3 REVISÃO DA LITERATURA 6
3.7 Exemplo de aplicação de avaliação de segurança por Árvore de Eventos 85
Silveira e Machado (2005) realizaram estudos numa barragem em construção, denominada João Leite, pertencente à companhia SANEAGO (Companhia de Saneamento de Goiás S/A). Essa barragem está localizada no ribeirão João Leite, a cerca de 6,5 km a montante da cidade de Goiânia, cidade que possui população de 1.150.000 habitantes. Sua função é abastecer de água a cidade. É uma barragem construída em concreto compactado a rolo (CCR), com 53 m de altura, completada por diques de terra. O volume útil do reservatório é 117 milhões de m3 de água.
A análise de risco envolveu:
• avaliação detalhada do projeto executivo da barragem,
• levantamento histórico de acidentes/incidentes em obras semelhantes, • avaliação dos cenários de ruptura em potencial e suas implicações a jusante,
• construção das árvores de eventos e cálculo das probabilidades de ruptura da barragem,
• estudo de medidas de atenuação,
• estabelecimento de um PAE – Plano de Ação Emergencial,
• elaboração de Manual de Supervisão e Acompanhamento de Comportamento das Estruturas do Barramento.
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Foi feita a análise de risco pelo método de Árvore de Eventos, pois as interações de todas as possíveis combinações de eventos e suas conseqüências permitiram avaliar a probabilidade anual desses eventos.
Na avaliação da barragem João Leite, foram pesquisados acidentes com barragens semelhantes, verificando-se o comportamento histórico das estruturas do barramento, pelos dados de inspeções de campo e dados de instrumentação. Esse estudo teve a participação de 10 técnicos em workshops.
Foram analisados vários cenários críticos para a segurança da barragem em relação a prováveis eventos. Dentre os vários cenários identificados, destacam-se os eventos relacionados à barragem de terra:
• galgamento da barragem,
• erosão interna através da interface solo-concreto, • erosão interna pela fundação.
A possibilidade de ocorrência de erosão interna e formação de entubamento (piping) foram analisadas na interface solo-concreto, na lateral dos muros de ligação direito e esquerdo e também através da fundação.
As árvores de eventos foram construídas considerando-se duas alternativas:
Alternativa I – considerou maiores riscos se não houvesse tratamento da fundação, inadequado controle tecnológico no maciço, incerteza no sistema de drenagem interna da barragem e na fundação, e inexistência de um plano de auscultação confiável;
Alternativa II – considerou tratamento da fundação, adequado controle tecnológico na construção do barramento, plano de instrumentação e auscultação das obras civis, e monitoramento de campo.
As árvores de eventos foram elaboradas para eventual erosão interna através da interface solo- concreto, na barragem do lado direito, onde o gradiente hidráulico é maior, e o maciço possui altura de 50 m. Outro cenário de piping foi considerado, avaliando-se a possibilidade de sua
ocorrência através da fundação. Nesse caso a probabilidade média anual é de 2 x 10-5,
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(2005) consideraram que a probabilidade anual fosse dividida por 10, devido às boas condições de controle, na situação da alternativa II. Exemplos de árvores de eventos elaboradas nesse estudo são mostradas nas Figuras 3.24 e 3.25.
Figura 3.24 - Árvore de Eventos para Alternativa I – Erosão interna pela interface C/S Fonte: Modificado de SILVEIRA e MACHADO, 2005, anexo.
Figura 3.25 - Árvore de Eventos para Alternativa II – Erosão interna pela interface C/S Fonte: Modificado de SILVEIRA e MACHADO, 2005, anexo.
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O risco total foi avaliado pela soma das probabilidades anuais, individuais para cada tipo de risco, como: galgamento, erosão interna pela fundação, erosão interna na interface concreto- solo e escorregamento. Silveira e Machado (2005) concluíram que as árvores de eventos identificaram cenários de maior probabilidade de ruptura, pois simularam erosão interna da fundação dos aterros ou através da interface concreto-solo.
Os autores concluíram que as árvores de eventos foram capazes de mostrar os cenários mais prováveis de ruptura, ou seja, a possível ruptura através da fundação dos aterros ou através da interface concreto-solo, na região dos abraços direito e esquerdo.
Outro exemplo de Árvore de Eventos ilustra a aplicação do método, como é mostrado na Figura 3.26. Observa-se que os eventos representam a formação de piping em maciço de barragem de terra.
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BRECHA PERDA DE BORDA LIVRE E
ESCORREGAMENTO GALGAMENTO SEM BRECHA SEM DETECÇÃO
E INTERVENÇÃO SEM PERDA DE BORDA
AUMENTO DE LIVRE
POROPRESSÃO SEM ESCORREGAMENTO
INSTABILIDADE DO TALUDE DETECÇÃO E E INTERVENÇÃO SEM AUMENTO DE POROPRESSÃO BRECHA SEM DETECÇÃO E INTERVENÇÃO
AUMENTO DO SEM BRECHA
ENTUBAMENTO DETECÇÃO E
E INTERVENÇÃO BRECHA
SEM DETECÇÃO E INTERVENÇÃO
FORMAÇÃO DE SEM BRECHA
FILAMENTOS
ENTUBAMENTO FLUXO > Q2 DETECÇÃO E
PERMANECE E INTERVENÇÃO ABERTO SEM FILAMENTOS BRECHA SEM DETECÇÃO E INTERVENÇÃO FORMAÇÃO DE
FILAMENTOS FORMAÇÃO DE SEM BRECHA
FILAMENTOS FLUXO Q1 - Q2 DETECÇÃO E E INTERVENÇÃO SEM FILAMENTOS BRECHA SEM DETECÇÃO FLUXO < Q1 E INTERVENÇÃO
ALTURA DE SEM BRECHA
FUROS DEVIDO A FUROS ACIMA
FALHAS DO NA DETECÇÃO E
NO ENCHIMENTO E INTERVENÇÃO FUROS
DEVIDO A AÇÃO ALTURA DE FUROS DE ENCHIMENTO ABAIXO DO NA
SEM FUROS
BRECHA SEM DETECÇÃO E INTERVENÇÃO
ALTURA DE SEM BRECHA
FORMAÇÃO DE FUROS ACIMA
ENTUBAMENTO FUROS DO NA DETECÇÃO E
(PIPING) E INTERVENÇÃO
FUROS
NA CRISTA ALTURA DE FUROS
ABAIXO DO NA BRECHA
SEM FUROS PERDA DE BORDA
LIVRE E GALGAMENTO
ESCORREGAMENTO SEM BRECHA
COLAPSO DO SEM DETECÇÃO
ENTUBAMENTO E INTERVENÇÃO SEM PERDA DE BORDA
AUMENTO DE LIVRE
POROPRESSÃO SEM
ESCORREGAMENTO
EROSÃO INSTABILIDADE DETECÇÃO E
EXCESSIVA NO TALUDE E INTERVENÇÃO
POSIÇÃO
DO NÍVEL DO RESERVATÓRIO SEM AUMENTO DE BRECHA
ENTUBAMENTO POROPRESSÃO PERDA DE BORDA
(PIPING) NA1 - NA2 LIVRE E
GALGAMENTO
ESCORREGAMENTO SEM BRECHA
PRÓXIMO A SEM DETECÇÃO
CONDUTOS FENDA E INTERVENÇÃO SEM PERDA DE BORDA
CONCENTRADA AUMENTO DE LIVRE
POROPRESSÃO SEM
NA2 - NA3 (PIPING) ESCORREGAMENTO
ENTUBAMENTO DETECÇÃO E
NÃO AUMENTA E INTERVENÇÃO
NO MACIÇO SEM FENDA
SEM AUMENTO DE POROPRESSÃO ALGUMA EROSÃO NA3 - NA4 ADJACENTE À ESTRUTURA DO
VERTEDOURO SEM EROSÃO
> NA4
Para barragens que têm zonas a jusante com baixa capacidade de descarga, inclui a determinação de instabilidade no talude e liquefação devido à saturação.
Figura 3.26 – Árvore de Eventos por piping através do barramento
Fonte: Modificado de FOSTER ,1999 apud Ramos, 2005, p. 43.
Legenda:
Brecha
Sem brecha - - - Evento simulado
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