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O exemplo local: Externato Diogo Mendes de Vasconcelos (Colégio de Alter)

No documento a Cristina Batista Rodrigues Tita (páginas 164-167)

Guião da entrevista

5- O exemplo local: Externato Diogo Mendes de Vasconcelos (Colégio de Alter)

―Pelo sonho é que vamos

Comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não haja frutos, Pelo sonho é que vamos.‖

Sebastião da Gama

Tal como qualquer vila do interior alentejano, Alter do Chão tentou resistir ao êxodo provocado pela interioridade e pela mudança dos tempos. A busca de melhores condições de vida e a necessidade de sobreviver numa sociedade cada vez mais competitiva levavam a que muitos jovens partissem à aventura. Por outro lado, os horizontes académicos dos jovens alterenses eram também muito limitados, apesar de esta vila ter tido alguma tradição escolar desde o século XVIII, com refere Teresa Ribeiro no seu estudo sobre o Município de Alter,

Não se limitava aos sermões a actividade dos monges de Santo António na vila. Em 1779, frei Joaquim de Castelo de Vide foi encarregado pela Rainha da aula de Gramática Latina. Também no mesmo ano, foi a mesma senhora «servida fazer mercê de huma escolla de ler e escrever e contar ao guardião e mais religiosos do convento de Santo Antonio desta villa de Alter do Chão»; Frei Júlio de Rio de Moinhos, por suas boas qualidades e merecimentos, foi nomeado professor desta escola menor. (Ribeiro, 1998:37)

Eram os párocos, pela sua formação específica, as referências culturais mais importantes nos microcosmos rurais, o que naturalmente também acontecia em Alter.

Já em meados do século XX, o P. José Agostinho Rodrigues, figura austera, exigente e determinada, acalentava há vários anos o sonho de construir um colégio em Alter. Moviam-no duas razões muito fortes: a formação religiosa, moral e intelectual dos jovens (rapazes e raparigas) e o desejo de auxiliar as classes menos favorecidas, promovendo os seus filhos.

Deste modo, com o apoio do Bispo de Portalegre e Castelo Branco, D. Agostinho de Moura, e de muitos alterenses o P. José Agostinho encetou o seu projecto; aceitou a doação do terreno feita pelo Sr. José da Costa, formou uma Comissão Organizadora e constituiu-se a sociedade anónima que passaria a denominar-se Sociedade de Ensino Diogo Mendes de Vasconcelos24. Todos os alterenses foram chamados a participar neste empreendimento por meio da subscrição de acções, ou com

a entrega de materiais ou prestação de serviços. Para gáudio da Comissão, as acções afluíam aceitavelmente, contudo eram as classes menos abastadas quem mais contribuía. E, através do Mensageiro25 de Maio de 1958, o P. José Agostinho chegou a dirigir-se assim aos alterenses na tentativa de os sensibilizar para a obra: os que querem, não podem; os que podem, não querem. O disco é assim há muitos anos.

Apesar de todos os entraves monetários, os trabalhos de construção iniciaram-se em 1958 e terminaram em 1963, com uma área total de 2.694m2. O edifício possuía duas alas (a feminina e a masculina), laboratório, ginásio, biblioteca da Mocidade Portuguesa e uma área descoberta bastante considerável; foi adquirida, primeiro, uma carrinha, e depois um autocarro para transportar gratuitamente os alunos provenientes das localidades vizinhas.

A administração confirma, em 1958, que o colégio terá os 1º e 2º ciclos liceais e que haverá um curso nocturno para gente de trabalho Em instalações provisórias, iniciou-se o ano lectivo 1958/59, com aprovação superior para 80 alunos. Após a visita do inspector, Dr. Agostinho Pinheiro, o Externato seria autorizado a matricular 90 alunos no ensino secundário e 30 no primário. Deste modo, em Setembro de 1959, abrir-se-iam as matrículas para os 1º e 2º anos liceais, assim como para a 4ª classe e exame de admissão aos cursos liceal e técnico, por preço módico, baixo e mesmo inferior ao que pagariam fora do colégio.

O Externato de Alter não é principalmente pa ra os pobres é principalmente para todos mas também é pa ra os pobres, era a divisa da Direcção na altura das primeiras matrículas. E acrescentava: não deis ra zões às sereias que não assumem a s responsabilidades das consequência s nem vos indemnizam dos prejuízos morais nem dos materiais que vos causam. Este empreendimento seria outro castelo, fará forte contra o erro, a ignorância e a incultura das nossas gentes

Em 1962, o Colégio tem a seguinte lotação: Instrução Primária – 60 alunos; Ensino Liceal – 130. Também proporcionava apoio ao 7º ano. Em 1968 é introduzida a Telescola.

Do corpo docente inicial há a registar os nomes de Maria Palhas Ruivo, Vitória Capão, José Farinha Falcão, Leonel Cardoso Martins, Fernanda Carrilho Velez, Maria da Graça Atayde, Carlos e Judite Duarte, Maria Fernanda Cary, P. Serras e P. Saraiva e Cristina Cortesão.

O externato não recebia benefícios consideráveis, as autarquias não contribuíam, a sociedade em geral muito pouco, assim como as famílias dos alunos.

A tão conhecida expressão escola-meio era já uma realidade nos anos áureos do externato. Ao longo da sua existência foram postas em prática várias iniciativas mobilizadoras da consciência social dos seus alunos. Como estabelecimento de inspiração cristã, o colégio tinha de vincar a sua matriz confessional, privilegiando as acções de sócio-caritativas e religiosas – distribuição de roupas, na quadra natalícia, recolha dos “santos” para os mais necessitados, criação da Conferência Vicentina de Santo Agostinho.

O grupo de canto coral preparava os cânticos dominicais, enquanto os centros da Mocidade Portuguesa e Mocidade Portuguesa Feminina participavam activamente nas festas da padroeira de Portugal. Eram organizados passeios e visitas de estudo, para alunos, professores e familiares. Faziam-se exposições temáticas e eram promovidas festas de Carnaval para toda a comunidade.

Durante muitos anos, muitos alunos beneficiaram de ensino gratuito e adultos concluíram o ensino liceal graças ao esforço do Director do Colégio. Há hoje muitos indivíduos em Alter com curso superior, que a ele devem a sua promoção social, moral e intelectual pois, sem a sua obra e actuação, viveriam no anonimato duma vida obscura sob todos os aspectos.

Em finais de 1977, começou a funcionar o Ensino Preparatório oficial, facto que contribuiu para uma diminuição da frequência do Externato. No final do ano lectivo de 1981/82, na revisão da Constituição, a Assembleia da República não contempla o Ensino Particular e, na esteira das reformas preconizadas pelo Ministro Veiga Simão, aprovadas no ano de 1973, foi criado o Ensino Secundário Unificado, que passou a funcionar na Escola Preparatória local. Perante este quadro, a existência do Externato era economicamente inviável.

A Comissão Liquidatária do Externato Diogo Mendes de Vasconcelos, transcreve, na edição de Abril de 1986, do Mensageiro, o ofício do Director-geral do Ensino Particular e Cooperativo, lamentando o encerramento do Colégio, apesar de a legislação em vigor impedir a criação do Ensino Secundário onde já existisse a nível particular subsidiado.

No documento a Cristina Batista Rodrigues Tita (páginas 164-167)