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Execução das obrigações de fazer e não fazer

CAPÍTULO II: DAS DIVERSAS ESPÉCIES DE EXECUÇÃO

2. Execução das obrigações de fazer e não fazer

A execução das obrigações de fazer e não fazer também constitui execução específica, tal como a de entrega de coisa. Diferencia-se desta última em razão da obrigação que autoriza a sua propositura. Enquanto na

claro que as sentenças condenatórias de obrigação de fazer e não fazer cumprem-se de acordo com o art. 461) - a sentença arbitral condenatória de obrigação de fazer ou de não fazer propiciará execução nos termos do mesmo Livro II referido”. Entretanto,

vale aqui indagar por que a sentença arbitral que estabelece obrigação de fazer ou não fazer ou entrega de coisa autorizaria execução autônoma e a sentença condenatória proferida por juiz estatal, com idêntico conteúdo, não? A sentença arbitral não é título executivo judicial tal como a sentença condenatória? Qual seria, então, a diferença que autorizaria tratamento distinto? Se é certo que existe uma dificuldade para instrumentalizar a efetivação da sentença arbitral, em virtude da inexistência de prévio processo de conhecimento que tenha tramitado perante juízo estatal, disso não se pode extrair a necessidade de propositura de execução autônoma, na medida em que, assim o fazendo, estar-se-á possibilitando ao devedor a oposição de embargos que suspenderiam o curso da execução, o que não ocorreria se houvesse mera efetivação. Logo, todos os títulos executivos judiciais que imponham obrigação de fazer, não fazer e de entrega de coisa certa ou incerta, ainda que inexista prévio processo de conhecimento (ex. sentença arbitral), não autorizam a propositura de execução autônoma, devendo a condenação ser efetivada apenas por simples petição, a ser distribuída livremente. 134 Manual do processo de execução. 8 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2002,

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execução para entrega de coisa o bem já existe ao tempo do nascimento da obrigação, na execução de obrigação de fazer o bem não existe, sendo certo que o devedor terá que produzi-lo, assistindo ao credor o direito de exigir exatamente essa atividade.135-136

A obrigação de fazer difere da de não fazer, na medida em que a primeira tem por objeto a prática de ato pelo devedor e a segunda, a abstenção, consentimento ou tolerância pelo devedor.137

Na reforma do CPC de 1994, o legislador instituiu duas vias distintas para a efetivação das obrigações de fazer e não fazer.

Além da execução autônoma das obrigações de fazer e de não fazer, prevista no Livro II, o legislador, rompendo de vez com o dogma da

135 José Eduardo Carreira Alvim (Tutela específica das obrigações de fazer, não fazer e

entregar coisa. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 38) diferencia a obrigação de

dar da de fazer, na medida em que naquela a prestação incidiria sobre coisas enquanto nesta sobre o comportamento, positivo ou negativo, do devedor.

136 Como adverte Leonardo Greco (O processo de execução. vol. II. Rio de Janeiro: Renovar, p. 482), “nem sempre resultará com clareza do título executivo se a prestação

é de dar ou de fazer, porque, ao celebrar-se a obrigação, não importou ao credor apurar se o devedor iria ainda confeccionar a coisa ou se iria adquiri-la pronta de terceiro ou se já a tinha confeccionado. Por isso, são artificiais as distinções que o legislador faz, quanto à extensão dos meios coativos ou sub-rogatórios entre as prestações de dar e de fazer”. Com a inclusão do art. 461-A, especialmente do § 3.º

que determina a aplicação do disposto nos §§ 1.º a 6.º do art. 461 do CPC, essa ressalva perdeu totalmente o sentido.

137 “A obrigação de não fazer pode resultar de negócio jurídico (contrato, no comum dos

casos) ou de outro ato ou fato a que alguma norma jurídica atribua tal efeito. É defeituosa a redação do art. 642, que põe a lei em pé de igualdade com o contrato como fonte da obrigação de não fazer: a obrigação jamais decorre direita e exclusivamente da lei, mas sim da incidência desta sobre um esquema de fato nela previsto, em termos abstratos, como suscetível de gerar a obrigação, quando ocorra in concreto. Por exemplo: a situação de vizinhança entre dois prédios cria para cada um dos proprietários confinantes a obrigação de não encostar à parede divisória aparelhos ou depósitos capazes de produzir infiltrações ou interferências prejudiciais ao vizinho”

(José Carlos Barbosa Moreira. O novo processo civil brasileiro: exposição sistemática do procedimento. 22. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 213).

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intangibilidade da vontade humana, retratado no art. 1142 do CC Francês, estabeleceu a possibilidade de o juiz, na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, conceder tutela específica dessa obrigação ou determinar providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento, se procedente o pedido (CPC, 461).138

Esse dispositivo restringiu a necessidade de conversão da obrigação de fazer ou não fazer em perdas e danos,139 porquanto possibilitou

ao juiz estabelecer tanto medidas coercitivas (de forma a “convencer” o réu recalcitrante a cumprir sua obrigação), quanto sub-rogatórias (para assegurar o resultado prático equivalente).

138 A redação desse dispositivo é criticada por José Eduardo Carreira Alvim (Tutela

específica das obrigações de fazer, não fazer e entregar coisa. 3ª ed. Rio de Janeiro:

Forense, 2003, p. 45). De acordo com o autor, “melhor teria andado o legislador se

tivesse dito “ação que tenha por objeto a obrigação de fazer ou não fazer”, pois teria deixado claro tratar-se, na espécie, de pretensão dependente de acertamento, em processo de cognição, sem, qualquer possibilidade de confusão com a pretensão de execução, objeto dos arts. 632 e 644”. Além dessa ressalva de José Eduardo Carreira

Alvim, caberia mais uma modificação, qual seja: “na ação que tenha por objeto o

cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento, se procedente o pedido”. Tal como está, é possível que se entenda

que, em sendo procedente o pedido, o juiz deverá determinar providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento em vez de conceder a tutela específica. Ora, na verdade o artigo quer que, na procedência do pedido, o juiz conceda a tutela específica ou, na impossibilidade desta, assegure o resultado prático equivalente.

139 A conversão da obrigação em perdas e danos é cabível apenas se o autor o requerer ou se for impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente. Importante salientar que o pedido do autor de conversão da obrigação em perdas e danos não poderá ser acolhido na hipótese de se mostrar excessivamente gravoso para o réu, sob pena de, como destacado por Ada Pellegrini Grinover (“Tutela jurisdicional nas obrigações de fazer e não fazer”, Reforma do Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva , 1996, coord. Sálvio de Figueiredo Teixeira, p. 259), “retroceder-se aos tempos em que o

processo era visto como luta sem quartel entre as partes, a que o juiz assistia indiferentemente”.

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Com a reforma, as obrigações de fazer e de não fazer, estabelecidas em sentença, deixaram de dar ensejo a execução autônoma. Numa mesma relação jurídico-processual são realizados atos executivos de forma a efetivar a sanção imposta na sentença. A execução autônoma de obrigação de fazer e de não fazer ficou restrita aos títulos executivos extrajudiciais.