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EXECUÇÃO DA MEDIDA TUTELAR EDUCATIVA DE INTERNAMENTO

2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL

2.8. EXECUÇÃO DA MEDIDA TUTELAR EDUCATIVA DE INTERNAMENTO

A medida de Internamento em CE supõe a elaboração e a execução de um Projeto Educativo Pessoal (PEP), que deve ser construído 30 dias após a entrada do jovem na instituição relevando o regime e duração da medida, no qual se descreve a intervenção planeada para o período de internamento do jovem no CE, como é apresentado no Artigo 164.º da LTE. Para

28 tal, e para que os objetivos da medida acima referidos sejam atingidos, mostra-se imprescindível a definição de metas, programas e métodos pedagógicos adequados às necessidades e especificidades de cada jovem e respetiva problemática, à sua situação escolar, profissional e sociofamiliar, considerando, porém, os seus interesses, motivações e pareceres (Gomes, Trincão, Almeida, Duarte & Fernando, 2004).

Este trabalho deve ser planificado e cumprido de forma a potenciar o sentido de responsabilidade dos jovens internados e a estimulá-los a adquirir conhecimentos, atitudes e capacidades necessárias a uma vida social e juridicamente responsável (Gomes et al., 2004). São ainda aceitáveis e previsíveis alterações pontuais no PEP, tendo em conta a evolução da situação do jovem, sendo que a participação deste na elaboração do projeto, designadamente na definição de objetivos e das atividades para os alcançar, é fundamental, não só para a consciencialização do seu percurso e evolução, como para assegurar o reconhecimento do menor como agente e beneficiário de vontade própria e responsável (Gomes et al., 2004). O PEP deve ser enviado, necessariamente, ao tribunal para a sua homologação, num período máximo de 45 dias, após o internamento do jovem no Centro (Gomes et al., 2004).

O jovem internado em CE é percebido como sujeito de direitos e deveres, cujo quotidiano nesta instituição deve assemelhar-se o mais possível à vida social do jovem, do mesmo modo que deve facilitar o contacto deste com o exterior – que pode ser levado a cabo por via da realização de atividades que potenciem a sua reinserção social – com vista a minorar os danos que o internamento em CE acarreta para os menores e seus familiares.

Assim, importa citar os Artigos 171.º e 172.º da LTE que expressam os direitos e deveres, respetivamente, dos menores internados em CE. Conforme o artigo 171.º, nº3 da LTE, estes jovens possuem deveres de várias ordens, designadamente

a que o centro zele pela sua vida, integridade física e saúde; a um projecto educativo pessoal e à participação na respectiva elaboração, a qual terá obrigatoriamente em conta as suas particulares necessidades; à preservação da sua dignidade e intimidade; a manter outros contactos autorizados com o exterior, nomeadamente por escrito, pelo telefone, através da recepção ou da realização de visitas, bem como da recepção e envio de encomendas; a ser ouvido antes de lhe ser imposta qualquer sanção disciplinar; a ser informado, periodicamente, sobre a sua situação judicial e sobre a evolução e avaliação do seu projecto educativo pessoal; a efectuar pedidos, a apresentar queixas, fazer reclamações ou interpor recursos; a ser informado pessoal e adequadamente, no momento da admissão, sobre os seus direitos e deveres, sobre os regulamentos em vigor, sobre o regime disciplinar; sendo mãe, a ter na sua companhia filhos menores de 3 anos.

A medida de internamento em CE pressupõe a definição de três regimes distintos que, por seu lado, interferem na classificação dos próprios Centros, uma vez que estes são designados

29 pelo seu regime de funcionamento, pelo seu grau de abertura ao exterior, bem como pela intervenção educativa especializada em determinadas problemáticas, nomeadamente, elevado nível de agressividade, crimes sexuais, graves problemas emocionais, entre outros (Azevedo, 2013).

A LTE permite a existência de CE que abrangem unidades residenciais com mais do que um regime de execução da medida, como também admite CE de regime misto, como são classificados. Todavia, os CE mistos ou polivalentes podem acarretar dificuldades, já que para que seja possível assegurar todas as condições para a execução da medida num determinado regime, existe o risco, quase inevitável, de influenciar outras unidades de outros regimes (Azevedo, 2013). A diferenciação dos regimes de internamento e as suas especificidades contribuem para as dificuldades enunciadas, quando os CE são mistos ou polivalentes, evidenciando-se a probabilidade destas prejudicarem a intervenção educativa e os seus preceitos (Azevedo, 2013).

2.8.1. Regimes de Execução

A medida tutelar educativa de internamento em CE é a medida tutelar educativa mais grave aplicável a jovens entre os 12 e os 16 anos que tenham praticado factos qualificados pela lei como crimes (artigo 1.ºda LTE), sendo a medida que implica maior restrição da liberdade e da autonomia. A LTE, no artigo 7.º, n.º 1, determina que a medida tutelar “deve ser proporcionada à gravidade do facto e à necessidade de educação do menor para o direito manifestada na prática do facto e subsistente no momento da decisão”. A medida de internamento está, assim, reservada aos casos em que, encontrando-se reunidos os respectivos pressupostos legais, não é adequada e suficiente nenhuma medida não institucional, dada a gravidade dos factos e as necessidades de educação para o direito. Quanto à duração das medidas de internamento, está previsto no artigo 7.º, n.º 2 da LTE, que as mesmas não podem, “em caso algum, exceder o limite máximo da pena de prisão prevista para o crime correspondente ao facto”. Assim, a duração da medida de internamento está diretamente referenciada ao limite máximo da pena de prisão prevista para aquele facto, esclarecendo o artigo 18.º, n.º 1 do mesmo diploma, que a medida de internamento “em regime aberto e semiaberto tem a duração mínima de três meses e a máxima de dois anos”, acrescentando o n.º 2 que, em regime fechado, a medida de internamento “tem a duração mínima de seis meses e a máxima de dois anos”, apresentando o n.º 3 a ressalva de que a medida de internamento “em regime fechado tem a duração máxima de três anos, quando o

30 menor tiver praticado facto qualificado como crime a que corresponda pena máxima, abstractamente aplicável, de prisão superior a oito anos, ou dois ou mais factos qualificados como crimes contra as pessoas a que corresponda a pena máxima, abstractamente aplicável, de prisão superior a cinco anos”.

Ademais, para que seja aplicada a medida de internamento em regime semiaberto e em regime fechado, é necessário que se verifiquem os requisitos definidos na lei – artigo 17.º, n.ºs 3 e 4 da LTE – referentes ao tipo, ao número e/ou à gravidade dos factos ilícitos cometidos. No caso de internamento em regime fechado, o jovem tem, também, de ter idade superior a 14 anos – artigo 17.º, n.º 4, b) da LTE.

O Tribunal é o responsável pela fixação dos regimes de execução do internamento, sendo estes distinguidos pelo grau de limitação da liberdade e da autonomia que é concedida aos jovens a cumprir medida.

Os regimes de execução das medidas de internamento, na Portaria 1200-B/2000, de 20 de dezembro, foram distribuídos pelos vários centros educativos da seguinte forma: os regimes aberto e semiaberto existiam nos Centros Educativos de Santa Clara, Santo António, Dr. Alberto de Souto, Bela Vista, Corpus Christi e São José; com regime semiaberto e fechado o legislador criou os centros educativos do Mondego, Olivais e Padre António de Oliveira; com regimes aberto, semiaberto e fechado havia o CE de São Bernardino e apenas com regime semiaberto existiam os centros educativos de São Fiel, Vila Fernando e Navarro de Paiva.

De seguida, veremos os traços caracterizadores dos três regimes de execução de medidas.

2.8.1.1. Regime Aberto

As grandes linhas de execução do regime aberto, de acordo com os artigos 167.º da LTE e 13.º do Regulamento Geral e Disciplinar dos Centros Educativos (RGDCE), são as seguintes: os jovens residem e são educados nas unidades residenciais de regime aberto, podendo, preferencialmente, frequentar no exterior, as actividades escolares, educativas ou de formação, laborais, desportivas e de tempos livres previstas no seu projecto educativo pessoal. A frequência de tais actividades no exterior depende, como refere o n.º 2 do artigo 13.º do RGDCE, “das efectivas oportunidades existentes no meio social, considerando as necessidades educativas específicas do educando, a fase do seu projecto educativo pessoal e o grau de responsabilização que consegue assumir”. O n.º 3 do artigo 167.ºda LTE acrescenta

31 que os centros educativos de regime aberto, no desenvolvimento da actividade educativa, “devem incentivar a colaboração do meio social envolvente, abrindo ao mesmo, tanto quanto possível, as suas próprias estruturas”.

De forma gradual, atendendo à evolução do seu PEP, os jovens em regime aberto são autorizados a “saídas sem acompanhamento para frequência de actividades no exterior, bem como para passar férias ou fins-de-semana com os pais, representante legal, pessoa que tenha a sua guarda de facto ou outras pessoas idóneas”, podendo ser impostas obrigações a cumprir durante o período de saída, de acordo com o n.º 3 do artigo 13.º do RGDCE.

As unidades residenciais de regime aberto, nos termos do disposto no artigo 11.º, n.º 2, a) do RGDCE, não podem exceder 14 educandos.

2.8.1.2. Regime Semiaberto

O regime de execução semiaberto caracteriza-se por os jovens residirem, serem educados e frequentarem actividades educativas e de tempos livres nos centros educativos, “mas podem ser autorizados a frequentar no exterior actividades escolares, educativas ou de formação, laborais ou desportivas, na medida do que se revele necessário para a execução inicial ou faseada do seu projecto educativo pessoal”, nos termos dos artigos 168.º, n.º 1, da LTE e 14.º, n.º 1, do RGDCE.

Neste regime de execução, nos termos do n.º 2 do artigo 14.º do RGDCE, as saídas para frequência de atividades no exterior “são normalmente acompanhadas por pessoal de intervenção educativa e estão condicionadas à avaliação contínua e rigorosa do grau de adesão do educando ao seu projeto educativo pessoal e ao cumprimento das normas e orientações que lhe são fixadas, considerando a duração e as finalidades específicas da medida aplicada”. No caso de se verificar uma evolução favorável do seu projeto educativo pessoal, de acordo com o n.º 3 do artigo 14.º, os educandos “podem ser autorizados a passar períodos de férias com os pais, representante legal, pessoa que tenha a sua guarda de facto ou outras pessoas idóneas, podendo-lhes ser fixadas obrigações a cumprir nesses períodos”. A lotação máxima de cada unidade residencial em regime semiaberto é de 12 jovens, de acordo com o disposto no artigo 11.º, n.º 2, b) do RGDCE.

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2.8.1.3. Regime Fechado

No regime fechado, aquele que mais limita a liberdade de movimento, os jovens “residem, são educados e frequentam actividades formativas e de tempos livres exclusivamente dentro do estabelecimento”, de acordo com os artigos 169.º, n.º 1, da LTE e 15.º, n.º 1, do RGDCE. Neste regime de execução, nos termos do n.º 4 do artigo 15.º, “as saídas são estritamente limitadas ao cumprimento de obrigações judiciais, satisfação de necessidades de saúde ou outros motivos igualmente ponderosos e excepcionais” sendo os educandos “sempre acompanhados por funcionários do centro” e as saídas “limitadas ao tempo mínimo indispensável e precedidas de autorização escrita do diretor do centro”. De acordo com o n.º 5 do artigo 15.º do RGDCE, numa “fase avançada de execução do projeto educativo pessoal e verificando-se condições que permitam experimentar uma flexibilização do regime com vista a avaliar da possibilidade de revisão da medida, podem os educandos ser autorizados pelo tribunal a sair, sem acompanhamento, por períodos limitados, mediante proposta fundamentada do diretor do centro”.

O legislador, nos números 2 e 3 do artigo 15.º do RGDCE, com o objetivo de minimizar os efeitos decorrentes do regime fechado, determinou que “o CEdeve proporcionar ao educando diferentes opções de atividades formativas, desportivas e de tempos livres, fazendo intervir, sempre que possível, elementos da comunidade na animação dessas atividades”, acrescentando que o apoio psicológico e terapêutico individualizado “deve ser intensificado neste regime, por forma a ajudar os educandos a ultrapassar as dificuldades pessoais e sociais que apresentam, nomeadamente as que motivaram a aplicação do regime fechado”.