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3. Percepção sobre o curso – formação, mercado de trabalho e expectativas com a profissão.

5.1 Análise descritiva

5.1.3 Exercício da profissão

O exercício profissional obedece, em geral, a requisitos que envolvem elementos tais como licenças profissionais, qualidade dos serviços prestados e enfoques corporativos, itens esses que certamente estão associados com os processos de formação acadêmica, porém não se misturam a ponto de se constituírem em coisas indistintas. Pelo contrário, a visão educacional incorpora outros ingredientes que não atendem aos mesmos referenciais, ou não necessariamente com os mesmos pesos (MOTA, 2009).

A característica desses 204 cirurgiões-dentistas docentes vem a ser o acúmulo de dois ou mais tipos de atividades trabalhistas. Na figura a seguir, essa realidade fica bem ilustrada, permitindo visualizar que 153 (75,0%) atuam em IES pública, 128 (62,7%) em IES privada e 129 (63,2%) trabalham em consultório ou clínica.

Desde o início da profissão o cirurgião-dentista caracteriza-se por ser autônomo, pela independência profissional, não possuindo vinculo empregatício ou associativo a pessoa física ou jurídica, havendo o proveito direto do trabalho

executado (KOIDE, 2004). Ainda hoje, percebe-se que esse traço está presente de forma expressiva entre os cirurgiões-dentistas docentes, visto que 122 (60,0%) deles informaram ser autônomos, 105 (51,4%) afirmaram ter vínculo empregatício com alguma empresa privada e 106 (52,0%) se apresentaram como servidores públicos.

Figura 14. Distribuição da frequência e porcentagem da atuação profissional segundo a população estudada – 2008 - 2009.

Fonte: Pesquisa “O perfil do cirurgião-dentista docente dos Cursos de graduação em Odontologia do estado da Bahia: 2008 - 2009”.

O cirurgião-dentista e professor de cursos de Odontologia, como se pode observar, caracteriza-se, diferentemente dos docentes de outros cursos de graduação, por, historicamente, ter como base a profissão paralela que exerce no mundo do trabalho. E, como foi mencionado anteriormente, a ideia de quem sabe fazer também sabe ensinar deu sustentação à lógica do recrutamento desses docentes.

Diante dessa constatação e tendo em vista o que se busca – o professor como instrumento de transformação social e não mais como apenas transmissor de

conhecimentos –, cabe, neste contexto, uma reflexão sobre o papel dos docentes desses cursos em relação às mudanças que vêm ocorrendo no processo de ensino- aprendizagem, tanto na construção do conhecimento como na participação ativa do aluno nesse processo.

Em consonância com nossa análise, para Pizatto e colaboradores (2004), há, no ensino superior, uma ideia errônea da docência, que é vista como uma atividade puramente cientifica, para a qual basta o domínio do conhecimento especifico e instrumental e a produção de novas informações para que se cumpram seus objetivos. Acredita que a proposta de Freire (1996) – de se estabelecer, na educação, um modelo “problematizador” fundamentado na criatividade, no estímulo à ação e reflexão sobre a realidade, na capacidade de solucionar problemas dentro da sua própria realidade – surge como alternativa a esse modelo de educação passiva, dirigida apenas para o armazenamento de conhecimentos e conceitos que rapidamente se tornarão obsoleto, em virtude da dinâmica modificação da realidade. Afirma ainda que essa formação responda adequadamente ao modelo empresarial e de mercado, que cada vez mais pressiona o ensino superior no mundo ocidental a partir da hegemonia neoliberal. O professor, durante sua carreira universitária, dedica-se a um ramo técnico e cientifico, em algum aspecto de sua área de conhecimento, mas caminha com prejuízo rumo a uma visão mais ampla, abrangente e integrada da sociedade (PIZZATTO et al., 2004).

Segundo Seco e Pereira (2004a), a profissionalização do cirurgião-dentista que está inserido na docência passa a ser um desafio, frente à necessidade de possibilitar que as práticas nas IES sejam reorganizadas, especialmente para atender a uma nova perspectiva epistemológica em que as habilidades de

intervenção no conhecimento sejam mais valorizadas do que a capacidade de armazená-lo.

Acreditamos que, para o exercício de atividades próprias da Odontologia e da docência nos cursos de graduação, esses profissionais devem exercer suas atividades fundamentados em bases humanas e realistas e calcados em um novo paradigma – voltado para a promoção de saúde e prevenção das doenças orais –, comprometidos, portanto, com a realidade social.

Assim, questionamos os docentes quanto às suas práticas educativo- preventivas desenvolvidas em consultório e de maneira coletiva. Os dados coletados (Figura 15) certificam a existência de uma postura ainda tímida no que se refere a essas ações, observada mesmo naqueles 51 (25,0%) que estão vinculados ao Sistema Único de Saúde (SUS), inseridos, inclusive, na Estratégia da Saúde da Família (ESF) e que não praticam atividades educativo-preventivas de maneira coletiva (38,7%).

Figura 15. Distribuição da frequência e porcentagem das atividades educativo-

preventivas realizadas em consultório, clínica privada, ou de maneira coletiva segundo a população estudada – 2008 – 2009

Fonte: Pesquisa “O perfil do cirurgião-dentista docente dos Cursos de graduação em Odontologia do estado da Bahia: 2008 - 2009”.

Em estudo recente, Rodrigues (2009) pondera sobre a formação tradicional do cirurgião-dentista que está inserido na ESF. Apesar das reformas curriculares implementadas, ainda restam dúvidas sobre se o ensino tem propiciado ao egresso, de forma significativa, construir uma visão ampliada de saúde que lhe permita fazer intervenções nessa área (RODRIGUES, 2009).

Em relação à participação em entidades classistas, os dados coletados indicam que 152 (74,1%) dos entrevistados participam de alguma entidade de classe odontológica, excluído o CFO. Entre os inscritos em outras associações, 114 (42,3%) informaram participar da Associação Brasileira de Odontologia – Secção Bahia (ABO - BA), seguida de outras entidades indicadas na Figura 16. Quando foi perguntado sobre a participação em alguma outra entidade de classe que não seja da área odontológica, apenas 15 (7,3%) da amostra afirmaram participar, contra 189 (92,6%) que não participam. Entre as entidades não vinculadas à Odontologia, destaca-se a ABRASCO, com 6 (40,0%) respostas (FIGURAS 16 e 17).

Figura 16. Distribuição da frequência e porcentagem de participação em entidades de classe odontológica segundo a população estudada – 2008 - 2009.

Fonte: Pesquisa “O perfil do cirurgião-dentista docente dos Cursos de graduação em Odontologia do estado da Bahia: 2008/2009”. Sim:152 (74,1%) Não:6 (2,9%) S/resposta:46 (23,0%)

Figura 17. Distribuição da frequência e porcentagem das diversas entidades de classe odontológicas que se associaram segundo a população estudada – 2008 - 2009.

Fonte: Pesquisa “O perfil do cirurgião-dentista docente dos Cursos de graduação em Odontologia do estado da Bahia: 2008 - 2009”.