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MARIANA GIANINI AMORIM A EXCLUSÃO DO DIREITO SUCESSÓRIO PELA INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO SEGUNDO O CÓDIGO CIVIL DE 2002

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Cuiabá 2018

MARIANA GIANINI AMORIM

A EXCLUSÃO DO DIREITO SUCESSÓRIO PELA

INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO SEGUNDO O CÓDIGO

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Cuiabá 2018

A EXCLUSÃO DO DIREITO SUCESSÓRIO PELA

INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO SEGUNDO O CÓDIGO

CIVIL DE 2002

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito.

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A EXCLUSÃO DO DIREITO SUCESSÓRIO PELA

INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO SEGUNDO O CÓDIGO

CIVIL DE 2002

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade de Cuiabá, como requisito parcial para a obtenção do título de graduado em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

Prof(ª). Titulação Nome do Professor(a)

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Dedico este trabalho a todos os meus familiares e amigos, que sempre me acompanharam, torceram por mim e me apoiaram nas minhas escolhas.

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Agradeço primeiramente a Deus, por todas as bênçãos e oportunidades que Ele me concedeu, para que eu pudesse concluir essa trajetória da melhor forma possível, estando sempre comigo em todos os momentos e, por muitas vezes, sendo minha força para seguir em frente.

Em segundo lugar, não poderia deixar de agradecer aos meus pais, Marco e Márcia, que durante toda minha vida não pouparam esforços, fazendo do impossível o possível, para que pudesse ter sempre a melhor educação, com o intuito de me proporcionar um futuro de sucesso e uma vida tranquila.

Agradeço ainda todo amor, carinho, confiança, parceria que ambos sempre tiveram comigo, por estarem ao meu lado sendo minha fortaleza nas tempestades, por todas as conversas, conselhos e direcionamentos que me deram, me ajudando por muitas vezes com as minhas escolhas.

Agradeço também a minha irmã Melissa, que durante o caminho árduo da jornada acadêmica sempre trouxe muita alegria e carinho para minha vida e para os meus dias, com essa personalidade única que ela tem, e também, por sempre me apoiar e defender.

Registro também, meus agradecimentos aos meus avós paternos, Benedito e Nathalina, que sempre estiveram comigo desde pequena, cuidando de mim e me ensinando os princípios e valores da vida, por estarem ao meu lado e por sempre acreditarem que eu possa alcançar os melhores resultados em tudo. E claro, aos meus avós maternos, Osvaldo e Rosa, que apesar de não os ter conhecido, sei que de alguma forma estão sempre olhando por mim no céu.

Não posso deixar de agradecer ao meu namorado José Victor, que esteve ao meu lado me apoiando, aguentando todas as minhas oscilações de humor, meus momentos de estresse, de cansaço, e mesmo assim sempre me colocou para cima e nunca deixou de acreditar no meu potencial.

Por fim, agradecer aos meus colegas de classe, que durante esses anos de curso foram meus companheiros diários de aula, meus parceiros de tardes de estudos e trabalhos, sempre contribuindo para o meu crescimento acadêmico. E aos meus amigos da vida, que me acompanharam e sempre torceram por mim, alguns mesmo que à distância.

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Deserdação Segundo o Código Civil de 2002. 2017. Número total de folhas. Trabalho de Conclusão do Curso de Direito – Universidade de Cuiabá, Cuiabá, 2018.

RESUMO

O direito sucessório consiste no conjunto de regras que regulamentam a transmissão dos bens, após a morte de seu proprietário, para os devidos sucessores, podendo ocorrer por disposição testamentária ou em virtude de lei. No entanto, o nosso ordenamento jurídico previu algumas hipóteses em que os herdeiros ficaram restritos de exercer os seus direitos sucessórios. Refere-se aos institutos da indignidade e deserdação, previstos nos artigos 1.814; 1962 e 1.963 do nosso Código Civil. O objetivo deste trabalho é discutir as hipóteses de aplicação desses institutos, elucidar quem pode suscitá-los, para ao fim poder distingui-los de uma maneira mais clara, através de pesquisa bibliográfica e documental. Para tanto, primeiramente será analisado o conceito de sucessão, os seus fundamentos e quais os tipos de sucessão previstas. Posteriormente, será explanado ambos os institutos, individualmente, passando por todas as hipóteses e peculiaridades de cada um, apresentando o entendimento dos doutrinadores e jurisprudencial, afim de alcançar o objetivo maior que é a compreensão das distinções existentes entre ambos os institutos.

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Deserdação Segundo o Código Civil de 2002. 2017. Número total de folhas. Trabalho de Conclusão do Curso de Direito – Universidade de Cuiabá, Cuiabá, 2018.

ABSTRACT

The succession law consists of the set of rules that regulate the transfer of assets, after the death of its owner, to the successors due, and may occur by testamentary provision or by virtue of law. However, our legal system has provided for some cases in which the heirs were restricted from exercising their inheritance rights. We are talking about the institutes of indignity and disinheritance, foreseen in the articles 1.814; 1962 and 1963 of our Civil Code. The objective of this work is to discuss the hypotheses of application of these institutes, to elucidate who can raise them, in order to be able to distinguish them in a clearer way, through bibliographical and documentary research. In order to do so, we will first analyze the concept of succession, its foundations and what types of succession are envisaged. Subsequently, both institutes will be explained, individually, going through all the hypotheses and peculiarities of each one, presenting the understanding of the doctrinators and jurisprudential, in order to achieve the greater objective that is the understanding of the distinctions between both institutes.

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INTRODUÇÃO ... 9

1.0 - O DIREITO SUCESSÓRIO ... 11

1.1 – CONCEITO DE SUCESSÃO ... 11

1.1.1 – Diferença entre Sucessão Entre Vivos e Causa Mortis ... 12

1.1.2 – Dos Sujeitos do Direito das Sucessões ... 12

1.2 – ABERTURA DA SUCESSÃO ... 13

1.2.1 - Princípio de Saisine... 14

1.3 – CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE SUCESSÃO ... 15

1.3.1 - Sucessão Legítima ... 15

1.3.2 - Sucessão Testamentária ... 16

1.3.3 - Sucessão Universal... 17

1.3.4 - Sucessão Singular ... 17

1.4 - CAPACIDADE SUCESSÓRIA ... 18

1.5 – ORDEMDEVOCAÇÃOHEREDITÁRIA ... 19

2.0 – EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE ... 21

2.1 – CONCEITODEINDIGNIDADE ... 21

2.2 – DECLARAÇÃODOSINDIGNOS ... 22

2.2.1 – Aquele Que Pode Requerer a Declaração de Indignidade ... 22

2.2.2 – Aquele Que Pode Ser Declarado Indigno ... 23

2.3 – HIPÓTESES DE INDIGNIDADE ... 23

2.3.1 – Atos Contra a Vida ... 24

2.3.2 - Atos Contra a Honra... 25

2.3.3 – Atos Contra a Liberdade ... 26

2.4 – EFEITOS DA EXCLUSÃO PARA OS HERDEIROS DO EXCLUÍDO ... 27

3.0 – EXCLUSÃO POR DESERDAÇÃO ... 29

3.1 – CONCEITO DE DESERDAÇÃO ... 29

3.2 – DECLARAÇÃO DOS DESERDADOS ... 30

3.2.1 – Aquele Que Possui o Poder de Deserdar ... 30

3.2.2 – Aquele Que Pode Ser Declarado Deserdado ... 32

3.3 – REQUISITOS DE EFICÁCIA ... 32

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3.4.2 – Injúria Grave ... 35

3.4.3 – Relações Ilícitas ... 35

3.4.4 – Desamparo ... 36

3.4.5 – Deserdação do (a) Cônjuge ou Companheiro (a) ... 38

3.5 – EFEITOSDADESERDAÇAO ... 38

4.0 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 40

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INTRODUÇÃO

Durante toda a vida as pessoas lutam para construir um patrimônio, para garantir uma vida tranquila a si mesmo e para sua família, e quando o autor da herança vem a falecer é adequado que seu patrimônio seja transmitido a seus familiares e pessoas mais próximas, denominados herdeiros, através da sucessão legal ou pela disposição de última vontade (testamento). No entanto, as relações familiares nem sempre ocorrem de maneira pacífica e afetuosa, ante a diversidade de personalidades e opiniões que podem existir dentro de um grupo familiar. E é visando proteger o direito de disposição dos bens e transmissão sucessória que o legislador previu alguns institutos que privam determinados herdeiros de exercer seu direito sucessório.

Contra aqueles que atentam de alguma forma contra o grupo familiar o legislador previu os institutos da Indignidade e da Deserdação, cada um é exercido de uma maneira diferente, porém com a finalidade única de privar o herdeiro de exercer o seu direito à herança. Tal direito é garantia constitucional, porém não é absoluta, pois como mencionado, pelo ordenamento jurídico brasileiro é possível a exclusão do herdeiro na hora da partilha dos bens, ou seja, este não receberá o seu quinhão hereditário. No entanto, esta possibilidade não é tão difundida e debatida perante a sociedade, ficando restrita ao conhecimento técnico daqueles que traçam as carreiras jurídicas.

É nesse sentido que se justifica a elaboração desse trabalho, em uma tentativa de realizar uma abordagem mais clara e explicativa, para a sociedade em geral, no que se refere ao direito sucessório, explanando mais especificamente as possibilidades de se excluir um herdeiro do exercício do seu direito à herança pela indignidade e deserdação.

Ao construir a análise do tema, surgem vários questionamentos, várias problematizações, sendo elas, qual o conceito dessas normas? Quem pode ser declarado indigno ou deserdado? Em quais hipóteses? Quais os efeitos jurídicos desses institutos? E é por meio desses problemas que se constituirá a abordagem e explanação do tema durante todo trabalho.

O objetivo primário reside em identificar as várias diferenças existentes entre ambos os institutos, para a melhor compreensão do conteúdo e da dinâmica proposta pelo legislador, sempre de acordo com o disposto do Código Civil de

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2002, sanando as dúvidas básicas existentes referentes ao assunto, para que a sociedade como um todo possa compreender definitivamente como estão dispostas as normas de exclusão.

Como objetivo secundário, o estudo busca conceituar os institutos da indignidade e da deserdação, bem como, compreender os efeitos legais que cada um confere a seus herdeiros, haja vista que aqueles deixam de fazer parte da partilha da herança. E por fim, comparar as temáticas principais, reforçando os contrastes existentes entre as normas, sempre em conformidade com o entendimento doutrinário e o disposto no texto legal.

Este trabalho será realizado utilizando a metodologia de pesquisa bibliográfica, a qual será desenvolvida através de materiais publicados em livros, artigos, dissertações, teses, doutrinas, leis, códigos e outras fontes mais. Será usado, principalmente, o método qualitativo pois será elaborado de acordo com diversos entendimentos e interpretações acerca do tema, atribuindo conceitos, definições e estabelecendo as diferenças.

No capítulo 1, será disposto sobre os conceitos básicos da sucessão, seus fundamentos, os tipos de sucessão, sobre a sua abertura, a ordem de vocação, tudo para uma melhor compreensão do tema geral, para que só então passe ao tema principal. No capítulo 2, será abordado tudo sobre o instituto da deserdação, seus conceitos, hipóteses, peculiaridades e entendimentos jurisprudenciais. E por fim, no capítulo 3, será apresentado tudo sobre o instituto da deserdação, com os mesmos temas do capítulo anterior, demonstrando também os entendimentos jurisprudenciais, para possibilitar a comparação e diferenciação das normas trabalhadas, alcançando assim, o objetivo central do trabalho.

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1.0 - O DIREITO SUCESSÓRIO

O direito sucessório compreende em um conjunto de regas que regulamentam a transferência patrimonial daquele que veio a falecer, em prol, de seus sucessores, seja ela por lei ou por disposição de última vontade (testamento).

Este capítulo apresentará, de forma clara, uma introdução ao direito sucessório, abordando pontos principais, como o conceito, as modalidades sucessórias, quando ocorre a abertura da sucessão, em que consiste a capacidade sucessória e por fim, apresentar a ordem da vocação hereditária.

1.1 – CONCEITO DE SUCESSÃO

O doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 16), faz uma tentativa de conceituar o direito das sucessões, afirmando que o conceito de sucessão pode ser dividido em dois sentidos, sendo eles:

A palavra “sucessão”, em sentido amplo, significa o ato pelo qual uma pessoa assume o lugar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens. Numa compra e venda, por exemplo, o comprador sucede ao vendedor, adquirindo todos os direitos que a este pertenciam. De forma idêntica, ao cedente sucede o cessionário, o mesmo acontecendo em todos os modos derivados de adquirir o domínio ou o direito.

[...]

No direito das sucessões, entretanto, o vocábulo é empregado em sentido estrito, para designar tão somente a decorrente da morte de alguém, ou seja, a sucessão causa mortis. O referido ramo do direito disciplina a transmissão do patrimônio, ou seja, do ativo e do passivo do de cujus ou autor da herança a seus sucessores.

Nesse mesmo interim, o doutrinado Silvio de Salvo Venosa (2013, p. 17), ao discorrer sobre o conceito de direito das sucessões, também entende que há dois sentidos, porém apenas um se aplica a presente matéria, veja a seguir:

Quando se fala, na ciência jurídica, em direito das sucessões, está-se tratando de um campo específico do direito civil: a transmissão de bens, direitos e obrigações em razão da morte. É o direito hereditário, que se distingue do sentido lato da palavra sucessão, que se aplica também à sucessão entre vivos.

Por sua vez, Fabio Ulhoa Coelho (2012, p. 494), conceitua o direito das sucessões como sendo uma transmissão patrimonial causa mortis, assim explica em

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sua obra, “O direito das sucessões cuida de um dos meios de transmissão, que é a morte da pessoa física. Como o patrimônio não pode ficar sem titular, morrendo esse, deve ser imediatamente transferido para outras pessoas”.

Portanto, entende-se como conceito de sucessão, para o assunto tratado neste trabalho, a transmissão patrimonial do autor da herança, que ocorre com o evento morte, para os seus sucessores, seja por disposição de última vontade (testamento), ou seja, por força de lei.

1.1.1 – Diferença entre Sucessão Entre Vivos e Causa Mortis

Como apresentado anteriormente, alguns doutrinadores, reconhecem a existência de outra forma de sucessão, a que ocorre entre vivos, portanto é imprescindível diferenciar essas definições, pois neste trabalho será direcionado apenas na sucessão que ocorre causa mortis.

Entende-se por sucessão entre vivos quando um indivíduo assume o lugar de outro, em uma relação de compra e venda por exemplo. E por causa mortis aquele em que o herdeiro ou legatário assumem a propriedade patrimonial do de cujus. É a forma como leciona Silvio e Salvo Venosa (2013, p. 1):

No direito, costuma-se fazer uma grande linha divisória entre duas formas de sucessão: a que deriva de um ato entre vivos, como um contrato, por exemplo, e a que deriva ou tem como causa a morte (causa mortis), quando os direitos e obrigações da pessoa que morre transferem-se para seus herdeiros e legatários.

Apesar de ambas serem importantes, para a compreensão deste trabalho se utilizará apenas o conceito de transmissão causa mortis, pois como lecionou o doutrinador supracitado, é ela que ocorre com a transmissão patrimonial do de cujus para seus herdeiros e legatários.

1.1.2 – Dos Sujeitos do Direito das Sucessões

Há três sujeitos na relação sucessória causa mortis. O primeiro deles é o sujeito ativo, ou seja, o autor da herança, aquele que era proprietário dos bens e veio a falecer. Já o segundo sujeito é o passivo, o qual compreende-se como os herdeiros e legatários. E por fim, o espólio, que é um ente despersonalizado.

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Nesse sentindo, leciona Flávio Tartuce (2016, p. 1512), em sua obra Manual de Direito Civil:

[...] a herança forma o espólio, que constitui um ente despersonalizado ou despersonificado e não de uma pessoa jurídica, havendo uma universalidade jurídica, criada por ficção legal. A norma processual reconhece legitimidade ativa ao espólio, devidamente representado pelo inventariante (art. 75, VII, do CPC/2015, correspondente ao art. 12, V, do CPC/1973).

Destaca-se que o espólio, apesar de ser um ente despersonalizado, possui legitimidade ativa para figurar em processos judiciais, sendo representado pelo inventariante.

1.2 – ABERTURA DA SUCESSÃO

De acordo com o entendimento doutrinário exposto, é possível entender que a abertura da sucessão se dá por meio do evento morte, e só então, os bens do acero patrimonial do autor serão passados aos herdeiros por meio de posse indireta. Veja a inteligência do artigo 1.784 do CC (Brasil, 2002): “Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. ”

É como leciona o doutrinador Venosa (2013, p. 27):

Somente a morte pode dar margem à sucessão. A morte física, o desaparecimento da vida do titular. O direito moderno já não conhece a morte civil. Como as consequências da morte são inúmeras, a lei fixa preceitos para a determinação do momento da morte, bem como sua prova. É também dessa forma que entende o doutrinador Paulo Nader (2016, p. 52 e 53) ao discorrer sobre a abertura da sucessão, dizendo que:

A abertura da sucessão se opera em razão do acontecimento morte e no exato momento em que esta se verifica, independentemente do qualquer ato judicial ou providência dos interessados. A morte é o grande fato jurídico

stricto sensu, provocador da abertura da sucessão (...). Como efeito direto

da morte, o acervo patrimonial se transmite imediatamente aos herdeiros. Portanto, o início da sucessão se dá com o fim da vida do de cujus, ou seja, se dá com o evento morte ou com a constatação desta. Nesse momento os herdeiros recebem a posse indireta, pois o acervo hereditário permanece indivisível,

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só será conferida a posse direta e os bens, aos herdeiros, ao fim do inventário com a partilha.

1.2.1 - Princípio de Saisine

O princípio de Saisine é uma ficção jurídica, que determina que o patrimônio do autor da herança seja transmitido aos seus herdeiros assim que ocorra o evento morte. Porém, na prática não é exatamente assim, os herdeiros recebem a posse indireta, convivendo em condomínio hereditário, sendo necessário um inventário para regularização dessa transmissão para que todos recebam a posse definitiva.

É o entendimento do doutrinador Pablo Stolze (2017, p. 1362):

O princípio da “saisine”, portanto, à luz de todo o exposto, pode ser definido como a regra fundamental do Direito Sucessório, pela qual a morte opera a imediata transferência da herança aos seus sucessores legítimos e testamentários.

Fábio Ulhoa Coelho (2012, p. 539), também dispõe sobre o princípio de Saisine, mencionando que “A saisine importa uma transmissão provisória, que se convola em definitiva quando o herdeiro expressamente declara aceitar a herança ou simplesmente pratica atos que demonstram sua concordância em recebê-la”.

Já Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 27), traz em sua obra a origem do princípio de Saisine, lecionando que o mesmo surgiu na época da Idade Média, quando os herdeiros dos arrendatários sentiram a necessidade de perpetuar a posse da terra e não mais pagar tributos toda vez que o arrendatário falecia. Leia-se a seguir:

O princípio da saisine surgiu na Idade Média e foi instituído pelo direito costumeiro francês, como reação ao sistema do regime feudal. Por morte do arrendatário, a terra arrendada devia ser devolvida ao senhor, de modo que os herdeiros do falecido teriam de pleitear a imissão na posse, pagando para tal uma contribuição. Para evitar o pagamento desse tributo feudal, adotou-se a ficção de que o defunto havia transmitido ao seu herdeiro, e no momento de sua morte, a posse de todos os seus bens.

Portanto, resta claro que o princípio de Saisine é uma ficção jurídica, que permite a transmissão da propriedade e da posse indireta aos herdeiros legítimos e testamentários do de cujus, no momento da abertura da sucessão (evento morte),

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com o intuito de não deixar seu acervo patrimonial desprotegido e sem nenhum cuidado.

1.3 – CLASSIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES DE SUCESSÃO

Sabe-se que o direito a sucessão se dá pelo evento morte do autor da herança e que ocorre através de declaração de última vontade e/ou disposição legal. No entanto, pode-se classificar as espécies de sucessões pela fonte, sendo elas: a) legítima; b) testamentária; ou pelo efeito, sendo elas: c) universal; d) singular.

A inteligência do artigo 1.786 do Código Civil discorre sobre a classificação quanto a fonte, conforme a seguir: “Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade. (BRASIL, 2002). ”

Veja a seguir, mais detalhadamente, cada uma das espécies supracitadas.

1.3.1 - Sucessão Legítima

A sucessão legítima, como o próprio nome diz, decorre de uma determinação legal, onde o legislador tentou presumir qual seria a vontade do de cujos em dispor a sua herança, após a sua morte. Para isso, criou-se uma ordem de vocação hereditária, como verá mais adiante.

É esse o entendimento que o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 30) apresenta, em sua obra, a seus leitores, conforme transcrito:

Morrendo, portanto, a pessoa ab intestato, transmite-se a herança a seus herdeiros legítimos, expressamente indicados na lei (CC, art. 1.829), de acordo com uma ordem preferencial, denominada ordem da vocação hereditária. Costuma-se dizer, por isso, que a sucessão legítima representa a vontade presumida do de cujus de transmitir o seu patrimônio para as pessoas indicadas na lei, pois teria deixado testamento se outra fosse a intenção. (Grifo do autor)

Está prevista no código civil, em seu artigo 1.788, a primeira previsão de vontade do autor da herança para efetuar a transmissão patrimonial, prevendo que o acervo será transmitido aos herdeiros legítimos quando não houver testamento, quando este for nulo, ou quando parte dos bens não for compreendido no mesmo, conforme a transcrição do artigo supracitado:

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Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for julgado nulo. (BRASIL. 2002)

A lei traz uma segunda disposição sobre uma proteção chamada Legítima, no seu artigo 1.846 do Código Civil, que diz respeito a metade dos bens da herança, que devem ser deixados para os herdeiros entendidos como necessários, também prevendo uma vontade do de cujus, segundo o texto da lei: “Art. 1.846. Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima. (BRASIL, 2002). “

Portanto, entende-se como sucessão legítima aquela que ocorre por previsão legal, originada de uma tentativa de presumir a vontade do de cujus quando não a deixa escrita, e visando proteger o direito sucessório dos herdeiros necessários.

1.3.2 - Sucessão Testamentária

Partindo do raciocínio do item anterior, a sucessão testamentária é aquela originada pela expressa declaração de última vontade do autor da herança em dispor de seus bens antes de sua morte, através de testamento. No entanto, esta não é absoluta, como já mencionado existe a proteção da legítima, ou seja, o autor deve respeitar a disposição de metade da sua herança para seus herdeiros necessários, podendo dispor livremente dos outros 50% (cinquenta por cento).

Sobre a disposição testamentária leciona o doutrinador Flávio Tartuce (2016, p. 2553 e 2554) que:

O testamento representa, em sede de Direito das Sucessões, a principal forma de expressão e exercício da autonomia privada, como típico instituto mortis causa. Além de constituir o cerne da modalidade sucessão testamentária, por ato de última vontade, o testamento também é a via adequada para outras manifestações da liberdade pessoal.

Assim, pode-se entender a sucessão testamentária como a declaração de última vontade do autor da herança, dispondo livremente sobre 50% (cinquenta por cento) e deixando a outra metade para os herdeiros necessários, podendo também deixar disposições não patrimoniais, como por exemplo, declaração de paternidade.

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1.3.3 - Sucessão Universal

A sucessão universal é aquela que faz parte, juntamente com a sucessão singular que será trabalhada a seguir, da classificação quanto aos efeitos.

Entende-se por sucessão a título universal, aquela em que ocorre a transmissão do acervo patrimonial através de herança a pessoas denominadas herdeiros. A herança, por sua vez, entende-se como um todo ou uma quota não determinada, como por exemplo, uma fração da herança.

É nesse sentido que ensina o doutrinador Fábio Ulhoa Coelho (2012, p. 500):

Desse modo, se a sucessão importa a transferência da titularidade do patrimônio como um todo, sem especificação dos bens transferidos, os sucessores são herdeiros. Recebem do falecido uma herança. Aqui, a sucessão é universal.

Esse tipo de sucessão pode ocorrer de forma legítima ou testamentária, ou seja, o herdeiro pode receber sua quota da herança através de disposição legal e/ou declaração de última vontade do autor.

1.3.4 - Sucessão Singular

A sucessão a título singular, por sua vez, é aquela que ocorre com a transmissão do acervo patrimonial através de legado a pessoas denominadas legatários, ou seja, ocorre a transferência de uma coisa determinada, como por exemplo, um relógio antigo que passa de geração em geração, de pai para filho.

Nesse ínterim, discorre em sua obra o autor e doutrinador Silvio de Salvo Venosa (2013, p. 10):

Legado é um bem determinado, ou vários bens determinados, especificados no monte hereditário. O legatário sucede a título singular, em semelhança ao que ocorre na sucessão singular entre vivos. Só existe legado, e consequentemente a figura do legatário, no testamento. Não tendo o mono deixado um testamento válido e eficaz, não há legado.

Ao contrário da sucessão a título universal, a sucessão a título singular só ocorre por vias testamentárias, pois não há previsão normativa que imponha a transferência de legado para os sucessores.

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1.4 - CAPACIDADE SUCESSÓRIA

Assim lecionam os doutrinadores Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2017, p.1394) a respeito da capacidade sucessória:

O art. 1.798 do Código Civil brasileiro de 2002 consagra a regra geral sucessória, aplicável tanto à Sucessão Legítima como à Testamentária, segundo a qual têm legitimidade para suceder “as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão”.

Assim, se o sucessor, beneficiário da herança, já é falecido ao tempo da morte do autor da herança, por óbvio, nada herdará, bem como, nesta mesma linha, pessoas ainda não concebidas, em regra, também não herdarão.

Segundo o artigo 1.798, CC/02, a capacidade sucessória legítima se dá por pessoas nascidas ou já concebidas (nascituro) no momento da abertura da sucessão, ou seja, quando ocorre o evento morte: “Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão. (BRASIL,2002). “

Já a luz do artigo 1.799, do mesmo texto legal, anteriormente mencionado, encontra-se o rol dos legitimados a suceder pela via testamentária, de acordo com a transcrição a seguir:

Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:

I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;

II - as pessoas jurídicas;

III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação. (BRASIL,2002)

Destaca-se, por fim, que o inciso primeiro possui um prazo para acontecer, a espera pela concepção não é ad eternum, se no prazo de 02 anos não ocorrer a concepção, salvo disposição em contrário do testador, a clausula fica prejudicada, cabendo a parte aos herdeiros legítimos, conforme disposto no artigo 1.800, parágrafo 4º.

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1.5 – ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

A ordem de vocação hereditária é bem simples de se entender, é uma ordem criada pelo legislador, para chamar os herdeiros a receber sua parte da herança, na tentativa de prever a vontade do de cujus, ou seja, criou-se uma prioridade na ordem de chamamento, chamando dos familiares mais próximos aos mais afastados.

Essa ordem está prevista no artigo 1.829, do Código Civil brasileiro, conforme se transcreve a baixo:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: (Vide Recurso Extraordinário nº 646.721) (Vide Recurso Extraordinário nº 878.694)

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente;

IV - aos colaterais.(BRASIL, 2002)

Destaca-se que essa norma sofreu duas importantes alterações, a primeira delas é referente ao cônjuge, que no código civil de 1916 era apenas um herdeiro facultativo que se encontrava na terceira posição, porém o código civil de 2002 inovou e trouxe o cônjuge a posição de herdeiro necessário, tendo sua parte na legítima protegida e concorrendo em igualdade com descendentes e ascendentes.

A Segunda foi o reconhecimento recente da condição do companheiro, que hoje se iguala ao cônjuge na concorrência com descendentes e ascendentes, pois até então era apenas um herdeiro facultativo, que para ser chamado a herdar deveria o autor da herança deixar um testamento com essa disposição, caso contrário o mesmo nem era chamado a herdar.

O doutrinador Carlos Robertos Gonçalves (2014, p.22) disserta em sua obra sobre o assunto, conforme a seguir:

Inovação significativa foi introduzida nessa parte com a alteração da ordem de vocação hereditária. O cônjuge sobrevivente passa a concorrer com os descendentes, em primeiro lugar, e com os ascendentes, em segundo lugar. Deixa a condição de herdeiro legítimo facultativo e de ocupante do terceiro lugar no rol estabelecido no diploma de 1916 e passa ao status de herdeiro legítimo necessário, colocado em primeiro lugar na ordem de preferência (arts. 1.829 e 1.845).

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Portanto, entende-se por vocação hereditária um chamamento dos herdeiros, para receber o quinhão hereditário que lhe cabe, em uma ordem pré-estabelecida por lei, chamando aqueles que tinham um maior convívio com o de cujus, até os mais afastados, limitando-se ao colateral de 4º grau.

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2.0 – EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE

No capítulo anterior, realizou-se uma abordagem referentes aos temas principais da sucessão, com vistas a esclarecer alguns pontos e introduzir a temática do trabalho, para facilitar a sua compreensão acerca do tema maior.

De agora em diante, serão discutidos os temas principais, aqueles que discorrem sobre a exclusão da sucessão. Neste capítulo será tratado todos os aspectos referentes a indignidade, qual sejam, o seu conceito, quais as pessoas que podem ser declaradas indignas e em quais situações, como ficam os herdeiros dos indignos e qual o entendimento jurisprudencial sobre o assunto.

2.1 – CONCEITO DE INDIGNIDADE

Como disposto anteriormente, a abertura da sucessão se dá com o evento morte, o que ocasiona a transmissão da herança para os herdeiros e legatários, entretanto, podem ocorrer situações que ensejam o afastamento de algum herdeiro, seja por vontade do autor quando ainda em vida (deserdação), ou após sua morte por outrem interessado na herança (indignidade).

A Indignidade, por sua vez, consiste em uma sanção civil punitiva, a qual priva, o herdeiro ou o legatário, do seu direito de receber o seu quinhão hereditário, no momento da abertura da sucessão, fato que se dá com a morte do autor da herança.

Nesse mesmo sentido leciona Maria Helena Diniz (2002, p. 73):

Instituto bem próximo da incapacidade sucessória é o da exclusão do herdeiro ou do legatário, incurso em falta grave contra o autor da herança e pessoas de sua família, que o impede de receber o acervo hereditário, dado que se tornou indigno.

A indignidade vem a ser uma pena civil que priva do direito à herança não só o herdeiro, bem como o legatário que cometeu os atos criminosos, ofensivos ou reprováveis, taxativamente enumerados em lei, contra a vida, a honra e a liberdade do de cujus ou de seus familiares.

Para que a indignidade do herdeiro seja declarada é preciso que algum dos interessados na herança acionem o poder público, através de uma ação e comprove durante o processo a ocorrência de umas das hipóteses previstas pela legislação brasileira.

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Silvio Venosa (2013, págs. 55 e 56) em sua obra, ensina que é dessa forma que se deve proceder quando for um dos interessados na declaração de indignidade de um herdeiro, veja a transcrição a seguir:

A indignidade exposta na lei não opera automaticamente e não se confunde com incapacidade para suceder. Há necessidade que seja proposta uma ação, de rito ordinário, movida por quem tenha interesse na sucessão e na exclusão do in digno. Os casos típicos de indignidade descritos no art. 1.814 devem ser provados no curso da ação (ver art. 1.815).

Portanto, entende-se por Indignidade a declaração de exclusão do exercício do direito sucessório, advinda de um processo judicial, o qual tem como legitimado para requerer o MP, outro herdeiro ou legatário interessado, por consequência de uma ou mais ações do herdeiro excluído, podendo ser interposta antes ou depois da abertura da sucessão.

2.2 – DECLARAÇÃO DOS INDIGNOS

2.2.1 – Aquele Que Pode Requerer a Declaração de Indignidade

Como a indignidade não é automática, para que surtam seus efeitos ela deve ser provocada, no entanto, não pode ser por qualquer pessoa, mas somente os legitimados.

O autor Flávio Tartuce (2016, pág. 1511), traz em sua obra aqueles que são legitimados a ingressar com essa ação, veja o trecho a seguir:

[...] A ação de indignidade pode ser proposta pelo interessado ou pelo Ministério Público, quando houver questão de ordem pública, conforme reconhece o Enunciado n. 116 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil. O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se no prazo decadencial de quatro anos, contados da abertura da sucessão (art. 1.815, parágrafo único, do CC). [...] (grifo meu).

Portanto, os legitimados trazidos pela doutrina são: a) Ministério Público, quando houver questão de ordem pública; b) Herdeiros ou legatários interessados. Destaca-se ainda, que esse direito não é “ad eternum”, ou seja, possui um prazo prescricional, que segundo o artigo 1.815, § único, do Código Civil (Brasil, 2002),

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esse prazo é de 04 (quatro) anos, contados da abertura da sucessão (morte do autor da herança).

2.2.2 – Aquele Que Pode Ser Declarado Indigno

Assim como existem aqueles que são legitimados a ingressar com a ação de declaração de indignidade, existe aqueles que podem ser declarados indignos, ou seja, aqueles, ao quais devido suas ações contra o de cujus, não gozaram do direito de receber sua quota hereditária.

O doutrinador Carlos Roberto (2014, p. 77), nos traz em sua obra as pessoas que permeiam o rol de indignos, baseando-se na afeição real ou presumida do defunto para com o herdeiro ou legatário, veja a transcrição:

A sucessão hereditária assenta em uma razão de ordem ética: a afeição real ou presumida do defunto ao herdeiro ou legatário. Tal afeição deve despertar e manter neste o sentimento da gratidão ou, pelo menos, do acatamento e respeito à pessoa do de cujus e às suas vontades e disposições.

A quebra dessa afetividade, mediante a prática de atos inequívocos de desapreço e menosprezo para com o autor da herança, e mesmo de atos reprováveis ou delituosos contra a sua pessoa, torna o herdeiro ou o legatário indignos de recolher os bens hereditários.

Conclui-se assim, que qualquer herdeiro ou legatário, dependendo de suas atitudes, pode sofrer uma ação para que seja declarada sua indignidade, e assim, restará impedido de exercer seu direito sucessório, ficando de fora da partilha dos bens do de cujus.

2.3 – HIPÓTESES DE INDIGNIDADE

Para que haja a declaração de indignidade é necessária uma ação de um herdeiro ou legatário contra o de cujus ou seus familiares. Porém, não é toda e qualquer ação que enseja a declaração, existe um rol previsto no artigo 1.814 do Código Civil, que enumera atitudes que possibilitam essa ação.

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2.3.1 – Atos Contra a Vida

Como mencionado, a inteligência do artigo 1.814, CC, elucida as possibilidades de em que ocorre a exclusão do herdeiro ou legatário, e contra quem essa ação deve recair. Em seu inciso primeiro, o legislador elege o homicídio, nas suas formas tentada ou consumada, conforme transcrição do artigo a seguir.

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente; (BRASIL, 2002).

Basta o reconhecimento da autoria do crime, cumulado com a ação civil interposta pelo herdeiro ou legatário interessado, bem como o Ministério Público, para efetivamente ser declarada a indignidade por atos contra a vida, veja a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo a seguir.

Ementa: Ação de Indignidade – Direito das Sucessões – Demanda fundada

no artigo1.814, I do CC – Requerido é autor de homicídio contra a genitora da Autora – Sentença de Procedência – Inocorrência da prescrição – Cerceamento de defesa não verificado – Declaração de indignidade - Sentença mantida – Recurso improvido. (BRASIL, TJSP, 2016).

O crime de homicídio por si só já é um crime de repulsa social, ainda mais quando é praticado por um herdeiro ou legatário, com o único intuito de se aproveitar do montante patrimonial do de cujus. O caso mais conhecido no país é o da Suzane Louise Von Richthofen, até hoje discutido pela doutrina.

Sobre o caso de Suzane L. V. Richthofen, o doutrinador Salomão Cateb (2015, 59) explica desta forma:

Causou assombro o assassinato do casal Manfred Albert e Maísa Von Richthofen, ocorrido em 31 de outubro de 2002. O bárbaro homicídio apurado pela polícia, confirmou que a própria filha, Suzane Louise, de 19 anos, participou, juntamente com seu namorado, Daniel, de 21 anos, e seu irmão Cristian, de 27 anos, do crime praticado. Noticiaram os jornais que, após o fato, o casal dirigiu-se para um motel.

Difícil, sob aspecto psicológico, definir a ação criminosa da filha. Por outro lado, na área do direito civil, poderá a filha ser excluída do processo sucessório, por indignidade, na forma do art. 1.814 do CCB/2002, desde que seu irmão, Andreas, o outro herdeiro postule a ação ordinária incriminando a irmã. Em caso de falecimento do irmão de Suzane e, inexistindo descendentes e ascendentes, o direito de propositura da ação é transmitido para os colaterais e, na inexistência de herdeiros sucessíveis, poderá o município vir a propor a ação.

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O irmão de Suzane, Andreas, entrou com a ação de declaração de indignidade, a qual foi julgada procedente diante do trânsito em julgado da sentença criminal condenatória, a qual condenou Suzane pelo assassinato dos genitores. Destaca-se, porém, que majoritariamente a doutrina entende que não há necessidade de esperar o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

2.3.2 - Atos Contra a Honra

A honra é uma garantia constitucional, a qual deve ser respeitada independentemente de grau de parentesco. Diante disso o inciso segundo do artigo 1.814 do Código Civil previu que o cometimento de um crime contra a honra do autor, cônjuge ou companheiro, enseja em exclusão da sucessão.

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;(BRASIL, 2002).

Observando o entendimento jurisprudencial, nota-se que há uma necessidade de provar o cometimento do crime do indigno de forma incontroversa, como vê-se na decisão do Tribunal do Rio Grande do Sul:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. EXCLUSÃO DA SUCESSÃO

POR INDIGNIDADE. ART. 1.814, II, DO CPC. AUSÊNCIA DE CONDENAÇÃO CRIMINAL. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. O reconhecimento da indignidade do herdeiro pela prática de crimes como calúnia, difamação ou injúria perpetrados contra o extinto, seu cônjuge ou companheiro exige, consoante o disposto no art. 1.814, II, do CPC, prévia condenação no juízo criminal. Manutenção da sentença que extinguiu o feito, na forma do art. 267 , VI , do CPC . APELAÇÃO DESPROVIDA. (BRASIL, TJRS, 2012).

Dessa mesma forma entende o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, conforme decisão abaixo:

Ementa: Apelação Cível. Ação “declaratória de exclusão de padrasto em

sucessão testamentária”. Improcedência. Preliminar de cerceamento de defesa afastada. Desnecessidade de dilação probatória. Mérito. Pedido inicial fundado no art. 1.814, II, do código civil. Pretendida declaração de indignidade do requerido, pai adotivo do testador. Inexistência de acusação caluniosa em juízo ou de crime contra a honra do autor da herança. Tramitação de demanda cível do pai em face do filho que não macula o direito à sucessão pela relação de ascendência. Pedido inicial descabido. Pleito, em contrarrazões, de condenação por litigância de má-fé. Descabimento. Recurso conhecido e desprovido. (BRASIL. TJSC, 2014).

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Conclui-se, portanto, que diferente dos atos contra a vida (inciso I), nos atos contra a honra (inciso II) é necessário provar o ocorrido em juízo, bem como, só podem configurar o polo passivo o próprio autor da herança, o cônjuge ou o companheiro, qualquer acusação fora desses parâmetros se torna o ajuizamento da ação inviável.

2.3.3 – Atos Contra a Liberdade

Por fim, o legislador previu uma sanção punitiva àqueles que por meio de violência ou artimanhas, inibam o autor da herança de dispor livremente dos seus bens em testamento, conforme se evidencia a seguir:

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários: [...]

III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade. (BRASIL, 2002).

Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2016, págs. 1410 e 1411) dispõem em sua obra que a violência, seja ela física ou moral, bem como a fraude, merecem ser rechaçadas e o herdeiro excluído da sucessão, como nota-se a seguir:

Assim, caso um dos sucessores haja cometido atos de violência física ou moral para se beneficiar ou impedir a plena exteriorização do ato de última vontade, deverá, por medida de justiça, ser excluído da relação sucessória. Em qualquer das hipóteses, quer tenha havido coação física ou moral contra o autor da herança, vale dizer, “a prática de atos de violência”, capaz de inibir ou obstar a sua livre manifestação de vontade, impõe-se a aplicação, a título punitivo, da medida de exclusão da herança por indignidade.

Também a “fraude” poderá resultar na imposição da mesma medida.

A doutrina entende que devesse provar a coação ou a violência durante o processo para que a exclusão por indignidade seja declarada, caso contrário a mesma não obterá efeito, veja o julgado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal:

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Ementa: DIREITO INTERTEMPORAL. REGÊNCIA CPC /73. CONSOLIDAÇÃO. PREPARO. COMPROVAÇÃO POSTERIOR. RECURSO ADESIVO. DESERTO. INDIGNIDADE. ART. 1814, III, DO CC . DOLO. AUSÊNCIA. DANOS MORAIS. INOVAÇÃO RECURSAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. A Lei 13.105 /15, em vigor desde 18 de março de 2016, não se aplica à análise de admissibilidade e mérito dos recursos interpostos contra decisão publicada antes desta data. Inteligência do Enunciado Administrativo n. 2 do Superior Tribunal de Justiça. 2. O preparo deve ser comprovado no ato de interposição do recurso, sob pena de deserção, nos termos do art. 511 do Código de Processo Civil. 3. Conforme impõe o artigo 519 do Código de Processo Civil deve ser aplicada a pena de deserção, se inexiste nos autos a demonstração de justo impedimento ao recolhimento do preparo ao interpor o recurso. 4. A indignidade é uma sanção cível imputada a um herdeiro ou legatário que pratica ato com alto grau de reprovabilidade jurídica e social, elencadas no art. 1814 do Código Civil . 5. A hipótese de violação das disposições de última vontade do falecido (art. 1814 , III , do CC ) prescinde da demonstração inequívoca do dolo do agente, quando ausente a má-fé. Em face dos elementos probatórios não há como reconhecer a indignidade. 6. A responsabilidade civil e o dever de indenizar exigem a presença de certos requisitos, a saber: (I) o ato ilícito; (II) a culpa em seu sentido lato sensu; (III) o nexo etiológico que une a conduta do agente ao prejuízo experimentado pela parte ofendida; e (IV) o dano. 7. A ausência de quaisquer dos elementos elencados afasta a caracterização do pleito indenizatório referente à danos morais. 8. Em sede de apelação não se pode conhecer de tese não proposta na instância inferior, pois configurada a inovação recursal – art. 517 do CPC. Precedentes. 9. A distribuição do ônus sucumbencial e o montante fixado a título de honorários advocatícios que atendem os critérios estabelecidos na lei de regência (artigo 20 e seguintes) [...] (BRASIL, TJDF, 2016). (grifo meu).

Desse modo, conclui-se que para ser efetivamente declarada a indignidade pela prática de atos contra a liberdade de testar é preciso uso de violência física ou psicológica (coação), ou por meio de fraude (alteração, inutilização, falsificação de documentos e etc.), contra o autor da herança, a qual deve ser provada em juízo. Destacando-se, por fim, que nesta modalidade o legislador não estabeleceu o necessário cometimento de crime, podendo assim ter efeitos apenas civil (ex: defeito do negócio jurídico).

2.4 – EFEITOS DA EXCLUSÃO PARA OS HERDEIROS DO EXCLUÍDO

O legislador, no intuito de proteger o herdeiro daquele que foi declarado indigno, previu na lei que os efeitos dessa declaração são personalíssimos, portanto, só atingem a pessoa do indigno e não seus descendentes, e por consequência, esses herdam como se aqueles morto fossem no momento da abertura da sucessão, conforme previsão do artigo 1.816 do Código Civil.

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Art. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.

Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens. (BRASIL, 2002).

É possível notar outro efeito da exclusão sucessória, qual seja, a abstenção do direito de usufruto ou da administração dos bens que seus sucessores herdaram, ou seja, os excluídos não têm direito algum sobre o patrimônio do de cujus em razão da exclusão.

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3.0 – EXCLUSÃO POR DESERDAÇÃO

No capítulo anterior foi trabalhado tudo sobre a exclusão por indignidade, analisou-se seu conceito, hipóteses, legitimidade, dentre outros aspectos, porém não há somente essa forma de exclusão do direito sucessório, o Código Civil prevê mais uma alternativa para aqueles que querem privar algum herdeiro de receber seu quinhão.

E é por isso que este capítulo irá discorrer sobre o instituto da deserdação, que está prevista nos artigos 1.814, 1.962 e 1.963 do Código Civil de 2002. Falar-se-á sobre seu conceito, sobre a forma como se declara a deserdação, sobre as diversas hipóteses de cabimento, sobre legitimidade e prazo, para que ao fim não haja dúvidas quanto a essa forma de exclusão.

3.1 – CONCEITO DE DESERDAÇÃO

O instituto da deserdação pode ser conceituado como uma possibilidade de o testador aplicar uma sanção civil em face de seu herdeiro, que resulta na exclusão do seu direito sucessório.

É nesse sentido que o doutrinador Carlos Roberto Gonçalves (2014, pág. 284) conceitua o instituto da deserção, como observa-se a seguir.

Deserdação é o ato unilateral pelo qual o testador exclui da sucessão herdeiro necessário, mediante disposição testamentária motivada em uma das causas previstas em lei. Para excluir da sucessão os parentes colaterais não é preciso deserdá-los; “basta que o testador disponha do seu patrimônio sem os contemplar” (CC, art. 1.850)

O doutrinador Silvio Venosa (2013, pág. 316) também leciona sobre o conceito deserdação, dispondo que: “a deserdação é, portanto, uma cláusula testamentária, a qual, descrevendo a existência de uma causa autorizada pela lei, priva um ou mais herdeiros necessários de sua legítima, excluindo-os, desse modo, da sucessão.

Destes trechos, é possível retirar três informações muito importantes. A primeira delas é referente ao testamento, pois a deserdação só se dá através de declaração expressa de vontade pelo testamento. Em segundo lugar, destaca-se a

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necessdade de motivação em uma causa prevista em lei, ou seja, só é cabível a deserdação por meio de motivo previamente previsto em lei.

Por último, mas não menos importante, dá-se ênfase no polo passivo da relação, pois só é cabível a deserdação em face dos herdeiros necessários, como será abordado nos próximos temas.

3.2 – DECLARAÇÃO DOS DESERDADOS

Assim como no instituto da indignidade, a norma que regulamenta a deserdação também traz diversas limitações quanto aos polos que constituirão a relação jurídica no ato da deserdação.

Diante disso, passa-se a análise daquele que pode deserdar e daquele que pode ser deserdado.

3.2.1 – Aquele Que Possui o Poder de Deserdar

A deserdação é ato personalíssimo do autor da herança, seja na relação do testador para com seus descendentes (artigo 1.962, CC), seja com seus ascendentes (artigo 1.963, CC), ou ainda com relação ao cônjuge (artigo 1.814, CC). Portanto, somente ao autor da herança é dada a legitimidade para excluir um herdeiro necessário do seu direito sucessório.

Fala-se em herdeiro necessário, pois este é protegido pela legítima, ou seja, é possuidor do direito de 50% do quinhão total da herança, por isso, para deserda-los é preciso uma declaração de vontade expressa e motivada em dispositivo previsto em lei. Essa declaração de vontade expressa é realizada por meio de testamento, no qual deve conter a justificativa que motivou a deserdação do herdeiro necessário.

Porém, somente essa declaração em testamento não basta, é preciso que os motivos que ensejaram essa vontade sejam comprovados em juízo, através de uma ação judicial, onde, ao final, a vontade será confirmada por sentença e, somente a partir daí a deserdação começaria a produzir seus efeitos.

O professor Fábio Ulhoa Coelho (2012, pág. 520), confirma esse entendimento em sua obra doutrinária, conforme disposto a seguir.

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A deserdação, como se disse, faz-se por testamento. Mas como o deserdado é sempre um herdeiro necessário, não basta a vontade do testador. A exclusão por deserdação só pode ser feita se realmente tiver ocorrido uma das causas que a autorizam. Por isso, para ter validade a deserdação, o testador deve declarar no testamento expressamente o fato que a motivou (CC, art. 1.964). Além disso, deve municiar seus herdeiros dos elementos probatórios que tiver às mãos, para que possam ter sucesso na ação judicial visando à declaração da exclusão. (Grifo meu)

Como mencionado anteriormente, a motivação que deu causa a deserdação deve ser provada em juízo, e incumbe ao herdeiro instituído, ou àquele que aproveite a deserdação provar a veracidade de tudo o que for alegado em testamento, conforme disposição do artigo 1.965 do Código Civil. Entretanto, esse direito não é ad eternum, pois há previsão de um prazo decadencial de 04 (quatro) anos, contados a partir da data de abertura da sucessão (morte do testador), de acordo com o disposto no parágrafo único do mesmo dispositivo legal.

É também nesse ínterim, que dispõem os doutrinadores Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2017, pág. 1417) em sua obra de direito civil, quanto a necessidade de uma ação judicial para provar o alegado após a abertura da sucessão, veja a transcrição a seguir.

Aberta a relação sucessória, com a morte do testador, será necessário, ainda, que o herdeiro instituído ou beneficiário, mediante ação própria – que deverá tramitar no próprio juízo do inventário ou arrolamento -, prove a veracidade da causa alegada pelo testador (art. 1.965 do CC).

O prazo para o exercício do direito potestativo é decadencial de quatro anos, a contar da abertura do testamento, coincidindo com o mesmo prazo para a ação de exclusão de herdeiro por indignidade (parágrafo único do art. 1.815 do CC/2002), o que ressalta a proximidade dos institutos.

Findo o prazo ou julgado improcedente o pedido, restará sem efeito a deserdação imposta no testamento.

Diante disso, é possível concluir que para o instituto da deserdação ser plenamente eficaz é necessária uma combinação de vários fatores, quais sejam, a declaração de vontade expressa em testamento, que esse testamento seja válido, que o motivo seja previsto em lei, provado em ação judicial própria, dentro do prazo legal e que essa ação seja julgada procedente, só então o herdeiro necessário será deserdado.

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3.2.2 – Aquele Que Pode Ser Declarado Deserdado

Conforme já mencionado diversas vezes ao longo do texto, os únicos que podem ser deserdados, mediante declaração de vontade expressa em testamento, são os herdeiros necessários. Dentro desse grupo, compreendem-se os ascendentes, os descendentes, o cônjuge e agora o companheiro.

Os herdeiros facultativos não entram no rol da deserdação porque não há previsão legal que obrigue o testador a deixar parte da herança para esse grupo, portanto, caso o autor da herança não tenha a intenção de beneficiar algum herdeiro facultativo, basta apenas não os mencionar nas disposições testamentárias.

Carlos Roberto Gonçalves (2014, pág. 284), em sua obra de direito civil, volume de direito das sucessões, consagrou seu entendimento nesse sentindo, ao constar que os herdeiros facultativos são excluídos pela simples vontade do autor, não os contemplando em seu testamento, conforme a seguir.

Deserdação é o ato unilateral pelo qual o testador exclui da sucessão herdeiro necessário, mediante disposição testamentária motivada em uma das causas previstas em lei. Para excluir da sucessão os parentes colaterais não é preciso deserdá-los; “basta que o testador disponha do seu patrimônio sem os contemplar” (CC, art. 1.850).

Por fim, insta destacar que os motivos que levaram o autor da herança a desejar excluir o seu herdeiro deve estar previsto em lei, ou seja, estar no rol taxativo dos artigos 1.814, 1.962 e 1.963, do Código Civil e, ainda, o ato deve ser cometido anteriormente a disposição testamentária.

3.3 – REQUISITOS DE EFICÁCIA

O primeiro requisito de eficácia é o da existência de herdeiros necessários, pois como já explicado, o instituto da deserdação aplica-se somente a esse grupo de pessoas, portanto, não há que se falar em deserdação em casos que haja apenas herdeiros facultativos.

Em segundo plano, contempla-se o requisito da validade do testamento, pois àquele que for declarado nulo, caduco ou revogado não produzirá efeitos jurídicos, e por consequência o herdeiro necessário que seria deserdado, herdará normalmente. Destaca-se ainda que o testamento não pode ser substituído por instrumento

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particular autenticado, escritura pública, codicilo ou termo judicial, pois é o único meio legal para excluir um herdeiro necessário da partilha.

Dentro do testamento deve conter o terceiro requisito de eficácia, qual seja, a expressa declaração de vontade baseada em causa prevista em lei, pois o rol que traz as possibilidades de declaração de deserdação é taxativo. Ou seja, não há outras possibilidades, nem mesmo por emprego de analogia, pois se trata de uma norma restritiva de direito.

Por fim, o último requisito de eficácia da deserdação é a propositura de uma ação ordinária própria, pois não basta apenas o herdeiro ser necessário, o testamento ser válido e a causa prevista em lei, se o herdeiro a quem aproveita a deserdação não ingressar em juízo para comprovar as alegações e buscar a confirmação, do disposto em testamento, através de sentença.

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais corrobora com tal entendimento, uma vez que a lei é clara e o entendimento é pacífico, veja o julgado a seguir.

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ABERTURA DE INVENTÁRIO. HERDEIROS TESTAMENTÁRIOS. INVENTARIANTE. HERDEIRA NECESSÁRIA. DESERDAÇÃO. NECESSIDADE DE AÇÃO. PRÓPRIA NÃO MANEJO DESTA. A QUE SE NEGA PROVIMENTO AO RECURSO “IN SPECIE”. – A eficácia da disposição testamentária de deserdação subordina-se à comprovação da veracidade de causa arguida pelo testador, o que fará por meio da propositura de uma ação de rito ordinário. – Se os herdeiros a quem aproveitar a deserdação não manejarem a ação própria, consolidada resta a sucessão nos moldes do art. 1784 do Código Civil. (BRASIL, TJMG, 2013)

Portanto, deve o herdeiro instituído ingressar em juízo uma ação declaratória de deserdação, no prazo decadencial de 04 (quatro) anos, contados a partir da data de abertura da sucessão, e, provar a veracidade das alegações, pois caso não o faça no tempo correto, o herdeiro deserdado herdará normalmente.

3.4 – HIPÓTESES DE DESERDAÇÃO

Um dos requisitos de validade da declaração de deserdação é a motivação baseada em fato previsto em lei, portanto é imprescindível que qualquer declaração esteja motivada dentro do rol taxativo previsto pelo legislador, os quais se encontram nos dispositivos 1.814, 1.962 e 1.963, todos do Código Civil de 2002.

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Os artigos 1.962 e 1.963 tratam das mesmas hipóteses, diferenciando-se pelo fato do primeiro ser em relação a deserdação dos descendentes e o segundo da deserdação dos ascendentes, porém, como uma forma mais didática, trabalhar-se-á com ambos os incisos juntos.

3.4.1 – Ofensa Física

A ofensa física está prevista no inciso I, dos artigos 1.962 e 1.963, do Código civil. Nesse dispositivo, o legislador pretendeu proteger os descendentes e ascendentes das agressões físicas, sendo estas de qualquer intensidade, tendo em vista a omissão legislativa em mensurar a intensidade da agressão, podendo, portanto, ser até mesmo uma agressão leve.

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:

I - ofensa física;

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:

I - ofensa física; (BRASIL, 2002)

Entende-se por ofensa física, as agressões de qualquer maneira, desde que sejam físicas, e não há necessidade de conduta reiterada, basta que tenha sido praticada pelo menos uma vez, pois as agressões representam uma falta de afinidade, de carinho e respeito com o testador. Entendimento compartilhado pelo professor e ex-desembargador, Carlos Roberto Gonçalves (2014, pág. 288), veja.

A ofensa física ou sevícia demonstra falta de afetividade, de carinho e de respeito, legitimando por isso a deserdação. Não se exige a reiteração. Basta uma única ofensa física que um filho cometa contra seu pai, ou uma filha contra sua mãe, por exemplo, para que a hipótese de deserdação seja cogitada.

Portanto, em casos de ofensa física entre descendentes e ascendentes, demostrada a agressão em juízo através de provas incontroversas, declarar-se-á o herdeiro necessário como deserdado.

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3.4.2 – Injúria Grave

A injúria grave está prevista no inciso II, dos artigos 1.962 e 1.963, do Código civil. Aqui, ao contrário do item anterior, o legislador se preocupou em mensurar a intensidade da ação, pois não basta qualquer injúria, esta deve ser grave, deve ofender profundamente a honra, moral e boa fama do testador.

A apreciação da gravidade fica a cargo do juiz competente, que analisará o caso concreto, levando em consideração diversos fatores como as características pessoais dos envolvidos, a relação entre ambos, formação moral, entre outros. Portanto, é muito importante que o testador descreva minuciosamente a agressão e deixe provas concretas para provar o alegado.

Mais uma vez o ilustre professor e doutrinador Carlos Roberto (2014, págs. 288 e 289) corrobora com esse entendimento, veja a seguir.

Não basta qualquer injúria, pois o adjetivo “grave” exige que tenha atingido seriamente a dignidade do testador e contenha o animus injuriandi. Compete ao juiz apreciar a gravidade da injúria no caso concreto, segundo o seu prudente arbítrio, não deixando, porém, de levar em conta as características pessoais dos envolvidos, tais como formação moral, nível social e cultural da família, bem como o ambiente em que vivem. Configurada a ofensa à dignidade do testador, a deserdação por ele imposta punitivamente ao ofensor será mantida.

A injúria grave constitui ofensa moral à honra, dignidade e reputação da vítima, sendo praticada por palavras ou escritos, tais como cartas, bilhetes, telegramas, bem como por meio de gestos obscenos e condutas desonrosas. Muitas vezes o comportamento ultrajante e afrontoso de um filho pode magoar e insultar de forma mais profunda o pai do que palavras ofensivas.

Desse trecho conseguimos extrair uma informação importante, a de que a injúria grave não é, necessariamente, apenas verbal, mas como elucidado acima, ela pode ser realizada através de meios escritos, como recados, bilhetes, textos, cartas, e-mails, dentre outras formas.

3.4.3 – Relações Ilícitas

Primeiramente, se faz necessário explicar quais relações ilícitas o legislador se preocupou em observar nesse momento, pois no mundo jurídico existem várias delas, porém se tratando do direito das sucessões, o legislador trouxe como relação ilícita as relações incestuosas e adulterinas.

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O doutrinador Silvio de Salvo Venosa (2013, pág. 327), discorre sobre o assunto em sua obra, confirmando o disposto pelo legislador, como vê-se a seguir.

O inciso III fala das relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto. As relações só serão lícitas se houver casamento ou união estável, o que, convenhamos, é difícil ocorrer na prática. Esse relacionamento repugna o senso comum, desequilibra emocionalmente o lar e abala a vítima. A lei reprime-se de dizê-lo, mas desejou significar no texto relações sexuais.

O doutrinador e professor Fábio Ulhoa Coelho (2012, pág. 519), em sua obra de sucessões, também vem reafirmar o entendimento claro da letra da lei, como no trecho transcrito.

Também são causas para a deserdação as relações sexuais entre o descendente e o cônjuge do ascendente (madrasta ou padrasto do primeiro), assim como as do ascendente e o cônjuge do descendente, quando revestidas de ilicitude, isto é, caracterizarem adultério (CC, arts. 1.962 e 1.963). A lei cogita também de relações sexuais ilícitas com o companheiro do descendente[...]

Portanto, pode-se analisar as relações ilícitas por dois aspectos, tanto na relação de ascendente-descendente (artigo 1.962, inc. III, CC), como na relação descendente-ascendente (artigo 1.963, inc. III, CC). Na primeira, se tem as relações sexuais que ocorrem entre o(a) herdeiro(a) e sua madrasta ou padrasto. Na segunda, se tem as relações sexuais que ocorrem entre o(a) herdeiro(a) e o marido/companheiro ou esposa/companheira do filho(a)/neto(a).

3.4.4 – Desamparo

Assim como os demais incisos trabalhados, o desamparo também se verifica como uma via de mão dupla, pois o abandono ocorrido pode ser tanto do ascendente para com o descendente, quanto o inverso. Tal abandono se dá, de acordo com a previsão legal, quando o ascendente ou descendente encontra-se acometido de alienação/deficiência mental ou grave enfermidade.

O abandono pode se dar por falta de assistência financeira, espiritual e moral. No entanto, vale se fazer uma ressalva quanto a falta de assistência financeira, pois quando restar comprovado que o ascendente/descendente não possui condições reais para prestar tal auxílio, não ficará caracterizado o abandono.

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