícitas se houver casamento ou união estável, o que, convenhamos, é difícil ocorrer na prática. Esse relacionamento repugna o senso comum, desequilibra emocionalmente o lar e abala a vítima. A lei reprime-se de dizê-lo, mas desejou significar no texto relações sexuais.

O doutrinador e professor Fábio Ulhoa Coelho (2012, pág. 519), em sua obra de sucessões, também vem reafirmar o entendimento claro da letra da lei, como no trecho transcrito.

Também são causas para a deserdação as relações sexuais entre o descendente e o cônjuge do ascendente (madrasta ou padrasto do primeiro), assim como as do ascendente e o cônjuge do descendente, quando revestidas de ilicitude, isto é, caracterizarem adultério (CC, arts. 1.962 e 1.963). A lei cogita também de relações sexuais ilícitas com o companheiro do descendente[...]

Portanto, pode-se analisar as relações ilícitas por dois aspectos, tanto na relação de ascendente-descendente (artigo 1.962, inc. III, CC), como na relação descendente-ascendente (artigo 1.963, inc. III, CC). Na primeira, se tem as relações sexuais que ocorrem entre o(a) herdeiro(a) e sua madrasta ou padrasto. Na segunda, se tem as relações sexuais que ocorrem entre o(a) herdeiro(a) e o marido/companheiro ou esposa/companheira do filho(a)/neto(a).

3.4.4 – Desamparo

Assim como os demais incisos trabalhados, o desamparo também se verifica como uma via de mão dupla, pois o abandono ocorrido pode ser tanto do ascendente para com o descendente, quanto o inverso. Tal abandono se dá, de acordo com a previsão legal, quando o ascendente ou descendente encontra-se acometido de alienação/deficiência mental ou grave enfermidade.

O abandono pode se dar por falta de assistência financeira, espiritual e moral. No entanto, vale se fazer uma ressalva quanto a falta de assistência financeira, pois quando restar comprovado que o ascendente/descendente não possui condições reais para prestar tal auxílio, não ficará caracterizado o abandono.

É dessa maneira que leciona o doutrinador e professor Carlos Roberto Gonçalves (2014, págs. 290 e 291), destacando ainda, a respeito da expressão “deficiência” mental no tocante ao abandono do descendente, a qual entende ser mais condizente com a realidade da psiquiatria moderna, de acordo com o trecho transcrito a seguir.

A quarta causa de deserdação — desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade — pode abranger a falta de assistência material, espiritual ou moral. Não se caracteriza a primeira quando o herdeiro não tem possibilidade de fornecer os recursos necessários. Já se decidiu, com efeito, que a internação do testador como indigente num hospital durante grave enfermidade não autoriza a deserdação, se não se prova que o filho tinha recursos para custear o tratamento.

Na hipótese de desamparo do ascendente em alienação mental, a deserdação será possível se o desassistido recuperar o juízo, uma vez que a deserdação somente pode ser determinada em testamento válido. Como tal convalescimento constitui fato raro, muito dificilmente se efetivará a deserdação, nessas circunstâncias

[...]

E o inciso IV ganhou redação aperfeiçoada, mais condizente com a moderna psiquiatria, usando a expressão “deficiência mental” no lugar de “alienação mental”. Sem dúvida, o desamparo diante da deficiência mental ou grave enfermidade de um descendente, cometida pelo ascendente, em geral possuidor de maiores recursos financeiros, revela-se mais grave e repulsivo do que a idêntica conduta omissiva do descendente.

O Tribunal de Justiça de São Paulo tem decidido nesse mesmo sentido, no que diz respeito ao abando financeiro quando o autor da herança tem total condições de arcar com seus tratamentos, não configurando o abandono e, por consequência, não excluindo o herdeiro da secessão. Veja o seguinte julgado.

Ementa: DESERDAÇÃO. Causa fundada em desamparo imputado pelo

testador gravemente enfermo a seus filhos e herdeiros necessários. Eficácia da disposição subordinada à efetiva prova de ocorrência da causa expressa no testamento. Desamparo não comprovado. Testador que não necessitava de auxílio econômico, pois provido de recursos. Insuficiência de prova quanto à ausência de amparo emocional dos filhos ao pai, enquanto se encontrava gravemente enfermo. Ônus da prova do alegado desamparo a cargo dos herdeiros instituídos ou legatários a quem aproveite a deserdação. Parte disponível da herança não atingida pela ausência de prova da causa da deserdação, como, de resto, já previsto e disposto no testamento. Sentença correta, que analisou com serenidade a prova dos autos. Recurso Improvido.

3.4.5 – Deserdação do (a) Cônjuge ou Companheiro (a)

Por se tratar de herdeiros necessários, os cônjuges ou companheiros (as) também estão suscetíveis a serem deserdados pelo autor da herança. Porém, sobre esse ponto da deserdação, é preciso fazer uma ressalva, pois o legislador previu situações específicas para as relações descendente/ascendentes e vice-versa, no

entanto, nada especificou sobre as hipóteses de deserdação dos

cônjuges/companheiros.

Diante disso, restou aos doutrinadores e a jurisprudência especificar em quais hipóteses seria cabível a deserdação dos cônjuges/companheiros, ficando sedimentado que a eles se aplicam apenas as hipóteses trazidas pelo artigo 1.814 do Código Civil, uma vez que apenas esse artigo trouxe expressamente o cabimento em face de cônjuges/companheiros.

3.5 – EFEITOS DA DESERDAÇAO

Os efeitos da deserdação são motivos de divergência doutrinária, uma vez que o legislador se omitiu nesse ponto. Alguns doutrinadores se posicionam no sentido de que os efeitos da exclusão se estende a seus sucessores. Por outro lado, a maioria da doutrina entende que assim como na indignidade, o efeito da declaração de deserdação é personalíssimo, ou seja, atinge apenas a pessoa do deserdado, e, portanto, seus herdeiros herdam como se o deserdado morto fosse antes da abertura da sucessão (Código Civil, artigo 1.816).

Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2017, pág. 1.418) corroboram com o entendimento doutrinário majoritário, uma vez que defendem em sua obra conjunta que os efeitos da deserdação devem permanecer apenas na pessoa do deserdado, não atingindo seus sucessores.

Diante da divergência doutrinária, cabe-nos expor nosso posicionamento. E ele, sem dúvida, é no sentido de limitar os efeitos da deserdação à pessoa do deserdado, reconhecendo-se, aos seus sucessores, o direito de representação, tal como se dá na exclusão por indignidade (art. 1.816). Com efeito, parece-nos exagerado ampliar os efeitos da deserdação aos seus herdeiros, pois, se, por um lado, reconhecemos a gravidade da conduta dele, por outro, não consideramos possível se estender os efeitos da responsabilidade a ele imputada.

É nesse sentido que os tribunais superiores têm aplicado em seus julgados, conforme se vê na decisão do Tribunal de Justiça do Piauí, o qual reconheceu o

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